8 – Nós
https://www.youtube.com/watch?v=_UcoPNPF-rg
Se for ficar
fica de uma vez
não enrola.
Receberia outa visita dela. Estava ansiosa e confusa porque suas conversas andavam sendo evasivas de ambas as partes. Os assuntos sempre amenos, nunca mais tocaram no que dizia respeito à sentimentos e relacionamentos. Tinha medo, mas não sabia que ela também tinha. Mas ela não queria mais a incerteza e convidou-a para uma nova visita. Quando ela chegou à sua porta ficaram sem reação, não sabiam como se tratar, não conseguiam parar de se olhar.
Porque enrolar é só dentro do abraço
e eu faço questão de ser no meu
que cabe tu
e é só teu.
Abraçaram-se, um abraço longo em que matavam saudades e reafirmavam certezas. Seus corações aceleraram, suas mentes voaram, suas almas relaxaram e as duas se apertaram como se quisessem guardar uma a outra naquele abraço.
Chego a noite em casa procurando por você em todo canto.
O que é que tu fez?
pra deixar rastro nos meus móveis e teu cheiro e quando canto
aquela canção que a gente ouviu
na cama grudados
e aquele refrão que nos pôs pra dormir
embaraçados.
Teve que sair por um tempo, tinha que devolver um livro à uma amiga antes do dia terminar. Demorou-se demais e retornou quando já escurecia. Entrou em casa e seus olhos procuraram os cabelos cacheados, o cheiro dela estava no ar. Encontrou-a, linda, deitada em sua cama com seu notebook no colo enquanto colocava músicas para tocar. Guardou a bolsa e as chaves, foi para um banho, arrumaria o que comerem depois.
Hey, você,
que se alojou nos meus olhos
e na minha boca,
porque não tá aqui?
Viu-a sair do banheiro já vestida, as pontas dos cabelos pretos molhadas, tão linda como sempre. A vontade de tê-la nos braços era maior que qualquer coisa. Arrependeu-se de ter aceitado o convite, não resistiria aquele sentimento que a impulsionava para a amiga. Mesmo assim não conseguiu não chama-la para deitar consigo e ouvir músicas.
A cama tá reclamando
a casa te chamando
vem logo me ver
To te esperando entrar
não precisa bater.
Abraçaram-se e ouviram as músicas, algumas inéditas ela que enrolava seus cachos numa das mãos com os braços dela em volta de si. Ela tinha acesso ao seu coração com um olhar e logo não pode fugir da pergunta da garota de cabelos lisos sobre sua vida amorosa; ela queria saber se havia alguém ali dentro do seu coraçãozinho. “Tem, tem sim”, ela se viu a responder; “Tem, mas não será nada mais do que uma vontade do meu coração”. Adormeceram com os dedos calejados do violão a acariciar o braço macio da outra.
Lembra de ficar um pouco mais quando pensar em ir embora.
E querer muitos minutos a toa sem se importar com a demora
do nosso sono matinal
de quando nos falta assunto
das horas que eu disparo a conversar e tu não fala um só segundo.
Quando acordaram era cedo, não quiseram sair dali, do calor bom e da sensação de paz. Encaravam-se e, se prestassem atenção veriam todo o amor e carinho que tinham uma pela outra. Ficaram lá sem se importar com mais nada e em silêncio. Quando se levantaram foram tomar café e os cachos balançavam ao embalo de seus gestos enquanto, para evirar outros assuntos, ela contava sobre a cidade onde ainda morava. Riram e, quando terminaram de comer, se puseram a ajeitar tudo.
Hey, você,
que se alojou nos meus olhos
e na minha boca
porque não tá aqui?
Arrumavam a louça, lado a lado em frente ao balcão. Olharam-se e uma mecha do cabelo liso foi colocada para trás dos ombros pela mão da outra que acabava de ser secada, as pontas dos dedos deslizando sobre a bochecha enquanto conduziam os fios para longe do rosto. Olharam-se ainda mais intensamente, a dona dos cachos não sabia o que fazer, não conseguia controlar-se; aqueles olhos puxavam-na em direção à eles como a gravidade da terra lhe puxava contra o chão.
Era irresistível
A cama tá reclamando
a casa te chamando
vem logo me ver
To te esperando entrar
não precisa bater
que eu esqueci de me trancar
Fim do capítulo
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