Esse foi um dos piores domingos da minha vida. Entrei no ônibus sofrendo, primeiro porque não queria ficar longe de Edwiges e segundo porque vi a tristeza nos olhos dela.

Emocionalmente eu estava um caco, não consegui dormir durante a viagem, fiquei recordando todos os momentos bons que eu tinha vivido em Paraty.

Era muito estranho, pois eu não sentia saudades de São Paulo, mesmo depois de tantos dias longe; Eu só queria chegar logo, resolver tudo rapidamente e retornar para os braços da Edwiges. Logo que cheguei à rodoviária de SP peguei meu celular e mandei uma mensagem.

 

Edwiges

Boa noite! Cheguei bem.

Gosto muito de você!

Um grande beijo.

 

E em seguida ela respondeu:

 

Tabata

Anjo, boa noite e obrigada por avisar.

Durma bem! Gosto muito mais de você.

Já sinto saudades. Beijos!

 

Como sempre encantadora e apaixonante, até mesmo respondendo um simples torpedo ela era incrível. Peguei um táxi, quando cheguei ao meu apartamento comecei a chorar e eu era incapaz de parar. Ao lembrar-me de Edwiges eu chorava mais, uma parte de mim tinha ficado em Paraty e tudo que eu mais queria era voltar logo.

Depois de um banho demorado consegui me acalmar e adormeci pensando nela. Para o meu total desespero quando acordei na segunda-feira procurei por Edwiges, mas ela não estava ao meu lado e diferente das semanas anteriores eu não estava na casa dela. Para completar minha agonia meu celular que estava na cabeceira da cama vibra e era uma nova mensagem dela.

 

Tabata

Bom dia! Tenha uma excelente semana!

Um beijo.

 

Apesar da distância estamos conectadas e acredito que ela também acordou pesando em mim.

 

Edwiges

Bom dia! Muito obrigada! Uma feliz e excelente semana para você também. Bom trabalho e se cuida! Beijos e abraços ;)

 

Naquela manhã desmanchei minha mala, organizei minhas coisas, hidratei meu cabelo que estava ressecado devido ao sol e também por conta da água do mar. Fiz minhas unhas e almocei em um restaurante próximo da editora.

Minha reunião com Fábio foi produtiva, programamos uma agenda para os próximos dias e se tudo corresse como o planejado em duas semanas terminaria tudo.

No decorrer da semana Edwiges não mandou mais nenhuma mensagem, depois da minha resposta na segunda-feira não tínhamos conversado mais, diariamente eu pensava em telefonar, mas tinha receio dela não atender ou acabar atrapalhando de alguma forma. Porém, na quinta-feira no final da tarde recebi um e-mail da Tati que acabou me motivando.

 

De: Tatiana Fyonjy

Para: Tabata Fyonjy

Assunto: Olá!

Tata, tudo bem?

Eu já estou na terra da rainha e serão longos dias trabalhando por aqui. No Rio foi ótimo, trabalhei com um grupo animado por uns quinze dias. E você minha linda, como vai à vida? Continua aproveitando as delícias de Paraty? E o romance como vai? Por falar nisso em anexo encaminho uma foto que tirei de vocês enquanto estavam distraídas, modéstia parte a foto ficou linda, mas também o casal ajudou muito.

Te amo! Se cuida! Beijos

 

 

Eu fiquei abobalhada com a fotografia, tinha ficado perfeita, ao fundo tinha a natureza, eu e Edwiges estávamos na praia olhando uma para a outra e a Tati captou o momento. Decidi que compraria dois portas retratos um para mim e outro para Edwiges, pois aquela imagem tinha que ser contemplada por nós.

 

 

De: Tabata Fyonjy

Para: Tatiana Fyonjy

Assunto: Re: Olá!

 

Tati =D

Irmã eu amei a foto, ficou perfeita, que percepção incrível a sua, muito obrigada! Minha querida esta foto veio em um excelente momento, infelizmente não estou em Paraty, precisei voltar para SP e resolver detalhes do novo livro. Mas em breve eu retorno, sabe como é mulher apaixonada né rs Minha querida se cuida e bom trabalho para você ai na Inglaterra. Já estou com saudades. Beijos, abraços e afetos.

 

 

Depois de responder o e-mail liguei para Edwiges e no terceiro toque ela atendeu.

