Capítulo 4. A explosão.
O final de semana fora maravilhoso para a família Mantovanni. A coronel levou a esposa e os filhos até a praia e as crianças quando viram o mar se deliciaram. Antônia ficou com um pouco de medo, mas depois de ir até a beira da praia de mãos dadas com a mãe e a irmã, ficou mais tranquila e molhou os pezinhos. André vinha logo atrás com Andressa e Nicola e esse logo quis entrar na água. Porém, a coronel não deixou que fosse sozinho como ele queria e o pequeno começou a chorar.
Andressa se abaixou e disse ao filho:
-- Nicola meu lindo a mamãe Márcia está certa. O mar é muito traiçoeiro meu filho e as ondas também são. Portanto se você quiser entrar na água, faça como o seu irmão fique na beirada e bem junto de mim e da sua mãe!
O menino ficou olhando sério para as mães e sentou na areia. André chamou o irmão, mas Nicola se recusava a entrar na água. Márcia olhou para os dois filhos e depois para a esposa e falou:
-- Sabe quem o Nicola me lembra com toda essa rebeldia?
Andressa olhou para o filho e depois virando para Márcia perguntou:
-- Não me lembro de ninguém que fosse assim rebelde, pelo menos eu e o André não éramos assim. Mas de quem você está falando?
-- Do seu ilustre cunhado, afinal de contas o Nicola também era rebelde e às vezes que meu pai o colocava de castigo no quarto, ele pulava a janela e saia para a rua. E o nosso está ficando igual, mas ainda a tempo de cortar as asinhas desse matreirinho.
Andressa olhou para Márcia e não falou nada. Ela sabia o quanto a coronel amava a ela e aos filhos, mas sabia também que a coronel jamais aceitaria ser afrontada por alguém. Principalmente por algum dos filhos.
No decorrer do dia tudo esteve na mais perfeita ordem e as crianças brincaram a valer com as mães. Andressa havia levado brinquedos para as crianças brincarem na areia da praia e isso fez muito bem aos pequenos. André e Nicola brincaram e construíram estradas e as irmãs fizeram casinhas. Antônia era muito detalhista, tudo chamava a sua atenção e as mamães percebiam isso. Ou seja, cada um dos filhos já começava a mostrar a que vieram. Depois de almoçarem e descansarem a família retornou para casa. Márcia e Andressa estavam felizes e as crianças dormiam no banco de trás do carro, pois haviam brincado muito e estavam cansados.
Ao chegarem em casa e depois de arrumar a bagunça enquanto os pequenos ainda dormiam, Márcia e Andressa foram preparar o jantar. Ambas escolheram fazer um churrasco somente para elas e os filhos. Nicola foi o primeiro a acordar e foi direto para a cozinha. Quando chegou viu que a coronel estava colocando a carne na churrasqueira foi logo correndo em sua direção, porém, tropeçou no tapete e caiu. Andressa foi até o filho e o pegou no colo. Vendo que o menino não havia se machucado, colocou o arteiro no chão e este foi até onde estava a coronel. Márcia ao ver o filho correu em sua direção e abraçou o pequeno que agora estava pendurado em seu pescoço. Viu que Andressa via a cena e fez sinal com as mãozinhas para que ela se aproximasse. Assim que ela chegou perto dos dois, Nicola abraçou as duas e começou a chorar. A coronel perguntou ao filho se ele estava se sentindo bem. O menino olhou para as mães e balançando a cabeça disse:
-- Desculpa mamãe!
-- Desculpar o que filho? Perguntaram ao pequeno.
-- Eu briguei com você mamãe Márcia e com a mamãe Andressa também.
-- Você está se referindo ao que aconteceu na praia meu anjinho? Perguntou Andressa ao filho sobre o olhar atento de Márcia.
O menino fez sinal positivo com a cabeça e dos olhos da inquebrável coronel Mantovanni surgiram lágrimas que não passaram despercebidos pela esposa. Márcia abraçou o filho e quando ela e Andressa olharam para trás, viram que os outros três estavam vendo a cena. Chamou a todos e enquanto a carne estava na churrasqueira ela reuniu-se juntamente com os filhos e começou a conversar com os pequenos. Todos estavam atentos ao que ela iria dizer.
Olhou para os filhos e disse:
-- Meus amores, vocês sabem que eu faço qualquer coisa para ver a felicidade estampada nessas carinhas fofas. Eu a alguns anos atrás perdi uma pessoa que muito amei e amo e a sua mãe sabe disso, porém, nunca escondi isso da Andressa e se hoje estou aqui com vocês é graças a ela que devo a minha existência. Conheci a sua mãe nessa época mas nós nunca havíamos conversado e depois de tudo o que aconteceu desde a morte da minha primeira esposa, eu a reencontrei dentro do regimento da cavalaria, onde ela veio para ser a subcomandante. Durante alguns meses eu não dei muita atenção para ela, porque eu ainda estava apegada a minha mulher que também se chamava Celina assim como você minha princesa.
