Capítulo 9. Pressionando.
A coronel chegou cedo ao quartel e logo de cara já chamou o capitão Nogueira ao seu gabinete e disse:
-- Bom dia capitão! – O senhor tem alguma boa nova para me falar?
O capitão olhou seriamente para a coronel e disse:
-- Sim coronel. Eu falei com o major Nunes e ele logo estará aqui e também tomei a liberdade de chamar o capitão Prado já que eles são primos. Portanto, espero que a senhora não ache ruim de eu ter tomado a decisão sem consultá-la!
-- O senhor fez muito bem capitão. Vejo que está aprendendo a trabalhar comigo e também está sabendo me conhecer melhor.
-- É uma honra trabalhar com a senhora coronel!
Márcia que não era boba e sabia muito bem quem eram e onde estavam as raposas felpudas, tratou logo de mostrar as garras para o capitão e disse:
-- Eu espero não me decepcionar mesmo com o senhor capitão! – Porque se isso acontecer, eu mesma despacho o senhor para a zona Sul e lá o senhor irá trabalhar com o major Andreatto! – E posso lhe garantir que ele é pior do que eu. Portanto se estiver fazendo alguma gracinha, pense bem e não se esqueça de que o presídio militar ainda tem muita vaga!
O capitão ficou assustado com o que a coronel lhe disse e tentou devolver no mesmo tom a resposta para a sua oficial comandante:
-- Se eu estivesse pensando em fazer gracinhas coronel Mantovanni, eu já teria matado a senhora. Sim, porque oportunidade é que não me falta!
A coronel ao olhar para o subordinado levantou-se e chegando bem próximo ao capitão disse:
-- Porque o senhor não tenta agora capitão? – Aproveite que estamos só nós dois aqui. Mas de antemão aviso: -- Eu vou, mas o senhor também irá junto! – Portanto, não me desafie capitão! – E agora o senhor pode sair!
O capitão saiu e um sorriso cínico e mais sinistro ainda, apareceu no rosto da coronel que pensou: -- Idiota!!!
Quando se aproximava a hora do almoço, o major Nunes juntamente com o primo, entraram no gabinete da coronel que estava ao telefone com a esposa.
-- Amor o Nunes juntamente com o Prado acabaram de chegar. Assim que eles me liberarem, eu te telefono de volta e almoçaremos juntas. Agora se você quiser vir aqui, tudo bem, estarei esperando.
-- Ótimo amor, eu vou pedir para os seus pais trazerem as crianças, porque eles devem estar deixando os dois malucos!
-- Certo minha primeira dama, mas não deixe de me avisar. Ou melhor, faça o seguinte, me avise que eu vou te buscar ai no regimento, porque a coisa aqui está meio sinistra. Não me saia daí, espere eu telefonar!
-- Como você quiser meu amor. Estarei esperando. Eu te amo, beijos!
-- Beijos minha linda, eu também te amo!
Assim que terminou de falar com a esposa, a coronel se dirigiu aos dois oficiais e disse:
-- Bom dia senhores!
-- Bom dia coronel!
-- Capitão Prado eu chamei o seu primo aqui porque eu tenho uma proposta a fazer e o capitão Nogueira fez muito bem em chamar o senhor também. Pelo menos sei que posso confiar em você e também entendo que ele se sentirá melhor com a sua presença.
-- Eu é que agradeço coronel, sei que as suas intenções são boas. Eu andei conversando com o Nunes e creio que chegou a hora dele contar o que sabe sobre a morte do soldado Magno.
-- Pois bem capitão, eu não estou aqui para condenar ninguém. Eu só quero saber se o senhor major está envolvido nisso ou não. Mas aviso que o IPM está em andamento, porém, eu estou disposta a ouvir a sua versão dos fatos. A única coisa que eu espero é que o senhor não decepcione esse homem que está ao seu lado e nem a sua tia que como ele mesmo disse foi ela quem o criou, deu-lhe educação e o tornou um homem de bem. Espero não estar enganada com isso.
O major ficou em silêncio por alguns instantes e depois de pensar um pouco falou:
-- Coronel Mantovanni eu a conheço há muito tempo e sei o seu estilo de comandar uma unidade militar independente de qual seja. Como a senhora sabe, o capitão Esdras nunca foi flor que se cheirasse e com o passar do tempo eu e ele nos tornamos amigos. Porém, eu não imaginava que por trás daquele jeito sério e acima de qualquer suspeita, existisse uma raposa gorda e bem felpuda. Quando eu o conheci, ele comandava o batalhão no lugar do Radamés e com isso as portas disso aqui virou a casa da mãe Joana.
-- E quando foi que você começou a desconfiar das atitudes do Esdras? Perguntou a coronel.
-- Um dia eu estava saindo do refeitório e ele me chamou. Naquela época eu já conhecia o major Pires Paiva, mas nem imaginava que um dia ele se tornaria seu sogro e também, fiquei conhecendo o Borges, o coronel Gutierrez e outros que a senhora conhece e conheceu muito bem! Perguntei o que ele queria e então me puxando de lado disse:
-- Nunes hoje nós vamos jantar no clube e você vai comigo!
