“Arrisque-se! Toda vida é um risco. O homem que vai mais longe é geralmente aquele que está disposto a fazer e a ousar. O barco da 'segurança' nunca vai muito além da margem.” (Dale Carnegie)

 

            - Eu tenho tanto medo de machucar você Flá.  – eu disse olhando-a carinhosamente após seu pedido de namoro.

            - Eu sei que as coisas estão acontecendo muito rápido Jú. Também tenho medo de machucar, não vou mentir, mas tenho muito mais medo de não tentar ganhar seu coração pra mim. Eu nunca me perdoaria se não tentasse. – ela me disse fazendo meu coração se aquecer de uma forma singela.

            - Por que você tem que ser assim tão... – calei-me tentando achar uma palavra que se encaixasse com o que eu queria dizer. Mas no fim das contas toas as palavras mais lindas do mundo serviam para descreve-la.

            - Sua! – ela respondeu me fazendo abrir um sorriso lindo – Sou sua Júlia. Aceita ser minha? – perguntou novamente e dei a ela um daqueles beijos que me tirava o folego sempre nossas bocas se buscavam com paixão.

            - Eu aceito! – disse baixinho e puxei seu corpo para junto do meu abraçando-a. eu estava arriscando alto demais. Se esse namoro não desse certo eu correria um grande risco de ficar sem a namorada e sem a amiga. Mas eu sempre acreditei que as melhores apostas na vida são aquelas em que você arrisca tudo. E era exatamente isso que eu estava fazendo. Arriscando muito alto.

            Flávia e eu tivemos uma noite perfeita. Não foi apenas sex*, foi paixão, foi o começo de uma troca de emoções. Foram carinhos e toques provocantes, foram beijos carregados de ternura, abraços que me faziam sentir segurança. E eu procurei dar ela todo o sentimento que nascia em mim. Cada toque de minhas mãos em seu corpo era dado com delicadeza, cada beijo que lhe dava vinha carregado de carinho, cada vez que meu corpo tomava o seu para sí eu colocava meu coração junto. Adormecemos uma enroscada no corpo da outra. E me senti tão em paz, tão segura.

            Eu sempre adorei as manhãs de domingo, mas confesso que estava sendo  incrivelmente melhor acordar com Flávia ao meu lado. Ela estava estirada na cama, da mesma forma que eu a vi no dia em que entrei no seu quarto no carnaval, a barriga para cima e o rosto tranquilo. Busquei o celular no criado mudo e me assustei ao ver as horas. Já passava das 10:00 da manhã. Encaixei meu rosto em seu pescoço beijando-o delicadamente e fui até seu ouvido.

            - Bom dia! – sussurrei dando um beijo suave. Ela remexeu seu corpo e seus braços se jogaram sobre mim, puxando-me para perto do seu corpo.

            - Bom demais acordar assim! – ela disse apertando meu corpo ao seu. Minha boca aumentou o contato com seu pescoço beijando-o com mais força e ela me deu um gemido baixo.

            - Vamos tomar café? – disse pondo meu rosto em frente ao seu. Ela abriu os olhos com dificuldade e sorriu.

            - Estou morrendo de fome! – disse buscando minha boca para um beijo.

            - Não mais do que eu! – respondi afastando nossas bocas levemente, e voltando a beija-la com mais volúpia. Minhas mãos passaram a explorar seu corpo deslizando por ele todo, apertando-o, arranhando-o com delicadeza.

            - Assim fica impossível sair da cama – ela disse com dificuldade.

            - Vou deixar você sair só um pouquinho então – eu disse saindo da cama e deixando ela lá com uma cara de quem não estava acreditando mesmo que eu tinha provocado e depois fugido. Sorri de seu jeitinho tão lindo e cativante enquanto buscava uma calcinha em minha gaveta e uma camisola para vestir. Ela passou as mãos pelos cabelos e suspirou, levantando seu corpo da cama e vindo ate minha direção.

            - Você vai pagar caro por isso dona Júlia! – disse com a voz provocante.

