Capítulo 17
Mariana já estava do lado de fora da faculdade quando escutara os gritos de Duda.
- MARIII, ME ESPERA! - Mariana virou-se para trás e avistou a amiga correndo em sua direção. - Aii, nossa, estou muito sedentária... nem aguento correr mais.
- Ahh, foi abandonar a academia aí... - Falou Mariana rindo da amiga que tentava recuperar o fôlego.
- Nossa, é verdade... preciso voltar urgente para academia. Mas enfim... não foi por isso que te gritei e corri até aqui né.
- Hum, posso saber o motivo de toda essa correria então?
- Aii Mari, quero te perguntar uma coisa e desta vez você não vai me enrolar para responder. - Mariana ficara um pouco tensa com a pressão da amiga, mas acabou concordando em conversar.
- Tudo bem Duda... vamos conversar então. Diga, o que tanto você quer saber?
- Bom... um pouco tem a ver com o seu aniversário no sábado, mas também venho reparando que você anda muito sorridente e pensativa. Vai Mari... confessa.. você está apaixonada por alguém né? -Perguntou a amiga, já sabendo da resposta. Mariana respirou fundo e respondeu:
- Estou sim Duda... estou gostando de verdade de uma pessoa... e nunca estive tão certa dos meus sentimentos como agora.
- É... isso eu já imaginava mesmo... mas agora quero que você seja sincera comigo... essa pessoa que você tanto está gostando... er... é a Clara, não é? - Perguntou Duda um pouco tímida, fazendo com que Mariana tomasse um susto com a forma direta que a amiga falara.
- O-o que?? Por que você acha isso? Er... está tão na cara assim? - Mariana falava envergonhada e acabara se entregando de vez para a amiga.
- Aiii Mariiii, eu sabia... meu Deuss... não acredito. Você é lésbica??
- Er... eu... er... acho que sim... er... não sei... aiii Duda, nunca pensei nesse termo. - Mariana respondia de forma confusa.
- Mariii, você está apaixonada por uma mulher! E.. er.. vocês já ficaram não é?
- Já Duda... nós estamos... juntas. - Mariana falava o tempo todo de cabeça baixa, temendo a reação da amiga.
- JUNTAS???
- Xiuuu, fala baixo, pelo amor de Deus! - Repreendeu Mariana.
- Ai, me desculpa Mari... mas é por que isso é tão estranho. Jamais te imaginei com er... uma mulher. Mas então vocês estão namorando?
- Er... não estamos namorando ainda... er... sei lá.. é tudo tão novo, tão intenso.. não sei explicar
- Hum... entendi. - Disse Duda procurando digerir a novidade.
- Amiga... você vai mudar comigo agora que sabe? - Perguntou Mariana com medo.
- Mariiii, você está doida??? Jamais mudaria com você por causa de sua opção sexual. Você é minha amiga querida! Vem cá.. - Duda puxara Mariana para um abraço. - Amiga, pode contar comigo... sempre estarei do seu lado!
- Ai Dudinha... nem sei o que dizer... obrigada! Seu apoio é muito importante para mim. Mas agora me diga... como você descobriu isso tudo? O Pedro te falou alguma coisa? Ou sou eu que estou dando muito na cara mesmo? - Mariana queria saber como que Duda havia descoberto sobre ela e Clara.
- Não Mari... o Pedro não me disse nada... ele já sabia? - Perguntou Duda surpresa.
- Não... ele não sabe... mas imagina... aquele ali saca as coisas no ar. Só que eu pedi a ele para respeitar meu tempo. E ele está fazendo isso.
- Ownnn, mas ele é um amor mesmo, não é? - Falou Duda ainda mais encantada com o Pedro.
- Aii meu Deus... você que está dando na cara o quanto está apaixonada por Pedro... nem disfarça. - Ria Mariana. - Mas enfim, se não foi através do Pedro, como você ficou sabendo sobre a gente?
- Er... Mari, foi por isso mesmo que eu quis ter essa conversa com você. Naquele dia lá no bar, depois que você e o Fred foram embora, o Thiago começou a fazer um monte de perguntas sobre você. Até aí tudo bem, pois tudo mundo viu o quanto ele estava interessado em você. Só que chegou uma hora que ele já estava bem bêbado, e acabou me perguntando se você ficava com mulheres. - Mariana fazia expressão de assustada para a amiga - Ele disse que tinha certeza que você estava interessada em uma mulher, por isso não estava dando bola para ele.
