Se gostarem da história, não deixem de comentar, isso me dá um gás a mais pra continuar a escrever.
E se não gostarem, por favor, comentem também.
Informações Reais:
48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência
3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos.
56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão: xingou, empurrou, agrediu com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo
77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. Em mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo
98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha e 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil
Capítulo 1
Cristina olhou a comida a sua frente e deu um suspiro satisfeita. Tirou o avental que se prendia em sua cintura, cobriu tudo e foi tomar um banho enquanto ela não chegava. Um novo sentimento se aflorava em seu peito.
--------------------
Criada em uma família tradicional, Cristina casou-se nova. Aos 17 anos, viu seu pai aparecer em casa juntamente com Afonso, um rapaz alto, forte e com traços de atleta.
- Cristina, quero que conheça Afonso. Ele é filho de Jeremias, com quem irei entrar em sociedade, e ficou feliz quando falei que tinha uma filha muito bonita e mais ainda quando disse-o que estava à procura de um bom pretendente para você.
Assim, o homem de meia idade apresentou o jovem forte à Cristina. A princípio ela não gostou da ideia de seu pai querer casá-la, não nutria nenhum sentimento pelo rapaz que fosse suficiente para fazê-la ter vontade de se casar, sequer havia tido tempo de conversar com ele, mas sua mãe a ensinou a ser obediente e que o casamento seria benéfico para os negócios do pai.
- Minha filha, amor não enche barriga. Case-se com Afonso e não precisará de mais nada, cuidará da casa e de seus filhos. Viverá bem e, com o tempo, poderá criar gosto pelo rapaz.
E assim Cristina seguiu. Afonso se mostrou um jovem educado e atencioso. “Pelo menos ele é um rapaz legal”, pensava como se aquilo servisse de consolo.
Durante o breve namoro, Afonso tentou ter relações sexuais com Cristina, mas essa era sempre resistente, firme no propósito de casar-se virgem.
- Mas Cristina, já somos noivos! Daqui a alguns meses nos casamos e não vejo mais motivos para esperar! Tenho minhas necessidades, e você como mulher, deve me atender! – O jovem falava de modo educado e firme ao mesmo tempo, mas nunca obteve sucesso em suas investidas. Cristina não cedia.
- Nosso casamento está próximo, tenha paciência. As mulheres devem se casar virgens e você precisa respeitar.
Respondia sempre de maneira automática.
Na verdade, Cristina não conseguia dar nada mais do que alguns beijos em seu noivo. De fato, Afonso era um rapaz muito bonito e arrastava olhares de cobiça por onde passava. Com seus 1,82 de altura, cabelos castanhos e barba impecavelmente aparada, tirava suspiros por onde passava. Mas Cristina não, ela o via apenas com um rapaz bonito. Nunca sentiu desejo de ir além com ele, nas horas em que estavam sozinhos.
Casou-se com 18 anos e após 04 meses de casada, descobriu que o rapaz forte, educado e respeitador e dedicado, se transformara em um homem ríspido, machista, apreciador do álcool e, nos casos extremos, bastante agressivo.
As brigas era constantes e nada parecia satisfazer o marido.
Após casados, mudaram-se para um condomínio de casas. Afonso era de uma família muito rica, e isso permitia que vivessem bem, sem necessidades.
Cristina conheceu Sarah, sua vizinha, uma negra de cabelos revoltos e lábios bem carnudos, típicos de sua raça. Sarah era advogada e vivia sozinha na casa da frente. Como não trabalhava e apenas exercia suas tarefas de dona de casa, Cristina encontrou na advogada uma amiga, uma confidente. Quando terminava seus afazeres domésticos, esperava Sarah para conversarem. A advogada sempre notou a infelicidade de Cristina. Observava a dona da casa sempre com atitudes mecânicas, e quando falava do marido, era como se falasse de um peso.
- Cristina, porque não se sapara de Afonso? Você não é feliz!
- Claro que sou feliz, tenho um bom marido, uma boa casa e os negócios da família estão muito bem. – Falava sem muita convicção.
- E você? Você gosta mesmo dessa vida? De ser usada para suprir as necessidades sexuais de Afonso, lavar suas cuecas e alimentá-lo sempre que estiver com fome.
- Não fale assim, Sarah. Sou muito feliz em servir Afonso. Não quero mais falar sobre isso, tenho que ir, jajá ele chega e gosta sempre de ter a comida quentinha.
