Alessandra tinha 27 anos, um pouco baixinha (1,66), olhos verdes, cabelo loiro e longo. Carioca e ainda morava no Rio. Era médica e namorava há três anos com uma colega de faculdade chamada Daniela. Em Junho do ano passado, Daniela a abandonou, dizer que não sofreu seria mentira, mas descobriu o real motivo pelo qual foi abandonada e com razão. Ela não a amava, e não porque não queria. Mas adianta querer nessas horas?

Tinha carinho por ela, a respeitava. Eram amigas até hoje, sentia que ela ainda a amava, porém foi inegável, quando em uma das conversas, ela revelou que Alessandra não tinha esquecido a Vivian. Que apesar de estar casada com ela e pensar que a amava, nunca tinha esquecido seu primeiro amor. Alessandra negou, achou um absurdo na hora, afinal além de namoradas e moravam juntas há três anos, ainda que sentisse alguma coisa por Vivian seria só amizade. Mas depois teve que concordar.

A Vivian era uma amiga de Alê, se conheciam desde os 14 anos, no começo da adolescência. Foi ela a primeira pessoa e mulher por quem se apaixonou, mas nunca havia dito isso a ela, tinha medo de sua reação. Preferiria vê-la e conversar todos os dias com ela do que nunca mais ter contato. E pensar nessa possibilidade, a mataria. Vivian não sabia sobre o que Alessandra sentia e sente por ela. Nem ao menos sabia que era homossexual, sempre escondia isso dela, e para ela, Daniela era apenas uma amiga com quem dividia o apartamento.

Daniela e Alessandra brigavam pouco, eram felizes apesar de tudo. Não teriam terminado, porém perceberam que se continuassem vivendo juntas, Alessandra acabaria magoando-a mais ainda.

Alessandra reparou que depois que a Daniela saiu do apartamento delas, a Vivian tinha lhe procurado mais vezes, saiam juntas e ela vinha frequentando bem mais o apartamento. Enfim, se tornaram mais amigas e companheiras. Hoje era aniversário dela e marcaram de comemorá-lo na casa de Alê. Os pais dela estavam viajando e ela havia dito que tinha um assunto urgente para tratar com ela. E Alessandra pensava: “Quem dera que ela me dissesse que me ama!”... foi interrompida pelo barulho do telefone.

--Alô!?

--Oi Ale... Alessandra!

--Oi Dani... já disse que você pode continuar a me chamar de Alê, né?! – desde que se separaram Daniela não chamava Alessandra mais de Alê.

--Eu sei... mas é melhor assim.. me ajuda a me acostumar sem você. Olha, to te ligando para saber se você quer sair, o pessoal da clinica vai se encontrar lá na “Women” – Dani tava torcendo para Alessandra aceitar, apesar de ela mesmo ter terminado o namoro, sentia falta de Alessandra, das mãos dela no seu corpo, dos beijos e abraços.

--Desculpa Dani, mas eu não posso... hoje não. – disse lembrando-se de Vivian.

--Por que não? Você não pode deixar que o cansaço te empeça de sair! – disse tentando convencer Alessandra.

--Não é isso, mas é que já tenho um compromisso, desculpa...

--Hummm.. – Dani fica decepcionada.

--Dani!?!

--… com ela não é? – pergunta Dani, sentido o ciúme invadir sua alma.

--Dani... por favor.. não faça assim. – Alessandra não queria magoa-lá.

--Me diz Alê! Não mente pra mim... – falou rezando para que a resposta fosse não.

--Tudo bem... é com ela Dani, o compromisso é com ela sim, é aniversário dela hoje.

--Eu imaginava, vão pra onde? Posso saber? – tinha que se precaver, não queria encontrar Alessandra com sua amada. Não suportaria a dor de vê-la com outra.

--Nós não vamos sair, ficaremos por aqui mesmo – falou com receio da reação dela.

--Mas aí?! Nós vivemos aí... Alê!! – Dani se sentiu traída e com raiva.

--Dani, pára com isso! Você não mora mais aqui, partiu de você a idéia de nos separarmos e eu te agradeço por isso. Éramos felizes, pelo menos eu era, mas agora percebi que nunca te dei o amor que você merece. Você merece alguém que te ame, onde não exista nada mais importante do que você na vida dessa pessoa. Quero que procure outra mulher que possa te dar tudo o que eu não pude, o amor pleno e intenso que eu sinto, mas pela Vivian. E por favor, não pergunte mais dela, eu não quero te magoar com isso! Me desculpe Dani, mas você estava certa, eu nunca esqueci Vivian, só me afastei! Sinto carinho por você e quero que continuemos amigas – disse desabafando tudo que tinha percebido nos últimos meses.

--Tudo bem, você ta certa mesmo. Tchau, beijos. Eu... eu... te amo – Dani se despediu em meio ás suas lágrimas. 

Alessandra sabia que tinha magoado Daniela, sabia que ela ainda a amava, mas acabou. Foram felizes e ponto. Agora tinha que resolver sua vida com uma determinada morena.

A campainha toca. A loira foi correndo pra porta enquanto pensava: “… ela, só pode ser ela!”.

Quando abriu a porta, Alessandra deu de cara com a imagem mais linda da sua vida. Vivian, baixinha que nem ela, mas de cabelos longos e negros com olhos da cor do mar; eles eram tão lindos e brilhavam tanto que dava vontade de chorar. Vivian estava vestida com um vestido curtinho (azul, o que realçava seus maravilhosos olhos) deixando aquele par de pernas lindo a mostra. Ela era daquelas morenas de parar o trânsito sabe? De olhar e pensar assim: “… muita coisa pro meu caminhãozinho!”.