- Não acredito que ele disse isso Duda... - A loira falava incrédula. - Meu Deus, e o que você falou?
- Mari, eu achei aquilo um absurdo, disse que ele estava viajando. Só que ele já estava tão bêbado.. que preferi nem dar muita confiança. Mas depois disso eu comecei a reparar mais no jeito que você estava... você me pareceu estar bem triste naquele dia e pensei que pudesse ser por causa da Clara, já que ela não fora para o bar, né!? - Duda falava olhando para a amiga.
- Er... acho que você realmente me conhece. - Disse a loira com um meio sorriso no rosto. - Mas eu estou muito surpresa com o comentário do Thiago, Duda. Não sei como ele percebeu isso... será que eu e a Clara fomos descuidadas?
- Ai Mari, pensa aí... com certeza alguma coisa de diferente ele viu para ter feito aquele comentário. - Enquanto Duda falava, Mariana pensava em possíveis situações que pudessem ter levado o jovem a concluir aquilo sobre ela.
- Talvez ele tenha visto algo... er... uma vez eu e Clara quase nos beijamos com o Thiago presente.
- O QUE??? Então ele viu... - Afirmou Duda surpresa.
- Não Duda... nós estávamos na casa da Clara vendo filmes e ele estava dormindo no sofá... então nós já íamos nos beijar quando... MEU DEUSS... VOCÊ TEM RAZÃO... - gritou Mariana antes de colocar a própria mão na boca ao perceber sua alteração. - O Thiago acordou na hora e a gente rapidamente se afastou... mas.. ele agiu tão naturalmente, que eu poderia jurar que ele não tinha visto nada.
- Aii Mari, não acredito que vocês deram esse mole.
- Mas de qualquer forma ele não disse que a mulher que eu estou afim é a Clara né?
- Não Mari... de fato ele não disse... eu que deduzi isso. Mas se ele presenciou essa cena é praticamente certo que ele se referia a vocês. - Duda procurava alertar a amiga.
- Aii Duda, e agora? A Clara vai pirar quando souber disso. - Mariana fazia cara de preocupada.
- Ué Mari, se vocês têm certeza do que sentem uma pela outra não tem por que se preocupar com que o Thiago viu ou deixou de ver. - Duda procurava tranquilizar Mariana e ao mesmo tempo entendê-la.
- Bom... nós sentimos algo muito forte uma pela outra, Duda, mas toda vez que tentei tocar no assunto sobre contar para alguém a Clara não reagiu bem. Acho que ela não está preparada para isso. - Falou a loira um pouco triste.
- E você está, amiga? - Perguntou Duda com o olhar sério.
- Acho que sim Duda... eu sei que não será fácil... mas não vou deixar de viver algo que me faz tão bem por causa das pessoas.
- É Mari... eu admiro muito a sua coragem... mas você tem que estar ciente que nem todos são assim. - Alertou mais uma vez Duda.
- É verdade... ai.. e agora, como conto isso para Clara?
- Posso dar um conselho?
- Deve! - Disse Mariana segura.
- Espera a relação de vocês ficar mais sólida... apenas conte quando você começar a sentir segurança por parte da Clara em estar com você... espera ela aceitar de verdade esse lance todo de estar com uma mulher.
- Aii, não sei Duda... não quero mentir para ela. - Falou Mariana indecisa.
- Você não estará mentindo Mari... apenas omitirá esse fato.
- Tudo bem... acho que você tem razão. Não falarei nada... mas procurarei conversar com ela sobre esse lance de sermos descuidadas.
- Isso Mari... faça isso e tente ficar tranquila. Aposto que o Thiago falou aquilo só por que estava bêbado e por que estava com o ego ferido por ter tomado um fora de uma gata como você. - Duda procurava brincar com Mariana para tranquilizá-la.
- Aii Duda, só você para achar uma forma de brincar com essa situação toda. - Falou a loira já mais calma com um sorriso no rosto. - Bom, agora preciso ir... tenho que almoçar antes de ir para o estágio. Mais uma vez, obrigada amiga, você é demais.
- Que isso Mari... não tem por que agradecer... sou sua amiga, poxa... conte comigo para o que precisar. Agora vai lá, beijo- Despediu-se de Mariana com um beijo no rosto.