E sempre escapava da conversa, deixando Sarah sentada, observando enquanto a mulher deixava sua casa. A advogada suspirava triste e ia fazer alguma atividade. “Um dia você vai perceber a burrada que está fazendo, Cris. E se me der uma chance, eu vou te fazer feliz!”. Cristina nunca desconfiou do amor da advogada. Sarah amava em segredo.
Em uma certa noite, havia preparado o jantar do marido e ele ainda não havia chegado. Esperou por uma, duas, três horas. Até que desistiu, guardou a comida na geladeira e foi dormir.
Acordou com um peso em cima do seu corpo. Afonso chegou, tirou os sapatos e se atirou em cima de Cristina. Não falava frases completas, apenas tirava a roupa da dona-de-casa, que o olhou assustada.
- Afonso, pare! Onde você estava? Te esperei para jantar e nada de você aparecer?
- Cala a boca, Cris. Vem cá, tira essa roupa. – O homem falava pesadamente, e sua boca exalava um cheiro forte de álcool.
- Para, Afonso! Por favor, eu não quero!
Afonso, por ser alto e forte, sem muita dificuldade conseguiu imobilizar os braços da esposa. Se curvou para beijar seus lábios e sentiu a fisgada dos dentes da esposa.
- Ai! Você me mordeu, sua vadia! – Ao sentir o gosto de sangue, o homem olhou para esposa, e furioso, deu-lhe um soco no rosto. Cristina sentiu uma forte dor em seu olho direito e chorou. Se sentia impotente, nada poderia fazer contra um homem daquele tamanho. Resolveu não lutar, apenas fechou os olhos e chorou, pedindo a Deus para que seu marido terminasse aquilo tudo e a deixasse em paz. Seu corpo tremia.
De olhos fechados, chorando baixo, sentiu suas roupas sendo rasgadas violentamente, os pulsos sendo pressionados contra o colchão, enquanto Afonso abria suas pernas e se encaixava no meio delas. Com a mão livre, abriu o zíper da calça e tirou o p*nis ereto. Apertou forte os seios de Cristina e a penetrou. Sem dó nem piedade.
Um grito desesperado demonstrou a imensa dor que Cristina sentiu. A cada estocada, sentia suas entranhas arderem, e sua alma ser rasgada. Porque aquilo estava acontecendo? O que ela havia feito de errado? Gritava de dor. Queria morrer. O marido perdeu o resto da sanidade.
- Eu já disse pra calar a merd* dessa boca! – E assim desferiu outro golpe contra a mulher.
Cristina desmaiou. Aliviado, Afonso continuou o vai e vem como um cachorro sarnento no cio. Virou a mulher de bruços e a penetrou o corpo inerte por trás. Gozou como um louco e após alguns minutos babando nas costas da mulher, se levantou e foi ao banheiro.
Saiu de lá em poucos minutos, e como se nada tivesse acontecido, deitou ao lado da mulher e dormiu pesadamente.
Cristina acordou e mal conseguia se mover. Tentou olhar o ambiente ao seu redor, mas sentiu dor, não conseguia abrir os olhos normalmente. Sentou-se na cama enquanto sentia como se agulhas estivessem perfurando todo o seu corpo, e principalmente suas entranhas.
Levantou com dificuldade e se encaminhou ao banheiro. Estava sozinha, e agradeceu a Deus por isso.
Hematomas no olho direito, lábios cortados e algumas marcas roxas nos seios, barriga e punhos. Olhava-se no espelho e não tinha a menor capacidade de reconhecer aquele reflexo. Olhava-se como quem olha um estranho. Com a ponta dos dedos, tocou o rosto machucado e uma lágrima escorreu em sua face. Sentou-se no vaso e ao tentar urinar, uma dor desesperante se alojou entre suas pernas. Várias lágrimas banhavam seu rosto. Levantou-se devagar e entrou debaixo do chuveiro.
Encolheu-se no canto do box e deixou a água cair em seu corpo. Chorou como um recém-nascido.
“Porque? ” Era a única coisa que vinha em sua mente. Será que aquilo tudo era merecido? Um castigo? Porque ela?
------------------------
Sarah acordou sentindo seu coração apertado, sentia-se mal e como se algo ruim estivesse acontecendo. “Deve ser coisa da minha cabeça”. Depois de um banho pensativo, vestiu-se para o trabalho e desceu as escadas. Preparou seu café da manhã e sentou-se na varanda da frente para comer. Elevou os olhos e ao olhar para a casa da frente, seu coração apertou-se novamente.
