******
Sophia

A semana na Universidade fora bastante ativa. Se apresentou para as turmas e logo começou a desenvolver suas aulas. Porém não vira Anne mais nenhuma vez sequer, ela parecia estar a evitando a qualquer custo, nem na sala dos professores ou alas coletivas aparecia mais.

 - Sophia, não se esqueça da reunião com os professores da Semana das Exatas Aplicadas hein? Você vai gostar muito, são diversas pesquisas , estandes, que mobilizam a Universidade. Hoje as 13h vai haver a divisão dos grupos. - disse a coordenadora

 - Que bacana, pode deixar que estarei lá. Sophia terminou seu almoço, e logo foi para a reunião.

A reunião era numa sala ampla, que tinha um palco na frente e ao redor inúmeras cadeiras. Estava repleta de professores, coordenação, diretorios acadêmicos, alunos e curiosos. Pelo que pode observar, era mesmo algo muito esperado anualmente na Universidade. Foi chegando mais perto de onde alguns professores estavam dando instruções que percebeu que a coordenadora geral do projeto era ninguém mais , ninguém menos que Anne. Sorrindo, disse pra si mesma: agora ela não escapa.

***********
Anne


Óbvio que a praga além de arrumar uma filha para namorar com a minha, e de ter a cara de pau de lecionar na minha Universidade, ainda queria participar da Semana de Exatas Aplicadas que era o seu projeto mais querido e bem sucedido. Óbvio. - Pensou consigo
Havia passado  a semana toda a evitando, mas agora no mesmo grupo seria impossível. 

-- Bom pessoal, vamos começar a dividir as equipes. Vai ser por tema de pesquisa , cada grupo terá 4 professores . Vocês podem passar falando o nome da pesquisa e já iremos falar os novos times.

Anne olhou disfarçadamente para Sophia enquanto ela se inscrevia, "cada dia mais bonita essa praga" pensou. Remexeu a cabeça e decidiu parar de pensar bobeiras. Nesse momento Rúbia se aproximou para Anne já com os professores divididos, Anne se moveu ao microfone e leu as divisões. Foi quando leu seu grupo: 

- Anne, Rúbia, Carlos e Sophia. Sem disfarçar ficou vermelha e olhou para Rúbia ao seu lado indagando silenciosamente. Rúbia apenas respondeu: - o que eu poderia fazer? Ela é perfeita pra pesquisa. Anne olhou para Sophia, que apenas cumprimentou-a com a cabeça . 
 Carlos um professor bastante conhecido por atirar para todos os alunos, inclusive para alunas o que já lhe tendeu inúmeras acusações não perdeu a oportunidade e logo começou a galantear Sophia enquanto as quatros iniciavam os preparativos de seus grupos.
 
Sophia visivelmente constrangida com o assédio do professor, tentou corta-lo cordialmente , tentando chamar a atenção de Carlos para a pesquisa.
 Anne apenas observou.

 - Bom, eu acho que deveriamos nos dividir em dupla e nos encontrarmos nesse fim de semana para estipularmos assim os viés de pesquisa para os alunos se inspirarem na segunda feira, disse Carlos com segundas intenções olhando para Sophia.

 Rúbia olhou para Anne, que estava visivelmente irritada com as investidas de Carlos, tentou chamar a atenção da amiga, mas em vão.
 
Anne bruscamente interrompeu a conversa e antes que Carlos pudesse continuar disse:

- Ótima idéia Carlos, você e a Rúbia serão a dupla e e eu e Sophia a outra. E foi embora.

Rúbia e Sophi se olharam chocadas, não esperavam de maneira nenhuma tal reação de Anne. Carlos não gostou muito, mas pelo menos poderia continuar investindo em Rúbia.


*****
Sophia

Já era sexta feira, e finalmente estava começando sua última aula da manhã. No seu íntimo borbulhava a dúvida sobre o final de semana. Já que até então Anne sumiu e ainda não havia marcado nada. Foi nesse momento que uma aluna a indagou.

- Professora, como faz essa programação no R? - disse uma aluna que sempre participava de suas aulas.

- Bom, eu já vou mostrar para vocês agora. Primeiramente vocês usam a função table...

A aula decorreu sem mais problemas, os alunos pareciam gostar cada vez mais de suas aulas no R. Foi quando encerrou a aula que percebeu que a aluna ainda estava olhando para ela.

Sophia sorriu e disse: - vamos lá, é sexta feira! Hora de você curtir com seus amigos.

- Na verdade professora eu gostaria de saber se a senhora teria algum tempo livre para me tirar umas dúvida nesse fim de semana.