            - Ui! – eu disse – Mal posso esperar pra pagar! – respondi – Quer uma roupa? – perguntei abraçando-a.

            - Por favor! – ela disse envolvendo seus braços em meu pescoço.

            - Acho bom mesmo! Namorada minha não anda pelada por ai! E muito menos abre a porta de casa de calcinha e camiseta viu mocinha – eu disse brincando e ela deu uma risada gostosa.

            - Só por que você quer né? – respondeu mantendo a sua pose autoritária. Esse jeito forte de sua personalidade era incrivelmente atrativo.

            - Não por que eu quero... mas por que eu estou pedindo! – disse olhando em seus olhos, usando um tom de voz que expressava carência, como o gato de botas no filme do Sherek, eu adorava aquele olhar de dó do gatinho.

            - Você não pode fazer essa carinha pra mim Júlia – me deu um selinho – eu não resisto a ela.

            - Que bom saber isso! – disse sorrindo. Soltei meus braços do seu corpo e busquei uma roupa em meu guarda roupas entregando-a para ela. – O que quer comer? – perguntei e ganhei um sorriso malicioso de seus lábios.

            - Além de você? – devolveu a pergunta.

            - Que namorada mais safada eu fui arrumar! – disse puxando sua mão e buscando sua boca para beija-la – Pode fazer isso depois do café da manhã se quiser! – respondi com malicia.

            - Vamos comer logo então! – ela respondeu. Colocou a camiseta que lhe entreguei e o short e saiu caminhando apressada me puxando pelas mãos. – O que vamos ter de café?

            - O que você quer? – disse abrindo a geladeira. – Tenho suco de laranja e de uva.

            - Uva – respondeu.

            - Frios? – perguntei e ela confirmou – Cream cheese ou manteiga?

            - Cream chesse.

            Coloquei as coisas sobre a bancada e me sentei ao lado dela. Coloquei também um pote de geleia de morango que eu adorava. Peguei uma fatia de pão passando a geleia e enchi um copo de suco de uva. Flavia fez sanduiche com cream cheese, peito de peru e queijo prato para ela. E tomou suco também.

            - Como se sente sendo uma mulher comprometida novamente? – eu disse olhando-a.

            - Muito bem. Pode assumir que você era caidinha por mim! – disse com um ar divertido e sorrindo. – Eu não ligo.

            - Que convencida! – passei o dedo sobre a espátula que continha geléia e o levei ate a boca ch*pando-o devagar enquanto olhava para ela.

            - Que delicia! – disse suspirando e me fazendo sorrir. – Essa geléia tem muita sorte! – completou me fazendo rir mais ainda. Flávia conseguia me fazer rir de uma maneira tão gostosa. Era natural de sua personalidade.

            - Sabe o que eu acho? – perguntei e ela balançou a cabeça negando – Acho que minha namorada também tem muita sorte – levantei-me e passei o dedo na borda do pote, pegando um pouco de geléia e segui até ela, deslizei meu dedo sobre seus lábios, passando a geleia sobre eles, e com minha língua retirei tudo de forma lenta, terminando num beijo que cobriu sua boca.

            - Acho que você tem razão – ela disse quando minha boca deixou a sua. – Sua namorada é uma mulher de sorte! – sorri e ela sorriu junto.

            - O que quer fazer hoje? – perguntei sentindo seus braços me envolverem.

            - O que você quiser. – respondeu. – Você que manda!

            - Podemos ficar aqui namorando um pouquinho. Depois podemos almoçar e eu queria dar uma volta no parque mais tarde topa?

            - Já ta combinado então! – respondeu.

            Passamos o resto da manhã na cama. Trocamos carinhos, beijos, abraços, provocando uma a outra. Nos amamos outra vez, e quando nos demos conta já passava da 13:00hs da tarde. Tomamos banho juntas e pra sair do banheiro foi uma verdadeira enrolação. Depois de passarmos na casa dela pra que pudesse trocar de roupa seguimos em direção ao parque do Ibirapuera. Chegamos no parque já passava das 15:00hs e pra variar estava lotado. Demoramos um bom tempo até conseguir encontrar uma vaga pro carro. Saímos de lá e passamos a caminhar de mãos dadas pelo local. Eu gostava de caminhar assim com ela, sentindo seus dedos entrelaçados aos meus. Demos uma volta quase no parque todo até que decidimos nos sentar. Levei ela pra perto do lado onde eu gostava de ficar observando os patinhos. Estava cheio deles. Brancos e pretos, carpas nadando na beirinha da agua.