“Mas que diabos é isso, Sarah? O que você tem hoje?”
Se perguntava enquanto tomava seu café, sem tirar os olhos da casa a frente. “Será que Cristina está bem? A essa hora, Afonso já deve ter ido trabalhar. Preciso vê-la e conversar com ela, pode ser que eu melhore meu estado de espírito na presença dela”.
Levantou-se e foi até a casa da frente. Chamou por Cristina e não obteve resposta.
“Estranho, ela nunca sai de casa!”
Tocou a campainha. Nada. Olhou para a maçaneta e tentou abrir. Entrou.
Chamou pela dona de casa mais uma vez. Tudo parecia quieto, até demais. Observou a sala e a cozinha. “Não fez café da manhã hoje?”.
- Cristina? Tem alguém em casa? – Não teve resposta.
Pensou em subir as escadas. “Mas que atrevimento, o que eu estou fazendo na casa alheia? Pareço até um ladrão!”
Deu meia volta para sair da casa, e escutou um barulho, quase um miado. Olhou para a escada e subiu dois degraus. Aguçou mais sua audição e pode escutar um choro sofrido. Arregalou os olhos e correu para o andar de cima.
- Cristina? Onde você está?
A cada passo que dava, seu coração se apertava mais. Olhou a porta do quarto aberta e entrou. Observou a cama desarrumada e no meio dela, uma mancha de sangue. O choro continuava. Olhou para a porta do banheiro e, assustada, abriu rapidamente.
Uma lança transpassou seu peito ao observar aquele corpo esguio, muito branco, encolhido no canto do box enquanto a água do chuveiro caía em cima dele. Cristina tremia e chorava muito.
Aproximou-se dela com cuidado, e ao tocar sua pele gelada com a ponta dos dedos, assustou-se com o grito.
- NÃO! POR FAVOR, POR FAVOR! ME DEIXE EM PAZ! – Cristina gritava desesperada, tentando se desvencilhar do toque.
- Meu Deus, Cristina! Calma, o que aconteceu? Olha pra mim! – Não ligou para suas próprias vestes, entrou no box e desligou o chuveiro, depois se abaixou e tentou segurar o rosto da mulher para que ela a visse. – Sou eu, Cris, calma! Olha pra mim!
De repente, Cristina encarou aqueles olhos escuros e, como quem via um anjo, se agarrou no pescoço de Sarah, como se ali estivesse sua salvação.
- Meu Deus, Cris! O que aconteceu?
- Me ajude, por favor! Tá doendo, Sarah! Me ajude! – Chorava desesperadamente enquanto agarrava o pescoço da advogada.
- Vem, vamos pra cama. Calma, eu vou te ajudar.
Levantou Cristina daquele chão gelado, voltou com ela para o quarto. Evitou olhar diretamente para o corpo da dona-de-casa. Olhou ao redor e viu uma toalha. Secou Cristina delicadamente enquanto via os hematomas no corpo dela. Cada vez que descobria uma nova mancha, uma lágrima escorria de seus olhos. Não era justo, Cristina não merecia aquilo.
Procurou pelas roupas da mulher, e enquanto a vestia, Cris continuava muda. O choro havia diminuído, mas ainda as lágrimas ainda desciam, uma por uma.
Sarah olhou o ambiente ao seu redor e fitou a mulher sentada na cadeira com o coração em frangalhos.
- Cris. Vem, vamos deitar.
A dona-de-casa encarou os olhos verdes com dificuldade. O olho direito parecia estar cada vez mais inchado.
- Me leva daqui, por favor. – Suplicou como se daquilo dependesse sua vida. E de fato, dependia.
Sarah a encarou mais uma vez, colocou seus braços envolta da cintura dela e saíram.
Entraram na casa da frente e Sarah levou Cristina para o seu quarto. Desceu e rapidamente retornou ao quarto com um calmante e uma água. Suas mãos tremiam.
Cristina tomou o calmante e, sem pedir licença, deitou-se na cama. Sarah estava de pé e observava a dona-de-casa encolher-se em sua cama. De repente os olhares se encontraram.
- Fique comigo, por favor?
Observaram-se por mais alguns minutos, até que a advogada rapidamente tirou sapatos e se deitou ao lado de Cristina. Esta se aninhou em seu peito e chorou baixinho.
- Vai ficar tudo bem, meu amor. Descanse, e quando você acordar, vai se sentir melhor.
