CapÃtulo 20
Seis meses depois, finalmente a fertilização in vitro deu certo, depois de terem feito três tentativas, utilizando material do maior banco de sêmen do país, de São Paulo, por recomendação do casal de amigas, que já tinha recorrido ao tratamento e tido êxito. Camille já estava grávida de quatro meses.
Tina havia escolhido, no catálogo, material genético do doador 286, cujas características físicas assemelhavam-se com Flávia, sangue tipo A+, caucasiano, olhos azuis, e cabelos castanhos escuros, 1.80m.
Quando o resultado do exame de gravidez saiu, a comemoração se estendeu por mais de semana, e Flávia passou a projetar o quarto do futuro herdeiro. Passando horas escolhendo, com Tina, mobiliário, painel de cores para as paredes, e enfeites. Inclusive encomendando uma estante de livros em formato de dragão, semelhante à existente numa das lojas da Livraria Cultura, para o quarto do bebê. Tina, teve enjôos nos primeiros meses, depois passou pela fase dos desejos, e finalmente ficou com o humor bastante estranho, às vezes tão doce que nem parecia a mesma pessoa. Muitas vezes exigia que Flávia deixasse consigo na rede e as ficasse balançando, enquanto passava a mão pela barriga, agora crescida.
A arquiteta, sempre que podia, voltava mais cedo pra casa ou nem saia, nos dias em quem Tina não se animava a ir ao escritório. Resolveu aproveitar o tempo que passava em casa para estudar, decidida a ser aprovada no concurso para docente da UNB. Era hora de pensar em estabilidade. Os ganhos com os projetos e a execução de trabalhos em arquitetura eram mais que suficientes, mas como ambas eram autônomas, e agora teriam mais responsabilidade, com a chegada do ou da filha, Flávia aproveitou a abertura de uma vaga para docente na instituição onde estudara e, se aprovada, poderia conciliar as atividades com o trabalho na Space.
No tempo livre, preparava para a mulher pratos especiais, ouviam música, procuravam brinquedos na internet. Dobravam e desdobravam roupinhas, enfileiravam sapatinhos, e armazenavam dezenas de pacotes de fraldas descartáveis.
E, apesar da barriga protuberante, faziam amor, claro que com mais cuidado, de forma que Tina não pudesse sentir qualquer dor. Flávia, algumas vezes achava estranho ter intimidade com a mulher naquele estado, mas não deixava de sentir-se atraída por ela.
Por sua vez, Tina às vezes desejava poder ter mais opções no que dizia respeito a posições, por mais que a libido não tivesse sido afetada, desejava poder voltar a ter o corpo de antes, ter mais flexibilidade... mas sentia-se segura por perceber que a mulher a amava mesmo com aquele barrigão enorme. Invariavelmente dormiam abraçadas, Tina no fantástico travesseiro para gestantes e Flávia, abraçada a ela.
Algumas noites, Tina perdia o sono e, quando a penumbra do quarto permitia, ficava observando Flávia adormecida. Era tão estranha a sintonia que tinham. Flávia era tão doce, e ao mesmo tempo tão determinada, tão madura. Não poderia ter escolhido melhor com quem ter um filho, afinal ele exigiria carinho, atenção e responsabilidade até o fim de seus dias, e tinha a certeza de que Flávia estaria a seu lado nas difíceis tarefas de educar e criar. E só mesmo ela para ser capaz de suportar os arroubos e nuances de seu temperamento. Acordava, geralmente, com a mulher a chamando para tomar café, que trazia-lhe na cama. Sentia-se a legítima dondoca, tamanho os mimos com que Flávia a tratava.
Só conheceu o lado atrapalhado da mulher, no dia do parto.
- Flávia, pega a bolsa e a mala. Acho que precisamos ir para o hospital.
- Agora? Vai nascer?! Onde coloquei as chaves do carro. – Flávia andava de um lado para outro, sem atinar o que fazer primeiro.
- Amor. Dá pra ficar calma? Quem vai parir sou eu. Sobe e pega a minha bolsa, e a mala no quarto do bebê.
- Você tá com dor? Não ia ser cesariana?! Que você está sentindo? – Perguntou em pânico.
- Amor. Só estou com muita cólica. Acho que chegou a hora. Não sei se vai dar para esperar para fazer cesariana. Pega as coisas, enquanto ligo para Dra. Renata e aviso que estamos indo para o hospital.