Nesse momento quando a Márcia chamou a filha de princesa, Antônia protestou e disse olhando seriamente para a mãe: -- E eu mamãe, não sou sua princesa?
Márcia riu e respondeu para a filha:
-- Antônia meu bebê, minha caçulinha. Você também é a minha princesa, assim como o Nicola e o André são os nossos príncipes. Portanto aqui em casa temos duas princesas e dois príncipes.
A menina sorriu depois da explicação dada pela coronel. E Celina então disse para a irmã:
-- Não precisa ter ciúmes Antônia as nossas mães nos amam da mesma maneira e nunca irá existir diferença.
-- Eu sei, mas e se isso acontecer?
-- Meu amor tenha a plena certeza de que isso não acontecerá! Falou Andressa que já estava com a menina em seu colo fazendo carinho.
Todos novamente ficaram em silêncio e Márcia continuou falando com os filhos.
-- Nicola, Celina, André e Antônia! – Nós amamos vocês de forma incondicional e sei que vocês amam a mim e a Andressa também, E não pensem vocês que nós não erramos, porque isso é mentira. Eu quero que vocês confiem em nós e se algum dia vocês não concordarem com algumas decisões que tomarmos, eu quero que vocês sempre venham conversar comigo ou com a mamãe Andressa e poderemos debater ideias. Portanto aqui em nossa casa, será sempre assim. Ok? Vocês entenderam?
Depois de mais um pouco de conversa, as crianças haviam entendido o que a mãe havia falado e assim a noite correu normalmente. Nicola como sempre era o mais fominha dos irmãos e comeu de tudo o que havia na mesa. Andressa havia feito salada de alface com agrião e rúcula, arroz e mandioca, pois as crianças adoravam quando havia esses complementos no churrasco.
Por volta das dez horas da noite todos foram dormir e enquanto isso, Andressa e Márcia já haviam limpado a cozinha e depois de tomarem banho foram até o quarto dos filhos e depois de concluírem que todos dormiam, também resolveram ir deitar. Foi Andressa que perguntou para Márcia:
-- Amor você acha que as crianças entenderam a conversa que tivemos hoje com elas?
-- Porque pergunta minha primeira dama? Foi a resposta dada.
-- É que eu achei você muito direta com eles e isso me dá um pouco de medo!
Márcia olhou seriamente para a esposa e perguntou:
-- Mas porque esse medo? – Somos uma família unida e eu quero que sejamos unidos. Por isso temos que jogar aberto com eles!
-- Eu sei meu anjo, mas eles são tão pequenos e eu tenho medo de magoá-los.
Márcia depois de pensar um pouco se virou para Andressa e disse:
-- Andressa entenda de uma vez por todas. Melhor eles se magoarem agora, do que futuramente. Logo eles irão criar asas e nem sempre nós estaremos por perto para auxiliá-los e eu desejo que os nossos filhos estejam preparados para quando isso acontecer. Não quero que eles sejam humilhados como eu já fui, pois somente assim eles saberão tirar proveito e contornar certas situações que poderão encontrar.
Andressa ficou olhando para Márcia e percebeu que ela estava com toda a razão. Afinal de contas não havia sido somente a coronel que fora humilhada, ela também havia sido humilhada quando se descobriu lésbica e uma das situações, fora a briga entre Márcia e o irmão Nicola há algum tempo atrás na casa do sogro que resultou em um afastamento temporário entre os dois irmãos e terminou de forma drástica com a morte do cunhado.
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Quando acordou na manhã seguinte, Márcia escutou com um barulho que vinha diretamente da cozinha e logo imaginou que as crianças e a esposa estavam fazendo algo. Desceu as escadas silenciosamente e ao chegar à porta da cozinha, viu que os filhos estavam sentados tomando café e sorriu ao ver a esposa somente de baby-doll. Olhou para o relógio da parede e viu que eram quase dez horas. Aproximou-se calmamente de Andressa, fez sinal para os filhos ficarem quietos e sem que ela percebesse, lhe deu um beijo no pescoço que fez a tenente coronel arrepiar-se inteira. Esta se virou e depois de beijar a coronel falou:
-- Bom dia meu amor!
-- Bom dia minha querida esposa e meus lindos filhos!
