-Victoria!!! - ela arregalou os olhos e procurou alguma coisa no sofá pra se cobrir, a garota fez o mesmo. - Eu posso explicar!!! - Entrei em direção à varanda sem falar uma palavra, estava me sentindo atordoada e sentei num banquinho, de lá ouvi o som ser desligado Lucy chegou um tempo depois, já vestida.

-Victoria eu posso explicar - olhei a incrédula e dei um sorriso sarcástico.

- Explicar o que? Loucuras não se explicam Lucy- fechei a cara.

-Me perdoa, eu devia ter te explicado antes de...

- Antes de se agarrar com qualquer uma? - Lucy cerrou o maxilar e me deu um tapa sonoro.

- Elisa não é qualquer uma - Aquele nome tão similar destruiu minhas defesas senti a dor daquele tapa como se ela estivesse esbofeteado minha alma, as lágrimas quentes surgiram como bônus, ela tratou de se retratar.

- Maninha me perdoa, eu sei que eu errei em não te contar isso, mas não fala nada da Elisa, por favor, massageei o rosto no lugar do tapa e ela começou a enxugar minhas lágrimas.

-Porque nunca me contou? - ela me olhou com doçura.

- Me perdoa, maninha, eu não estava pronta ainda.

- A mamãe e o papai  sabem? - ela arrumou uma mecha do meu cabelo.

-Sim - disse calmamente. - Agora diga, por favor, se me perdoa. -  naquele momento não sei o que houve mas a vontade de chorar se intensificou, e acabei me dissolvendo em lágrimas.

-Não maninha, não faz isso, por favor. - ela me abraçou e me escondi em seu abraço. - Juro que não queria te causar isso, você está furiosa comigo, não é? - fiquei um tempo formando as palavras, não tinha um luxo de errar o que eu ia dizer naquele momento delicado.

-Não, maninha. Você só me assustou, não esperava ver minha irmãzinha pequena fazendo aquilo. - Lucy riu.

-Vic, eu já tenho 17, já sou bem grandinha. Vai dizer que você e o Aubrun nunca... ---Não - a interrompi imediatamente - Eu nunca... - meu rosto ficou vermelho e ela viu que eu fiquei envergonhada.

-Tudo bem, e me desculpe, não posso me intrometer nos seus assuntos. Agora vem, preciso te apresentar minha namorada, Elisa. - novamente aquele nome me fez sentir um desconforto, a acompanhei até a sala onde Elisa estava recomposta, apesar da aparência masculina, sentava-se como uma lady. Naquele momento ri daquilo dentro da minha cabeça. ela se levantou e foi me cumprimentar, era alta e bem branquinha, mas ficou vermelha quando trocamos olhares.

-Prazer, sou Elisa - Encarou o chão, devia ter minha idade e os olhos azuis bem profundos.

- prazer, Victoria - nosso aperto de mão não deve ter durado um segundo - Espero que tenha lavado essa mão. - Ela ficou séria e Lucy sem graça, só então dei uma risada e ela relaxou a postura.

-Lavei sim, desculpe pelo incômodo. Já estou indo - disse ela ainda com um pé atrás -Não, não. Podem ficar juntas vou pro meu quarto, pois não estou passando muito bem. - Peguei minha bolsa e joguei os bolinhos para Lucy.

-Obrigada, Vic - falou Lucy finalmente - Elisa vai ficar aqui hoje Se não se importar. -Tudo bem, podem ficar juntas eu vou pro meu quarto agora.

- Obrigada Vitória. - Disse igualmente séria Elisa

-Me chama de Vic.

- Ah, claro, Boa noite, Vic.

- Boa noite meninas, juízo.

- Ok - Elas riram se sentaram no sofá, e fui para o meu quarto. Eu já estava bem melhor, tomei um banho rápido e vesti uma camisola leve. Deitei na cama esperando que o sono fosse espontâneo devido ao cansaço que eu sentia, mas não foi. A imagem de Lucy e Elisa estava na minha cabeça, e por um instante me fez deslizar a mão sobre meus seios, e minha barriga. Hesitei um pouco antes de alcançar a fonte que emanava o calor do meu corpo. Elise... O que eu estava fazendo??? Elise... Há tanto tempo ela era só um fantasma na minha vida, desde que... Desde que... Forcei minha mente e só consegui lembrar o episódio no Arkansas. Ela estava naquela cadeira acorrentada estava gritando meu nome e eu não pude fazer nada pra poder tirar ela de lá, mas minha mente me levou pra outro episódio quase que instantaneamente, e me lembrei de dois anos e meio atrás, assim que nos mudamos para Londres. Mamãe ligou desesperada dizendo que tinham feito refém o papai e os funcionários da Fazenda, incluindo Mary e JJ. Lembro-me daquele sentimento de impotência, pobre JJ era apenas um garoto e é claro Mary era como se fosse uma mãe pra mim e eu amava muito aquela fazenda, meu pai estava lá junto com todo mundo. Aquilo foi demais pra mim.

As denúncias de movimentação suspeita levaram a polícia a fazer um cerco na propriedade. Foi então que viram um homem encapuzado mantendo-os refém com uma arma. Os sequestradores não queria o dinheiro, e os mantiveram três dias sem contato algum. No terceiro dia a polícia finalmente decidiu intervir e invadiu a mansão, quando entraram lá dentro, todos estavam amarrados e nenhum sinal dos sequestradores. Gil revelou então o que ocorrera: Elise estava atrás de mim e de Lucy, ela tinha ultrapassado o limite do bom senso e da lei. Foi até a fazenda e obrigou Gil revelar aonde estávamos, enquanto ameaçavam JJ e Mary. Por sorte eles conseguiram a capturar no aeroporto. Ela foi condenada por Invasão de Privacidade, cárcere privado e porte ilegal de arma, saiu até nos jornais. Elise era obsessiva e quando eu soube que estava salvo consegui relaxar. Mesmo assim nos mudamos para Oxford, para alívio de consciência agora naquela noite uma garota chamada Elisa tinha me relembrado tudo que eu queria esquecer. Todas as vezes que minha vida estava perfeita, Elise vinha e desmoronava tudo, destruía tudo que eu tinha construído, minhas defesas eram feitas de papel nas mãos dela. Naquele ponto eu não conseguia mais pensar em nada apenas naquela sombra do passado em Elise. Não sei que horas eu fui dormir, mas já devia ser madrugada.

Fim do capítulo