Acariciou os cabelos enquanto sentia seu peito úmido pelas lágrimas doídas de Cristina. Velou seu sono por algum tempo, até que dormiu também.
-----------------------
Dormiram o dia inteiro, e próximo das 18 horas, Sarah acordou com o toque insistente da campainha. Olhou para Cristina e viu que ela dormia profundamente, devido ao calmante que tomara pela manhã. Admirou aquele rosto que mesmo inchado, ainda tinha sua beleza ímpar. Sobrancelhas bem definidas, nariz afilado e lábios vermelhos. Viu o pequeno corte no lábio inferior e sentiu uma fúria tomar conta de si. Mais uma vez a campainha tocava. “Mas que droga!” Com cuidado, se livrou dos braços da dona-de-casa e desceu as escadas apressada, mas parou no meio do caminho ao escutar os gritos de Afonso.
- Sarah! Abre essa porta que eu quero falar com Cristina! – Bradava enquanto esmurrava a porta da advogada.
- O que você quer, Afonso!
- Abre logo essa porta! Quero falar com Cristina, eu sei que ela está aí dentro!
- Ela não está aqui, Afonso! Não falei com ela o dia inteiro, o que aconteceu?
- Abre essa porta! Eu sei que ela tá aí dentro! Abra ou eu vou abrir a força!
- Afonso, se você arrombar minha porta eu ligo para a polícia!
- Eu vou embora. Mas eu sei que Cristina está aí dentro! E quando eu chegar eu quero vê-la dentro da nossa casa. Não se meta, Sarah, ou você vai sofrer as consequências.
Houve silêncio do lado de fora, mas Sarah ainda se mantinha em alerta.
De repente ouviu uma voz fraca.
- Pode abrir a porta, Sarah. – Cristina havia acordado com o barulho que vinha do andar debaixo e desceu. Não poderia envolver Sarah nos seus problemas pessoais, não era justo.
- O que? Cristina, você não pode fazer isso! Tá claro aqui que foi ele quem te deixou assim! Sarah não podia acreditar na submissão cega de Cristina. Era demais pra ser verdade.
- Você não precisa se envolver nisso, Sarah. Eu agradeço por ter me ajudado, mas eu posso resolver isso. – Tentava não transparecer o medo que sentia.
- Não, Cris! Por favor, não vá! Ele fez isso contigo, e pode fazer pior! Não vá, por favor, não quero perder você, não quero que nada de mal te aconteça.
Cristina sentiu o coração se aquecer com aquelas palavras, caminhou até Sarah, e pegou suas mãos. Involuntariamente beijou devagar o dorso de cada uma e encarou os olhos verdes, avermelhados pelo choro sofrido.
- Não chore, minha querida. Vai ficar tudo bem.
Abraçou Sarah e deixou-se demorar naquele contato. Sentia o estômago gelar, o coração aquecer. Por um momento, esqueceu o estado em que se encontrava e ignorou o risco que corria.
Desprendeu-se do abraço e se encaminhou em direção a porta. Antes de abrir a porta, sentiu a mão de Sarah em seu braço, e mal pode conter o espanto e a surpresa quando a negra a abraçou e colou os lábios nos seus. Prendeu a respiração, e quando sentiu a mãos da advogada alcançarem sua nuca, fechou os olhos. Sentiu um arrepio até a última vértebra e correspondeu ao beijo.
As línguas se abraçaram, os lábios se comprimiam enquanto as mãos de Sarah a apertavam com tanta segurança, como se daquele abraço dependesse sua vida. Cristina sentiu coisas que até então não havia sentido com Afonso. Sentiu-se protegida, sentiu-se em paz. Sentiu-se amada. Um beijo cheio de amor, cheio de cuidados. O ar faltou e ambas se separaram, ainda de olhos fechados. Sarah arriscou.
- Não vá. Por favor, não vá! Eu posso te fazer feliz. Todos esses anos eu cultivo em meu coração a esperança de um dia te fazer feliz. Eu te amo, Cris. Eu sempre te amei. Não vá. Fique comigo. Me dê uma chance de te mostrar que há felicidade entre duas pessoas, que amor é mais do que um jantar bem preparado e roupas bem passadas. Me dê a chance de ser a razão dos seus sorrisos.
Cris não tinha condições de definir o que estava sentindo naquele momento. Encarava aqueles olhos verdes enquanto sentia um turbilhão de emoções que até então nunca havia tido a oportunidade de sentir. Sentiu amor.