- Beijo Dudinha.
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Às 14 horas em ponto Clara já estava em frente ao prédio de Manuela aguardando a jovem descer. Clara realmente não tinha o hábito de ser pontual, porém estava tão ansiosa para saber se alguém mais sabia sobre ela e Mariana, que chegara na hora marcada para buscar a irmã. Logo avistou Manuela aproximar do carro com um sorriso diferente no rosto.
- Não acredito... e você ainda vem me dizer que não está agindo diferente??? - Disse Manuela já entrando no carro de Clara
- Aii Manu... do que você está falando agora?
- Da sua pontualidade oras... você acha isso normal? - Manuela ria enquanto debochava da irmã.
- Caramba... será que você resolveu tirar o dia para pegar no meu pé?? - Disse Clara já mostrando irritação e arrancando com o carro.
- Eiii.... calma... estou só brincando com você. Maninha, de verdade... estou te achando diferente... acho que você está me escondendo alguma coisa. Você sabe que eu te conheço muito bem... não tente me enganar Clara.
- Por que você acha que estou escondendo algo Manuela? - Perguntou Clara nervosa.
- Pelo seu comportamento.... olhai ai... você já está toda nervosa... você não é assim.
- Ok.. ok... Manu, me responde uma coisa... alguém que era muito próximo de mim chegou a te falar algo à meu respeito? - Perguntou Clara com cautela.
- Meu Deus... agora deu para falar por enigmas comigo Clara? Poxa, sou sua irmã... não temos isso uma com a outra... sempre falamos de tudo sem o menor constrangimento. - Falava Manuela sem entender a atitude da irmã.
- Eu sei Manu... só me responde isso, por favor. - Clara insistiu mais uma vez na pergunta, enquanto continuava a dirigir.
- Não Clara... ninguém falou nada comigo... eu estou falando essas coisas sobre você por que te conheço bem... sei que tem alguma coisa acontecendo que você não quer me falar. Me diz a verdade Clara... você está se referindo ao Henrique, não é? - Clara aproveitou-se do sinal fechado para olhar para irmã. Sabia que não iria conseguir esconder a verdade dela por muito tempo e acabou confessando.
- É Manu... estou falando do Henrique mesmo. Ele falou alguma coisa para você a meu respeito? Tipo, por algum bilhete ou ligação?
- Não Clara... por que ele iria fazer isso? Acha que ele ainda está te perseguindo? - Perguntou Manuela preocupada.
- Não sei Manu... acho que ele está querendo controlar minha vida... minhas decisões.... eu... eu não sei bem... Mas estou de saco cheio disso já. - Clara falava novamente nervosa.
- Eii.. espera aí... aconteceu mais alguma coisa entre você e esse mané? Fala Clara... ele te procurou de novo? - Clara ouvia as perguntas da irmã e começava a se sentir cada vez mais sufocada de ter que guardar apenas para si seu segredo com Mariana. Sentiu seu coração se acelerando e um calor forte no rosto. - FALA CLARA!!
- Não... er... não sei... talvez... er..
- CLARA... PARA DE ME ENROLAR E FALA LOGO O QUE ESTÁ ACONTECENDO! - Interrompeu Manuela nervosa, achando que o Henrique havia feito algo para Clara. A morena começou a respirar mais forte como se o ar lhe estivesse faltando... - CLARA???
- EU ESTOU APAIXONADA PELA MARIANA!! - Clara falara gritando como se estivesse finalmente conseguido exteriorizar o que tanto lhe sufocava.
- O QUE????? VOCÊ O QUE???? - Manuela não estava acreditando no que ouvira da boca da irmã.
- Isso mesmo o que você ouviu Manu... estou apaixonada pela Mari. - Clara já estava chorando quando confirmou a declaração para Manuela.
- Para o carro... para esse carro agora, Clara... vamos conversar. - Ordenou a irmã incrédula. Clara, ainda em choque por ter revelado tudo à irmã, encostou o carro na primeira rua tranquila que encontrou. - Clara, me explica essa história direito... como assim está apaixonada por Mariana? Você está louca?? Ela... ela é uma mulher! - Manuela olhava para a irmã que ainda chorava silenciosamente.
