Capítulo 54
Não! Eu não vou fazer isso, por que dessa vez eu não fiz nada de errado.
É errado amar?
Por que se o que eu sinto não for amor eu não sei mais o que é. Isso ultrapassa os limites da paixão.
Eu amo a Beatriz e dessa vez eu vou fazer o que eu deveria ter feito a 5 anos atrás, eu vou mostrar pra ela o meu amor e lutar pelo nosso amor.
Sai correndo atrás dela. Quando cheguei no estacionamento ela estava chegando no carro.
-- Bia, espera.
Ela me ignorou e continuou andando. Apressei o passo e quando cheguei perto dela.
Como em cena de filme começou a cair uma chuva intensa, quando alcancei a segurei pelo braço.
-- Bia, vamos conversar.
-- Eu já falei que não tenho nada pra conversar com você.
-- Eu só quero te mostrar que... - ela me interrompeu
-- Mostrar o que Natália? Que eu sou uma idiota que sempre te perdoa e que você sempre faz o que quer? Não da mais, eu não aguento mais sofrer.
-- Bia, eu só quero te dizer que...
-- Eu não quero ouvir nada Natália.
Quase sem forças, cansada, com frio devido a época do ano e aquela chuva caindo sobre nós, quase num sussurro falei olhando em seus olhos.
-- Eu te amo.
Ela que estava me olhando, leu meus lábios e permaneceu me olhando.
Ficamos entre esses olhares por algum tempo, até ela sair do estado hipnótico que nossos olhares causavam e se virou para entrar no carro.
Sem pensar duas vezes a puxei pra perto de mim, empurrei seu corpo contra o carro e colei meu corpo no dela.
Aquele contato tão simples já me despertava as sensações que só ela conseguia despertar.
Ela permanecia me olhando, mas eu não conseguia decifrar seu olhar, acho que nem ela sabia o que pensar naquele momento. Não expressava nenhuma reação, nenhuma expressão.
Seu cabelo que já estava encharcado caia sobre os olhos e eu em um gesto delicado colocava os fios que caiam pra trás da orelha.
Quando passei os dedos pelo seu rosto ela fechou os olhos sentindo o meu toque em sua pele e sem pensar, como em um ato involuntário, como se meu corpo precisasse disso automaticamente eu a beijei.
Depois de 5 anos sem sentir aquela pele macia, aquele perfume que me embriagava, só com o seu beijo senti as sensações antigas e novas que só ela conseguia fazer.
O beijo que não foi roubado, não foi previsto, simplesmente aconteceu, como tinha que acontecer.
Foi um beijo calmo, com saudade, intenso e a chuva foi testemunha de que o amor não tinha acabado.
Aos poucos fomos nos separando do beijo lentamente e ela permanecia com os olhos fechados sentindo a chuva cair pelo seu rosto.
-- Que saudade que eu estava desse beijo. – eu disse passando os dedos pelo seu rosto.
Ela abriu os olhos me olhando intensamente, mas não disse nenhuma palavra.
-- Podemos conversar agora? – eu
-- Eu não posso. Eu to confusa, preciso pensar.
-- Tudo bem, pode pensar o tempo que você quiser, eu vou estar te esperando. Eu não vou a lugar nenhum sem você Bia.
Quando eu disse que não iria a lugar nenhum seu olhar mudou, notei ali um ponto de esperança.
Ela entrou no carro e eu fiquei ali acompanhando ela sair do estacionamento e seu carro sumir rua adentro.
A chuva caia com mais intensidade, mas eu permanecia ali achando que estava em um sonho, ainda sentindo o gosto do beijo da Bia.
BIA
Ver a Natália daquele jeito, tão entregue me deixou balançada.
Eu estava muito confusa e esse beijo deixou meus pensamentos de pernas pro ar.
Depois de tanto tempo, aquele beijo reacendeu uma chama que estava adormecida dentro de mim, mas eu não podia me deixar levar, não assim tão fácil.
A Natália já me magoou muito e eu não posso me entregar assim do nada, ela pode ter mudado, mas ainda tenho minhas mágoas e minhas duvidas.
Fui pra casa e fiquei la refletindo sobre essa vida maluca que eu tenho e meus pensamentos foram interrompidos com o celular tocando. Já eram três horas da manha e ganhei um susto ao ver um numero que não conhecia.