- Tá. Vou buscar. Mas não acho o celular nem as chaves do carro. Preciso ligar para minha tia. Qual o caminho mais curto para a maternidade? Será que a Dra. Renata chega antes de nós no hospital? Você quer ajuda para levantar?
- Flávia!
- O quê?
- Dá pra focar?! Busca a bolsa e a mala. Depois conversamos sobre o restante.
- Ah, tá. – Saiu apressada, sem saber muito bem pra que lado ir.
- No quarto, criatura. A bolsa está no nosso quarto e a mala no quarto do bebê. – Riu, querendo na verdade dar uns tapas na mulher.
Segundos depois, Flávia voltou esbaforida com as coisas. Tina já estava com as chaves do carro na mão, e falava ao celular com a médica.
Duas horas depois, nascia na Maternidade de Brasília, Fernanda Bianchi Camargo, uma linda menininha, de 2Kg 600 g. Flávia pode acompanhar a cesariana, e esteve ao lado de Tina durante todo o procedimento, só saindo de perto da mulher, quando foi acompanhar a menina até a sala onde seria examinada, enquanto a mulher era suturada.
Ainda visivelmente emocionada, não conseguia desgrudar a testa do vidro que separava o corredor do berçário, enquanto Tina estava na sala do pós-operatório. Depois de algum tempo é que lembrou de ligar para os tios e para as amigas, para avisar do nascimento da filha.
Ao acordar já no quarto, Tina percebeu a extravagância da mulher, o quarto estava repleto de flores, balões de neon, um enorme urso de pelúcia, e estava de mãos dadas consigo, olhando encantada para a menina que dormia no berço ao lado da cama.
- Oi.
- Oi, amor. Como você está?
- Sonolenta. E como está a Nanda?
- Bem. Ela dormiu agarrando o meu dedo. – Contou, feliz.
- Já imagino.
- Ela é linda, amor.
- Óbvio, é minha filha. Nossa filha. – Brincou
- Presente para você. – Flávia estendeu uma caixa de veludo para a mulher.
- Amor. Você saiu pra comprar presentes?
- Não. Seu presente eu já tinha comprado e guardado na mala. O urso tinha comprado e deixado no escritório. Apenas mandei trazer pra cá. E pedi que Roger mandasse flores e balões.
Dentro da caixa de veludo um colar de diamantes fabuloso, fez com que Cristina ficasse sem palavras. No bilhete junto à embalagem apenas “Muito obrigada por fazer com que minha vida esteja completa”.
- Amor. Você não devia ter gastado com isso. Vocês são a minha vida. – Afirmou, lançando um olhar para o berço. - Mas já que resolveu fazer essa extravagância, vou usá-lo no primeiro evento chique que formos, porque vai ficar lindo em mim. – Completou, rindo, sabendo que não parecia nada modesta. Então fez sinal de que aguardava que a mulher a beijasse. E foi prontamente atendida.
- Meus tios mandaram beijos, e Cam e Lu também. E, é claro, o pessoal da Space e da Consult, inclusive perguntaram se podiam vir fazer visita, ou mandar algum presente, e imaginando que você não ia querer, pedi que só o fizessem quando já estivéssemos em casa.
- Assim é melhor... não quero que me vejam assim.
- Assim como?!
- Sem maquiagem, e de camisola, Dzz.
- Ah. Mas você está linda.
- Devo estar mesmo – Debochou, se imaginando despenteada, com ar abatido.
Não prosseguiram o assunto, porque nesse momento Nanda despertou e provou que tinha pulmões muito bons, abrindo o maior berreiro, só se acalmando quando Flávia a retirou do berço e colocou-a junto a Tina que, como se já tivesse feito isso antes, acolheu-a junto ao seio para amamentá-la.
- Credo, alguém devia contar que essa sensação é estranha, uma coisa é alguém fazer isso quando estamos excitados, outra é assim, incomoda um pouco. – Fez uma careta ao comentar o fato, causado a diversão de Flávia. – Tá rindo porque não é em você. – Reclamou, imaginando a cena inversa.
- Bom, acho que vou aproveitar o ensejo e descer para comprar um café. – Anunciou, achando melhor sair pela tangente, antes que a mulher resolvesse mudar de ideia quanto amamentar a filha.
