Larissa

 

                 Deixei meu corpo cair sobre a cadeira, na minha cabeça a frase que Andressa havia dito ecoava de um lado a outro. Levei a mão a boca, respirei fundo tentando acalmar meus ânimos. Como minha mãe teve outra filha, tudo bem que são onze anos de diferença, não havia sido traição. Mas como eu tinha uma irmã? Andressa era minha irmã?

-Se for brincadeira não tem graça nenhuma. – falei encarando seus olhos verdes que naquele momento reparei parecerem com os meus.

-Eu jamais brincaria com isso. – falou calma.

-Como? – perguntei balançando a cabeça, na tentativa estupida de que aquilo fosse um sonho e assim eu acordaria. – Quanto de certeza você tem?

-Minha mãe, minha mãe adotiva me contou quando estava morrendo. – vi que ela se emocionou por falar disso. – Ela apontou para o colar que pensei ser presente deles. – tirou um colar, que era exatamente o mesmo que eu tinha desde que nasci. – Disse também que tudo o que tínhamos, foi dado pela família da sua mãe, para que cuidassem de mim.

             Nunca conheci meus avôs maternos, mas pelo pouco de histórias que ouvi eles eram realmente capazes de fazer isso.

-Porque eles não deixaram minha mãe ficar com você? – perguntei na esperança de que ela soubesse a resposta.

-Meus pais adotivos trabalharam por muito tempo para seus avôs. Sua mãe se aventurou e acabou engravidando, eles não aceitaram e acabaram mandando ela embora do pais até que eu nascesse. Depois de nove meses eu voltei e eles cuidaram para que a gravidez permanecesse em segredo. – disse com a voz embargada.

-Eu não sei o que dizer, sinto muito Andressa. – falei compassiva.

-Não tem o que sentir, fui amada como se fosse filha deles, depois apenas por minha mãe quando assumi minha homossexualidade. - falou calma, e ressentida.

             Não conseguia imaginar como deveria ter sido difícil para ela passar por isso, então me lembrei que perdi minha mãe, que no fim era mãe dela também, meu pai e nosso irmão. Não pude deixar de sentir revolta ao pensar que ela possivelmente sabia disso desde aquela época e não se fez presente para mim.

-Andressa a quanto tempo você sabe disso? – lhe encarei.

-Dois anos. – disse baixando a cabeça.

-Puta que pariu, como você não me procurou antes? Não tentou se aproximar de mim quando eu não tinha mais ninguém, eu perdi todos eles. Nossa mãe...- senti a voz falhar e as lágrimas queimarem meu rosto. – Nosso irmão, eles simplesmente foram embora e eu fiquei sozinha. Você ao menos pensou que essa seria a hora de você estar comigo? – perguntei gritando.

-Eu sinto muito, mas não queria ninguém pensando que queria o dinheiro de vocês. – tentou argumentar.

-Seria melhor não ter dito nada, assim eu não teria que ter escutado tal absurdo. Como assim você se importou mais com o que as outras pessoas falariam de você do que estar na minha vida, quando nada mais fazia sentido? Isso é o que as pessoas chamam de egoísmo. - levantei-me ficando de costas para ela.

-Eu estava no dia do enterro, eu vi a Milena ao seu lado, eu sabia que você não estaria sozinha. Ruan, Marta, todos estavam com você. – falou baixinho.

-Você conhece o Ruan e a Marta? – ela balançou a cabeça confirmando. – Eles sabiam esse tempo todo? – não conseguia acreditar que haviam escondido isso de mim.

-Sim, mas eles não têm culpa por terem escondido de você. Sua mãe confessou aos dois que mantiveram a promessa que iriam guardar segredo até que ela não estivesse mais aqui. Depois do acidente Ruan me procurou e eu o fiz jurar que não lhe contaria. – tentou defender os dois.

-Como minha mãe descobriu quem era você?

-Eu trabalhava no Santé, nem sempre fui a dona. Como disse a Isabella era o restaurante preferido de Linda. Uma vez vocês vieram para almoçar...-a interrompi.

-Como assim vocês?

-Você devia ter uns onze anos. – confessou. - Você parecia comigo, quando tinha sua idade. – esboçou um sorriso. – Eu os acompanhei até a mesa e sua mãe viu o cordão em meu pescoço. Confesso que foi estranho a forma como ela ficou me olhando.

            Eu passei a reparar as expressões de Andressa, ela tinha muito em comum comigo, menos a altura.

