“A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados.”(Victor Hugo)

 

            Alguns dias se passaram desde que minha irmã terminou com Patrícia. Júlia não tinha procurado ela desde então. Eu já tinha aparecido algumas vezes na casa dela para visitar Valentina. Ela era a que mais sofria nessa história toda, afinal de contas ela não tinha culpa alguma das confusões que nós, adultos, nos envolvíamos. Cada vez que eu aparecia por lá nós fazíamos uma festa. E por algumas horas minha anjinha ruiva se desligava de tudo. Eu acabava saindo sempre tarde de lá, pois Valentina só me deixa ir embora depois que eu a colocava na cama. E confesso que eu adorava isso.

            O fim de semana se aproximava. Era sexta-feira e eu estava trabalhando em algumas fotos de um book que precisava entregar no fim do dia quando meu celular tocou.

            - Oi – atendi sorrindo.

            - Oi – ela disse – Atrapalho você?

            - Nunca! – parei o que estava fazendo para lhe dar atenção.

            - Posso te fazer uma pergunta? – Pareceu tímida.

            - Acabou de fazer – disse rindo e brincando com ela, que riu também.

            - Mais duas então? – Foi mais esperta dessa vez.

            - Manda. – disse encostando minhas costas na cadeira.

            - Eu vou viajar com a Vavá amanhã e gostaria de saber se você quer vir com a gente? Voltamos no domingo mesmo!

            - Humm deixa eu consultar minha agenda aqui – disse provocando ela - Adoro viajar! – Respondi – Que horas nós vamos?

            - Não quer nem saber pra onde vamos? – Riu do outro lado da linha.

            - Eu não ligo por destino... o que importa são as companhias! E eu vou estar nas melhores! – Respondi. 

            - Você não perde essa mania de me deixar sem graça né – disse e eu sorri feliz por conseguir mexer com ela.  – Preciso de alguns dados seus pra comprar as passagens. Posso te mandar um e-mail e você responde nele. Seu e-mail ainda é o mesmo de antes?

            - Claro. Vou esperar então.

            - Ótimo. Beijos. – Disse antes de desligar. Em poucos segundos eu recebi o alerta de mensagem na minha caixa de e-mails. Abri e preenchi os dados que ela me pediu reenviando a mensagem. Alguns minutos depois ela me mandou uma nova mensagem informando que me esperaria no aeroporto as 07:00hs da manhã, e me dizendo para não esquecer de levar traje de banho. No sábado madruguei e como já estava com a mochila pronta comi algo rápido e peguei um taxi até o aeroporto. Na hora marcada estava lá. Apesar do aeroporto de Guarulhos ser bem grande, não foi difícil achar Patrícia e Valentina, aqueles cabelos vermelhos sempre se destacam na multidão.

            - Oi – cumprimentei-a com um beijo no rosto.

            - Oi – ela respondeu me dando um beijo.

            - Oi gatinha! Tá com soninho? – perguntei a Vavá que tinha os olhinhos quase fechados.

            - Pode me ajudar? – Patrícia apontou uma mala pequena e eu a peguei. Ela caminhou em direção aos guichês e entregamos nossos documentos para a atendente da companhia aérea. Em pouco tempo já tínhamos feito nosso check in. - Conhece Caldas Novas? – Perguntou.

            - Já ouvi falar de lá mas nunca fui. E você?

            - Ainda não, mas a Carla me disse que é lindo lá. E que a Vavá iria adorar! –Seguimos em direção ao portão de embarque e ficamos sentadas esperando a liberação para embarcar. – Com tudo que está acontecendo achei que seria bom leva-la pra um lugar onde ela possa se divertir bastante. Dar uma pausa pra ela sabe!  

            - E como você está? – Perguntei a ela.

            - Estou seguindo em frente. Ficou sabendo que Júlia esteve em casa essa semana? – Disse me olhando.

            - Não! E como foi? – Perguntei interessada.