- Aconteceu Manu... eu nunca imaginei que passaria por isso... mas aconteceu... eu estou completamente apaixonada pela Mari... eu.. eu não pude evitar. - Clara falava como se estivesse tentando se justificar para irmã.
- Clara... isso não é normal... você... você está se envolvendo com uma outra mulher... isso... isso é um absurdo. - Manuela se expressava de forma confusa, demonstrando o quanto estava chocada com aquela notícia.
- Por que isso é um absurdo?? O que a gente sente é tão verdadeiro e nos faz tão bem. - Clara falava indignada.
- Como assim o que A GENTE SENTE?? Ela.. ela também está interessada em você??? - Manuela se espantava cada vez mais com as declarações de Clara, deixando-a envergonhada e com medo.
- Se-sente... Manu... nós.. er.. nós estamos juntas.
- O QUE???? Não.... você não pode estar falando sério.... Clara, isso é errado... você não entende?? Ninguém aceita essas coisas... isso... isso é totalmente contra nossos princípios.
- CHEGA MANU, VOCÊ NÃO PERCEBE QUE ESTÁ SÓ PIORANDO AS COISAS? - Clara abaixou a cabeça enquanto tentava conter as lágrimas e se controlar. - Achei que você realmente se importava comigo... mas nesse tempo todo você está só me julgando. Como pode agir de forma tão preconceituosa Manu? Justo você que compartilhou comigo todo o sofrimento que passei com Henrique... Manu, finalmente achei alguém que me faz feliz... que me valoriza... queria que você entendesse isso.
- Ah, então tudo isso é só por que um homem te traiu? Você acha que não existe outros homens que poderiam te tratar com respeito e fidelidade?
- Manu, para com esses pensamentos ridículos... não tem nada a ver com o fato deu ter sido traída. Apenas estou te falando que a Mari me faz bem... como nunca ninguém fez.
- Tudo bem Clara... a vida é sua... se você diz que está feliz, não será eu que atrapalhará isso. Mas você precisa entender que esse tipo de vida é abominado na nossa família. Nossos pais ficariam acabados se souberem sobre isso... eles iriam achar que erraram na sua educação... Clara.. isso seria o fim para eles.... você não pode deixá-los saberem disso.
- Manu que absurdo é esse que você está falando??? Acha então que eu não tenho educação, simplesmente por assumir que estou gostando de uma mulher?? Não acredito nisso... que decepção Manu... realmente não esperava isso de você. - Clara falava e seu olhar denunciava a revolta que sentia em relação a irmã.
- Clara... não estou falando por mim... falo pelos nossos pais, pois eles receberam outra educação... Pensa um pouco... eles são extremamente religiosos, nunca aceitariam isso... só traria sofrimento a eles ao descobrirem que tem um filha... er... er... assim. - Manuela não conseguia pronunciar o que de fato queria dizer sobre a opção sexual de Clara.
- Manu, você deve estar pensando que é muito fácil para mim, não é? Acha mesmo que eu escolhi me apaixonar por uma mulher? Acha que eu não sei como as pessoas tem dificuldades de aceitar isso? - Clara tentava mostrar para a irmã o quanto aquilo também era difícil para ela. - Só que eu não esperava que a Mari pudesse me fazer sentir tão bem... tão feliz. Eu tentei mesmo evitar Manu... mas eu sou louca pela Mari e sei que ela também é por mim.
- Tudo bem... tudo bem Clara... me dê um tempo para digerir toda essa história. Poxa... você esperava o que? Que eu te abraçasse e ficasse feliz por saber que minha irmã gosta de mulher?? - Falou Manuela irônica.
- Na verdade eu esperava que você pelo menos me apoiasse Manu... mas já vi que isso é praticamente impossível. - Clara falava com a voz triste.
- Clara, me desculpe... eu posso até tentar entender... mas não espere que eu apoie esse tipo de coisa. - Retrucou Manuela, fazendo com que Clara sentisse novamente uma dor no coração. - É melhor você ir sozinha na casa dos nossos pais... não vou conseguir disfarçar como me sinto agora e eles certamente irão perceber. Me deixa no metrô que eu volto para casa sozinha.
- Tudo bem. - Foi a única coisa que Clara conseguiu dizer.
- Quando eu conseguir entender melhor tudo isso a gente volta a conversar.