-Desde aquele dia sempre que vocês estavam na cidade ela passou a frequentar o restaurante. Me tratou bem, algumas vezes puxou assunto. Quando minha mãe adotiva me contou que eu era adotada eu vi uma foto sua em algum lugar, e você carregava o mesmo colar que eu. Então tive a ideia maluca de que Linda Rodrigues era na verdade minha mãe biológica. Procurei os papeis da minha adoção que não foram fácil de encontrar e como sua avó queria segredo estavam no nome dela e não no da sua, digo nossa mãe. – disse e vi seus olhos marejarem.

          Permaneci em silêncio, minha cabeça estava uma bagunça, além do fato de eu ter uma irmã no momento o que me incomodava era o fato de Ruan e Marta saberem disso e terem escondido por tanto tempo.

-Você poderia ter me dito, me procurado em qualquer outra circunstância. – reclamei. – Não queria que esse dia chegasse?

-Claro que não, durante esse tempo todo tenho acompanhado sua vida. E quando soube que você viria passar algum tempo aqui pensei que essa seria a minha chance de te conhecer. – disse sentando próxima a mim. –Larissa você é uma pessoa admirável, conseguiu dar a volta por cima, mesmo sem minha ajuda.

-Verdade, eu não precisei de você. Milena estava lá por mim e agora tenho todos os outros. Talvez eu não precise mesmo de você Andressa. – falei isso e me levantei.

         Abri a porta e sai, dei de cara com Adisa, nem lhe dei atenção. Como era possível? Durante todo esse tempo eu acreditei estar sozinha quando na verdade sempre tive uma irmã que sabia da minha existência mais preferiu não me ter em sua vida. De longe vi Bella na mesa e logo uma mulher sentou-se ao seu lado. Caminhei a passos largos, logo estava ao lado das duas. Tratei logo de mandar a assanhada embora.

         Me sentei ao lado de Bella. Ela logo percebeu que algo estava errado, resolvi então que seria melhor falar o que havia acontecido:

-O que aconteceu? Onde está Andressa? –segurou minha mão.

-Está com Adisa, você não vai acreditar no que ela me falou. –respondi.

-Então me faça acreditar. – disse rindo e fazendo carinho em minha mão.

-A Andressa é minha irmã. – foi a primeira vez que falei em voz alta, confesso que no fundo me deixou feliz.

          Ela não soube o que dizer, permaneceu segurando minha mão. O que eu queria mesmo era saber o motivo pelo qual Marta e Ruan fizeram exatamente o que minha mãe pediu, escondendo isso de mim. No fundo eu me sentia traída, pedi a Bella que fossemos no dia seguinte para Ouro Preto, queria ouvir logo o que os dois tinham a me dizer. O sentimento de ter sido enganada me dominava, sabia que estava a um passo de começar a chorar ali mesmo.

         Bella se levantou, seguimos para o estacionamento. Quando me encostei ao carro deixei que as lágrimas fluíssem. Ela ficou ao meu lado em silêncio, não sei por quanto tempo permaneci de olhos fechados. Mas podia sentir a presença dela ali, ao meu lado. Eu realmente tirei a sorte grande, sem dúvidas ela é a mulher mais perfeita do mundo. Agradeci por tudo o que ela fez por mim.

         Trocamos alguns beijos, e logo tivemos que entrar. Milena reclamou dizendo que estavam nos procurando. Fiz graça e ela riu, não sei se por estar meio bêbada ou se ela realmente havia mudado de ideia em relação a Andressa. Acabei contando sobre nosso parentesco.

          Me arrependi por ter contado, Milena não aceitou muito bem saber que Andressa me deixou sofrer sozinha, já que ela sabia que eu era sua irmã. A situação só piorou quando ela perguntou ao garçom onde era o escritório de Adisa e caminhou para lá rapidamente.

            Milena empurrou a porta e Andressa se assustou com o barulho. Mal teve tempo de se situar e Milena já foi cuspindo tudo o que quis em cima dela. Que permaneceu calada, até que Mile a chamou de covarde. Quando contou sobre a mãe e de como descobriu que era adotada, começou a chorar. Conhecendo minha amiga como conheço, ela se arrependeu do que falou, permaneceu em silêncio até que eu e Maísa a chamamos para ir embora.

            Pedi desculpas a Andressa que ainda chorava, me senti triste. Claro que eu tinha motivo para ficar chateada com ela, mas não podia negar que saber que tenho uma irmã é algo que me deixa feliz, no fundo eu estava sendo egoísta, não percebi que ela também sofreu com isso tudo. A reviravolta que deve ter sido a vida dela, descobrir que a mãe que sempre cuidou dela na verdade nunca foi sua mãe e que estava morrendo, logo depois descobrir que a mãe biológica também havia morrido.