            - Como você deve imaginar não foi fácil para nenhuma de nós... mas pelo bem da Vavá teremos que aprender a lidar com isso.

            - Não se preocupe... Júlia não é tipo de pessoa que guarda magoa de alguém por muito tempo!

            - Eu sei... vocês estão bem? – Perguntou com preocupação.

- Estamos bem eu acho... ela não tocou no assunto nas vezes em que nos encontramos mas eu sei que ainda está bastante ferida. Sei que ela vai precisar de tempo pra se reerguer de tudo isso e estou dando o espaço que ela precisa, mas também não quero me afastar muito dela entende?

            - Sim...

            - Flávia perguntou de você! – eu disse a ela. – Ainda não conversou com ela?

            - Trocamos umas palavras por telefone no dia que liguei para Júlia. Eu vou procura-la assim que voltarmos! Por enquanto só quero um fim de semana tranquilo e divertido.

- Mamãe! Eu quelo agua! – pediu interrompendo nossa conversa.

- Eu pego para ela – disse me levantando e indo até um balcão onde pude comprar uma garrafinha de agua. Voltei e abri a garrafa colocando um canudinho para ela. Ela deu alguns goles de agua e tornou a deitar a cabeça sobre o ombro de Paty.

            - Quer? – ofereci.

            - Aceito sim.

            - Quer no canudinho também? – Brinquei e ela riu. Retirei o canudo e entreguei a garrafa a ela. Ela encostou a garrafa na boca e tomou e tomou um gole generoso. Quando baixou a garrafa de agua uma gota dela escorreu pelo canto da boca até seu queixo e meus olhos percorreram o caminho que fizeram.

Algum tempo depois vimos o anuncio de embarque no tela e seguimos para o avião. Eu me sentei na poltrona da janela, Valentina no meio e Patrícia no corredor. Vavá já estava mais desperta antes do avião levantar voo.

            - Tia Ana – chamou e eu virei para ela. – Você já andou de avião?

            - Já meu anjo. E você? – Encarei aqueles olhinhos brilhantes como os da mãe.

            - Eu não! – Respondeu – Se ele é tão glandão como ele faz pa anda na rua assim? – Perguntou esticando os bracinhos, referindo-se ao tamanho ao do avião.

            - Ele não anda meu amor. Ele voa! Lá no céu azul está vendo – apontei o céu.

            - E ele não cai? – perguntou curiosa.

            - Não ele não cai! – Quando o avião ligou os motores e finalmente começou a decolar ela se assustou com o barulho. Quando já estávamos alto o suficiente eu a chamei.

            - Quer ver como é lá fora da janelinha? – Ela acenou com a cabeça e eu soltei seu cinto de segurança colocando-a sobre o meu colo.

            - Tá vendo la em baixo aquele monte de pontinhos se movendo? – Ela balançou a cabeça -  São os carros e as pessoas que moram nas cidades! Parecem um monte de formiguinhas né? – Eu disse e ela riu.

            - É muito muito alto... – olhou-me – Tia Ana como a gente desce? Nós vamo pula? – Perguntou causando risos em algumas pessoas que ouviram suas palavras, assim como Patrícia ria junto comigo.

            - Não, minha princesa. O avião vai descer lá no chão para podermos sair de dentro dele.

            - Ahhh – disse e eu olhei para Paty que estava sorrindo.

            - Senta aqui! – apontei a poltrona para Paty. Ela mudou-se de lugar. Valentina continuava olhando para baixo encantada com o que via. Num determinado trecho pegamos uma leve turbulência e com oi susto a mão de Patrícia segurou a minha. Virei meu rosto olhando-a e sorri.

            - Desculpa! – Pediu e quando fez menção de afastar sua mão eu a segurei. Entrelacei meus dedos nos seus fitando nossas mãos unidas e em seguida busquei seus olhos com os meus.