- Bom, nós já temos as monitorias as segundas para que vocês possam tirar suas dúvidas , disse Sophia ingênua.

- Mas é que eu gostaria de passar mais tempo com a senhora professora, disse a aluna ruborizada.

Sophia se assustou e antes que pudesse mentalizar uma resposta, foi interrompida por Anne que se encontrava na porta.

- A  professora Sophia já dedica todo o tempo possível aos alunos durante a semana , disse se dirigindo friamente a aluna que se chamava Camila .

A aluna arregalou os olhos.

- Sendo assim, você já esta dispensada Camila, pode ir embora.

Sophia olhou para Anne assim que Camila saiu da sala envergonhada e disse:

- Eu não sei como...

- Ah é normal, eu já dei aula para ela , sempre tem alguns alunos que confundem as situações, tome cuidado. disse Anne novamente fria.

Sophia ficou irritada com o ar de superioridade de Anne e respondeu:

- Pode deixar, eu sei me cuidar. E foi apagar o quadro.

Anne sorriu, gostava de vê-la emburrada. Mas obrigou-se a focar e disse:

- Anda, pega suas coisas e vamos almoçar para resolvermos a pesquisa.

-Hoje? Mas não era no final de semana?

-A pesquisa é grande, teremos que usar hoje também para dar tempo.

Sophia não disse nada, apenas pegou suas coisas e foi embora com Anne. Metade de sí queria ter respondido para ela ter mais educação, mas metade ainda estava dandos pulos de felicidades por tê-la ao seu lado por 3 dias.


Chegaram há um restaurante lindo e bem decorado. Anne sempre tivera bom gosto para restaurantes, mais esse era o mais bonito que já havia ido. Nem na Inglaterra havia visto tamanho bom gosto.

- Senhora Anne, que alegria de vê-la almoçando conosco. Sente-se com sua amiga que já iremos servi-la. Anne apenas assentiu, séria.

Cada parte do seu corpo sentia a presença de Sophia, sentia seu cheiro, seu hálito, conseguia sentir sua pele menos sem toca-la. Se esforçava para se manter focada, mas tudo em Sophia a embreagava.

- Anne? Disse Sophia novamente.

- OI??? Disse Anne sobressaltava. Claramente estava voando longe.

Sophia sorriu e olhou no fundo dos olhos de Anne.

- Viajando? Disse maliciosamente

Anne não gostou de ter sido pega em flagrante e disse grosseiramente:

-Sim, pensando no momento que finalmente poderei ir embora.

Sophia acreditou, o sorriso sumiu de seus lábios e perguntou novamente:

- O cardápio, eles não trouxeram. Como iremos fazer os pedidos?

- Ah, desculpe Sophia. Eles vão trazer o  prato da casa que é o que há de melhor e eu sempre peço , mas se você quiser podemos pedir outra coisa, disse visivelmente envergonhada. Se havia uma coisa que prezava era pela excelência no atendimento.

As refeições chegaram e Sophia se deliciou. Há tempos não comia nada tão excelente.

- Nossa , divino. Eu preciso trazer o Stênio aqui, ele vai amar.

- Ah, mas ele já veio com o César inúmeras vezes. disse Anne

Sophia preferiu não dizer nada, como assim Anne saberia mais de seu marido do que ela. Que ela saiba César e Stênio so sairam para ir ao barzinho com os amigos, ou para... almoçar no restaurante de Anne...


- ESSE RESTAURANTE É SEU , disse Sophia em um misto de surpresa, orgulho e admiração.

- Pensei que você já sabia, sorriu Anne.

Sophia ficou olhando ao redor, admirando agora ainda mais a decoração. Foi quando um quadro ao fundo chamou sua atenção, se levantou e foi até la. Seus olhos encheram de lágrimas quando notou que do lado de fotos de toda a família de Anne e de pessoas famosa que visitaram o restaurante, havia uma foto tirada há mais de 20 anos. Nela se encontrava uma Sophia adolescente com todos os cabelos jogados para frente e a dedicatória " minha gordinha do poço" em referência a Samara a menina do poço.

- Você guardou essa foto por todos esses anos Anne.- disse Sophia com um aperto no coração

- Guardei isso e muito mais Sophia. disse Anne visivelmente triste. È melhor a gente ir para a minha casa terminarmos esse trabalho logo. E foi para o carro.

Sophia ficou la parada, flashs passavam em sua memória. A única coisa que conseguiu fazer foi ir para o banheiro chorar .

Fim do capítulo