            Mantive meus olhos presos aos dela, que ainda permaneciam com lágrimas, tão indefesa quanto eu, tão sozinha quanto eu. E tão parecida comigo em tantas coisas, tanto na vida em si, como no físico. Já haviam sido 11 anos de perca de tempo, não poderia deixar que continuasse assim, não poderia apenas fingir que não somos irmãs.

           Caminhei até ela, Adisa saiu do seu lado. Andressa manteve os olhos nos meus e pela primeira vez nos abraçamos. Senti os braços de minha irmã me envolver em um abraço protetor, ela chorava, assim como eu. Não sei quanto tempo ficamos naquele abraço, mas sentia uma felicidade estranha, como se de alguma forma minha mãe estivesse ali, presente.

            Andressa e eu nós olhamos sem graça, ela sorriu e passou a mão na nuca. Eu encarei meus pés, ficamos em silêncio. Adisa foi a primeira a falar:

-Oi cunhada. –disse rindo e já estava ao lado da esposa.

-Oi cunhada. – ri de volta.

-Cunhada. – Bella disse se colocando ao meu lado também e olhando para minha irmã.

-Não vou mais falar cunhada. – reclamou ela, e nos todas rimos.

-Bom, acho que vamos indo. – falei segurando a mão de Bella.

-Tudo bem, nos vemos depois. – Andressa disse.

-Sim, nós vemos depois, sister. – falei e ela riu.

           Caminhamos em direção a saída, me sentia um pouco mais leve. Bella segurava minha mão, me fazendo carinho. Na minha cabeça o que eu acabei de descobrir ainda era muito surreal. Todo o tempo que perdi com Andressa, como deve ter sido difícil para minha mãe, esconder isso durante tanto tempo. De repente me perguntei se meu pai sabia da existência de Andressa.

-Meu amor? - Bella me chamou atenção.

-Ah..Oi. – olhei para ela.

-Vamos? – perguntou já parada na frente do carro.

-Claro. – concordei.

           Entramos e ela dirigiu calmamente, eu me deitei no banco encostando minha cabeça na janela do carro. Fechei meus olhos na esperança de interromper todos os meus questionamentos. Volta e meia sentia a mão de Bella me fazendo carinho na perna. Quando estacionamos na garagem de casa, ela me chamou:

-Lari, vamos entrar, você precisa descansar. – disse inclinando-se em minha direção.

-Tudo bem. – concordei. – Onde está Mile? – questionei lembrando dela.

-Isac foi busca-la, não se preocupe.

-Certo. – falei tirando o sinto.

             Descemos do carro, Bella abraçou minha cintura, levei minha mão até seu pescoço e caminhamos abraçadas. Ambas em silêncio. Subimos direto para o quarto, me atirei na cama. Sentia minha cabeça doer, Bella deitou-se ao meu lado, fazendo carinho em meus cabelos.

-Vou preparar a banheira para você tomar um banho e relaxar.

-Não precisa. – disse de olhos fechados sentindo o carinho dela.

-Não perguntei se você queria meu amor, isso foi uma afirmação. – beijou meu ombro e eu sorri, percebendo que ela era tão mandona quanto a mãe.

             Ela levantou-se e saiu para o banheiro, alguns minutos depois voltou.

-Vamos, me deixa te ajudar com a roupa. – falou parada em minha frente.

              Me levantei sem pressa, ela tirou minha blusa e logo que senti seus dedos contra minha pele, um arrepio percorreu meu corpo. Ela sorriu de canto ao reparar meus pelos arrepiarem. Depois foi tirar minha calça, dessa vez foi ela quem ficou excitada, assim que viu minha calcinha vermelha.

-Tá vendo só, não sou a única. –ri da cara que ela fez.

-Vai tomar banho. – riu ficando vermelha.

-Tem certeza que não quer vir comigo? – perguntei colando meu corpo ao dela.

              Soltou um suspirou ao sentir minha pele quente, beijou meu pescoço. Se afastou em seguida.

-Vou te esperar aqui. Você precisa descansar e de um tempo sozinha. – disse acariciando meu rosto.

-Você é perfeita sabia? – vi suas bochechas corarem, ela beijou minha testa.

-Não sou perfeita, só te amo e quero cuidar de você. – sorriu. – Agora já para o banho.