- Ok. - Clara respondia sucintamente, pois não conseguia parar de chorar. Guiou o carro até o metrô mais próximo e esperou que a jovem saísse do carro. Porém antes que ela fechasse a porta ouviu a irmã dizer.
- Pode deixar, que pela minha boca ninguém saberá disso. - Disse Manuela de forma seca.
Assim que a irmã saiu de seu carro, Clara começou a chorar copiosamente. Sabia que Manuela não reagiria bem, mas sua reação foi muito pior do que imaginava. Voltou a dirigir o carro, porém as frases preconceituosas de Manuela permaneciam em sua cabeça, fazendo com que ela se desesperasse ainda mais e perdesse as condições ideais para continuar guiando o veículo. Encostou novamente o carro em uma rua e apoiou a cabeça no volante enquanto chorava.
- E agora?? O que eu faço?? - Clara continuava chorando. - Meu Deus, nunca me senti tão impotente diante de uma situação. O que devo fazer? A Manu tem razão... se meus pais descobrirem eu serei o motivo da maior decepção da vida deles. Mas e a Mari?? Minha Mari... não posso ficar sem ela... não consigo.
Clara falava o tempo todo e somente parava quando o choro a impedia de pronunciar as palavras.
- Tem que haver uma solução... preciso ir até a casa dos meus pais... tenho certeza que o Henrique não abriu aquela maldita boca... preciso ir até lá e analisar a situação. Calma Clara... você nunca foi descontrolada desse jeito.... se controla... - Clara falava para si mesma enquanto tentava inspirar e respirar vagarosamente. - Isso... fica calma... vou deixar a Manu para lá por enquanto... pensarei apenas nos meus pais.
A morena voltou a ligar o carro, já mais no controle de suas emoções e seguiu para a casa dos pais. Ao chegar lá foi logo recebida por Dona Ana, que sentiu uma alegria enorme por ver a filha.
- Minha filha!! Que bom vê-la por aqui logo na segunda-feira. Está tudo bem né? - Perguntou Dona Ana abraçando forte a filha.
- Oi mãe, está tudo bem sim... senti saudade de vocês e resolvi aproveitar uma folguinha no escritório para vir visitá-los. - Inventou Clara.
- Ah, que bom filha... e a Manuela, não pôde vir?
- Er.. não mãe... ela precisou resolver algumas coisas e não pôde vir. - Respondeu Clara tentando parecer o mais tranquila possível. - Mas e o pai, está em casa?
- O Antônio foi no mercado filha. Resolvi fazer um bolo de cenoura, mas estava faltando alguns ingredientes, então ele foi comprar para mim.
- Hum, então vou comer bolo de cenoura hoje? Que delícia mãe. - Falou Clara tentando ao máximo disfarçar o quanto estava abatida. Porém dona Ana a conhecia bem.
- Vai comer sim filha... é bom que você melhora essa carinha... estou te achando muito abatida. Aconteceu alguma coisa? - Perguntou preocupada.
- Er... ah mãe... apenas problemas no escritório, mas nada demais não. Quis vir aqui justamente para esquecer os problemas e ficar um pouco com vocês. - Falava Clara procurando parecer verdadeira. - Er.. e por aqui mãe, está tudo bem? Er... alguma novidade?
- Por aqui está tudo ótimo minha filha. Seu pai não voltou a sentir mais dores na cabeça e aquele sujeitinho do seu ex também não voltou a nos procurar. Acho que as coisas voltaram ao normal.
- O Henrique não voltou mais aqui então, mãe? - Perguntou Clara já mais aliviada.
- Não filha... e nem vai mais procurar... seu pai deixou claro para ele que não é bem-vindo aqui.
- É verdade mãe. Está certo, o pai consegue ser bravo quando ele quer né?
- Minha filha, aquele ali quando vê alguém mexendo com suas meninas, vira uma onça. - Falava dona Ana brincando.
- Ai mãe... vocês são demais sabia? - Disse Clara indo até a sua mãe para abraçá-la.
- Own minha filha, vocês que são duas filhas exemplares... só temos que agradecer a Deus pelo caráter de vocês e por serem pessoas tão íntegras.
- Er... mãe... o que seria motivo de vergonha para vocês? Er.. digo... o que a senhora nunca perdoaria se eu ou a Manu fizéssemos?