-- Mas eu não posso capitão, tenho que estar em casa porque a minha mulher vai dar aula e não tem como a minha sogra ficar com o meu filho!
-- Capitão Nunes entenda de uma vez por todas, quem manda aqui sou eu e o senhor vai fazer o que eu quiser e vai comparecer ao jantar sim!
-- Fiquei assustado com o jeito do Esdras me intimar mas como ele era o manda chuva por aqui, eu não tive como recusar.
Os dois oficiais ficaram olhando para o major e então o capitão Prado perguntou:
-- Mais porque você nunca me falou isso Nunes?
-- Simplesmente porque eu tinha na época o meu filho que era pequeno e a minha mulher trabalhava a noite, ou você se esqueceu disso Prado! – Para você é fácil falar e se sentir por cima da carne seca. Sempre trabalhou com a coronel Mantovanni e nunca teve problemas porque ela tem caráter!
-- Desculpe Nunes, eu não tive a intenção de te chatear!
O major continuou narrando o que havia acontecido no Clube naquela noite e isso deixou a coronel com a pulga atrás da orelha. Ela jamais teria imaginado que o sogro e os outros que ela já havia enfrentado, estavam mancomunados com o capitão Esdras e o coronel Borges.
-- Então o meu excelentíssimo ex-sogro o major Pires Paiva, já corria por fora também!
-- Sim coronel e ele nunca gostou da senhora e do seu pai o velho coronel Mantovanni. Sempre quis acabar com vocês dois, mas nunca conseguiu e acabou morrendo pela mesma ganância de poder que acabou com outros oficiais.
A coronel que até então só observava os dois oficiais, resolveu intervir e disse ao major:
-- Nunes eu sei que você sempre foi um bom soldado e sempre procurou cumprir as suas obrigações, por isso eu chamei você aqui para te propor um acordo ao qual creio que será benéfico para todos nós.
-- O que a senhora deseja coronel Mantovanni?
-- É muito simples major! – Eu preciso somente que o senhor fique de olho no Esdras e me mantenha informada de qualquer coisa que o senhor souber. Nós vamos pôr as mãos nesses ratos gordos e felpudos. E tem mais, o senhor vai voltar a trabalhar, assim como o capitão Esdras. Porém, o IPM continua em sigilo absoluto. E para terminar, mantenha-se quieto e aja como se nada tivesse mudado, porque senão eu serei obrigada a mandá-lo para o presídio militar e ai, todas as suas chances de se redimir, serão cortadas!
Os dois oficiais ficaram olhando para a coronel então, o capitão Prado perguntou:
-- Mas porque a senhora está pedindo isso a ele coronel?
-- Porque de momento capitão eu não vejo outra alternativa a não ser observar esses pilantras e espero não me decepcionar com o senhor também! Respondeu
-- Fique tranquila coronel que nós pegaremos esses ratos de farda e quanto ao Nunes, nós conseguiremos provar que ele é somente mais uma vítima dessa corja.
-- Assim espero capitão, porque não pretendo me decepcionar com vocês. Principalmente com você Prado que sempre foi meu amigo, conselheiro e irmão.
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Andressa estava de costas para a porta e não percebeu quando a coronel entrou. Assim que ela se aproximou, a esposa sentiu seu perfume e virando-se ficou cara a cara com Márcia. A paixão pela esposa sempre estava evidente no olhar da coronel e Andressa sabia que há muito conquistara de vez o coração da oficial.
-- Oi amor, que surpresa agradável você estar aqui. Mas eu achei que a sua conversa com o Prado e o Nunes, iria demorar!
Olhando para a esposa que já estava em seus braços a coronel respondeu:
-- Eu já terminei a minha conversa com eles e enquanto almoçamos, irei te contar o que estou planejando. Mas e agora onde estão os nossos filhos?
De repente escutaram uma bagunça generalizada e logo a porta da sala da tenente coronel se abriu surgindo quatro matreirinhos.
-- Meus amores, meus bens mais preciosos que gostoso ver vocês! Andressa falou aos filhos.
-- Eu também assino embaixo o que a mamãe Andressa falou, disse a coronel que estava com a caçula no colo.
Foi Celina quem respondeu para as mães:
-- Nós também estamos contentes em estar aqui com vocês! Ao qual a afirmação foi confirmada pelos outro três irmãos. Porém, a coronel notou que tanto André quanto Celina estavam inquietos, chegou próxima aos filhos e perguntou:
-- O que está acontecendo com vocês dois?
O menino encarou a mãe seriamente e disse:
-- Nada mamãe Márcia, nós estamos com fome! – Não é Celina?
-- É verdade mamãe, nós só estamos com fome!
Apesar de não se dar por convencida com a explicação dos filhos a coronel acatou o argumento, porém, ela sabia que algo não estava bem.
O almoço transcorreu normalmente, pois, além de Márcia estar com os familiares, os amigos também estavam. Cláudia notou que a afilhada não estava bem e perguntou para Andressa:
-- O que está acontecendo com a Celina? – Ela está muito inquieta!