           Sorri com o jeito que ela levou as mãos até a cintura, na tentativa de me amedrontar, o que na verdade funcionou. Resolvi então fazer o que ela me mandou. Entrei no banheiro e senti o cheiro dos sais de banho. Sorri com o cuidado que Bella tem comigo. Eu realmente tirei a sorte grande. Tirei o restante de roupa e entrei na água. Fechei meus olhos e me permiti não mais pensar em nada, apenas fazer o que Bella me mandou, relaxar.

            Abri os olhos e Bella estava parada me observando. Sorriu para mim e chegou mais perto.

-A quanto tempo estou aqui? – perguntei.

-Tempo suficiente para que eu pensasse que havia se afogado. – disse sorrindo.

-Já vou sair. – sorri de volta e ela me entregou o roupão.

             Logo depois fomos para a cama. Liguei o ar, a cama já estava pronta. As meninas deitadas na ponta, sorri vendo as duas. Bella deitou-se, logo que vesti minha camisola me juntei a ela.

-Adoro seu cheiro. – disse se agarrando em mim.

-É mesmo? – perguntei rindo.

-É mesmo. Como você está? – perguntou me olhando.

-Estou bem, só meio em choque ainda.

-Entendo. – falou bocejando.

- Vamos dormir. – sorri e ela retribuiu.

            Falamos um “te amo” simultaneamente e logo depois dormimos. Acordei com o barulho do meu celular tocando, peguei o aparelho sem nem ao menos ver quem era.

-Alô. – minha voz saiu rouca.

-Larissa? – a voz do outro lado perguntou receosa.

-Sim, quem deseja? – perguntei me sentando na cama.

-Sou Beatriz, a coordenadora da ONG, sinto muito por ligar a essa hora.

-Não tem problema nenhum. Aconteceu alguma coisa?

-Sim, Alice caiu e quebrou o braço, ela ficou chamando você. Marta me disse que eu deveria te ligar, porque você gosta da menina. Ela está no hospital ainda e ...

-Qual hospital ela está? – perguntei preocupada.

-São Geraldo.- suspirei era um hospital público. 

-Tudo bem, olhe quero que fique com ela, até que eu chegue ai. – vi Bella se mexer na cama. – Vou ligar para Marta e pedir para que ela arrume a transferência de Alice para uma clínica particular.

-Claro, tudo bem. – a mulher disse surpresa por minha atitude.

-Obrigada por me avisar. – agradeci.

-O que houve? – Bella perguntou passando a mão nos olhos.

-Alice, ela caiu e está no hospital. – disse já tentando ligar para Marta.

-Nossa, é grave? – perguntou mais acordada dessa vez.

-Não sei, será que podemos ir para lá? Beatriz disse que ela ficou me chamando. – perguntei tentando mais uma vez ligar para Marta.

-Claro meu amor, vamos sim.

-Ela é só uma criança e já passou por tanta coisa. Droga! Marta não me atende. –reclamei.

-Calma, me deixa tentar ligar enquanto isso você se arruma.

-Tudo bem. – falei e fui me vestir.

                Alguns minutos depois já estávamos voando para Ouro Preto, Bella havia cuidado de tudo, e estava ao meu lado. Mal percebi e já estávamos sobrevoando Ouro Preto. Pousamos na empresa, quando saímos do lugar o motorista de Ruan já nos esperava. Ainda precisava conversar com ele, mas deixaria isso de lado, por hora queria mesmo saber o que havia acontecido com Alice.

-Calma, você está uma pilha. – Bella disse segurando minhas mãos.

-Ela é tão pequena Bella, ela não tem ninguém, e eu...- senti meus olhos lagrimejarem.

-Vai ficar tudo bem. – passou a mão em meu ombro me trazendo para perto.

               Paramos em frente a Clínica CIMED, caminhamos para a entrada, de longe avistei Marta e Beatriz.

-Onde ela está? – perguntei logo que me aproximei das duas.

-Fazendo exames. – Beatriz respondeu.

-Ela quebrou o braço e machucou a cabeça. – Marta disse me olhando.

               Acenei e procurei um lugar para sentar, sentia o olhar de Marta em minha mão. Bella sentou-se ao meu lado.

-Você precisa comer algo. – falou me olhando.

-Não estou com fome.

-Vou pegar ao menos um suco. – fingiu não ouvir o que eu disse.

-Tudo bem. – respondi.

-Já volto. – saiu e eu segui seu andar, olhei para frente e vi que não era a única.

           Encarei a menina que aparentava ter uns 15 anos, cabelos curtos e roupas largas, tinha o braço engessado. Ela ficou sem graça ao perceber que eu tinha visto seu olhar para Bella. Encarou meus olhos e baixou a cabeça.