- Ai filha, que pergunta difícil. Não consigo imaginar nenhuma de vocês duas fazendo algo do qual eu e seu pai nos envergonharíamos. Vocês são nosso orgulho, Clara. E o que nós mais queremos é a felicidade de vocês.- Dona Ana respondeu a pergunta, beijando a testa da filha.
- Entendi mãe. Mas assim... se eu ou a Manu fizéssemos algo que a sociedade não aprova muito bem, vocês também virariam as costas para gente? - Insistiu Clara.
- Filha, mas que tanto de pergunta estranha... bem.. com certeza nós iríamos procurar saber o motivo que levou vocês a fazerem isso. Mas não me preocupo com isso filha, vocês receberam uma ótima educação.
- "Vocês receberam uma ótima educação" - Ao repetir a frase da mãe em pensamentos, Clara não pôde deixar de se lembrar das palavras de Manuela, "... eles iriam achar que erraram na sua educação". - Mãe, vocês nos deram a melhor educação mesmo... e independente se algo acontecesse, que contrariasse os princípios de vocês, isso nada teria a ver com a educação que recebemos. Existem coisas que não são erradas como parece.
- É verdade minha filha... mas não estou entendendo por que você está falando tudo isso. Tem certeza que não aconteceu nada? - Perguntou dona Ana encarando a filha.
- Não aconteceu nada não mãe... eu que estou um pouco reflexiva hoje. Vamos mudar de assunto, está bem? - Clara estava mais tranquila por perceber que sua mãe estava agindo normalmente, porém também temia que um dia a verdade viesse à tona e que seus pais acabassem se decepcionando.
- Vamos sim filha... me diga, quais as novidades?
As duas ficaram conversando até a hora que Sr. Antônio retornou do mercado e adentrou a casa...
- Clara!!! Minha filha, não sabia que você viria hoje. - Disse o pai abraçando-a.
- Oi paizinho... senti saudades e vim visitar vocês. - Respondeu a jovem retribuindo o abraço no pai.
- Ah, se eu soubesse que você viria teria comprado mais coisas que você gosta no mercado. - Falou Sr. Antônio, paparicando a filha.
- Aii pai, pelo amor de Deus, assim o senhor vai me deixar gorda. - Brincou Clara.
- Esses jovens de hoje em dia só pensam em manter a forma... Mas olha para mim... com essa barriguinha sexy aqui eu conquistei sua mãe. - Disse Sr. Antônio esfregando a enorme barriga e olhando com cara de malandro para dona Ana.
- Ahh, mas quem disse que quando nós nos casamos você tinha essa barriga aí? - Falou dona Ana, rindo do marido.
- Meu bem, posso até ter sido magro, mas se estamos completando 40 anos de casados, com certeza é por que você se apaixonou por essa barriguinha aqui. - Sr. Antônio continuava brincando com a esposa.
- Ai Clara, vamos deixar seu pai para lá... nem vale a pena responder essas bobeiras dele. - Dona Ana fingia indiferença enquanto Clara caia na risada do pai.
- Pai, só o senhor mesmo para me fazer rir.
- Por que minha filha, está tudo bem? - Perguntou Sr. Antônio se sentando à mesa junto com a filha.
- Está sim pai... foi só um modo de dizer. E o senhor, como está a cabeça?
- Já estou pronto para outra filha!
- Credo paii, pronto para outra briga? - Brincou Clara com o pai.
- Se precisar.... por que não? - Respondeu Sr. Antônio com um olhar enigmático para Clara.
- Er... eu.. eu acho que não terá mais motivos para isso pai. - Disse Clara com os olhos fixos na mesa.
- Eh, filha... vem aqui na sala comigo, gostaria que você tentasse arrumar o relógio da televisão para mim. - Clara estranhou a mudança brusca de assunto do pai, mas apenas o seguiu deixando dona Ana na cozinha preparando o bolo.
Ao chegar na sala, Sr. Antônio esperou Clara terminar de arrumar a hora no relógio da TV e puxou novamente o assunto com a filha.
- Clara, o Henrique voltou a te procurar? - Perguntou Sr. Antônio sério.
- Er... na-não pai... sumiu do mapa... não nos falamos mais. - Mentiu a morena.
- Hum... que bom... - Respondeu o pai pensativo. - Filha, quero que escute bem o que vou te falar. Saiba que o melhor lugar para você poder desabafar é na sua casa... ao lado da sua família. Jamais guarde as coisas que te incomodam e que te machucam apenas para você mesma. O fato de você não conseguir resolvê-las sozinha, não quer dizer que você fracassou, mas sim que você ainda tem a chance de recorrer àqueles que te amam.
