Nunca me ocorreu aquilo, e eu fiquei muito constrangida, E foi por isso que naquela manhã tomei um belo banho antes de sair para o parque, pra me sentir limpa de tudo aquilo. Ouvi a televisão ligada, fui até a sala e Elisa e Lucy estavam dormindo abraçadas no sofá. Aquela cena mexeu com algo profundo em meu coração, ficou apertado de repente. Meu bom senso tentando me livrar do mal-estar: pelo menos elas estavam vestidas. Desliguei a TV e sai na portaria e olhei a correspondência, havia uma grande carta rosa em forma de coração...

-Aubrun – pensei alto, abri o envelope, só tinha escrito:

O seu amor está aqui

Olhei tudo em volta, mas não havia ninguém. Guardei a carta e fui ao parque. Estava correndo quando eu vi um menininho de camisa listrada, ele me parou e me entregou um balão vermelho de coração.

Seu amor Também voa pra poder te encontrar

Era o que estava escrito no balão. Quando fui perguntar ao menino quem havia mandado, ele já estava longe correndo. O que é que o Aubrun estava tramando? Fui para casa e tomei um banho, resolvi que almoçaria no restaurante chinês que eu sempre ia quando não queria comer fritas com Galeto's. Eu iria comer algo bem leve, não queria passar mal novamente. O garçom trouxe o meu prato com uma porção de biscoitinho da sorte.

- biscoito grátis - falou num sotaque meio esquisito. Comi a comida vagarosamente, ainda estava enjoada. Terminei e abrir o biscoito pra ver minha sorte:

Seu amor está em todos os lugares pra te surpreender

Comecei a rir, era a primeira vez que Aubrun era tão romântico a ponto de fazer aqueles joguinhos comigo. Fui pagar a conta, mas a conta já estava paga. Resolvi não perguntar nada pra não estragar a surpresa dele, queria ver até onde ele iria chegar.

Fui para a Le Monde e era aula de pratos orientais aula prática. Eu estava fatiando um sushi, quando o rapaz de boné me chamou na porta, ele estava com uma caixa enorme de bombons e um envelope branco. Pedi licença ao professor Takada e fui atendê-lo. Ele me entregou a caixa de bombons onde estava escrito:

Se a vida te der um limão Experimente um bombom

Apesar de tudo achei aquela frase romanticamente tosca, nesse momento o pessoal da turma já estava curioso tentando ver o que eu estava recebendo. O rapaz me entregou o envelope e saiu. Abri o envelope sorrindo, tirei um calhamaço de fotografias lá de dentro. A primeira era de nós dois no dia anterior nos beijando na porta do bistrô. Fiquei imaginando o tamanho da Loucura de Aubrun. Embaixo estava escrito:

O seu amor...

Passei para a próxima foto e na foto eu já tinha entrado, Aubrun cruzava a rua e em baixo só havia um sinal reticente escrito. A próxima foto era uma montagem de quatro fotos. Aubrun estava na mesma roupa, e batia na porta de uma casa que eu não conhecia, na sequência saiu uma garota loira da casa e na terceira foto Aubrun e a mulher trocavam um beijo enorme. Fiquei imediatamente chocada e não consegui acreditar na foto seguinte, eles tinham entrado na casa e embaixo só havia escrito:

...Não está aqui

As fotos seguintes eram uma coleção imensa de Aubrun e diversas mulheres e em baixo sempre escrito:

Seu amor não está aqui

E cada passada meu coração se trincava, mais eu ficava furiosa. Foi quando eu não consegui mais aguentar toda aquela sequência de fotos, minhas pernas se moveram sozinhas, eu apenas queria tirar aquela história a limpo com Aubrun e eu faria de tudo pra que ele pagasse pelo que ele tinha acabado de fazer comigo.

Corri pra sala que eu sabia que ele estaria, e o chamei à porta, ele veio todo risonho e aquilo me deu um ódio ainda maior. Tentou me dar um selinho, afastei o rosto e ele me olhou com uma expressão estranha.

- O que foi meu amor? - Joguei as fotos seu peito, e elas caíram no chão.