            Sentei-me e coloquei Flávia entre minhas pernas envolvendo seu corpo completamente com os braços. Como ela era menor que eu se encaixava perfeitamente ali.

            - Tá gostando do passeio? – perguntei apoiando meu queixo em seu ombro e ela deitou sua cabeça no meu.

            - Amo cada segundo ao seu lado – disse virando o rosto e beijando minha bochecha.

            - Você vai me deixar mal acostumada se continuar a me tratar assim.

            - Vou te deixar viciada em mim – Flávia disse. Uma brisa suave atravessou o parque e senti o cheiro de seu perfume tomar meus sentidos, uma fragrância muito gostosa.

            - Você tem um cheiro delicioso sabia – eu disse colando meu nariz em seu pescoço e inspirando seu perfume outra vez. Ela se arrepiou e passei a deslizar minha boca por seu pescoço de modo suave.

            - Você também tem! Às vezes, quando estou sozinha em casa, ainda sinto seu perfume no meu quarto.

            - Mesmo?

            - Não sei se realmente é o seu perfume ou se são minhas lembranças dele... mas eu fecho os olhos e sinto como se você estivesse ali comigo.

            - Posso te fazer uma pergunta?

            - Sim.

            - Por que escondeu seus sentimentos de mim? – perguntei. Ela virou-se sentando de frente para mim. Suas mãos buscaram as minhas segurando-as com cuidado.

            - Não foi só de você Jú. Eu escondi meus sentimentos de todo mundo.

            - Ana sabia? – perguntou e neguei.

            - Ana descobriu a pouco tempo. Você sabe como sua irmã e eu temos uma amizade muito forte. É muito difícil conseguir esconder algo dela, assim como ela também não consegue esconder muita coisa de mim.

            - Eu sei – disse-lhe. – Vocês parecem mais irmãs do eu e ela as vezes! – disse um pouco enciumada. Elas tinham uma relação tão linda que algumas vezes me causava uma certa inveja, principalmente depois de tudo que houve entre Ana e eu, mas não era nada absurdo, era só aquela pontinha chata de ciúmes que sentimos as vezes.

            - Quando Ana deixou o pais Patricia e eu tivemos uma conversa sobre tudo que tinha acontecido. Ela me contou sobre o beijo de vocês no parque e ouvir aquilo meio que tirou as esperanças de ter algo com você! Então eu passei a reparar em você sempre estava ao lado dela. Nos olhares que lhe dava, no jeito que suspirava quando se despedia dela, em tudo. E não foi difícil juntar dois mais dois e perceber que você estava apaixonada por ela.

            - Eu não sei como não pude perceber isso antes. As coisas poderiam ter sido tão diferentes.

            - Você não poderia perceber algo que eu nunca deixei você ver Júlia. Eu estava tentando me proteger. Cada vez que eu me relacionava com uma pessoa era pra me proteger do que eu sentia por você. Pra que esse sentimento parasse de crescer dentro de mim cada vez que eu te via.

            - E deu certo?

            - Nem um pouco – sorriu um riso que beirava a tristeza. – Quanto mais eu lutava pra sufocar o que eu sentia mais eu me apaixonava por você!

            - E o que mudou agora? – perguntei.

            - Você mudou! Eu sei que se machucou muito nisso tudo Júlia, que tem medo de me machucar e eu também tenho meus medos, como eu já disse, mas eu não quero mais ter medo. Eu só quero te fazer feliz! – disse me fazendo sorrir e senti meus olhos lacrimejarem ao perceber tanto carinho em suas palavras, em seus gestos.