- Nossa, pai... er.. obrigada. - Disse Clara com expressão emocionada.
- Não precisa agradecer filha. Sou o seu pai e quero sua felicidade sempre. Nunca se esqueça disso. - Clara sentiu um conforto muito grande ao ouvir aquelas palavras de seu pai, porém tentava entender o motivo dele estar falando tudo aquilo.
- "Será que meu pai acha que estou escondendo alguma coisa?" - Pensou a jovem. - Er... pai o senhor acha que é certo esconder algo quando sabe que a verdade vai magoar as pessoas?
- Bom filha, algumas vezes acho que sim... que é melhor esconder determinadas coisas, quando se sabe que as pessoas não conseguirão lidar com a verdade. Mas muitas vezes precisamos tomar cuidado para não usarmos essa desculpa para continuarmos acomodados em uma mentira. - Clara ouviu a resposta do pai e permaneceu quieta. Já o Sr. Antônio olhou para filha mais uma vez com seu olhar enigmático e disse. - Filha, independentemente do quão difícil é contar a verdade, o que importa mesmo é saber que fizemos a escolha certa e ficarmos em paz com a decisão tomada.
- É pai... o senhor tem razão. - Clara ficara impressionada com a sabedoria do pai, mas ao mesmo tempo procurava entender se ele estava querendo dizer alguma coisa com aquilo tudo. - Mas enfim... vamos voltar para a cozinha, pois já tivemos a dose de filosofia do dia e dona Ana já já vai reclamar que eu não dou atenção a ela.
- Vamos sim filha, não quero sua mãe reclamando de mim depois.
Clara passou o resto do dia com os pais, depois, quanto já estava bem tarde decidiu voltar para casa. Ao longo do caminho foi refletindo sobre as coisas que seu pai lhe falara e também sobre tudo o que havia acontecido entre ela e Manuela.
- Meu pai falava tudo com tanta segurança... nossa, parecia até que ele sabia de tudo isso que eu estou passando. Aii.. como foi bom falar com ele. Mas não sei se ele teria essa mesma opinião se de fato soubesse sobre mim e a Mari... MARIII!!! - Nesse momento Clara lembrara que não havia dado sinal de vida para a loira, desde que ela saíra de sua casa de manhã. - Ai meu Deus... o que vou fazer?? O que devo dizer para a Mari... nossa... que dia... quanta coisa aconteceu... o bilhete, a Manu... as frases enigmáticas do meu pai... Unff..
- Que raiva senti da Manu... mas numa coisa ela está certa... meus pais não aceitariam isso nunca... Minha mãe acha que tem a filha perfeita e meu pai fala todas aquelas coisas por que nem imagina no que sua filha está metida. Aii Deus... por que as coisas não são mais fáceis? Aiii Marii... minha Mari... não posso ficar sem você... eu te quero demais... - Clara continuava falando sozinha tentando achar uma solução para toda aquela complicação. - Aiii... não consigo pensar em nada agora... não preciso escolher nada... eu quero a Mari e pronto... mas preciso ter cuidado... se meus pais não ficarem sabendo não tem por que me afastar da minha linda... AFASTAR???? Meu Deus, o que estou falando??? Ontem tivemos um dia perfeito e hoje até penso na possibilidade de nos afastarmos??? NÃOOOO.... não vou me afastar de você, loirinha. Nossa... se relacionar com mulher realmente é muito intenso... muito complexo...
Clara pronunciou as últimas palavras e logo percebeu que já havia chegado. Entrou em seu apartamento, tomou um banho e pegou o celular para ligar para Mariana. Viu que havia várias ligações dela e já imaginou que a loira fosse brigar, afinal, ela não sabia de nada do que acontecera. Porém estava decidida a não lhe contar nada... apenas iria conversar com ela sobre o medo que tinha de seus pais ficarem sabendo. Então, respirou fundo já se preparando para ouvir as broncas da jovem e discou seu número....
Fim do capítulo
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Anastacia
Em: 25/07/2016
Ei Gi!
Como lhe disse outras vezes, posso até tardar, mas a minha promessa de "repor" todos os meus comentários perdidos lá no AbcLes continua de pé! Promessa de arianos são verdadeiros pactos de sangue, rsrs.