- Eu volto.
E saiu, sem olhar pra trás.
Sarah a viu sair pela porta, e caiu. Chorou por medo, chorou por amor. Chorou por saber que nunca poderia ter aqueles lábios nos seus novamente.
Cristina entrou em casa e viu o ambiente escuro. Olhou para os lados e supôs que Afonso tivesse saído. Acendeu a luz e se assustou ao vê-lo sentado.
- Eu sabia que você iria voltar. – Um sorriso cínico desenhou-se em seu rosto.
- Chega, Afonso. O que você fez não tem perdão, e eu quero o divórcio.
O sorriso no rosto do homem se desfez.
- Perdeu o juízo? Vai querer o divórcio por causa de uma besteira dessas?
- Besteira, Afonso? Você chegou em casa bêbado, me agrediu, me estuprou!
- Não exagera, Cris! Eu tenho minhas necessidades e você não está ajudando muito! Sempre negando fogo, sempre dando uma desculpa!
A dona-de-casa gargalhou ironicamente.
- Ah, tá! E isso te dá o direito de me violentar? Chega, Afonso, chega! Não vou escutar suas desculpas, suas ladainhas! Vou embora agora.
Apressou-se em subir as escadas, mas foi detida assim que pisou no andar de cima. Afonso, com sua força, encostou a esposa na parede, suspendendo com uma mão, os braços dela acima da cabeça, e com a mão livre tratou de sufoca-la.
- Você... está... me machucando! – Dizia com dificuldade, as veias em sua fronte já se faziam evidentes. Estava com medo.
- Se você pensa que vai se livrar de mim, está muito enganada. Acho melhor você para com essa ideia maluca de querer ir embora, ou as coisas irão ficar ruins para o seu lado. – Vociferou num tom bem baixo, e quando viu a esposa adquirindo um tom arroxeado, soltou-a de repente, e viu o corpo da mulher cair ao chão, quase inconsciente.
Olhou-a o chão mais uma vez, e saiu cantando pneu. Novamente passaria a noite em um bordel barato no centro da cidade, regado a drogas, álcool e várias prostitutas.
05:45 da manhã.
Ainda de olhos fechados, Cristina respirou fundo. Sua cabeça parecia que cairia a qualquer momento. Fez uma careta ao perceber que ainda estava no chão. Tentou olhar o ambiente onde se encontrava, numa tentativa vã de focar os objetos a sua frente. O olho ainda estava inchado, e doía bastante.
Levantou-se com muito sofrimento, e olhou para dentro do quarto. Trincou os dentes e enrijeceu toda a sua musculatura ao ver o homem dormindo profundamente em cima da cama. Ele estava com manchas na camisa, sujo e ainda estava de sapatos.
“Cretino, provavelmente chegou tão bêbado que desmaiou”
Olhou mais uma vez pra ele. Uma bela chance. Poderia descer as escadas e pegar uma faca e travar no peito daquele ser desprezível. Nunca sentiu nada por ele, não faria diferença se ele passasse a não mais existir.
Mas sua razão falou mais alto. Aproximou-se do esposo que dormia esparramado, tentou enxergar as chaves e, com delicadeza, foi enfiando a mão em seu bolso. Não encontrou. Quando retirou a mão, Afonso se mexeu e Cris prendeu a respiração. “Meu Deus, não deixa ele acordar”. Quando o homem se virou, Cristina esboçou um breve sorriso ao enxergar o molho de chaves na cama.
Com a ponta dos dedos pegou a chave na colcha da cama e olhou mais uma vez para Afonso. Quando ia saindo do quarto, viu a carteira do marido no chão. Apanhou todo o dinheiro e cartões que havia dentro e correu. Tinha que estar longe quando Afonso acordasse, ou então correria o risco de viver todo aquele terror novamente.
Saiu da casa e trancou a porta. Entrou no carro, e olhou para a casa da frente. Involuntariamente tocou os próprios lábios.
“Todos esses anos eu cultivo em meu coração a esperança de te fazer feliz” – Aquelas palavras martelavam em sua mente. “Ah, Sarah, que loucura! E eu adorei, eu nunca sabia que podia sentir as coisas que senti quando você me beijou. ”
Deu partida no carro e seguiu em direção ao centro da cidade. Chegando lá, abandonou o carro do marido em um estacionamento e tomou um táxi.
