Mais uma morte não explicada!
Capítulo 6. Tristeza.
Na manhã seguinte aconteceu o enterro do soldado Magno no mausoléu da polícia militar. Alguns oficiais achavam que ele não deveria ser enterrado lá, mas a coronel não acatou o pedido. Ela pretendia analisar um pouco mais fundo a questão sobre o soldado.
-- Aqui só se enterram heróis e não traidores! Gritou um capitão da banda militar que estava presente.
A coronel chegou próximo a ele e olhando bem o nome do oficial e em seus olhos disse:
-- Capitão Marcelo Guedes, se o senhor abrir essa boca novamente, eu mesma pegarei essa corneta e enfiarei no seu rabo! – E que isso sirva a todos que estão aqui!
A coronel estava irritadíssima e cada vez que olhava para dona Cínira mais raiva sentia de tudo o que havia acontecido. Os outros presentes perceberam o quão alterada ela estava. Até Andressa estava apreensiva, porque em todo o tempo de casadas, ela nunca havia visto Márcia reagir assim. Talvez, fosse por ver que os filhos estavam crescendo e logo eles sairiam de suas asas para descobrir um mundo novo e no fundo, esse era o maior medo da coronel.
Depois da oração e das honras militares, a coronel entregou a bandeira do Estado de São Paulo e a do batalhão para a mãe do soldado. Foi na frente de todos que a irmã perguntou:
-- Porque a senhora deixou que isso acontecesse coronel? E sem esperar pela resposta, desferiu um tapa no rosto da oficial. Os soldados que estavam próximos agarraram a moça pelo braço, mas a coronel pediu que a deixassem em paz.
Depois do enterro todos se retiraram. A mãe do soldado chegou perto de Márcia e pediu desculpas pela atitude da filha. A coronel disse que isso não havia doido nada, perto do que ela estava sentindo.
-- Dona Cinira se a senhora precisar de alguma coisa, não deixe de me procurar. Vou dar entrada nos papéis do seguro que a senhora tem direito e à pensão deixada por seu filho também.
-- Obrigada coronel, mas eu só queria ter o meu bebê aqui comigo e não enterrado naquele buraco. Com licença!
Márcia se encostou-se a um túmulo que estava perto e chorou. Andressa percebeu que a esposa não estava bem e a abraçou dizendo:
-- Chora meu amor, chore tudo o que tem direito eu estou aqui ao seu lado!
-- Vamos para casa Andressa, eu quero ver as crianças, quero estar com os nossos filhos e esquecer tudo o que aconteceu até agora.
-- Isso amor eu vou avisar a Deise que só retorno na segunda-feira e que ela me avise caso haja alguma coisa que necessite a minha presença. E você vai falar com o capitão Nogueira. Ou melhor, vou pedir ao Major Teodoro que fique em seu lugar por esses dias.
-- Obrigada amor, eu preciso descansar e pôr as ideias no lugar. Não estou me sentindo bem, talvez a minha pressão tenha subido e eu não percebi.
-- Então é mais um motivo para irmos ver o Magalhães e depois, casa! – E não se fala mais nisso por hoje, entendido coronel?
A coronel olhou para o rosto da esposa e falou:
-- Pois não tenente coronel Pires Paiva Mantovanni, a senhora é quem manda!
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Na hora do almoço, a coronel juntamente com a esposa já estavam em casa. As crianças não saíam de volta das mães e isso deixava Márcia mais calma. Andressa agradecia aos bons mentores e a Deus, a felicidade presente naquele lar. Os pais de Márcia, os de Andressa e demais amigos também estavam lá.
Logo depois a coronel Monteiro chegou com os filhos e a esposa. Celina e Lorena não se largavam e como era o começo do fim de semana os pais decidiram viajar junto com os seus respectivos filhos para a cidade de Campos do Jordão. Mas a surpresa maior estava para chegar e essa vinha com quatro patas, um focinho e peludo.
