A sala estava fria, o ar-condicionado parecia não obedecer o controle, as paredes cinzentas da sala era um contraste com meus sentimentos, ao lado da janela de vidro conseguia enxergar apenas o céu nublado, poderia olhar por horas e tinha certeza que o tempo não mudaria, talvez se solidarizando com meu momento.

 

-- Aux, amiga! Vamos? -- Flávia me chamou.

 

Olhei para ela, não tinha muito o que conversar, Flávia era uma das minhas melhores amigas, não sei o que seria de mim sem ela, nesse e em todos os momentos, era uma baixinha loira, que me irritava e amava ao mesmo tempo.

 

-- Espera mais um pouco! Deixa-me recuperar! Sem dúvida foi o dia mais horrível da minha vida -- falei e ela veio me abraçar.

 

-- O amor nos cega, mas não nos mata! Então, bola para frente porque você dará a volta por cima, e eu estarei do seu lado ajudando! Essa criatura que saiu há pouco, não se preocupe, pois o que é dela está guardado e não será você que ira se vingar, o retorno volta naturalmente -- ela fez um cafune que foi mais para bagunçar meu cabelo -- Além do mais, você é linda, esses olhos mel derretem qualquer mulher, logo você estará com alguém que realmente te queira.

 

Fiquei mais uma hora naquele escritório, no qual, foi feita a negociação da separação com Natália e como ficaria dividido nossos bens.

 

Morei junta com Natália durante oito anos, nos conhecemos na faculdade de administração, começamos a namorar quando tínhamos vinte anos ambas, com dois anos de namoro passamos a morar juntas quando conseguimos emprego, enfrentamos todas as barreiras e consequentemente alcançamos nossas conquistas.

 

Abrimos um spa, quando estávamos com vinte e quatro anos lembro que foi um sacrifício, mas deu certo e conseguimos investimentos para ampliar, depois compramos o apartamento com ajuda de nossos pais.

 

Tudo perfeito, a não ser pelo fato dela deixar de me amar e começar as traições, isso ocorria despercebido da minha parte, até que um dia flagrei e acabou o encanto. Nunca tinha percebido e nem minhas amigas sabiam, foi algo surpreendente para todos. Saí de casa e fui morar no apartamento das minhas amigas, que até então ainda estava lá.

 

Foi um mês inteiro que Flávia negociou com a advogada de Natália, o assunto era  a divisão dos nossos bens, até aí as coisas ocorriam bem, claro... Tirando minha tristeza por todos os acontecimentos. Mas a vida seguia, até eu levar mais uma rasteira.

 

Sim, Natália havia aprontado mais do que eu imaginaria um dia. Ela apresentou uns documentos com minha assinatura, nos quais, a nossa clínica era oitenta por cento dela, realmente era muito fácil me enganar, e ela sedutora como era... Mais fácil ainda.

 

A minha sorte é que consegui vinte por cento da clínica, e como não queria nada compartilhado com ela, vendi sem objeções a minha parte do apartamento. Agora me restava um carro, uma parcela do que conquistei com muito esforço da clínica, alguns objetos que eu iria pegar depois no apartamento.

 

-- Vamos, Aux!

 

-- Vamos sim, Flavinha! -- saímos de seu escritório.

 

-- Fique lá em casa o tempo que precisar, sabe que pode contar comigo sempre, o dinheiro dar para recuperar quando temos competência, agora você não. Ela perdeu bem mais que você e um dia ela irá se arrepender -- beijou meu rosto.

 

 -- Sabe, o que tive com ela foi sincero, não me arrependo de nada.

 

-- Você é muito verdadeira!

 

-- E você é a melhor amiga do mundo!

 

-- Eu sei!

 

-- Sabe nada!

 

 

Saímos do escritório, e fomos para a casa de Flávia.

Flávia morava com Luciana, uma morena muito linda e simpática, moravam juntas há dois anos.

 

-- Fique a vontade, você sabe que gostamos de você demais, e não tenha pressa em sair, será muito divertido sua presença -- Lu me recebeu.

 

-- Obrigado, Lu! Sabe que sou amante de sua mulher e ainda me trata assim, é muito bondade sua -- ri.