            - Você já tá fazendo! – respondi apenas e busquei seus lábios beijando-a. Um beijo demorado, suave e tranquilo, mas com muito sentimento nele. Minhas mãos seguraram sua nuca carinhosamente quando nos afastamos. Abri minha boca para dizer-lhe algo quando uma voz gritou meu nome.

            - Tia Júliaaaa! – Ouvi e virei-me para o lado dando de cara com minha pequena de cabelos ruivos. Logo atrás dela, Ana e Patricia caminhavam de mãos dadas enquanto Vavá correu até onde estávamos sentadas e se jogou no meu colo.

 

 

            Eu tinha saído tão chateada da casa de minha mãe. Eu não esperava que ela fosse me abraçar e estourar champanhe para comemorar meu noivado com Cecília mas nunca imaginei ouvi-la dizer a Ana que impediria meu casamento. E aquilo me partiu o coração. Mas eu não permitiria que isso acontecesse, eu não deixaria ninguém me tirar Cecília outra vez. Ninguém destruiria a minha família, ou melhor, nossa família.

            “Eu tenho a noiva mais perfeita do mundo todo” – pensei olhando ela deitada em minha cama, toda boba admirando seu corpo. Assim que chegamos em minha casa Cecília e Valentina trouxeram os brinquedos dela para a sala e ficamos as três brincando juntas.

            - Eu sou a vemelha – Ela disse pegando uma boneca de cabelos ruivos. – Tia  Ana você é esse – disse lhe entregando um boneco.

            - Por que eu sou esse? – Perguntou a ela.

            -  Po que ele tem cabelo amalelo igual o seu né – respondeu pegando uma mecha dos cabelos de Ana. – Você é esse mamãe – disse me entregando outra boneca.

            - E do que vamos brincar? – Ana perguntou.

            - De escolinha! – ela disse – Vocês vai se meus aluninhos e eu vou ser a igual a tia Camila.

            - Acho melhor a gente por mais aluninhos aqui na sala de aula – eu disse e Vavá soltou um suspiro inconformado, levantou-se e olhou para nós.

            - Não sai dai – disse apontando pra nós duas. Saiu em direção ao quarto deixando nós duas a sós.

            - Você tá bem meu amor? – Ana aproveitou sua saída e me puxou pelas mãos me fazendo sentar sobre seu colo. Deitei minha cabeça em seu ombro e abracei-a.

            - Vou ficar se puder ficar assim pra sempre... – apertei seu corpo – Não me solta nunca mais tá! – pedi sentindo a vontade de chorar crescer mais e mais em mim.

            - Vou te segurar pra sempre nos meus braços! – ela disse afastando meu rosto com a mãos. Deixei uma lágrima escorrer por meu rosto e ela limpou-a com seus dedos. – Não fica assim! Sua mãe vai acabar percebendo que não adianta lutar contra o que sentimos uma pela outra vida! Eu não vou deixar de amar você só por que ela não me acha a pessoa certa pra estar ao seu lado.

            - Eu sei que não! – respondi olhando em seus olhos.

            - Então me dá um sorriso! – pediu e forcei um sorriso mas estava sem clima. – Não é esse sorriso que eu quero – disse descendo sua mão até minha cintura e começando a cutucar-me com o dedo indicador – Cadê meu sorriso lindo!

            - Amor não faz isso – eu disse tentando sair de seu colo. Eu morria de cócegas na cintura e ela sabia bem, e seus braços me seguraram.

            - Não vai fugir mocinha – disse continuando a me provocar cócegas e eu não resisti. Comecei a gargalhar tanto que até me faltou ar.

            - Para amor! – implorei rindo muito – Para vida. Por favor! Eu preciso respirar – disse puxando ao ar com força e enchendo os pulmões.

            - Agora sim! - Ela disse tocando meu rosto com amor – Esse é o sorriso que eu mais amo no mundo!

            - Eu te amo tanto Cecília – disse olhando em seus olhos – Te amo muito! – devolvi o toque em seu rosto e ela fechou os olhos.

            - Pode repetir isso pra sempre pra eu ouvir?