 -É isso que aconteceu, como pode me explicar o que tá aqui nas fotos? - ele se abaixou em uma das fotos e a recolheu com lentidão, parecia não acreditar no que estava vendo.

-eu... eu... - começou a gaguejar - eu não sei do que se trata- fechei o cenho e cruzei os braços.

- Não se faça de desentendido, Aubrun, eu não acredito no que você acabou de fazer comigo, você estava me traindo esse tempo todo. eu desisto de você. - virei as costas imediatamente e comecei a sair, ele tentou agarrar o meu braço, mas eu empurrei. E o deixei falando sozinho. Eu não sabia o que fazer naquele momento mais. Minha vida estava completamente destruída novamente. Não me restavam mais nada ali. Tudo que me prendia naquela cidade parecia ter ruído num segundo. Fiquei perdida, e resolvi ir pro único lugar que eu conseguia ter paz. Fui correndo pro meu parque, onde eu fazia as corridas de manhã, aquilo a princípio parecia ser uma boa ideia. eu tinha que respirar ar puro e colocar as ideias no lugar. Pensei algumas vezes em ligar pra Lucy, mais desisti, ela devia estar na aula, e eu não queria atrapalhar.

 Minha mãe me ligou, mas eu não estava com saco pra conversa dela, sabia que era alguma coisa que eu não estava a fim de ouvir no momento. Sentei debaixo de uma árvore e relaxei meus olhos. Parecia que uma tonelada estava sobre a minha cabeça, e por mais que eu tentasse me livrar aqueles pensamentos eu simplesmente não conseguia.

 O parque estava muito movimentado, tinham muitas crianças e elas  estavam correndo e gritando. Aquilo começou a me encher a paciência, porque eu não consegui me concentrar, ou pelo menos parar de pensar. tudo parecia ser tão contraditório.

 De repente, uma bola muito forte me acertou a barriga, aquilo doeu muito, um menino que parecia ter uns 7 anos veio correndo em direção de onde eu nem sei, agarrou a bola e saiu sem pedir desculpas, gritando pro seu colega

-Ei cara vem logo, tão dando chocolate de graça lá na praça.-  só vi os dois guris correndo rapidamente. Fiquei muito chateada porque eles nem olharam pra trás, eu fiquei me lamentando pelas pela bolada na barriga, resolvi que talvez andar seria melhor pra mim. Me levantei, bati a poeira da roupa e comecei a andar em direção dos guris, quem sabe eu poderia até conseguir um chocolate de graça. Aquele dia estava um dia meio nublado um pouco gelado quem sabe se eu me esfriasse um pouco minha cabeça, eu poderia pensar direito. Fui vagarosamente e novamente meu celular começou a tocar a virei a esquina, quando eu vi uma pequena aglomeração de pessoas, na verdade a maioria de crianças e elas pareciam estar muito contentes e gritando pra uma mulher que distribuía o chocolate derretido em copinhos. Peguei meu celular e e apertei no botão verde, coloquei o celular no  ouvido.D outro lado da linha eu ouvi a voz familiar da minha mãe.

- Filha, aonde você tá? – ela perguntou

-Eu estou no Parque, Mamãe, porque?

-Onde está Lucy? - falou ela em um tom muito preocupado - Lucy está na escola, mamãe. Aconteceu alguma coisa com papai?

- não filhinha, só que tenho péssimas notícias pra você.

- Fale mamãe - nesse momento a mulher do chocolate  pegou um balde enorme que tava servindo e levantou acima de sua cabeça, nesse momento pude focalizar a sua feição delicada, o rosto delgado, olhos brilhantes cabelos compridos e castanhos. Reconheceria aquele rosto mesmo se estivesse com  50 anos.

-Filhinha - Continuo minha mãe -  Elise está solta -  naquele momento a mulher do chocolate virou  o balde de chocolate em sua cabeça e quando terminou abriu aquele sorriso que eu já conhecia há muito tempo, Elise sorria pra mim daquela forma que só ela podia fazer...

Se a vida te der um limão Experimente um bombom

Fim do capítulo