Capítulo 3 – Fernanda
- Não sei se quero te matar te jogando da janela da minha sala em São Paulo ou se quero te dar um aumento – falou Fernanda encarando Ana Júlia quando a mesma entrou em seu quarto fechando a porta.
- Se eu puder opinar, devo dizer que prefiro a segunda opção chefinha – falou a assistente sorrindo de forma envergonhada e encolhendo os ombros – Mas será que posso saber o motivo por trás dessa sua dualidade de sentimentos?
- Sem gracinhas Ana Júlia – falou Fernanda num tom muito irritado se levantando da poltrona que havia num canto do quarto e andando na direção a janela.
- Isso tudo é porque a Jas tomou uma decisão e liberou os modelos sem te consultar antes, não é? – perguntou Ana Júlia suspirando por saber que suas suspeitas não estavam erradas.
- Quem ela acha que é pra definir os horários de pessoas que estão sendo pagas por mim?!?! – questionou Fernanda encarando a assistente com uma expressão indignada.
- Chefe, a Jas só é proativa, quando ela sabe que um modo é o melhor ou o mais fácil ela age, é como ela é – explicou Ana Júlia com toda a paciência do mundo – Mas se a senhora não gostou disso poderia ter simplesmente dito pra ela. Jasmine nunca iria contrariá-la.
- E como eu vou contestá-la Ana Júlia??? – quis saber Fernanda se irritando mais – Como vou contestar se até agora tudo o que ela fez tem estado perfeito??? Com que argumentos posso chegar pra ela reclamando de uma tomada de decisões só porque ela decidiu isso sozinha sem me consultar??
- Fernanda, você é a chefe, pode o que quiser – falou Ana Júlia se controlando para não rir, era a primeira vez que via alguém “passando por cima” da sua chefe sem que a mesma pudesse dar o troco.
- Quero que me fale o que combinou com essa sua amiga – exigiu Fernanda voltando a se sentar na poltrona e encarando Ana Júlia que sentou-se numa segunda poltrona que estava um pouco mais afastada da cama.
- A respeito de que? – perguntou a assistente de forma calma notando que a chefe ainda estava bem irritada, mas tentava se controlar.
- De tudo, o contrato, pagamento, essas coisas Ana Júlia!
- Na verdade eu não combinei nada com ela – respondeu a garota encolhendo os ombros e vendo a expressão da chefe se contrair com raiva – Eu pedi pra ela vir, disse que haveria um contrato e que ela receberia por isso, mas a Jas não perguntou valores nem nada e eu não toquei no assunto. A verdade é que ela veio porque pedi. Ela não está se importando com o que vai receber.
Fernanda suspirou e se levantou andando pelo quarto, mas parecendo um tanto mais calma.
- Onde foi que arrumou essa sua amiga fotógrafa? – quis saber ela, mas já num tom mais baixo e calmo – Parecem ser amigas de longa data, mas não consigo pensar em como acabaram se conhecendo.
- Jas começou o mesmo curso de designe que eu – contou Ana Júlia – Mas nos conhecemos na escola, no ultimo ano do ensino médio. Ficamos amigas depois de ela me irritar muito, no fim do ano ela me contou que também queria fazer designe, apesar de também estar com vontade de estudar fotografia. O pai dela era fotógrafo e ela já tinha aprendido muito com ele, então quando eu decidi onde tentaria fazer meu curso ela decidiu que iria comigo.
- Ela fez o curso, mas acabou seguindo como fotógrafa, é isso? – perguntou Fernanda um tanto curiosa.
- Na verdade não – disse Ana Júlia suspirando – O pai dela morreu um ano antes da gente se formar e ela desistiu do curso. Fotografar foi apenas algo que ela nunca deixou de fazer.
- Só porque o pai morreu ela largou tudo? – disse Fernanda inconformada com a atitude de desistir.
- Não, ela só não conseguiu continuar aqui, morando no mesmo lugar. Ela e o pai eram muito ligados – contou Ana Júlia – Ela começou viajando pelo Brasil com as próprias economias e nesse tempo tirava fotos, depois não conseguiu voltar e acabou descobrindo que além de paixão e talento, fotografar era a profissão certa pra ela.
- A quanto tempo ela saiu do país? – perguntou Fernanda voltando a se sentar na poltrona – Como é a carreira dela no exterior? Quero saber qual o nível dos lugares que publicam as fotos dela.
- Ela não tem uma carreira, chefe – respondeu Ana Júlia – Jas sai por ai tirando fotos, quando precisa de dinheiro ela pega as fotos que tem e entra em contato com alguma revista local ou algum conhecido que poderiam se interessar, assim ela vende as fotos e se mantém. Mas Jas já teve revistas muito grandes publicando fotos dela.
- Entendi – disse Fernanda se levantando e indo até sua cama onde estava sua pasta – Peça pra ela me encontrar na varanda em 30 minutos, onde estava tirando fotos, quero falar com ela sobre o resto dos ensaios. Também adicione as informações que enviei a você no meu roteiro para a entrevista e imprima-o para antes do ensaio fotográfico começar.
- Sim senhora – falou Ana Júlia se levantando e indo para fora do quarto.
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Meia hora depois Fernanda e Jasmine conversavam sobre o que a fotógrafa planejava para a noite enquanto Ana Júlia fazia anotações das observações que Fernanda pedia para ela adicionar. Jas explicou o que queria com a luz do entardecer e Fernanda ficou realmente surpresa ao notar que ela tinha realmente prestado atenção a tudo o que ela havia dito antes. Uma das coisas que Fernanda queria abordar na entrevista era o fato de um ambiente um tanto mais rústico, lembrado campo e com coisas mais ligadas à natureza, por vezes parecia mais romântico do que algo moderno.
O que Jasmine queria fazer era exatamente ilustrar um ambiente romântico envolvendo o cenário mais antigo, com coisas de madeira e mais rústico que existia no casarão. Fernanda achou a ideia de usar a iluminação natural para dar esse clima romântico algo incrível e ficou muito contente que a fotógrafa houvesse realmente trabalhado ao redor do que ela realmente estava imaginando. No fim do dia Jasmine tinha feito todas as fotos que o fotógrafo anterior teria demorado dois dias para fazer.
Elas conversaram por um longo tempo, mas Fernanda continuava com aquela ambiguidade de sentimentos em relação à fotógrafa. Como profissional era impossível que a editora conseguisse não admirá-la e respeitá-la; o trabalho de Jasmine era bom demais para que Fernanda pudesse recriminar algo. Entretanto, a pessoa da fotógrafa a incomodava; na visão de Fernanda aquela mulher parecia sempre estar tramando algo, seus sorrisos sempre pareciam esconder coisas e seus olhares eram sempre diretos demais como se tentassem ler as pessoas. Fernanda odiava que tentassem lê-la; se pessoas fossem livros, Fernanda seria um trancado com a fechadura mais moderna existente.
Fim do capítulo
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Val Maria
Em: 04/01/2017
Desde que comecei a ler não consigo parar, é muito boa essa estória. Adoro mulheres poderosas e com um pouco de arrogância. Você é maravilhosa no que faz autora.
Resposta do autor:
Eu adoro personagens femininas fortes, sempre tem uma delas nas minhas histórias hehe
Muito obrigada, espero que goste de tudo até o final
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