            - Pra toda vida – disse selando nossos lábios num beijo cheio de amor, cheio de cumplicidade, de promessas.

            - Mamãe! – Valentina chamou nos assustando – Cliança não pode dá beijo na escolinha – disse e não tivemos como não rir. 

            - Eu vou dar beijo em você – Ana disse me tirando de seu colo e Valentina correu dela dando a volta no sofá e parando do outro lado.

            - Eu não quelo beijo tia Ana – disse.

            - A não é? – Ana deu mais alguns passos e Valentina correu até mim se jogando em meu colo.

            - Me protege mamãe! – pediu abraçando-me e coloquei-a sob meus braços.

            - Eu vou te pegar Valentina! – Ana falava se aproximando devagar e ela gargalhava.

            - Não vai não.

            - Eu vou sim – disse - vou pegar as duas.

            - Corre filha! – eu disse para ela – corre pro quarto da mamãe – soltei-a e ela correu e eu fui atrás dela. Entramos no meu quarto e nos deitamos na cama cobrindo-nos com os lençol.

            - Onde será que elas se esconderam? – ouvi Ana falando alto. – Será que tão no armário? – disse e Valentia riu.

            - Shiii – disse pra ela colocando meu dedo sobre a boca.

            - Eu ouvi uma risada de princesa! – Ana disse e Vavá riu outra vez. Ela aproximou-se do pé da cama e levantou o lençol de uma vez encontrando nós duas. Peguei! – disse colando sua boca na barriga de Valentina e enchendo-a de beijos, enquanto minha pequena gargalhava muito. E eu me encantava com as duas juntas. Ficamos deitadas na minha cama por um tempo brincando. Valentina quis brincar de avião e Cecília fazia todas as suas vontades. Quando a nossa princesinha já estava com os olhos vermelhinhos de sono achei melhor coloca-la na cama. Mas ela não queria eu, queria Cecília. Eu estava perdendo pontos com minha própria filha. Cecilia levou-a pra cama e ficou lá por um tempo, mas depois de uns minutos voltaram as duas.

            - Ela quer dormir aqui – Ana disse com Vavá no colo – Eu deixei tem problema?

            - Não amor! – respondi – Traz ela aqui. Depois levo ela para a cama.

            - Eu não quelo ir pa caminha. – resmungou.

            - Você não vai amor – eu disse caso contrário ela não dormiria tão cedo. Ana teve que contar-lhe a estória da Cachinhos Dourados outra vez. Ela adorava ouvir sobre os ursos.

Não demorou dez minutos para ela apagar em minha cama. Com cuidado levei-a para seu quarto e assim que voltei aproveitei a noite para mais uma vez amar intensamente aquela que era dona do meu coração, e que em breve seria oficialmente minha esposa. Nos entregamos outra vez uma para a outra, com muito amor em cada toque, com desejo em cada beijo, com paixão em cada olhar que trocávamos durante o tempo em que meu corpo pertenceu a ela e o dela pertenceu a mim. E nossa noite acabou quando ela me abraçou de conchinha, e novamente sussurrou em meu ouvido as palavras que eu tanto amava ouvi-la dizer.

- Eu te amo!

Abri meus olhos devagar sentindo a claridade do sol invadir meu quarto. Eu nem havia me lembrado de fechar as cortinas na noite anterior. Perdida. Era assim que eu ficava cada vez que tinha Ana Cecília em meus braços, eu ficava totalmente perdida. Perdida no tempo, na vida, em tudo. A únicas coisas quer existiam era ela e minha filhota. Todo o resto deixava de ter importância.

Saímos tarde da cama no domingo. Tomamos café juntas, as três, como a família que já éramos, pois para mim, Ana já era minha. E se dependesse de mim ela nunca mais sairia da minha casa, eu acordaria ao seu lado todos os dias até o nos casarmos. Durante o café eu me pegava olhando para o anel em meu dedo, e sorria ao relembrar suas palavras, sua declaração de amor para mim.

- Mamãe! – Vavá me chamou – Eu quelo i no paque.

- No parque? – olhei Ana e ela sorriu – Quer ir no parque amor?