- Alô!

- Edwiges, boa noite! Tudo bem?

- Tabata, boa noite! Tudo sim e você?

- Eu também estou bem. Você pode falar?

- Posso sim. Sua voz fica diferente por telefone.

- Já a sua não muda nada.

- Estou com saudades de você, acredita?

- Acredito sim, pois também estou.

- E o seu trabalho?

- Tudo em ordem e estamos resolvendo tudo.

- E você vai mesmo voltar?

- Só se você quiser.

- Claro que eu quero.

- Conversei com o meu editor e tudo correndo bem em duas semanas terminamos tudo.

- E quando você vem?

- No último final de semana do mês.

- Vou morrer de saudades até lá (reclamou).

- Nada disso. Mantenha-se viva e linda.

- Queria estar ao seu lado agora, queria te beijar e acariciar.

- Você é tão apaixonante Edwiges.

- Não tanto quanto você Tabata.

- Já estou ansiosa para voltar. Tenho trabalhado bastante adiantando tudo para conseguir viajar o quanto antes.

- E eu não vejo a hora de te reencontrar.

- Eu também. Você esta na pousada?

- Estou sim.

- Vai tocar hoje?

- Não. Estou sem ânimo para tocar, minha musa inspiradora esta longe, em outro estado.

- E desde quando eu virei musa inspiradora?

- No instante em que te vi e me apaixonei por você.

- Meu Deus! Por que não te encontrei antes?

- Porque antes não daria certo.

- Você tem razão. Tudo tem o tempo certo para acontecer.

- Sim.

- Queria que você estivesse aqui comigo.

- Me sinto da mesma forma, seria ótimo estar na sua companhia.

- Linda vou precisar desligar, a bateria do meu celular vai acabar, mas em breve eu volto a telefonar.

- Anjo ok, vou esperar e adorei receber sua ligação. Boa noite!

- Boa noite! Beijos

- Beijo,

Fiquei tão feliz com a ligação, renovou minhas esperanças, era bom saber que ela estava me esperando e que também sentia saudades. Comi um lanche, tomei meu banho e adormeci novamente pensando nela.

Na sexta-feira antes de sair para trabalhar li as principais notícias do dia e resolvi mandar um e-mail para Edwiges.

 

De: Tabata Fyonjy

Para: Edwiges Lessa

Assunto: Dicas

Edwiges, Bom dia!

Gostei muito de conversar contigo na noite passada, você me faz tão bem. No início da próxima semana tenho uma reunião com o fotógrafo que fará as fotos de Paraty para o livro. Eu quero te pedir algumas dicas. Quais locais você sugere para fazermos as fotos?

Mais uma vez muitíssimo obrigada! Um grande beijo. Saudades!

 

Passei o dia todo trabalhando, almocei na editora mesmo e todo o trabalho estava bem encaminhado.

- É impressão ou você também quer concluir rapidamente esta obra? (questionou Fábio quando estávamos indo para o elevador).

- Na verdade quero voltar logo para Paraty.

- Notei pelos seus textos que você gostou muito da cidade.

- Demais, gostar é pouco, na realidade amei.

- Quanto entusiasmo. Então você se apaixonou pela cidade.

- Não apenas pela cidade (comentei sorrindo).

- Agora fiquei muito curioso. Que tal um happy hour e você me conta tudo?

- Pode ser. Acho que preciso mesmo conversar.

- Ei mulher além da nossa relação profissional somos amigos, quando precisar conversar conte comigo.

- Obrigada!

- Você esta de carro?

- Não. Vim de metrô é mais rápido e não pego trânsito.

- Pensei da mesma forma e também deixei o carro na garagem. Então vamos a algum local próximo do metrô mesmo?

- Pode ser.

- Eu só não posso demorar muito, pois tenho um companheiro ciumento.

Bem que eu desconfiava dos trejeitos do Fábio, sempre tão arrumado, reservado e discreto. Nunca comentou sobre nenhuma mulher.

Seguimos para um barzinho próximo da Paulista, pedimos lanches e sucos. Em seguida começamos a dialogar.

- Tabata, eu estou gostando muito do seu livro. Suas traduções são sempre impecáveis, então eu já nutria expectativas com relação a sua produção. Ouso dizer que sua obra será um sucesso, suas poesias são lindíssimas.