Quando chegaram ao chalé da coronel Monteiro, alguns se acomodaram por lá e outros se acomodaram no chalé da coronel Mantovani e no de Laura e Silvana também haviam convidados. A coronel Mantovanni havia comprado o chalé já algum tempo e dera de presente para a esposa realizando assim, mais um pedido de Andressa. Por volta das sete horas quando todos estavam reunidos na varanda do chalé da coronel Monteiro, jogando conversa fora, ela falou a todos os presentes:
-- Senhoras e senhores que aqui estão eu tenho uma surpresa para as nossas queridas Márcia e Andressa!
Márcia olhou para Andressa e depois para Cláudia e perguntou:
-- Surpresa, que surpresa? – Cláudia por acaso o ar daqui te faz mal?
Cláudia e Solange começaram a rir e foi ai que ninguém mais entendeu o que acontecia. Foi então que o coronel Tavares perguntou:
-- Quer logo dizer qual a surpresa Cláudia!
-- Márcia e Andressa vocês tem um filho totalmente safado e sem vergonha!
-- Como você ousa dizer assim dos meus filhos Cláudia? – Aonde você quer chegar com isso? Perguntou Márcia já ficando irritada com o comentário da amiga.
-- Sabe aquele peludo que você tem em casa? – Sim aquele safado do Zottar II? – Pois bem, esse pilantra ficou comigo lá no quartel por uns tempos e sabem o que ele fez?
-- Não faço a mínima ideia! Respondeu Andressa que estava sem entender o que acontecia.
-- Márcia e Andressa vocês tem mais um membro na família de vocês! – É peludo e tem dois meses!
-- Cláudia explica logo e pare de fazer graça! Pediu Laura que também já estava impaciente.
-- Pois bem, esse peludo é filho do Zottar!
-- Mas como você pode provar isso? Perguntou Márcia.
Solange assim que Cláudia fez sinal, voltou com a coisa mais fofa que se podia ver. As crianças ficaram impressionadas e eufóricas com o pequeno peludo.
-- Andressa isso não te lembra alguém quando pequeno? Perguntou Cláudia.
Ao olhar para o cachorrinho, Andressa se virou para Márcia e disse:
-- É amor esse é nosso neto! – Ele é a cópia do Zottar quando ele era pequeno.
Márcia olhou para a esposa, depois para Zottar e ao analisar de cima a baixo o filhote que estava em seus braços e olhando para os amigos disse:
-- É meus caros amigos, esse é mesmo filho do Zottar!
Foi Antônia quem disse para a coronel:
-- Mamãe Márcia a gente pode ficar com ele?
-- Bom filha isso também tem que ter o aval da sua mãe Andressa e ai quem sabe podemos levar esse monstrinho para casa.
-- Ah mamãe Andressa, deixa a gente levar ele! Pediu André.
Vendo que não tinham saída ambas deixaram que as crianças ficassem com o filho de Zottar. Foi uma festa e tanto porque todos queriam brincar com o pequeno que já tinha dois meses e isso incluiu também o pai.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Mais um fim de semana havia se passado e por volta das cinco horas a coronel Mantovanni chegou ao quartel. Logo pediu que a sargento Meire viesse até a sua sala, pois com a ausência do tenente Donizete, era ela quem estava em seu lugar.
-- Bom dia coronel Mantovanni! – O que a senhora deseja?
-- Em primeiro lugar, quero que vá ao regimento de cavalaria e traga o capitão Prado e depois volte aqui em minha sala porque temos coisas para despachar para o Comando Geral.
-- Vou imediatamente coronel!
Logo depois a sargento voltou até à sala da coronel e avisou que os capitães Prado e Félix já estavam aguardando na antessala.
-- Pois bem sargento mande-os entrar e a senhora pode se retirar.
-- Com licença coronel! E saiu.
Assim que os dois oficiais entraram a coronel logo os cumprimentou e disse:
-- Meus caros amigos, a quanto tempo não conversamos. E você Félix, como estão as coisas lá na cavalaria?