--Oi, Vi! Como você ta?! Feliz aniversário, amiga! Entra... – disse Alessandra imaginando o dia em que poderia chamá-la de “amor”.

--Oi, Alê! Obrigada, to bem sim e você?

Quando Vivian passou por Alê, deixando aquele cheiro, impregnando o apartamento com ele. A loira não resistiu, aspirou o máximo possível o cheiro daquela mulher, que quase a matava de tanto desejo.

--Tô bem também! Olha, fiz uma lasanha que eu acho que você vai gostar! Vem...deixa suas coisas aí...- disse puxando-a pela mão em direção a cozinha.

--Então vamos comemorar meu aniversário com comida boa então né!?

Vivian sabia que Alessandra cozinhava bem, mas quando Alessandra lhe puxou pra cozinha esqueceu completamente de qualquer comida. Queria outro tipo de comida, porque o puxão lhe fez sentir arrepios pelo corpo todo.

--Com certeza. Quer vinho?

--Tudo bem, quero sim! Sabe que sou fraca pra bebida né? Isso é um jeito de me deixar bêbada e fazer com que eu não lembre se a comida estava ruim né? – disse Vivian brincando e sorrindo pra Alê.

--Claro! Como você adivinhou meu plano?- cairam na gargalhada depois que Alessandra disse isso. Porque tanto Vivian quanto Alê, bêbadas, não se lembravam de absolutamente nada e só riam.

Às vezes, Alessandra tinha muita vontade de deixar Vivian bêbada, tão bêbada a ponto de que no dia seguinte ela não se lembrasse do amor que ela lhe revelaria. Por que tinha horas em que ele apertava no peito e dava uma vontade desesperadora de gritar. Mas aí, a loira sempre pensava que não era correto e que se um dia dissesse, teria que ser consciente, com a morena entendendo palavra por palavra.

Alessandra não sabia que Vivian gostaria que ela ficasse bêbada. Assim como Alessandra, Vivian a amava e sofria com a falta de coragem, da parte dela, de contar sobre seus sentimentos. Pensava que pelo menos Alessandra estando bêbada ela contaria e sua amiga depois esqueceria. Assim o aperto por amá-la tanto, teria certo alívio. Mas desistia no segundo seguinte, queria Alessandra falando as mesmas palavras que ela e do fundo do coração, e não por causa de um descontrole causado pela bebida.

--Aí, Alê! Isso deve ta muito gostoso! Ta cheirando tanto! Vou comer agradecendo por eu ter nascido e conhecido você! Aí... você cozinha muito.... a ... a ... amiga.

Vivian quase chamou Alê de amor. E imaginou: “Ahhh.. quero tanto poder chamar-la assim!”. Mas já tinha se decidido, iria ser hoje, iria contar tudo o que sempre sentiu por Alê durante todos esses anos... e tinha a esperança, a mínima que fosse, que o sentimento fosse recíproco. A amava tanto e desde sempre, que não suportaria a dor de ser ignorada depois que contasse. Mas não aguentava mais, era torturante aquele amor, e depois que Daniela saiu do apartamento delas, se rolasse alguma coisa não teria problemas. Tinha medo de frequentar o apartamento que Alê compartilhava com Dani... afinal a amiga de sua amada poderia sacar alguma olhada entre tantas que Vivian dava para Alê. Tinha medo que comentasse algo com sua amiga.

Vivian queria tanto Alê, que às vezes, ficava sem saber o que fazer. Queria aquelas mãos percorrendo seu corpo, aquela respiração no seu ouvido. Queria tudo que aquela mulher tinha pra oferecer, era tão linda, tão gostosa que por várias vezes teve sonhos eróticos com ela e tinha que correr para o banheiro para tentar pelo menos saciar um pouco a vontade. Queria dar prazer a ela também, por milhões de vezes, já imaginou Alê se contorcendo de prazer debaixo dela, respirando ofegante e pedindo por mais, cada vez que ela negasse a chegada do seu prazer.

--Ta! Também não exagera vai! Nem é isso tudo não. – disse oferecendo a taça com o vinho.

--Obrigada! Mas é sim, e nem adianta ficar com vergonha, você sabe que cozinha bem – Vivian achava que Alê ainda ficava mais linda com as bochechas rosadas de vergonha. Contrastava com sua pele branca. Porque apesar de ser carioca, Alê, não gostava nem pouco de praia, só para caminhadas no calçadão.

--Já que você acha isso tudo né?! Vamos comer, já ta pronta – disse abrindo o fogão. Alê sentia que Vivian (que estava atrás dela) a olhava.

Depois daquela visão, de ter visto Alessandra totalmente de costas e abaixada, Vivian decidiu: “Hoje, mesmo bêbada, eu falo com ela. Não aguento mais, parece que me provoca. Essa mulher me deixa maluca!”

E Vivian já tinha percebido, aquela calça justa que Alê estava usando realçava suas pernas grossas, que quando Vivian batia os olhos, só fazia sentir vontade de mordê-las e apertá-las. E a blusa... Vivian já estava a ponto de rezar, antes de olhar pra aquele pecado a sua frente... aquela blusa de botões branca (quase transparente) e com os dois botões de cima abertos, demonstravam um decote que dava vontade de dar pulos de tanta alegria. Vivian queria tanto rasgar aquela camisa... ver todos os botões saírem um por um.. tamanha a vontade que tinha de vê-la sem nada. O desejo que sentia por Alê, muitas vezes a deixava com medo, tamanha a vontade que era de tê-la, possui-la, tão rápido que parecia até selvagem. Chegava ser quase violento e impaciente... mas ela fervia de desejo quando pensava assim. Tudo que mais queria na vida era Alê, de todas as formas possíveis.

Fim do capítulo