- Hum... Adoro piquenique no parque – Ana disse já abrindo um sorriso maroto.

- Meu Deus – eu disse – Arrumei duas crianças! – eu disse fazendo-a rir. – Já fez a lição de casa? – perguntei a Vavá e ela olhou negou.

- Então vai ter que fazer primeiro.

- Tia Ana – disse com a vozinha doce – Você ajuda eu? – pediu e Cecília abriu um sorriso todo derretido para ela.

- Eu te ajudo meu amor! Depois do café nós fazemos a lição tá? – ela concordou e voltou a comer. Assim que terminamos retirei as coisas da mesa e Ana e Valentina sentaram-se no chão da sala colocando o caderninho dela sobre a mesinha de centro. Valentina tinha que colorir os presentes de acordo com as cores pedidas, nada difícil para uma criança da idade dela, e ela já sabia diferenciar muitas cores, escrever seu nome e sabia algumas formas. Deixei as duas sozinhas e comecei a preparar nosso almoço. Como era domingo Valentina gostava de comer macarrão.

- Amor vou fazer macarrão você se importa? – perguntei alto.

- Não vida! – Cecília respondeu.

- Po que você chama a mamãe assim? – Vavá perguntou a ela.

- Por que a sua mamãe é o amor da minha vida! – Ana disse enquanto eu ouvia a conversa das duas.

- E eu? – Perguntou.

- Você é o amorzinho da minha vida! – Respondeu. 

- É po que eu sou pequena né – disse e pude ouvir Ana rindo da sala.

- Você é pequena mais o meu amor é grandão – disse a ela.

- Mais maior de glande né – disse.

- Imenso! Igual ao da sua mamãe – Ana disse.

- Tia Ana se eu vai ter duas mamãe... – parou de pintar e olhou para ela - eu também vou poder te chamar de mamãe igual a mamãe?

- Claro que sim amor... mas só se você quiser!

- Mas eu gosto de ter uma tia Ana. – disse pensando.

- Então não precisa me chamar de mamãe ta bom!

- Mas eu vou ter duas mamãe. Sabe uma coisa tia Ana – disse e Ana soltou o lápis olhando-a - lá na escolinha ninguém tem duas mamãe e eu vou ter! E todo mundo vai querer duas mamãe igual eu né? – fez uma expressão convencida fazendo com que Ana beijasse seu rosto.

- Você é esperta demais pra mim – Ana disse.

Ana e ela terminaram a lição um tempo depois pois Valentina sempre interrompia com alguma pergunta. Almoçamos e no meio da tarde passamos no mercado e compramos algumas guloseimas para levar para o parque. Ana colocou tudo em uma mochila e seguimos para o Ibirapuera.

- Mamãe eu quelo ve o patinho? – Vavá pediu. - Vamos?

- Vamos. – seguimos andando, Valentina na frente e Ana e eu atrás, de mãos dadas e um clima de romance no ar. Uma perfeição que eu sempre quis pra minha vida e agora eu tinha. O tempo todo meus olhos buscavam Valentina que andava solta a nossa frente. Passamos pela ponte de metal e seguimos em direção a parte do parque onde tinha a maior concentração de patos, próximo de seu cativeiro.

 

- Valentina cuidado com as bicicletas – chamei sua atenção. – Vai pela grama filha! – disse alto e ela passou a caminhar no gramado enquanto Ana e eu conversávamos bobagens. Estávamos próximas do lago quando Valentina gritou o nome de Júlia e saiu correndo em disparada. Meus olhos buscaram sua direção e avistei Júlia e Flavia sentadas, uma de frente para a outra, as testas coladas uma na outra como se acabasse de trocar um beijo. Eu nem havia me dado conta de que Júlia costumava ir sempre ali com Valentina quando íamos no parque, e agora, por uma gigantesca coincidência, estávamos ali, nós quatro juntas outras vez. Valentina jogou-se no colo dela e seus olhos encontraram os meus caminhando logo atrás. Ela desviou o olhar e seus braços envolveram minha pequena num abraço saudoso. 

Fim do capítulo