Não sabia o que fazer, não sabia pra onde ir. A única certeza que tinha, era que precisava ir embora. E foi.
03 dias depois da partida de Cristina, Afonso foi preso em seu escritório. Um exame de corpo de delito, fotografias e uma testemunha foi o suficiente para que permanecesse preso por estupro e tentativa de homicídio.
Sarah nunca mais teve notícias sobre Cristina e quase morreu de saudades.
------------------
05 anos mais tarde
Sarah observava a paisagem pela janela daquele quarto de hotel. Apreciava o mar, as pessoas andando na areia. Respirou fundo sentindo a maresia entrar em suas narinas. A partir daquele dia, esta seria sua terra, o lugar onde passaria a ser habitante. Havia passado em um concurso para Juíza em Fortaleza, capital do Ceará.
Viu aquela oportunidade, não só como um benefício financeiro, mas um consolo pra alma. Desde o dia em que viu a mulher que amava sair pela porta da sua casa, havia vivido sentimentos completamente arrebatadores.
Não soube mais notícias da sua vizinha e só depois, por conta de uma conversa de um casal mais velho que morava na casa ao lado, ficou sabendo que Cristina havia viajado e que Afonso foi preso.
“Ah, Cristina... onde você se meteu? Será que eu poderia ter tido uma chance, se a situação tivesse sido diferente? ”
Fazia as mesmas perguntas todas as noites, e já não aguentava mais olhar praquela casa sem se lembrar daquela mulher branca, de cabelos amarronzados e um sorriso tímido.
Depois de sofrer a perda daquela que nunca foi sua, decidiu seguir a vida. Alugou a casa do condomínio e mudou-se para um apartamento no centro do Rio de Janeiro, perto da movimentação, do barulho, e de seu escritório. Manter-se ocupada foi a única solução que encontrou para não sofrer mais.
Os dias viraram semana, as semanas viraram meses, e os meses viraram anos e nada de Sarah ter sequer uma notícia do nome de Cristina. Soube por intermédio do seu corretor, que era o mesmo da família de Cris, que ela havia autorizado a venda da casa, mas não havia permitido que o corretor desse qualquer informação sobre ela, pra ninguém.
“Sarah, aceite! Acabou antes mesmo de começar, e você nunca teve a menor chance”.
Soube do concurso decidiu arriscar. Afundou-se nos livros. Passou.
Agora estava ali, para tomar posse do cargo. Se hospedou num hotel pra poder planejar onde moraria. Entrou em contato com algumas imobiliárias, e decidiu que moraria perto do mar. Amou o clima daquela área. Começaria uma nova vida.
Parou de dar atenção à vista do lado de fora do quarto quando ouviu seu próprio estômago reclamar. Prática, tomou seu banho e alguns minutos depois, saía do hotel a procura de um restaurante.
Resolveu conhecer o “Praia do Meio”, um restaurante muito bem comentado no turismo e nas redes sociais.
- Seja bem-vinda, senhorita! – A jovem hostess levou Sarah até uma mesa individual, entregou o cardápio e mal se afastou, logo veio o garçom.
- Boa tarde, senhorita! Já fez seu pedido?
- Boa tarde! Não, não fiz ainda, mas são tantas coisas boas aqui, que eu estou em dúvida.
- Se me permite, senhorita, a nossa peixada está entre uma das melhores no turismo gastronômico do Norte e Nordeste.
- Então é essa que vou querer, e enquanto isso, gostaria de um vinho branco. – Agradeceu ao garçom e este se retirou.
Após alguns minutos, o garçom trouxe seu pedido. Estava muito bom. “Meu Deus, nunca comi um peixe tão delicioso na minha vida!” Pensou enquanto acenava para o garçom.
- Pois não, senhorita.
- Esse peixe estava uma delícia! Nunca comi algo tão saboroso em toda minha vida, meu amigo, e gostaria muito de elogiar a mão habilidosa que cozinhou isto.
O garçom deu seu melhor sorriso e se afastou.
------------------------
Em meio a correria e com uma grande demanda de pedidos, a Chef comandava uma cozinha inteira com maestria. Apesar do estresse, amava aquilo tudo.
Estava concentrada na preparação de um prato, quando ouviu o garçom chamar.
- Hei, Chef! Preciso de você aqui no salão.
A Chef virou os olhos, visivelmente incomodada.
- Aff, não posso ir agora. Diga que estou ocupada! – O garçom riu.