-- Lá está tudo bem coronel Mantovanni e aqui pelo que sei as coisas não estão bem!
-- É verdade capitão, mas tenho que estar mais atenta ao que acontece ao meu redor.
A coronel olhou para o capitão Prado e perguntou:
-- Capitão Prado o senhor está sabendo sobre o ocorrido com o seu primo aqui no batalhão?
-- Sei coronel e isso me mata de vergonha. Saber que o major Nunes está envolvido em falcatruas e ainda mais na morte do soldado Magno, isso me entristece muito! Falou em tom de desagrado para Márcia.
-- Eu sei Prado o quanto você assim como eu, ama a polícia. Mas você também sabe que eu não aceito deslizes e isso eu não posso deixar passar!
-- Eu entendo coronel e estou de acordo com isso. Mas porque a senhora me chamou aqui? – O que eu tenho a ver com as pilantragens do meu primo?
O capitão Félix que observava a conversa atentamente perguntou:
-- Desculpe-me coronel, mas eu também não estou entendendo o que a minha presença e a do capitão Prado é necessária. Afinal temos muitas coisas para fazer lá no regimento!
-- Eu sei disso capitão e não me venha dizer o que tem ou não tem para se fazer no regimento. Não esqueça que eu conheço aquilo lá muito melhor do que vocês dois juntos! Foi a resposta dada ao capitão.
-- Mas o que me fez pedir a autorização da tenente coronel para que liberasse você dois foi o seguinte: -- Prado o que você pode me falar relacionado ao Nunes? – Afinal pelo que me consta vocês sempre foram inseparáveis e quanto à você Félix eu sei que foi colega de academia do major. Portanto eu quero saber o tipo de pessoa que ele é para saber qual a decisão tomar, pois você sabe Prado que eu afastei ele e o capitão Esdras de suas funções e pretendo investigar tudo o que envolve os dois. Aliás, eu já estava querendo mesmo fazer isso e agora que o soldado Magno está morto, eu resolvi que isso agora é o meu foco principal e a minha prioridade!
O capitão Prado olhou para os dois oficiais que estavam na sala e começou a narrar a história sobre o major Nunes. Ao final do relato a coronel disse ao velho e fiel amigo:
-- Então foi a sua mãe quem criou o Nunes?
-- Foi sim coronel e depois que os pais dele morreram em um acidente de carro, ele ficou sendo cuidado pela minha mãe e nós sempre fomos como irmãos. Mas agora eu espero sinceramente que ele não esteja envolvido nisso. Sabe coronel, eu tenho a impressão de que ele também está sendo pressionado e a senhora sabe que aquele safado do Esdras da nó até em pingo d’água!
-- E quanto a você capitão Félix, acha a mesma coisa?
Félix que estava pensativo respondeu para a coronel:
-- Olha coronel conhecendo o Nunes como eu conheci, acho que ele é mais um joguete nas mãos do Esdras. Fomos parceiros na academia e ele sempre prezou pelas boas regras. Concordo com o pensamento do colega Prado!
-- Pois bem senhores então vamos armar um esquema para pegar o Esdras com as calças na mão! – E eu preciso de vocês meus amigos, sei que para você Prado é difícil, mas se o Nunes estiver envolvido mesmo, serei obrigada a expulsá-lo da polícia e mandar para o Romão Gomes!
Prado respondeu rispidamente para a coronel a seguinte frase:
-- Regras são regras coronel! – Agora farei uma pergunta: -- E se fosse algum dos seus filhos? – A senhora agiria da mesma forma?
A pergunta pegou a coronel de surpresa e depois de pensar respondeu ao amigo:
-- Como o senhor mesmo disse capitão Prado regras são regras, pois aqui nenhum deles seria meu filho e sim um policial como outro qualquer. No meu modo de pensar e agir não há benevolência. Errou tem que arcar com as consequências, mesmo que fosse algum dos meus filhos!