- Fábio, muito obrigada! Eu gosto muito de trabalhar com você.

- Eu também ruiva. Mas deixando o trabalho de lado, afinal hoje é sexta a noite, como foi lá em Paraty?

- Então eu me apaixonei sim pela cidade e também por uma mulher.

- Você tá falando sério? (perguntou perplexo).

- Sim!

- Menina, como isso aconteceu? Você não curte homens? Lembro que você foi casada com um cara lindo.

- Sim fui casada com um homem lindo, mas não deu certo e me separei tem um tempo.

- Mas você sempre gostou das duas coisas?

- Não. Ao menos eu acho que não. Mas nunca tive preconceitos.

- Entendi. Então você não tem preconceitos, é uma mulher de mente aberta, ficou curiosa, resolveu experimentar e gostou da fruta.

- Exatamente.

- Que babado. Então quer dizer que te ajudei a sair do armário?!

- Como assim?

- Eu que sugeri a viagem. Fui praticamente seu cúpido.

- Como você é bobo!

- Sou muito curioso isso sim. Você esta namorando à distância?

- Não. Nós não falamos sobre isso. Não sei ainda se nosso relacionamento é um namoro.

- Como assim criatura?

- Logo que cheguei à Paraty conheci a Edwiges, ela é dona da pousada que fiquei hospedada, ela também é musicista e canta MPB. Tornamo-nos amigas, ela me socorreu quando torci o tornozelo. Depois realizamos muitos passeios juntas e ela até conheceu a minha irmã. Nós ficamos, dormimos juntas algumas noites, mas não falamos nada sobre namoro e ela disse que vai me esperar.

- Que história linda! Agora entendo porque você escreveu tão bem durante a viagem, você viveu um sonho, viajou e encontrou o amor. Adorei! E a Edwiges é lésbica assumida?

- Sim.

- E qual o estilo dela?

- Não entendi.

- Ela é tipo caminhoneira?

- Não!

- Então ela também é feminina como você.

- Isso. Uma morena linda.

- Agora fiquei curioso para conhecê-la e saber se vocês formam um casal bonito.

- Minha irmã disse que sim, que formamos um belo casal. No lançamento do livro você vai conhecê-la.

- E você contou tudo para sua irmã e ela reagiu bem?

- Sim muito bem.

- Que sorte a sua. Nem sempre é simples.

- Minha irmã é bissexual e muito tranquila.

- Que bacana!

- E você Fábio é casado?

- Sou sim. Há dois anos.

- Sempre suspeitei de você, mas nunca tive oportunidade para confirmar. Você é muito discreto.

- Sou sim, devido ao preconceito, ainda mais no ambiente profissional. Já de você eu nunca desconfiei nada, nem imaginava você com uma mulher.

- Nem eu, mas aconteceu e eu adorei.

- Se você adorou e gosta dela lute por isso.

- Vou lutar sim. Na semana que vem quando encerrarmos os trabalhos volto para Paraty.

 - Então pode marcar sua viagem para sexta que vem.

- Vou marcar sim e obrigada.

- Bom linda, o papo esta ótimo, mas daqui a pouco o Bruno chega em casa.

- Eu também já vou indo.

Deixamos o barzinho, pegamos metrô, nos despedimos e logo cheguei em casa. Depois de tomar uma ducha, consultei meu e-mail e lá estava a resposta.

 

 

De: Edwiges Lessa

Para: Tabata Fyonjy

Assunto: Re: Dicas

 

Olá! Senhorita Fyonjy, como vai?

Também gostei de conversar contigo ontem. Anjo, estou com saudades, volta logo! Sobre as dicas de fotos para o seu livro sugiro o centro histórico, a baía de Paraty, tanto de dia como também a noite é possível fazer fotos bonitas. Outra sugestão: locar um barco para tirar fotos das praias. Espero que eu tenha ajudado e volto a informar que estou saudosa. Se cuida! Beijos, abraços e um cheiro, da sua Edwiges.

 

Fiquei muito feliz com o e-mail e ao invés de responder preferi ligar agradecendo. Mas decidi que ligaria só no outro dia, fiquei com receio de acorda-la e também a saudade causa mais dor a noite, eu não queria deixar a Edwiges triste, seria insuportável ouvi-la chorando e não poder acalma-la a abraçando carinhosamente.

 

Fim do capítulo