Estava relendo o capítulo e pensando que algumas vezes ter uma segunda oportunidade é algo fantástico. Na vida nem sempre temos oportunidade de rever ou fazer diferente determinada coisa. Na leitura, podemos nos dar ao luxo de, numa segunda leitura, rever nossa forma de interpretar ou sentir as coisas.
Recordo-me que na minha primeira leitura de EOESEV substimei os sentimentos da Clara e todos os medos e inseguranças que permearam o seu momento de descoberta. Hoje, relendo o capítulo, percebo que o processo da Clara foi realmente muito mais difícil que o da Mari. A lourinha no seu primeiro momento revelação já foi abraçada e compreendida por sua amiga. Já a morena sentiu de alguém extremamente próximo o peso da rejeição.
Isso certamente foi fundamental para definir os rumos de como cada uma iria encarar essa nova realidade em suas vidas.
Se a Clara e a Mari são versões de você mesma, Gi, penso que não foi um processo fácil para você se descobrir. Assim, os contornos dessa linda história ganham cores especiais, assim como você.
Um grande beijo.
Anastácia Salles.
Resposta do autor:
Minha querida Anastácia,
Acho que também já te pedi compreensão por minha demora em responder aos comentários, né? rsrs. Como diz vc, posso até tardar, mas sempre lhe responderei com maior prazer e alegria. Até pq, esse esforço que vc dedica para me deixar um comentário alegra meu coração e ajuda a matar um pouquinho da saudade que sinto dessa interação. Que bom que arianos cumprem suas promessas, assim, te terei por aqui por mais tempo, rsrs.
Fiquei aqui pensando sobre o que escreveu... ter uma segunda oportunidade. Realmente nem sempre temos essa chance na vida, mas creio que se a oportunidade apareceu, algo especial está programado para acontecer. Talvez seja uma simples mensagem que fica entranhada nos nossos pensamentos e servem para nos proporcionar uma nova perspectiva, ou talvez seja a chance de agir diferente.
Sobre a história, posso dizer que seu segundo olhar é magnifico, que seu comentário é sempre profundo e perspicaz e que você consegue, além de compreender a escrita, se colocar no lugar das personagens, trazendo a mensagem da história para sua própria vida. Que leitura atenta! Algo também fica claro para mim... nossa interpretação da história varia de acordo com o momento em que estamos vivendo. Tá aí a incrível versatilidade da escrita: é sempre nova, pois o que a muda é o nosso olhar sobre ela.
Amei o que vc escreveu sobre a Clara... sei que é difícil compreendê-la, mas seu processo, embora tenha sido o mesmo que o da Mari, se diferenciou por causa de sua bagagem emocional, suas experiências familiares, seus amigos, em grande parte preconceituosos. A Clara tinha esse medo todo pq na verdade o preconceito existia dentro dela mesma, sem ela perceber... Dificíl mesmo se dar conta disso, já que se tratava de um assunto totalmente "fora da caixa" para ela, totalmente distante de sua zona de conforto e de suas crenças e vivências.
Por fim, minha cara leitora, se essas versões de Clara e Mari, que tanto fizeram parte do que fui, do que sou, conseguiram te tocar de alguma forma, só posso te agradecer de coração, por tamanha sensibilidade e por me considerar especial. Especial é você que consegue ver além das aparências e do óbvio. Especial é você por compreender as especificidades dos seres humanos, muitas vezes tão cara para uma vida melhor e aceitável pelo próximo.
Um grande beijo... até breve!
Lana queen
Em: 20/04/2016
Ai Gi to com dó da Clara mais entendo tanto os sentimentos dela...pensando aqui na vida...nunca li assim tão cedo percebeu? 8: 30 isso é madrugada...perdi o sono... Bjs
Resposta do autor em 02/05/2016:
Ei Lana,
Que bom que vc compreende a Clara... a cabeça dela está a mil e ainda não tem com quem conversar.... muito difícil.
8:30 da manhã? rsrs, madrugou então, rsrs
Beijos
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Hanna Stark
Em: 15/09/2015
Sou do time que quer colocar essa história no topo. Merece isso, no abc era assim.
Resposta do autor:
Ah, que graça... obrigada viu! Vcs são demais!
Beijos
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