- Não dá, Chef. Temos uma moça recém-chegada na cidade e apaixonada pela sua peixada. Sugiro que deixe Thiago terminando o prato e venha, não custa nada.
- Ai, que chatice! Tudo bem, vou lá... – largou o prato para o seu subchefe terminar, lavou as mãos e deu uma olhada no cabelo embaixo da touca. Agradeceu por seu dólman ainda se manter intacto, e saiu em direção ao salão.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Sarah olhava informações aleatórias em seu smartphone, quando o garçom, sempre educado, a chamou.
- Senhorita, conheça a responsável pela melhor peixada da cidade.
A negra se levantou e olhou para a figura que se mantinha atrás do garçom, e não acreditou. Sentiu seu estômago gelar, como que descendo em uma montanha russa.
“Meu Deus, não acredito!”
------------------
A medida em que se aproximava da mesa, a Chef tinha uma visão melhor da cliente que a esperava. Sentia o coração acelerar a medida que andava em direção a ela.
Quando a viu se levantar, prendeu a respiração.
- Sarah... – sussurrou mais pra si, não sendo ouvida pelo garçom e pela mulher.
A negra olhava pra ela como se olhasse pra um fantasma e então, alheio ao turbilhão de emoções que as duas mulheres enfrentavam, o garçom falou:
- Senhorita, esta é Cristina, nossa Chef de cozinha e proprietária do “Praia do Meio”
Fim do capítulo
A little nervous! Espero que tenham gostado.
Comentem!
Comentar este capítulo:
Pérola parabéns por através do seu romance vc despertar leitoras acerca da violência contra a mulher. Enquanto as agredidas se calarem os dados estatísticos jamais se extinguiram.👍
. Vc foi muito feliz na abordagem!
Sarah terá sua chance pra tentar.
Um grande abraço
Darque
rhina
Em: 01/06/2016
Obrigada. Querida.
Até a próxima.
Sabe quando leio relato como o teu eu sinto como tivesse "um mundo "dentro do mundo.
Como se fosse fácil. Mas eu sei que não é. Não é fácil no mundo. Mas dentro do mundo sim. Porque este mundo diz respeito somente as partes que se amam e buscam o amor como prioridade em suas vidas.
Dá vontade de experimentar sem medo.
Não sei se estou me fazendo clara. Mesmo porque para mim e confuso.
Talvez ainda não tenho as palavras exatas para expressar o que sinto. A paz que sinto. A euforia em meu coração a vontade de saltar ao ler relatos como o seu.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
rhina
Em: 28/05/2016
Oi Pérola.
Estou encantada com este capítulo.
Um tema muito importante e acontece diariamente. A violência contra a mulher. O homem que supõe melhor e superior e autor de todos os direitos e o qual não deve ser questionado em suas decisões.
Mulheres que representa. Que faz parte da nossa realidade.
Cristina foi demais. Não so teve coragem de deixar o marido como deu a volta por cima e seguiu em frente pelo próprio esforço.
Gostei muito.
Parabéns autora.
Até.
[Faça o login para poder comentar]
Anandinhaly
Em: 22/05/2016
Nossa que história maravilhosa! Cada capítulo me deixava mais e mais ansiosa pra ler o próximo! A escrita impecável e que fazia imaginar cada detalhe como num filme, confesso que me identifiquei com muita coisa e que sofri e chorei, mas que também ri e me emocionei junto com elas.. também quero e sei que vou ter um futuro bom assim 😍, por que só amor de verdade, vence no final..ultrapassa qualquer barreira d84;
Muito obrigada pela história pérola!
Espero em muito breve vê-la com mais histórias por aqui!
Um beijo bem enorme e um abraço apertado d84;😍👏
Resposta do autor em 24/05/2016:
Exatamente, só o amor que vence no final.
Obrigada pelos elogios, mesmo eu nunca sabendo corresponder à altura kkkkkk
E um futuro assim, só depende de você, e da outra pessoa né, claro kkk
Quando tem amor, tudo se torna possível
Fico muito feliz por você ter gostado.
Não sei ainda quando postarei outro. Comecei a escrever um, mas no meio da história acabei me perdendo e abandonei.
