“Meu nome é Carolina Tizón, mas muitos me chamam de Carol. Eu poderia contar, logo de cara, de onde eu sou, o que eu faço, mas o meu interesse neste exato momento não é esse, e, por favor, não me leve a mal se eu for direta. Hoje vim aqui, porque desejo  contar-lhe a respeito de alguns momentos loucos e inesquecíveis que eu vivi ao lado de algumas mulheres. Eu tenho algumas razões para querer contar, além de me divertir falando desses momentos, a minha ideia  principal é que você me ajude a eternizar essas histórias através de um livro. Eu conto e você escreve, ok?!”

Meu nome é Beatriz Magalhães, sou escritora e trabalho para uma publicadora de renome aqui no Centro do Rio de Janeiro. Tudo começou quando Carol me deixou um e-mail com o seu numero e o seguinte texto:

“Certamente meu interesse poderá ir de acordo com o seu! Trata-se de uma publicação, gostaria de me encontrar com você para conversarmos melhor a respeito disso, retorne assim que puder!  Atenciosamente, Carolina.”

Confesso que quando li achei um tanto quanto prepotente da parte dela e demorei alguns dias até responder, mas a forma como ela agiu me surpreendeu e eu realmente fiquei curiosa para saber primeiramente como essa publicação poderia vir de acordo com os meus interesses e também conhecer aquela mulher, que me pareceu um tanto quanto enigmática, audaciosa. E para a minha surpresa, o nosso primeiro encontro não foi diferente, marcamos um jantar no L´Etoile, um restaurante francês localizado no Leblon. O silêncio inundava o local, ela apenas pronunciou um  “Boa noite!” firme, ao sentar e pediu a carta de vinhos. Era uma mulher elegante, estava com um vestido preto com os ombros sensualmente descobertos, tinha aproximadamente 1,70 m; Cabelo castanho escuro abaixo dos ombros, olhos negros e usava um batom vermelho que caia perfeitamente bem em seus tão bem desenhados lábios.  Eu não estava desarrumada, afinal, não sabia o que poderia encontrar naquele restaurante, mas confesso que usar e abusar de roupas elegantes não é o meu forte, sou mais simples.  Eu coloquei um vestido vermelho comportado e um scarpan, meu cabelo  é loiro e estava com um coque, fiz  uma maquiagem simples e passei um batom vermelho para realçar um pouco a minha pele branca.

Então, após beber uma taça de vinho vagarosamente, Carol falou:  

“Meu nome é Carolina Tizón, mas muitos me chamam de Carol. Eu poderia contar, logo de cara, de onde eu sou, o que eu faço, mas o meu interesse neste exato momento não é esse, e, por favor, não me leve a mal se eu for direta. Hoje vim aqui, porque desejo  contar-lhe a respeito de alguns momentos loucos e inesquecíveis que eu vivi ao lado de algumas mulheres. Eu tenho algumas razões para querer contar, além de me divertir falando desses momentos, a minha ideia  principal é que você me ajude a eternizar essas histórias através de um livro. Eu conto e você escreve, ok?!”

Por alguns segundos eu fiquei apenas observando como ela parecia me fazer sua subordinada, sem ao menos eu aceitar. Até que falei:

—Carolina,  acredito que você esteja um pouco precipitada... Eu preciso entender tudo o que está acontecendo. Principalmente como você conseguiu falar comigo, pois tudo soa como um grande mistério! (Ela ouvia atentamente, olhando em meus olhos e dando um sorriso de canto).

—Não entendo pra quê tantos questionamentos, mas se a explicação te deixará mais aliviada... Eu digo, ok?! Eu consegui seu e-mail através de uma amiga, ela me disse que você é uma boa escritora e poderia se interessar pela minha proposta. Vamos lá, não questione tanto... não sou um serial killer, sua vida não está em risco...bem, eu acho! -  Ela bebeu um gole e riu, disfarçadamente.

Olhei para ela, e não entendo e talvez não consiga explicar que em meio a essa loucura eu me sentia segura, sentia que o mais correto a fazer era aceitar essa proposta meio insana de Carolina, mas hesitei, não poderia aceitar tudo de maneira tão simples assim.

—Eu realmente preciso entender do que se trata essa publicação que você deseja fazer, você não está errada ao dizer que sou uma boa escritora e que poderia me interessar, mas se formos fazer essa publicação, eu preciso de detalhes, precisamos chegar a um consenso sobre como faremos isso – ela olhava para o decote do meu vestido e falou em baixo tom: “concordo!”.

Nosso encontro não se estendeu muito, durou apenas o tempo dela dizer a sua ideia, ou seja, ela queria publicar um livro que falasse dos melhores momentos que ela viveu ao lado de algumas mulheres.

Os olhares de Carolina eram capazes de me deixar desconcertada e quando ela me falou de seu interesse em publicar o livro “As mulheres da minha vida”  logo eu percebi que sim, ela era lésbica, e mais, além de lésbica era um perigo para mim e para todas as outras mulheres por seu poder de conquistar sem ao menos querer. Não a conhecia tempo o suficiente para dizer tudo a seu respeito, mas eu queria desvendar aquele “furacão” feminino, sabia que assim como ela conseguiu me fascinar com seu jeito marcante de ser, também poderia fascinar a todos com suas histórias e não mais excitei, fechamos um acordo naquele mesmo dia. E combinamos de nos encontrar, todas as vezes em lugares diferentes, os lugares escolhidos por Carolina, para ela deixar fluir a imaginação e recordar os momentos que ela teve.

Mal podia esperar até o nosso próximo encontro, meu maior interesse agora não era em saber sobre ela e sim sobre as suas histórias. Eu acordava e pensando no nosso encontro marcado para um sábado a noite, dia 25 de abril, as 19h00min em um local que eu não fazia a mínima ideia. Na minha cabeça passavam diversas situações que Carol poderia me contar, Talvez ela fosse uma prostituta, talvez ela fosse uma psicopata, talvez ela fosse uma ninfomaníaca, não sei, na minha mente só passava histórias macabras.

Para minha surpresa, Carolina me ligou antes, perguntou se eu poderia passar no apartamento dela na quarta feira, dia 22, poucos dias antes do nosso encontro. Eu aceitei, ela me passou o endereço e eu fui ao encontro dela. Chegando lá ela me ofereceu uma taça de vinho seco, brindamos e bebemos em seu aconchegante apartamento, localizado em Botafogo.

Carol colocou Naked, uma música de uma cantora que eu adoro, a Tracy Bonham, enquanto estávamos sentadas em seu sofá  conversando a respeito de música, de seu  reconhecido trabalho como publicitária e hobbies que temos em comum, como fotografar e viajar. Neste momento ela parecia menos dominadora e eu me sentia muito confortável  em seu apartamento e em sua presença.  

— O local ideal para começar a contar a primeira história é exatamente aqui! (Disse ela, enquanto vinha em minha direção com uma taça mais uma taça de vinho)

Fim do capítulo