-Você está bem? O que houve com sua mão? – Marta perguntou sentando-se ao meu lado.

-Não foi nada, só machuquei. – falei meio no automático.

-Certo. – ela me olhou. – Larissa aconteceu alguma coisa?

-Sim, vocês me engando por algum tempo. – disse sem olha-la.

-Enganar? Do que você está falando? – perguntou fingindo-se de desentendida.

-Marta, por favor, sem cinismo. Andressa me contou tudo. – falei e encarei-a, ela se assustou.

-Seu suco. – Bella chegou.

-Obrigada. – agradeci.

            Ela sentou-se ao meu lado, Marta ficou em silêncio. Alguns minutos se passaram até que a médica que atendeu Alice apareceu.

-Bom dia, quem está acompanhando Alice? –a mulher perguntou.

           Me levantei seguida de Isabella e Marta.

-Ela está bem? – perguntei, Bella segurou minha mão tentando me manter calma.

-Sim, já foi feita a sutura do corte na testa. Teremos que engessar o braço, ela  está no quarto, só esperando a Ortopedista chegar, vocês já podem vê-la.

-Claro. – falei e senti Bella soltar minha mão. – Vamos? – perguntei.

-Você deveria ir sozinha, ela não me conhece...-falou receosa.

-Vem Bella. – disse e puxei sua mão.

         Marte e Beatriz ficaram na recepção, Bella caminhou ao meu lado receosa. A médica parou na frente do quarto e disse que poderíamos entrar. Vi a pequena deitada na cama, olhando a tv que passava algum desenho animado. Ela me olhou e sorriu:

-Oi. – disse ainda na porta, Bella continuava atrás de mim, não tinha visto Alice. - Podemos entrar?

-Oi tia Lari, pode sim. – sorriu. Quando olhou Bella sorriu mais ainda, vi seus olhos ficarem cintilantes, olhei minha noiva que estava tão encantada quando a pequena.

-Alice essa é Bella.

-Oi Bella, a tia não mentiu, você é mesmo linda.- sorriu, deixando Bella sem graça.

-Ela também não mentiu quando disse que você era encantadora. – Bella se aproximou da cama, ficando de um lado e eu do outro. –Como você conseguiu se machucar assim?

-Beatriz diz que é porque sou sapeca. – disse rindo.

-Você pode ser sapeca, mas tem que tomar cuidado. Você deu um baita susto na gente. – Bella falou passando a mão nos cabelos da pequena.

             Eu fique boba, babando nas duas e observando a conversa.

-Mas só foi um arranhão. – deu de ombros. – Só machucou um pouco aqui e eu nem chorei quando vi a agulha. – falou corajosa.

-Eu sempre choro quando vejo agulhas.- Bella disse fazendo careta.

-Você é chorona. – Alice fez graça.

-Não sou a única, a tia Lari também é um bebezão nessas horas. – falou e logo as duas me olharam rindo.

-Isso não é verdade. – retruquei,

-Você também caiu da arvore? – Alice apontando minha mão.

 -Não, foi um machucado diferente. E a Bella está cuidando de mim direitinho.

-Ah, entendi. Vocês são namoradas? – perguntou Alice.

             Bella me olhou assustada com a esperteza da menina.

-Sim, na verdade vamos casar. Mas, como você sabe disso? –perguntei.

-Foi fácil, vocês estavam de mãos dadas, o jeito que se olham e você ficou com cara de boba quando falou dela para mim da última vez. Sem falar da aliança, eu sou criança, mas não sou burra. – falou entre risos.

            Ela realmente era muito inteligente e esperta, Bella riu quando ela falou que fiquei com cara de boba.

-Certo sabichona. Você precisa descansar agora, que daqui a pouco vai ter que colocar gesso nesse braço. – disse apertando suas bochechas.

-Tudo bem, será que vocês podem me esperar dormir? – pediu com cara de gato de botas.

-Claro. – concordamos e ela fechou os olhos enquanto Bella fazia carinho nos seus cabelos e eu segurava sua mão.

             Ficamos velando o sono dela por um tempo, meus olhos encontraram o de Bella, que sorriu, ela estava emocionada, assim como eu, entendi então que ela havia se encanto por Alice. Nossos olhares presos um no outro, ela interrompeu o carinho nos cabelos da pequena e caminhou em minha direção. Se agarrou em mim e disse no meu ouvido:

 

-Ela precisa ser nossa. – e caiu no choro, eu não me contive e chorei junto. 

Fim do capítulo