            - Não se desculpe por isso! – Disse ao fitar seus olhos azuis. Ela apertou sua mão na minha e permanecemos assim. Eu sentia em meu corpo uma sequência de descargas elétricas, todas causadas pelo toque de nossas mãos. Tudo estava ótimo, eu a tinha ao meu lado, Valentina estava ali comigo, e por um tempo eu curti aquela sensação de completude, mas tive que soltar sua mão quando o comandante anunciou que iriamos aterrissar. Voltei Valentina para sua poltrona e passei o cinto sobre o corpinho dela. Após aterrissar seguimos de taxi até o Resort onde passaríamos o final de semana. O lugar era lindo, esplendoroso.

            - Bom dia – ela disse ao recepcionista – Tenho uma reserva, por favor?

            - Qual o nome senhorita?

            - Está em nome de Patrícia Cavalcante.

            - Só um minuto... – disse afastando-se e procurando no sistema. – Aqui. Um quarto de casal com cama extra certo?

            - Isso! – ela disse.

            - Aqui estão seus cartões chaves senhorita. – disse entregando dois cartões a ela. Seguimos até o quarto e assim que entramos nos surpreendemos. Era enorme, e incrivelmente lindo. Havia duas camas nele. Uma de casal e uma de solteiro. Da varanda podíamos ver toda a infraestrutura do resort, todo o complexo de piscinas e áreas de lazer disponíveis.

            - Vocês ficam com a cama de casal – disse a ela colocando minha mochila sobre a outra.

            - Nós já vamos nadar mamãe? – Valentina perguntou.

            - Vamos sim amor... – Paty respondeu. Ela colocou a mala sobre a cama e abriu pegando o biquíni de Valentina. Vestiu-a e em seguida retirou o dela e foi até o banheiro para se trocar. Fui até minha mochila e peguei meu biquíni esperando ela sair. Assim que ela saiu vestindo apenas o biquíni eu senti meu corpo esquentar. Ela usava um biquíni azul em degrade, tomara que caia, que destacava ainda mais os olhos dela. Engoli seco ao percorrer seu corpo com os olhos. Patrícia sabia exatamente como mexer com meus desejos. Entrei para me trocar e sai em pouco tempo. Ela olhou-me e seus olhos pararam na minha tanga.

            - O que foi? – perguntei.

            - Nada! – respondeu balançando a cabeça como ser espantasse seus pensamentos.

            - Não ta bom? – olhei no espelho curiosa.

            - Não... quer dizer tá ótimo... só um pouco curto! Eu acho – disse desviando os olhos e eu sorri.

            - Acha que devo trocar? – perguntei provocando-a levemente.

            - Não é necessário... você tá linda! – respondeu.

            - Já vamos? – Valentina pulava na cama.

- Vamos sim princesinha – respondi.

Vesti um short por cima do biquíni e coloquei uma regatinha básica. Paty já estava pronta. Descemos até a recepção e de lá pegamos um transfer que nos levou até um parque aquático que ficava a uns 30km de distância da cidade, em Rio Quente para ser mais exata. O lugar era uma delícia. Um verdadeiro parque de aguas termais, tão quentinhas que dava vontade de permanecer nelas o dia todo. Patrícia e eu passamos a manhã toda nos divertindo com Valentina. Almoçamos por ali mesmo e o resto da tarde usamos para conhecer todo o parque.

O local era gigantesco. Tinha as mais diversas atrações, para os mais aventureiros até para quem estava com crianças... era possível escolher de acordo com o que se encaixaria melhor no seu perfil. Saímos do parque já passava das 18:00h da tarde e levamos um tempo até voltar a Caldas Novas. Já no hotel Patrícia entrou no banho primeiro que eu e levou Valentina junto com ela. Após algum tempo Vavá saiu primeiro, já trocada com um shortinho jeans e uma blusinha de ursinho linda. Os cabelinhos presos em duas xuxinhas.  Patrícia saiu logo em seguida, já trocada de roupa e com seu perfume favorito exalando pelo quarto. Ela estava linda num shortinho social branco e com uma blusa floral com uma rasteirinha e fez meu coração disparar ao vê-la.