As crianças se levantaram e foram até onde estavam às mães e todos se abraçaram. Era domingo e Márcia havia combinado com a esposa de levar os pequenos no parque, mas o tempo não estava bom. Decidiram então ir à casa da coronel Monteiro e assim ficou combinado que todos iriam para lá, afinal de contas, a casa de Cláudia era no condomínio ao lado de onde Márcia morava.
Quando chegaram foram recebidos por Solange que estava juntamente com a sogra preparando o almoço.
-- Oi Márcia e Andressa, sejam bem vindas e esses matreirinhos como estão? Perguntou ao se abaixar e beijar as crianças. Foi Celina quem falou:
-- Bença tia Solange e os outros também fizeram a mesma coisa.
-- Deus abençoe vocês meus lindos!
Nisso também estavam chegando Laura juntamente com Silvana e as filhas. Lorena quando viu Celina logo foi em sua direção.
-- Oi Celina tudo bem?
Celina olhou para a menina e abriu um largo sorriso que não passou despercebido pelo sexteto de mães e um dueto de pais que estava na sala conversando.
-- Oi Lorena eu estava com saudades de você!
-- Eu também estava Celina. É tão bom encontrar você! Disse devolvendo o sorriso.
Laura que observava a tudo silenciosamente chamou Márcia de lado e perguntou:
-- É impressão minha ou as nossas filhas serão mais do que amigas?
Márcia ficou olhando para as meninas e respondeu:
-- Não é impressão sua Laura! Elas já são mais do que amigas e isso num futuro não tão longe acontecerá e eu espero que tudo corra bem para as nossas princesas!
-- Eu também espero, porque ver a minha filha triste pelos cantos, vai me deixar muito mal.
-- Eu também penso a mesma coisa!
O almoço transcorreu normalmente e a cada hora que passava Celina e Lorena não se desgrudavam e no final da tarde quando todos estavam indo embora, Laura perguntou se Márcia, Andressa e as crianças, não queriam dormir por lá. Como já estava tarde com o tempo frio e chuvoso, resolveram ficar, porque o final de semana era prolongado e elas só voltariam ao trabalho, na terça-feira. Lorena e Celina dormiriam no mesmo quarto, já Cláudio, André e Nicola assim como Thales, dormiriam em outro quarto. Thales não gostara muito porque queria mesmo era estar perto de Antônia, mas essa iria dormir com as irmãs de Cláudio e com Bruna que era a caçulinha de Laura e Silvana.
Quando todos já haviam ido dormir, Cláudia perguntou para Silvana:
-- Sil o que você acha da história entre Celina e Lorena?
-- Eu estou achando ótima Cláudia porque assim todos poderão conviver juntos e aquelas duas eu já sei onde vai terminar.
-- É isso mesmo o que você está pensando Cláudia! Falou Márcia ao ver a cara de espanto da amiga.
-- Só espero que essas crianças futuramente não venham a sofrer com os arroubos do amor.
Todas olharam e perguntaram em bom tom:
-- Arroubos do amor?
-- Sim minhas caras amigas, foi isso o que falei!
Andressa olhou para Laura e disse à comadre:
-- Estou bege...a coronel Monteiro falando difícil? – É Solange você definitivamente mudou a nossa amiga!
-- Não fui eu que a mudei Andressa. Foi o amor dela por mim e o meu por ela. Foi isso, assim como o seu amor pela Márcia a mudou completamente e porque não dizer dos nossos amigos Tavares e Magalhães, Laura e Silvana e até o seu irmão Giuseppe com o seu cunhado André, falou olhando para Márcia que concordou com tudo o que a esposa da coronel Monteiro havia falado.
-- É verdade minha cara coronel Mantovanni, a Solange está com toda a razão, disse Tavares que abraçou o marido e ficou fazendo carinho até que ele começasse a dormir.
Andressa olhou a cena e disse para a coronel:
-- Amor eu também estou ficando com sono. Vamos dormir?
Márcia olhou carinhosamente para a esposa com aqueles olhos azuis acinzentados e depois de beijá-la disse:
-- Vamos minha primeira dama, eu também estou com sono, mas antes quero te amar muito.
-- Ei vocês duas, cuidado para não derrubarem a casa.
-- Pode deixar Claudinha, amanhã ela continuará em pé! Disse Márcia que agora estava abraçada à Andressa.
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O feriado havia passado e tudo voltara ao normal. Andressa levantou e viu que Márcia já estava se trocando para o serviço. De repente a coronel sentiu um calafrio e a esposa percebendo perguntou o que estava acontecendo.
-- Não está acontecendo nada meu amor, acho que é somente um resfriado. Somente me abrace minha primeira dama, só me abrace!
Aquele pedido deixou Andressa apreensiva, mas resolveu deixar para lá e também foi se preparar para o trabalho, pois ela teria uma reunião no regimento com todos os oficiais da unidade.