 

-- E eu lá quero ter alguma coisa com você?! E preste atenção nas regras, a número um, nada de olhar para minha mulher! Já te avisei -- Flávia falou quase rindo -- Regra número dois, nada de me chamar de amante, que coisa mais irritante você falando na frente da minha secretária pela manhã, quase te dou uma voadora, coisa mais feia! Siga as regras que já te falei mil vezes.

 

-- Nossa! Falando assim até parece que tem culpa no cartório, não acha Lú?

 

-- Acho não, tenho certeza! -- rimos.

 

-- Amor! Para, ok! -- Flávia falou de cara fechada para Lu.

 

-- Como você é chata! -- falei.

 

-- Palhaça, vem cá! -- abraçou-me -- Vou te levar no quarto.

 

-- Talvez demoremos, viu Lu?! -- falei, levando um tapa de Flávia.

 

 

-- Tá do seu agrado mesmo esse quarto? Faz um mês que você tá nele,  é tão minúsculo -- ela perguntou.

 

-- Ele é perfeito! -- deitei na cama, o quarto era todo azul claro, com moveis brancos, tudo bem decorado, assim como o apartamento delas, muito lindo!

 

-- Amiga, e sua mãe? Não vai contar o que realmente está acontecendo? -- ela deitou ao meu lado.

 

-- Só depois do casamento que irei falar, não quero estragar a felicidade dela nesse momento.

 

-- Sabe... Realmente queria ter uma irmã como você.

 

-- Eu sou sua irmã idiota -- ri.

 

-- Eu sei que é, você foi a única que me ajudou quando eu precisei.

 

-- E você está retribuindo agora.

 

-- Isso mesmo, tanto que pegarei uma roupa para você tomar banho agora -- ela falou já mexendo na minha mala que havia trazido, Natália tinha levado para mim, que gentileza né?!

 

Aceitei a sugestão de Flávia e fui tomar um banho,  as meninas me fizeram esquecer um pouco, mas quando entrei no banheiro minha realidade veio a tona, sendo sincera comigo mesmo, não estava tão triste pelo fato de ter sido roubada, mas de ter sido traída, amar quase a vida toda alguém e do nada acabar, é uma sensação horrível, mas já estava passando e logo esqueceria ela de vez.

 

Enxugava meus cabelos quando o meu celular tocou.

 

-- Oi, mãe!

 

-- Filha tudo bem?!

 

-- Tudo sim mãe! -- essa mentira pode né?

 

-- Depois de amanhã será a prova dos vestidos.

 

-- Que horas?

 

-- Será por volta do meio dia, pois é a hora que conseguiremos sair do trabalho, mas liguei também para pedir um favor.

 

-- Diga mãe.

 

-- Preciso que pegue as filhas da Cíntia no aeroporto, o voo delas chegará por volta das cinco da manhã.

 

-- Cinco horas mãe?

 

-- Sim filha, por favor, faça isso por nós, você traz elas e dorme aqui o restante da manhã.

 

-- Certo mãe, pegarei.

 

-- E a separação como está? -- ela tinha que perguntar.

 

-- Eu a vi hoje na negociação dos bens -- falei não dano muita importância e detalhamento.

 

-- Como foi? -- mas ela insistia, ela é assim mesmo.

 

-- Depois te conto tudo.

 

-- Quero saber mesmo!

 

-- Contarei mãe, qual o nome das meninas, irei escrever em uma plaquinha porque não as conheço, né?! -- mudei o assunto.

 

-- Claro! Faça isso, tinha esquecido esse detalhe, elas chamam-se Sandra e Sabrina, são loiras.

 

-- Será que são bonitas igual a mãe? -- perguntei até animada.

 

-- São sim, e não quero confusão com as filhas da minha mulher entendeu? -- ela falou em tom brincalhão.

 

-- Cíntia como madrasta e sogra, seria engraçado, imagina se acontecer algo entre mim e uma delas?! -- perguntei imaginado a situação.

 

-- Fica quieta menina! Você acabou de se separar.

 

-- Mas não foi opção minha mãe, né?!

 

-- Eu sei filha, quero você feliz, só não brinque com as meninas!

 

-- Tá bom mãe. Até mais!

