Aquele era um dia especial pra mim. Um recomeço, um recomeço de tudo. Eu merecia, afinal, depois de toda uma vida praticamente insípida. Eu, com 37 anos, recém-separada, 2 filhos e no meu primeiro dia de trabalho. É bem verdade que aquele não era o trabalho dos meus sonhos, da minha adolescência, mas era um trabalho digno, valorizado e que tinha conseguido puramente através do meu currículo.

                Desci do carro com o pé direito, superstição adquirida com a minha mãe, fiz o nome do pai e entrei na escola. Meu estomago revirava de ansiedade. Apesar da faculdade e do mestrado, nunca tinha dado aulas de verdade, pra uma sala cheinha de alunos. Só nos estágios, nos testes. Me saí bem no  teste admissional para aquela escola. Uma escola privada pequena, com um plano de ensino diferenciado. Uma antiga amiga da faculdade sabendo da minha nova etapa de vida me avisou da vaga e mandei meu currículo. Sou formada em biologia e fiz metrado na área de botânica. Provavelmente por causa do mestrado, me chamaram para um teste. Fui bem clara que não tinha experiência, mas dei a aula que preparei e também uma aula surpresa com o conteúdo escolhido por eles. Passei, e aqui estou eu, com o coração acelerado, entrando na escola. Vendo a algazarra dos alunos. Fico pensando se meus filhos também se comportam assim na escola.

                Primeiro me apresentei no RH, que me levou até a coordenadora pedagógica e então ela me levou até a sala dos professores. Não fez maiores alardes, afinal era até comum sempre começarem professores novos. Observei que eles já estavam entrosados e fiquei na minha. Sou um pouco tímida, e fingi mexer nos meus cadernos de frequência, mas é claro que sempre tem uma alma boa e ela veio falar comigo, super simpática:

                - Olá.

                - Oi.

                - Você é nova aqui, né? Prazer, meu nome é Helena, sou professora de matemática. - disse isso me estendendo a mão pra um cumprimento.

                - Sou sim. - retribui o cumprimento - Sou Renata. Professora de biologia.

                - Que bacana! Seja bem vinda a escola. Você vai gostar daqui. Logo estará enturmada. Se precisar de alguma coisa, pode me procurar. - me disse piscando um olho.

                - Obrigada. Pode deixar que procuro sim. - vou precisar, só conseguia pensar nisso!

                Logo chegaram outros professores na roda e acabei conhecendo mais alguns. É bom estar nesse ambiente com novas pessoas, com adolescentes, gente nova.  O sinal bateu e fui pra sala. Demorei um pouco pra acha-la, mas fui. As aulas foram relativamente tranqüilas, é claro que os alunos perceberam um pouco minha inexperiência, mas se tem uma coisa que sei fazer bem, é me impor. Não dei mole. Tinha que conseguir o respeito deles de um jeito ou de outro. Ficava um pouco insegura com as perguntas, mas tinha me preparado e consegui ir bem. Como professora acho que tinha tirado nota 8. Logo estaria no 10.

                Na saída, Helena me acompanhou. Perguntou como tinha sido, se eu tinha gostado, essas coisas triviais. Foi comigo até o carro, e esperou que eu entrasse. Nunca tive colegas de trabalho, e achei essa atitude bem bacana. Ela foi bem simpática e me fez sentir parte da equipe.

                Apesar da minha insegurança inicial, tudo naquela semana correu bem. Eu já mais adaptada aos alunos, ao ritmo do colégio, a administrar meu tempo em casa com as crianças e, estranhamente, a pensar em Helena todos os dias antes de dormir. 

Fim do capítulo