-- Tenha um bom dia minha primeira dama, eu te amo minha menina, minha rainha! Disse em frente à sala da tenente coronel.
-- Eu também te amo meu amor...muito mesmo!
A coronel já estava em sua sala quando o tenente Donizete bateu à porta.
-- Entre!
-- Bom dia coronel, disse o tenente batendo continência.
-- Bom dia tenente. O que trás o senhor tão cedo em minha sala?
-- É que deixaram essa encomenda para a senhora e eu vim entregar.
A coronel olhou a caixa e viu que não havia remetente. Somente estava escrito ASSUNTO CONFIDENCIAL.
-- Quem entregou isso tenente?
-- Eu não sei coronel. Quando cheguei a sentinela me chamou e pediu que entregasse para a senhora.
-- Pois bem, veremos do que se trata!
Com cuidado ambos estavam abrindo a caixa e logo um barulho se fez ouvir. De repente houve uma explosão dentro da sala e tanto a coronel como o tenente foram atingidos pelos estilhaços. Com o impacto a coronel foi jogada para trás e ao bater com o corpo na parede, caiu desacordada. O tenente ficou embaixo dos escombros e com isso todos os que estavam próximos a eles e ouviram a explosão, chegaram para ver o que havia acontecido. O capitão Nogueira chegou junto com o major Nunes e esse logo de imediato ordenou que removessem os escombros e socorressem a coronel e o tenente.
-- Temos que avisar a tenente coronel, disse o major para um soldado que estava próximo dele.
-- Eu vou major e logo voltarei com a esposa da coronel!
O soldado saiu rapidamente e ao chegar ao Regimento de Cavalaria, deu de cara com o major Teodoro que estava conversando com o sargento Macedo.
-- Major Teodoro, major!
-- O que foi soldado?
-- Major houve uma explosão na sala da comandante e eu vim avisar a esposa da coronel Mantovanni!
-- O que você está dizendo soldado? Perguntou o sargento.
-- Isso mesmo que o senhor ouviu sargento, uma explosão!
-- Mas como aconteceu?—Por quê?
-- Eu não sei senhor, só sei que a coronel estava conversando com o tenente Donizete e de repente nós ouvimos uma explosão e depois... só escombros!
O major pensou e disse ao sargento:
-- Macedo vá até o gabinete da major Deise e chame também o capitão Prado, mas não deixe a tenente coronel desconfiar de nada!
-- Sim major já estou indo.
-- E quanto a você soldado, volte para o seu batalhão e veja de fato o que aconteceu.
Quando a major Deise e o capitão Prado chegaram, logo ficaram sabendo do ocorrido. Foi o capitão quem disse:
-- E agora como vamos fazer, a coronel está bem?
-- Eu não sei, mas temos que evitar que a Andressa saiba disso. Pelo menos por enquanto.
Sem que percebessem Andressa chegara silenciosamente atrás do major e ao escutar o que os três haviam falado, ela perguntou?
-- O que aconteceu no batalhão de choque Teodoro?
-- Não aconteceu nada Andressa, são problemas que às vezes não conseguimos resolver.
Andressa olhou seriamente para os três e perguntou:
-- Problemas que às vezes não conseguimos resolver major? – Nunca vi problemas que precisassem do corpo de bombeiros para resolver. Agora o senhor vai me dizer o que está acontecendo ou eu vou ter que ir até lá saber?
Vendo que não tinha saída, o major contou para Andressa o que havia acontecido. O desespero tomou conta da tenente coronel e ela pediu que a levassem para saber sobre Márcia. Quando chegaram à sala da coronel, os destroços eram grandes. Porém, ela e o tenente já estavam recebendo os primeiros socorros. Andressa se aproximou de Márcia e viu que havia alguns estilhaços em seu rosto, braços e peito, mas a coronel estava desacordada, porém, os sinais vitais tanto dela como do tenente estavam normais.
-- Tenente coronel Mantovanni, temos que levá-los ao hospital militar! Disse o comandante responsável pela unidade de resgate.
-- Sim tenente, podem levar os dois! Disse para o oficial.
Ao olhar para a esposa que já estava na maca, Andressa pensou: -- Vai começar tudo outra vez, quando teremos paz?
-- Calma Andressa, tudo ao seu tempo! Falou o capitão Prado que agora estava com as mãos apoiadas nos ombros da tenente coronel. No mundo espiritual os avós da coronel acompanhavam todo o desenrolar dos acontecimentos. Porém, sabiam que aquele pequeno terremoto seria superado por Márcia e Andressa.
Fim do capítulo
Uma explosão. O que acontecerá com a coronel e o tenente?
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