            - É todo seu – disse apontando o banheiro. Eu peguei a roupa que havia separado e segui até lá, mas não sem antes voltar meus olhos para ela outra vez, admirando sua beleza. Tomei um banho revigorante. Passei um hidratante no corpo e me vesti. Como estava um clima gostoso coloquei um vestidinho solto e uma sandália. Prendi o cabelo num coque alto deixando o pescoço a mostra. Descemos conversando com Valentina caminhando entre nós duas. Assim que chegamos no restaurante Valentina se fez ouvir.

            - Mamãe! – Chamou Paty – Quelo batata flita! – disse.

            - Tá bom amor... eu vou pedir ta! – respondeu enquanto nos sentávamos numa mesa. Patrícia pediu uma porção de fritas e um arroz a grega com file de peixe para ela. Eu pedi uma pasta ao molho de manjericão. Para acompanhar pedi uma taça de vinho enquanto Patrícia pediu um jarra de suco de melancia para ela e Vavá. Jantamos em meio a sorrisos e conversas animadas. Valentina sempre conseguia arrancar alguma risada nossa. Ela era muito divertida. Depois de jantar resolvemos dar uma volta pelo resort. Caminhamos por um bom tempo e sentamos em um banquinho enquanto Valentina brincava em um playground.

            - Esta se divertindo? – perguntei.

            - Bastante – respondeu me olhando. – Fiquei muito contente por ter aceitado vir conosco!

            - Eu jamais diria não pra você! – disse a ela que sorriu ao me ouvir.

            - Você nunca se cansa de ser assim? – perguntou e eu gargalhei.

            - Faz parte do meu charme natural – disse a ela.

            - Tão charmosa você! – disse revirando os olhos.

            - Ela é sempre assim tão animada? – perguntei me referindo a Valentina.

            - Quase sempre. – respondeu-me. – Eu geralmente tento mantê-la dentro dos horários. Preciso ficar em cima senão já viu né...

            - Tia Ana! – Valentina gritou – Balança eu? – pediu.

            - Já volto – disse me levantando e indo até ela. Coloquei Valentina sentada no balanço e a empurrei levemente, fiquei próxima a ela por um tempo enquanto Patrícia e eu trocávamos apenas alguns olhares. Seus olhos buscavam os meus e sempre os encontravam observando ela. Valentina ainda quis brincar na gangorra e eu a acompanhei. Depois de um tempo voltamos para o quarto. Liguei a tv e deitei na minha cama e Valentina deitou-se ao meu lado. Ela arrastava um coelho azul junto com ela e ficava passando as orelhas do coelho sobre suas bochechinhas.  Coloquei um desenho e assistimos juntas por um tempo até que ela adormeceu. Sai da cama devagar e Paty me olhou.

            - Ela dormiu – disse baixo – Você pega ela? – perguntei.

            - Deixa ela ai por enquanto. – respondeu. Paty foi até a Varanda e eu segui até o frigobar. Peguei uma garrafa de cerveja e segui ate onde ela estava. – Bebe alguma coisa comigo? – perguntei.

            - Pode ser uma cerveja! – respondeu. Voltei até o frigobar e peguei uma cerveja. Abri e levei até ela.

            - Aqui está – entreguei e seus dedos tocaram os meus quando ela segurou a garrafinha. Nossos olhos se encontraram e ela sorriu.

            - Obrigada! – disse bebendo um gole e me olhando. Encostou seu corpo na varanda e eu apoiei o meu corpo próximo ao dela.

            - Gostou do dia de hoje? – perguntou-me.

            - Acho que melhor seria impossível – respondi sorrindo.

            - Que bom. - Disse voltando seus olhos para o céu.- Já reparou como a lua está linda hoje? – A noite estava bem escura e tinha muitas estrelas. A lua brilhava resplandecente no céu. Era noite de lua cheia e ela estava perfeita.