- É bom mesmo. E me traga algo também. De preferência sorvete. Estou com desejo de tomar sorvete de chocolate.
- Tudo bem. Volto em seguida. – Saiu de fininho sem acrescentar que já passara do tempo de Tina ter desejos. Riu sozinha, enquanto caminhava até o elevador.
Pouco mais de quinze minutos depois, Flávia retornou ao quarto trazendo um copo grande de sorvete de chocolate, surpreendendo-se ao ver Tina embalando, suavemente a filha, cantarolando “Aquarela”. A cena lhe ficaria gravada na memória pelos anos afora. E, sempre que a lembrança lhe vinha, pensava no quanto a mulher, aparentemente desligada, podia ser doce e delicada. Tudo o mais, a pose, era pura fachada.
Ao chegarem em casa, dois dias depois, Tina chegou a achar graça da quantidade de flores que as aguardavam. Além de dezenas de bichos de pelúcia e outros presentes para Nanda. Da. Heloisa, que agora fora contratada para trabalhar em tempo integral, já havia providenciado para que as flores fossem colocadas no hall de entrada e que os presentes para a criança fossem levados para o quarto de Nanda.
- Mas, Da. Tina, o seu Roger mandou um presente que eu não sabia onde mandar colocar, ele mesmo decidiu o lugar no quintal. – Explicou a funcionária.
- Como assim? O que foi que Roger mandou?
- Um parquinho. Tem uma casinha de madeira, com balança, gangorra, escadas... uma coisa enorme, muito linda, mas acho que tão cedo a criança não terá como brincar lá. Ele disse que foi projetado por ele, especialmente para a Nanda. Essas foram as palavras que ele usou.
Flávia e Tina se olharam e caíram na risada, imaginando que o amigo, por não ter filhos ou crianças na família, por certo imaginou que Nanda usaria o brinquedo mesmo antes de ter idade suficiente para isso.
Depois de instaladas, Nanda em seu berço e Cristina em seu quarto, Flávia retornou ao andar térreo da casa, para admirar, no quintal, a fantástica estrutura projetada pelo sócio, para que a filha brincasse dali a alguns anos. Era preciso admitir que era o sonho de qualquer criança, e de dar inveja aos adultos, que gostariam de poder encolher para brincar na casinha com playgroud particular.
Camille e Luana foram as primeiras a visitarem as amigas, trazendo consigo a filha Linda, afilhada de Tina e Flávia, para conhecerem Nanda. Agora, dentre as pautas dos encontros, crianças, seu desenvolvimento, como educá-las, o tempo certo para incluir no cardápio cada tipo de alimento, o que fazer para dormir oito horas por dia. Neste último quesito, Nanda parecia ter muita consideração com as mães, pois dormia seis horas ininterruptas por noite, depois mamava e voltava a dormir, deixando Tina e Flávia descansarem. Mas, obviamente, quando chorava era Flávia quem levantava para buscá-la, e depois embalá-la até que voltasse a dormir, após ter mamado.
Já Linda mantinha Luana em prontidão, acordando em horários diversos, exigindo que Camille a amamentasse mais de uma vez durante a noite. Como a filha a fazia dar serão, Luana aproveitava a noite para escrever, levando o notebook para o quarto da criança, e enquanto trabalhava, ficava de olho na filha, enquanto Camille descansava. Durante o dia se revezavam.
Fim do capítulo
Bom, meninas, eis os capítulos perdidos do ABC.
Prosperidade ao Lettera!
Bjs para todas.
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Ana_Clara
Em: 08/09/2015
Olha, podemos mudar de site, podemos atrasar os capítulos, mas se tem uma coisa que nunca muda é esse meu amor pela Flávia. Essa mulher é simplesmente sensacional! 😍😍😍
Amei este capítulo, a Tina grávida é tudo! Família sendo construída na base do respeito e do amor. Essas quatro são as protagonistas perfeitas! 😊😊
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Lins_Tabosa
Em: 07/09/2015
Lindo esse capítulo!
Eu tinha sugerido lá no abc, de você continuar a história com as filhas de Lu e Camille e da Flávia e Tina o que você acha?!
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Srta Petrova
Em: 05/09/2015
Bom te-la de volta...não queria perder por nada essa linda história....parabéns pelo belíssimo capítulo,bjs.
Quase morri quando vi o site fora rsrsrrs (morrer.... exageiro de minha partekkkkk)
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