Andressa que chegava à sala da coronel, ficou abismada com o que tinha ouvido da boca de Márcia. Assim que os oficiais se retiraram falou:
-- Coronel Mantovanni a senhora não falou sério à respeito dos nossos filhos! – Falou?
A coronel estava irritada e rispidamente respondeu para a esposa:
-- Falei sim tenente coronel Mantovanni. Regras são regras e não há benevolência para certas atitudes!
-- Mas são nossos filhos, é deles que vocês estavam falando e eu escutei muito bem a pergunta do capitão Prado. Você não faria isso!!!
-- Faria sim e se tivesse que expulsar algum deles que não estivesse com a conduta certa, eu expulsaria sim!! E não se fala mais nesse assunto!!!
-- Pois bem coronel fique com as suas regras!!! E saiu batendo a porta da sala deixando a coronel atônita com tal atitude.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Na hora do almoço a coronel ligou para o regimento e ficou sabendo que a esposa havia ido almoçar com o padrasto. Isso foi a gota d’água para Márcia. Saiu do batalhão e disse para a sargento Meire:
-- Se a minha esposa ligar, diga a ela que fui para o inferno!! E saiu sem destino pela cidade.
No fim da tarde ao retornar para o batalhão, a coronel recebeu o recado que Andressa havia deixado para ela. Assim que acabou de despachar e assinar alguns relatórios, pegou suas coisas, apagou a luz e fechou a porta. Ao sair escutou que alguém a chamava e ao se virar deparou com a sargento Meire.
-- O que aconteceu sargento?
-- Desculpe-me coronel é que eu gostaria de saber se a senhora pode me dar uma carona até a minha casa? – O meu carro quebrou e eu vou pegá-lo só amanhã.
-- Posso sim sargento, onde a senhora mora?
-- Eu moro no Horto Florestal, próximo do Canil e se não for atrapalhar??
-- É o caminho da minha casa também, portanto não irá atrapalhar em nada! – Vamos?
No caminho foram conversando sobre vários assuntos até que a coronel perguntou:
-- Sargento Meire a senhora é nascida aqui mesmo na capital?
-- Sou sim coronel, nasci no bairro do Brás, mas fui mesmo criada na Mooca.
-- Sério, seus pais são descendentes de italianos ou espanhóis? – Pergunto porque eu nasci e fui criada na Mooca também!
-- Na realidade coronel a minha mãe é descendente de portugueses, mas quanto ao meu pai, eu não sei de onde ele ou a família são. A minha mãe não conhece nenhum dos parentes do meu pai! Falou a jovem com ar de tristeza que não passou despercebido pela coronel.
-- Mas vocês nem imaginam de onde o seu pai era? De que bairro?
-- Não coronel eu só sei que meu pai era casado e que tinha outra família. Sempre quis conhecer meus avós, tios, tias, primos, primas e meus irmãos. Mas isso nem a vida me deu e agora com a minha mãe doente é que não tem como saber isso. Minha avó excomunga dia e noite meu pai, porque faz mais de anos que não o vejo e nem sei se está vivo ou morto!
-- Isso é muito complicado, mas se precisar de ajuda conte comigo sargento!
Ao chegarem em frente a casa da jovem, a moça falou:
-- Obrigada coronel! Tenha uma boa noite e até amanhã!
-- Você também!
A coronel foi para casa pensativa com a conversa e decidiu que precisava conversar com a esposa sobre isso, mas não saberia ao chegar em casa como a situação iria estar, pois ela e Andressa haviam se estranhado e ela sabia o quanto a esposa havia se magoado. Mas não seria por isso que ela mudaria de postura, porque a lei é para todos, mesmo que nisso estivessem incluídos os filhos.
Fim do capítulo
O soldado está morto e a coronel com os nervos a flor da pele. O que ela irá fazer e quem seráo próximo alvo da sua ira?
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]