            - Sim... está linda mesmo! – respondi olhando para o céu.

            - Sempre gostei de olhar a lua. – ela disse com os olhos fixos no astro.

            - Está quase tudo perfeito... um ótimo hotel... ótimas companhias... uma cerveja gelada... pra ficar perfeito só faltou uma boa musica – eu disse.

            - Hum... vamos ver o que conseguimos para a senhorita por aqui – disse saindo da varanda e voltando com seu celular. Ela selecionou algumas musicas e colocou para tocar.

            - Melhor agora? – Me olhou parando ao meu lado outra vez enquanto All over me tocava no aparelho.

            - Quase... – respondi sorrindo. O ritmo lento e gostoso da música me encorajou e empurrei a pequena mesa que tinha na varanda colocando minha cerveja sobre ela, depois voltei até onde ela estava e estendi minha mão em sua direção.

            - Dança comigo? – ela sorriu envergonhada e aceitou minha mão. Peguei a cerveja que ela segurava e a coloquei junto da minha. Aproximei meu corpo do dela e minha mão direita envolveu sua cintura, a esquerda segurou a mão dela na altura do ombro. Ela apoiou sua mão esquerda sobre meu ombro e no ritmo da musica eu comecei a conduzir seu corpo num balanço suave.

            - Agora sim está perfeito! – Eu disse e ela me devolveu um sorriso escandalosamente lindo. Nossos rostos permaneciam fixos um no outro. Os olhos atentos a cada movimento, cada expressão, cada suspiro mais forte. Nossos corpos eram embalados pela musica romântica e suave e iluminados pelo brilho de uma lua fascinante.

            - Você ainda se lembra da ultima vez que dançamos assim? – Perguntou me olhando.

            - Eu nunca esqueci! – respondi e num movimento ágil girei o corpo dela num rodopio suave deixando-a de costas para mim e envolvendo meus braços ao redor do seu corpo. Continuamos a nos mover no ritmo da musica. Voltei a gira-la trazendo-a para junto de mim. – Existem muitas coisas que eu nunca consegui esquecer! – Completei com a voz suave, sensual, e os olhos fixos nos dela.

            - Tipo o que, por exemplo? – perguntou fitando meu rosto.

            - Tipo a sua sobremesa predileta. Brigadeiro de colher! – Eu disse e os olhos dela brilharam.

            - Amo brigadeiro de colher! – Disse. A música mudou e passamos a ser guiados pelo som de Killing me  – Não tem nada mais gostoso que isso!

            - Tem sim! – Respondi e ela cerrou os olhos contrariada.

            - Churros com sorvete não é mais gostoso que brigadeiro! – disse a mim.

            - Claro que é! – respondi provocando-a.

            - Não é não! – Disse rindo. – Você sabe que não é.. Você vinha roubar meu brigadeiro ao invés de comer o seu churros esqueceu?

            - Não... – ri também – Eu me lembro bem da sua carinha de brava. – disse sorrindo mais para ela.

            - O que mais você lembra? – Perguntou deitando sua cabeça em meu ombro e pude sentir o cheiro gostoso dos seus cabelos ao inspirar.

            - Lembro que seus olhos sempre brilham mais quando você acorda – respondi – Eles ficam lindos de manhã! – Subi a mão que estava em suas costas até o meio dela e apoiei meu queixo em seu ombro. Senti seu corpo se arrepiar levemente. O meu corpo parecia brasas queimando, tão quente que estava. 

            - Os seus olhos sempre pareciam mais claros quando você acordava – ela disse. Eu sentia sua respiração quente bater em meu pescoço enquanto ela falava e isso me causava arrepios incontroláveis.

            - Você ainda canta no banho? – Perguntei divertida e ela gargalhou.

            - Bem mal! – levantou a cabeça para me olhar – Você bem que podia me ensinar a cantar... você cantou muito bem aquele dia! – Terminou. A música mudou novamente, dessa vez para Everytime we touch.