-- Alô.
-- Oi, Drª Beatriz?
Aquela voz conhecida que me acalmava foi como música para os meus ouvidos.
-- Cah, meu Deus, como você está?
-- Eu estou bem, mas morrendo de saudade de você.
-- Nem me fale, você não faz ideia da falta que esta fazendo.
-- Meu Deus, agora que me toquei, devo ter te acordado né? Aqui já é de manha, mas ai deve ser madrugada. Me desculpa.
-- Não me acordou não, cheguei agora pouco.
-- E onde a senhorita estava?
-- Fui em um barzinho com a Mari.
-- Que bom que você esta saindo. Aqui não da pra fazer quase nada.
-- E como estão as coisas ai na África?
-- Nossa, o trabalho aqui é muito intenso, são muitas pessoas em condições precárias, a cidade não tem orçamento nem equipamento para a saúde, é tudo muito difícil, mas é muito bom fazer algo por eles e ver o sorriso das pessoas Bia. É uma sensação que não da pra explicar.
-- Ai Cah, deve ser maravilhoso mesmo. É uma grande experiência de vida pra você. E sorte pra todos que tem você ai por perto.
-- Não fala assim que eu vou chorar Bia.
-- Eu me acostumei com a sua presença, com os seus conselhos, suas brincadeiras e trapalhadas e ficar aqui sem você esta sendo torturante.
-- Nem me fale Bia, é muito difícil pra mim também. Mas eu fico feliz que mesmo a gente tendo terminado nosso namoro a nossa amizade permaneceu e ainda mais forte.
-- Você sempre foi muito mais do que uma namorada pra mim Cah, eu cresci ao seu lado e aprendi muitas coisas com você e quero você na minha vida pra sempre.
-- Eu também, mas a nossa vida continua né, você daqui a pouco arruma outra namorada e esquece de mim.
-- Não fala besteira Camila. Eu nunca vou me esquecer de você. É só você voltar pro Brasil que nós seremos grandes amigas. Mas em fim... Eu te liguei pra te convidar pra vir pra África daqui a duas semanas. Vai ter mutirão aqui pra dar atendimento aos mais pobres e virão centenas de médicos de todo o mundo. Vai durar só uma semana e eu já falei com o chefe do hospital e ele adorou a ideia, disse que será uma ótima experiência para você. O que você me diz?
-- Eu não sei nem o que dizer.
-- Então diga que sim e vem aqui pra eu matar essa agonia de ficar tanto tempo sem te ver.
-- É claro que eu vou, estou louca pra te dar um abraço gigante.
-- Que ótimo, vou ficar aqui te esperando ansiosa. Depois te ligo pra dizer como vai funcionar.
-- Ta certo.
-- Agora vou te deixar dormir. Boa Noite Bia, foi ótimo falar com você.
-- Sempre é ótimo falar com você. Boa Noite Cah, até mais. Beijão...
-- Beijão linda, te amo.
-- Também te amo, Cah.
Foi impulsivo, nos despedimos como sempre nos despedíamos das ligações, mas de certo modo, não estávamos mentindo.
Conversar com a Cah foi ótimo. Eu sentia tanto a sua falta. Eu sei que se ela estivesse aqui nada disso estaria acontecendo. Esses dias la com ela vão me ajudar a pensar no que fazer.
Foi estranho conversar com a Cah assim, como amigas. Por 5 anos fomos namoradas e íamos até nos casar.
Eu mais do que ninguém conhecia muito bem ela e sei que ela estava fazendo de tudo pra não ficar triste e nem transparecer o sentimento que ainda existe e muito forte. É claro que seria mentira se eu dissesse que a Camila é só uma amiga.
Eu a amei, e esse sentimento não some assim de uma hora pra outra, mas se ela esta se esforçando pra continuar sua vida sem sofrer eu vou fazer o mesmo, mas eu não sei como vai ser quando eu a ver.
O sentimento com certeza vai falar mais alto e toda essa história de amizade vai ao chão, mas o negocio é esperar por essa viajem, pois só indo pra la e ver a Camila novamente que eu vou saber o que é melhor pra mim.
Fim do capítulo
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