7 – Tententender
https://www.youtube.com/watch?v=5u-txC1yEzQ
Se eu disser
que vi rastejar
a sombra do avião
feito cobra no chão.
Por meses continuaram como sempre, mas com o tempo as conversas foram se tornando superficiais. Evitavam comentar muito sobre seus próprios sentimentos com medo de se delatarem e perderem a amizade. Mas ela não conseguia não pensar no que sentia e, por vezes, se perdia em pensamentos enrolando seus cachos nos dedos enquanto sonhava com a amiga que se mantinha longe. Lhe doía não serem mais tão próximas, não conversarem mais como antes, não se abrirem mais como costumavam fazer. Lhe doía tanto que um dia, enquanto a outra contava da proximidade de certo amigo, ela se irritou e não pode esconder o ciúmes na voz quando disse que o rapaz não era bom o bastante.
Tententender
a minha alegria
a sombra mostrou o que a luz escondia.
O tom carregado de mágoa e ciúme na voz da amiga reacendeu a brasa que ela já considerava completamente extinta e, enquanto especulava os motivos, a brasa reacendeu o fogo em seu peito por não haver uma explicação possível da amiga.
Se eu quiser ser mais direto
eu vou me perder
melhor deixar quieto.
Queria explicar o ciúme, mas também não queria senti-lo. Queria apenas o melhor para a amiga e não sabia explicar sem sentir-se triste por esse ‘melhor’ não lhe pertencer. Tentava usar outras palavras para esconder quando na verdade queria usar de motivo seu amor. Sua mágoa não lhe permitia perceber que seu ciúme transbordava e podia ser visto e ouvido por qualquer um.
Tententender
tente enxergar
o meu olhar pela janela do avião.
Ela percebeu o ciúme misturado com certa dose de ressentimento e tentou abrandar isso, mas não sabia como reagir àquela postura da amiga. Entretanto também não podia ter a certeza dos motivos para aquilo, por isso não tinha coragem de dizer abertamente. Negou todo possível envolvimento com alguém insinuando já ter alguém de quem gostasse, ela, mas o ciúme cegava-a.
Que amor era esse
que não saiu do chão?
Não saiu do lugar.
Só fez rastejar o coração.
Se ela gostava de alguém, então por que nunca lhe disse? Eram melhores amigas, então porque escondeu dela tal informação tão importante? Ela não entendia o que se passava na cabeça da amiga. E também não conseguia controlar-se o suficiente para raciocinar a respeito. Tudo o que sentia era tristeza que, misturada ao ciúme, deixou-a grossa e ao mesmo tempo insensível aos sinais demonstrados. Então sentiu as lágrimas caírem quando ouviu a frase “Tu nunca vai me perder”.
Se eu disser que tive na mão a bola do jogo
não acredite.
Achou que dar-lhe aquela certeza amenizaria o ciúme, quis dizer que nunca seria de outra pessoa porque queria ser dela, mas a frase “nunca vai me perder” não teve o efeito desejado. Ela não conseguiu entender o que se passava naquela cabecinha com cachos parecidos com os de anjos, mas ao ouvi-la dizer que tinha que desligar com a voz embargada de choro fez-lhe doer o coração como nunca.
Tentender minha ironia
se eu disser
que já sabia.
“Não se preocupa, tu nunca vai me perder também”, ela disse antes de dizer que precisava desligar. Ouviu um pedido desesperado de não ir, ela queria lhe dizer algo mais. Mas ela sabia que seu choro havia de ter sido denunciado em sua voz, não permitiu que a chamada continuasse.
O jogo acabou de repente.
O céu desabou sobre a gente.
A chamada se encerrou e ela não soube mais o que fazer. Discou o número diversas vezes e não foi atendida, deixou recados pedindo que lhe retornasse, mas os dias foram se passando e nada de notícias. Passava dias encarando seu violão, estudou e compôs muito pouco, sua mente não se distraia; pensava apenas na dona dos cabelos encaracolados que não lhe respondia mais.
Tententender
eu quero um abrigo
e não consigo
ser mais direto.
“Tu só não pode, nunca, sair da minha vida. Só não suporto te perder”, disse-lhe quando finalmente recobrou coragem e não suportou mais as saudades daquela voz que habitava seus sonhos. “Nunca vai me perder. Tenho em ti meu porto seguro, não lhe quero longe de mim”, foi a resposta que lhe acalmou o coração, mesmo que não lhe curasse as feridas.
Que amor era esse
que não saiu do chão?
Não saiu do lugar.
Só fez rastejar o coração.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 25/03/2017
Maravilhoso. ...o quanto tira das músicas para elaboarar o enredo da história. ....
histórica complexa. ....de sentidos. ...sentimento. ...sem lacunas .....você és talentosa
rhina
Resposta do autor:
É tudo tão complexo que não teria como desvincular as musicas, elas acrescentam todo o sentimento e cobrem as lacunas de uma narrativa tão simples.
Mas além do meu talento, é preciso que o leitor(a) tenha sensibilidade pra captar tudo
;]
Ana_Clara
Em: 08/07/2016
Eu amo a maneira que está fazendo essa história. Usa as músicas e tira como base para escrever os capítulos. Lindo! 😍
Resposta do autor:
A ideia original era mesmo usar as musicas como tema dos capítulos (tanto que fiquei dois dias tentando motnar uma sequencia com as músicas), mas me surpreendi com o que minha cabeça produziu quando comecei a escrever kkkkkkkkkkkk Não esperava que ficasse bom =P
;]
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