Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Olá moça! Tudo bem?

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Vou bem e vc?

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Tirando o tédio, bem! Sou de Minas tbm, Caratinga conhece?

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Na vdd não rs... Fica perto de onde?

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Ipatinga, Patos de Minas, Governador Valadares...

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Conheço Ipatinga e GV, não fica longe daqui!

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Como vc é? Tem quantos anos? Faz o que da vida?

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Rs... Vamos lá, pele branca, cabelos e olhos castanhos. Tenho 21 anos e faço facul de jornalismo, trabalho em um banco.

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Gostei, embrulha pra mim?!

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Como tu é? Faz o que da vida?

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Veja você mesma! Facebook.com// Sou fotógrafa!

Abri aquele link não esperando nada demais, estava ali só para passar o tempo, a aparência daquela garota em nada importava para mim.

Fiquei paralisada diante da tela por alguns segundos, Carolina Lopes. Deus como era linda! Após alguns segundos, me dei conta que a garota esperava uma resposta minha, voltei para a tela do bate papo pronta para fazer um elogio, porém minha falta de jeito mandou lembrança:

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Nossa... Interessante você!

Apenas mais uma fala para (reservadamente) Jornalista BH: Interessante né?! Boa pra uma noite de chuva, um final de semana sem nada pra fazer! RSrs entendi! Bom preciso ir, tem um cliente me esperando pra ver umas fotos! Bjos!

Jornalista BH fala para (reservadamente) Apenas mais uma: Er... eu não quis dizer bem isso...

Tarde demais, ela já havia deixado a sala.

Fiquei ali encarando a tela vazia, para em seguida me lembrar do perfil dela aberto. E por um momento, eu que nunca tomei nenhuma atitude na vida, decidi ter a primeira e enviei a ela um convite de amizade.

Antes que desistisse da ideia e cancelasse a solicitação, levantei da mesa e fui ao banheiro, na volta percebi que havia uma mensagem no meu perfil, abri com as mãos suando frio.

“Obrigada por ter me adicionado! Foi um prazer conhecer você! Beijos Jornalista!”

Passei os minutos seguintes ali lendo e relendo aquela simples mensagem, mas sem coragem para responder, ela já estava off-line novamente e meu momento de “garota atitude” já havia passado.

                                                                              *****

Depois daquela conversa, a realidade me chamou e precisei voltar ao trabalho, que ocupou minha mente até a hora de ir embora. Fui direto pra casa, desanimada, odiava férias, elas me faziam passar mais tempo em casa na companhia de Juliana.

A verdade é que nós duas tínhamos esse relacionamento estranho de pouco mais de dois anos, mas que não satisfazia a nenhuma de nós. A sensação que eu tinha era de que eu era a otária que bancava os luxos dela, isso me matava, queria ter uma chance de sair daquela relação, mas não sabia o que me prendia ali, não sei se o medo de ficar sozinha ou a sensação de abandono.

Cheguei exausta, me esquivei de Juliana, tomei um banho quente e sem ao menos comer, me joguei na cama pronta pra dormir e pensando naquela garota, por um breve momento, cheguei mesmo a desejar conhecê-la melhor.

                                                                              *****

Acordei praguejando, sabia que era sábado e seria terrível assim como os outros.

Saí da cama, tomei um banho e fui ao salão de beleza, numa tentativa de diminuir o meu tempo em casa, marquei um horário e passaria uma boa parte da manhã por lá.

Já passavam das onze horas quando cheguei em casa, encontrei Juliana sentada na frente do computador, como sempre. Assim que passei pela porta do quarto ela me olhou e perguntou:

-- Em quanto ficou essa gracinha Diana? – Falava com raiva apontando para os meus cabelos.

-- Não te devo satisfações de como gasto meu dinheiro. – Respondi friamente me virando para o guarda roupas em busca de uma roupa mais confortável para vestir.

-- A partir do momento em que vivemos debaixo do mesmo teto, você deve sim! Quanto custou? – Ela já havia se levantado da cama e me encurralava contra o guarda-roupas numa postura agressiva.

-- Duzentos reais, Juliana! Quer saber por quê? Por acaso vai pagar? – Perguntei irritada.

-- Você tem dinheiro pra gastar em um salão, mas não tem pra me pagar um simples par de tênis? – suspirei entendendo a questão, o problema não era eu ter gasto comigo, mas sim ter deixado de comprar algo pra ela.

-- Claro, cansei de cuidar apenas de você, cuido de mim agora! – respondi com simplicidade.

Minha tentativa era de encerrar a briga, estava cansada de viver daquela forma por tanto tempo, mais uma vez me questionava mentalmente o porquê de aceitar aquilo tudo. Porém após aquela declaração, Juliana se enfureceu, disparou mil ofensas e eu novamente me vi cedendo e fazendo as vontades dela.

Fomos a um shopping perto de casa e Juliana comprou não apenas o par de tênis, mas várias roupas novas. E eu me odiava por dentro por ter a deixado vencer, não pelo dinheiro, nunca me importei muito com isso, mas pelo orgulho ferido. Essa mulher estava drenando de mim cada gota de dignidade restante.

                                                               *****

Depois daquela tarde no shopping, ainda tive que acompanhar Juliana a um encontro com algumas amigas. Como sempre acontecia nessas situações, me refugiei no álcool. Já passavam das três da manhã quando chegamos em casa, embora tivesse bebido três doses de tequila e quatro caipirinhas, eu estava sóbria o suficiente para sentir o coração apertado e doendo.

Enquanto Juliana dormia na outra extremidade da cama, eu chorava baixinho tentando achar forças pra deixar aquela relação que mais me feria do que fazia bem. De repente minha mente deu um estralo e me lembrei da garota do bate papo e passei um bom tempo passeando pelo perfil dela, pelas fotos, achando lindos aqueles olhos negros e aqueles cabelos curtinhos que a deixavam com cara de menina sapeca.

Por um momento mínimo cogitei... mas não, jamais teria chance. Eu não era bonita o bastante, não tinha nada que fosse capaz de atraí-la. As pessoas costumavam dizer que eu era bonita, mas nunca o achei. Eu tinha a pele clara, olhos e cabelos escuros e uma boca bem carnuda que diziam ser linda, mas sempre estive preocupada demais em me achar gorda para gostar de qualquer uma dessas características.

Adormeci pensando naquilo tudo e acordei na manhã seguinte sem vontade de fazer nada e foi o que fiz. Passei o dia na cama, ignorei o falatório de Juliana e passei o dia ali, remoendo minha falta de coragem de tomar alguma atitude quanto a essa relação.

                                                                              ****

A segunda-feira finalmente chegou.

-- O que você tanto olha nesse celular? – Me assustei com Fernanda, ela estava parada atrás de mim observando que eu estava há horas abrindo e fechando o Mensseger sem saber se falava ou não com Carol.

-- Nada não! – Respondi tentando fugir.

-- Desembucha! – Fernanda era assim, um poço de delicadeza

Contei resumidamente o que estava acontecendo e ela simplesmente pegou o celular das minhas mãos e escreveu para Carol:

“Bom dia Fotografa, tudo bem com você?”

E eu? Fiquei parada com o aparelho nas mãos ansiosa por receber alguma resposta.

Fim do capítulo