 

-- Beijo e cuidado na madrugada quando for buscá-las.

 

-- Pode deixar, beijos D. Laura.

 

Saí do quarto depois da ligação, as meninas estavam na cozinha, esperando para jantar.

 

-- Demorou hein?! -- Flávia logo disse.

 

-- Mamãe ligou.

 

-- E?

 

-- Quer que eu vá buscar as filhas da Cíntia no aeroporto.

 

-- Que horas? -- Lu quis saber.

 

-- Cinco.

 

-- Aí amiga, nessa nem vou fazer companhia a você -- Flávia disse debochando.

 

-- Tudo bem, vou só, depois continuo meu soninho lá, para mamãe é indelicadeza não ir pega-las aí sobra para mim.

 

-- Filha única é assim mesmo -- Lu brincou.

 

-- Pessoa incrível que é assim -- falei.

 

-- Mas se acha né? -- Flavinha ralhou.

 

-- Vamos jantar que estou com fome -- falei já pegando um prato.

 

Jantamos uma sopa que Lú fez de legumes e deitei um pouco para dormir, coloquei o despertador do celular para tocar as quatro horas, para ir ao aeroporto.

 

 

Acordei com o despertador, tomei banho rapidamente e saí.

 

No aeroporto fiquei esperando o voo, eram cinco horas e nenhum sinal delas, depois de alguns minutos anunciaram que teve um pequeno atraso. E eu lá mexendo no celular, tomando cafezinho, indo ao banheiro, o pequeno atraso custava já duas horas do meu tempo. Minha mãe ligava e eu avisava que não tinham chegado, que havia atrasado. Olhava um monte de gente chegando e saindo, nada das loiras. O papel que tinha colocado os nomes delas, já estava amassando e uma parte rasgado, duas horas e meia... Minha paciência tinha acabado, andava de um lado a outro.

 

Enfim, as belas chegaram e realmente eram belas, logo seguiram minha direção, pois o cartaz na minha mão tinha realizado seu proposito.

 

A primeira impressão foi de encantamento, cada uma puxava uma mala todo personalizada, usavam roupas casuais, jaquetas, jeans, tênis, e sorriam de alguma conversa entre elas. Achei a mais alta linda, do tipo que a mais baixa, e o sorriso dela era tão lindo.

 

-- Oi, sou auxiliadora! Podem me chamar de Aux, sou filha de Laura -- cumprimentei a mais próxima, não sabia qual era.

 

-- Eu sou Sabrina -- ela falou, que cheiro hein?!

 

-- E eu sou a Sandra, a mais gata da família! Concorda?! -- essa pulou sobre mim.

 

-- Você é bonita igual a sua mãe! -- pisquei para ela.

 

-- Obrigado, acho que entendi -- piscou para mim.

 

-- Mas em questão de beleza é difícil saber entre vocês três! -- tentei ser sincera, mas Sabrina me deixou boba, realmente achei ela mais linda.

 

-- Ah é? Agora quero saber usa opinião, diz quem é mais bonita? -- Sabrina perguntou.

 

-- Não me deixe encurralada, tá? -- aquilo tomou proporções gigantesca, eu só queria ir para casa da minha mãe e elas no meio do aeroporto debatendo algo que já era tão óbvio... Para mim.

 

-- Pode dizer, Aux! Talvez eu entre em depressão com sua resposta, mas... Tentarei sobreviver! -- falou rindo Sandra.

 

-- Não somos ciumentas e nem vaidosas -- Sabrina disse -- Apenas queremos saber sua opinião, mas acredito que ficara em cima do muro não é?

 

-- Já que vocês querem saber minha humilde opinião, vamos lá! Você é linda Sandra, sua mãe bonita, mas a Sabrina... -- fiz questão de olhar em seu olhos azuis -- Faz tempo que alguém não me deixa assim viu?! -- continuei olhando em seus olhos -- Se por dentro você for cinquenta por cento do que é por fora eu caso -- falei brincando, brincando mesmo tá?!

 

-- Então está com sorte, porque ela é cem por cento, diria até duzentos por centos -- Sandra bateu em meu ombro --  E está solteira! -- finalizou quase assoprando em meu ouvido.

Fim do capítulo