-- Eu não sei Claudia o que está acontecendo, mas quando ela age assim é porque ela sabe ou viu alguma coisa e tem medo de contar. O André também é igual e você sabe muito bem para quem eles puxaram.
Cláudia olhou para a comadre e rindo falou:
-- Sei, agora é só a Marcinha que leva, porque pelo que eu já notei a Celina é você escrita em feição e gênio. Já o André, esse sim puxou a Márcia até carrancudo e invocado ele é. Igualzinhooooooooooo!!!! -- Agora quanto ao Nico e a Antônia, a coisa já muda um pouco e sabe por quê? – Porque o Nicola é marrento e a Tônia é a paciência em pessoa. Totalmente diferentes dos seus mais velhos. Mas eu vou descobrir o que há por trás disso, fica em paz.
-- Olha amiga espero que você consiga, porque a Márcia aceitou mas não engoliu a resposta e eu tenho certeza de que a noite ela vai perguntar e eles vão ter que responder. Portanto, peço que ajude aos dois e impeça isso.
-- Fica calma que eu vou resolver!
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Cláudia sentou-se perto da afilhada e sentiu que algo não estava bem com a sua pequena e ao observar André, viu uma aura escura sobre a cabeça do pequeno.
-- Oi princesa da madrinha, o que acontece para você estar assim tão agitada?
-- Não é nada madrinha, eu só estou cansada. Hoje não estou bem!
Cláudia olhou fixamente para Celina e depois de chamar André, perguntou:
-- Celina e André, vocês viram ou escutaram algo que não deviam? – Eu preciso saber para conversar com as suas mães, principalmente com a Márcia.
A menina começou a chorar e logo André também chorava. Márcia ao perceber que algo não estava bem com os filhos, se aproximou e perguntou:
-- André, Celina o que houve com vocês? – Porque estão chorando assim?
Os dois correram em direção a coronel e ao abraçá-la Celina perguntou:
-- Você não vai embora não é mamãe?
--Mas filha ir embora para onde? – Eu já disse que nunca vou deixar vocês e a sua mãe! – Mas porque você está me perguntando isso?
Tavares e Cláudia chamaram a coronel de canto e falaram o que achavam. Foi a coronel Monteiro quem disse:
-- Vamos conversar com eles e assim descobriremos o que aconteceu.
A noite quando estavam reunidos na casa da coronel Monteiro,ela chamou a afilhada e perguntou:
-- Você e o André estão mais calmos Celina? – Querem conversar com a gente sobre o que está acontecendo?
Os irmãos olharam um para o outro e foi André quem respondeu:
-- Estamos sim tia Cláudia, mas a mamãe Márcia tem que ficar atenta e tomar cuidado!
A coronel olhou assustada para a esposa, para os amigos e depois perguntou:
-- Com o que eu devo ficar atenta e tomar cuidado filho?
Nesse momento Celina respondeu para a coronel:
-- Mamãe Márcia, sabe aquele homem vermelho que trabalha com a senhora? -- Aquele grande e gordo?
-- Sim filha o capitão Nogueira? – O que tem ele?
-- Eu e o André fomos até a sua sala com o vovô Giuseppe, mas a senhora já tinha saído. Quando nós estávamos vindo para cá, aquele de bigode e nome esquisito falou alguma coisa para o vermelho e eles olharam para a porta e fizeram bommm.
-- E ainda saíram rindo mamãe, falou André!
A coronel entendeu o recado dos filhos e disse para a esposa e os demais:
-- Eu estou começando a acreditar que a raposa gorda e felpuda não é o Nunes e sim o safado do Nogueira. Vocês se lembram do que eu contei quando estávamos todos almoçando e o porquê eu de momento estou agindo assim?
-- Agora eu entendi amor o que você está armando. Você “pressiona” o Nunes e com isso faz o Nogueira pensar que está por cima da carne seca. Acertei? Disse Andressa
-- Sim minha primeira dama. É ai que eu vou pegar aqueles ratos em uma ratoeira só.
-- Até o coronel Borges? Perguntou o coronel Tavares.
-- Sim meu amigo e compadre até ele! E olhando para os quatro filhos e a esposa disse-lhes:
-- E quanto a vocês meus bens mais preciosos que eu tenho, agradeço por serem tão espertinhos me alertando sobre essas raposas e quanto a você minha primeira dama, eu só posso agradecer e dizer que eu te amo e digo mais, obrigada por estar comigo por todos esses anos.
Andressa se encaminhou em direção a Márcia e disse:
-- Eu é que te agradeço meu amor por me dar nossos filhos e me amar a cada dia que passa. Eu também te amo.
-- E quanto a vocês meus amigos quero agradecer mais uma vez a sua lealdade. E vocês meus filhos Celina e André obrigada esconderem de mim o que estava aborrecendo aos dois. Eu amo vocês!
E assim mais uma tarde estava indo embora e a noite prometia boas conversas e risadas. Mas a coronel guardara bem o que os filhos haviam falado e agora ela sabia em quem poderia começar a atirar. Nogueira e Esdras que se cuidem porque a raposa do deserto vai contra atacar.
Fim do capítulo
Ai tem!
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