            - Não sei cantar tão bem assim... – mantive meus olhos nos dela – mas posso te dar umas dicas de como eu fiz aquele dia – disse sorrindo. Olhei para minha mão esquerda que segurava a mão dela, meus dedos brincavam delicadamente com os dela, num toque suave e carinhoso, e entrelacei-os. Encostei meu rosto no dela e com a boca em seu ouvido sussurrei baixo. Ela apertou sua outra mão que estava em meu ombro e deu um suspiro forte com meu contato.

            - Primeiro você precisa escolher uma boa música pra cantar... como essa – referi-me ao que tocava. Puxei o corpo dela para mais perto do meu. – Você precisa cantar algo que toque não só o coração de quem vai ouvir... mas o seu também – conduzi a mão dela pousando-a no meu peito, onde era possível sentir as batidas rápidas do meu coração. – Consegue sentir ele batendo? – Perguntei mantendo minha mão sobre a sua.

            - Uhum – respondeu baixo como se tivesse dificuldade para falar.

            - É muito... mais muito importante que a música diga o que você sente! – Afastei o rosto e foquei meus olhos nos seus. Quando o refrão da música começou eu acompanhei cantando junto. Meus olhos estavam presos aos seus, minha voz saiu baixa, como um sussurro, uma confissão.

 

Cause everytime we touch, I get this feeling

Porque cada vez que nos tocamos, eu tenho essa sensação

And everytime we kiss I swear I can fly

E cada vez que nos beijamos, eu juro que posso voar

Can't you feel my heart beat fast

Você não pode sentir meu coração bater mais rápido?

I want this to last

Eu quero que isso dure

Need you by my side

Preciso de você ao meu lado

Cause everytime we touch, I feel this static

Porque cada vez que nos tocamos, eu sinto essa estática

And everytime we kiss, I reach for the sky

E cada vez que nos beijamos, eu alcanço o céu

Can't you feel my heart beat slow

Você não pode ouvir meu coração bater fraco?

I can't let you go

Eu não posso deixar você partir

Want you in my life

Quero você na minha vida

 

            Eu cantava suavemente para ela, apenas acompanhando a música enquanto dançávamos. Nossos rostos estavam tão próximos que era possível ver a íris de seus olhos dilatadas. Sua mão esquerda que estava em meu ombro subiu até meu rosto e eu fechei os olhos sentindo seu toque suave, envolvente, delicado. Seus dedos deslizaram por minha nuca e a sua respiração quente bateu sobre meus lábios. Entreabri minha boca levemente quando senti seus lábios roçarem suavemente sobre os meus. Eu já sentia minha respiração acelerando. Senti a ponta de sua língua tocar meus lábios e deslizar docemente por eles para em seguida ganhar vida em minha boca. Nossos lábios se buscaram num beijo calmo, lento, magnifico.

 

Minha mão subiu de suas costas até alcançar sua nuca segurando-a com carinho. Minha língua desbravava cada pedacinho de sua boca outra vez, e eu sentia como se aquele fosse nosso primeiro beijo. Mas era melhor. Era mil vezes melhor. Nossas línguas se encontravam numa disputa por espaço, ora a dela explorava minha boca, ora a minha explorava a sua. Sem interromper nosso beijo, levei a mão que segurava a sua em meu peito em direção ao meu pescoço e desci minhas mãos envolvendo-a num abraço apertado contra mim. Senti ela ofegar em minha boca quando pressionei seu corpo ao meu e intensifiquei nosso beijo. Quando nossos corpos buscaram o folego que já faltava para ambas, afastei-me dela com um beijo leve em seus lábios e a respiração entrecortada. Abri meus olhos e logo em seguida ela abriu os seus. Um sorriso leve brotou em nossos lábios no mesmo instante, como se lêssemos os pensamentos uma da outra. E naquele momento eu finalmente reencontrei a definição da palavra felicidade na minha vida. 

Fim do capítulo