Mas vai dar certo. Um grande abraço
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
Anandinhaly
Em: 17/05/2016
Agora antes de ler as histórias eu vou precisar tomar o remédio de pressão antes! kkkkkkkkkk
Coisa linda, tudo lindo! a parte da conversa do namoro só me trouxe otimas lembranças, me emociona sempre! *-*~
A parte do Afondo me enfartou, mas tudo bem kkkkk
Só espero que ele se dê mal de novo e elas sejam muito felizes! <3
#chegaquarta #chegaproximocapitulo
Resposta do autor em 18/05/2016:
Aproveita que hoje é quarta, e já separa o comprimidinho, porque vem mais emoção por aí! kkkkkkkkk
Então quer dizer que tenho uma leitora chorona? kkkk
Vamos ver o que vai acontecer com Afonso, né? Um xeeeeeeiro <3
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
Anandinhaly
Em: 14/05/2016
Ooown, tá um capítulo mais lindo que o outro! Chorei com a inocência do Vinicius e o amor da Sarah ao ver que ele 'era ele'.. quase me mata de ansiedade, faça mais isso não 😂😂 poste logo o outro!
Um beijo 😘
Resposta do autor em 17/05/2016:
Me diga algo que NÃO te faça chorar! Kkkkk E apesar da tensão, confesse que gostou ;) Tenho que deixar minhas leitoras ansiosas pelo próximo capítulo! Kkkk um xeeeeeiro <3
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 10/05/2016
Gostei bastante do capitulo, espero que esse traste do Afonso passe muitos anos na cadeia e não apareça em Fortaleza para infernizar a vida da Cris e Sarah.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor em 11/05/2016:
Tomara mesmo que Afonso fique beeeeem longe dessas duas. Já foi muito sofrimento, e já se passou muito tempo, uma horas vai ter que dar certo.
Vamos torcer!
Obrigada. Um grande abraço.
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
line7
Em: 09/05/2016
INCRÍVEL! sério se isso for a sua primeira vez, imagina quando vc ficar mais experiente. ..rsss..a narração e as discrição São bem convidativas, na batida dos tambores..ela se reencontraram.
Até a próxima linda e parabéns sucesso garantido😊😙
Resposta do autor em 09/05/2016:
Ai, sério? Eu tô escrevendo e tá me dando um frio na barriga kkk Depois de anos lendo cada história f#da, eu finalmente criei coragem pra escrever e publicar, porque até então eu só escrevia, e não tinha coragem de publicar kkkk.
Quarta-feira vem o próximo capítulo. Vamos aguardar o desenrolar dessas duas.
Abraços!
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
Anandinhaly
Em: 09/05/2016
Muuito boa a história!
totalmente bem escrita e cheia de enredo, mantem o espectador ligado do começo ao fim!
a pior parte foi quando acabou mesmo! kkk
Anciosissima pelos próximos capitulos!
;*
Resposta do autor em 09/05/2016:
Sério? Gostou mesmo? Ainda tô morrendo de medo kkk Mas procuro escrever cada capítulo com cuidado e caprichando, dando sempre o melhor. Fico muito feliz que tenha gostado. E aquieta essa ansiedade, mulher. O próximo capítulo sai amanhã, quarta-feira.
Um grande abraço.
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
thays_
Em: 09/05/2016
Adorei!! Estou muito ansiosa pela continuação! Imagino a emoção das duas nesse reencontro. Você escreve muito bem! Bjs
Resposta do autor em 09/05/2016:
Que bom que você gostou. Realmente, um reencontro assim, depois de 5 anos, é de derreter os corações kkk Até quarta, querida. Um grande abraço.
Pérola.
[Faça o login para poder comentar]
Lekanto
Em: 09/05/2016
Moça, você tem talento. Para uma primeira história, começou muito bem e eu não poderia deixar de comentar e elogiar. Por gentileza, se sinta à vontade para continuar escrevendo e nos brindando com seu seu texto.
Parabéns!!
Fique bem.
Resposta do autor em 09/05/2016:
Obrigada, Lekanto.
Finalmente criei coragem, heim? kkkk Depois de tantas especulações...
Uma honra ter você como minha leitora.
Um grande abraço. Até quarta-feira
:*
Pérola
[Faça o login para poder comentar]
preguicella
Em: 09/05/2016
Adorei! A dinâmica foi ótima, com muitas informações, agora é esperar pra ver o que vai acontecer!
Quando sai o próximo hein?!? hahaha
Bjão
Resposta do autor em 09/05/2016:
Eu agradeço, de coração.
E fica na expectativa, o próximo capítulo sai amanhã (quarta).
Vamos ver como vai ser o desenrolar entre Cris e Sarah. Um grande abraço, e até o próximo capítulo.
Pérola
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]