Edwiges acordou bem cedo precisava resolver várias coisas naquele dia, no início da manhã participou de uma reunião na secretaria de turismo do município, depois seguiu para uma das três pousadas que possui na cidade, a primeira propriedade da sua família, chamada Recanto da Ilha, foi ali que ela aprendeu muito quando adolescente ao lado do seu pai e depois que ele faleceu ela inaugurou outras duas pousadas.

Em outra ilha mais distante ela tem o estabelecimento Lenda das Águas, onde mora a sua mãe. O espaço é muito bonito e bem menor que as outras duas.

A terceira é a Pousada Aconchego, localizada no centro da cidade, é a maior e a mais rentável.

Edwiges Lessa é morena, tem 26 anos e é natural do Rio de Janeiro. Formou-se em administração e também é musicista. Sempre morou em Paraty e ama muito a sua cidade.

- Jorge, bom dia! Como vai? (cumprimentou Edwiges ao chegar à ilha).

- Dona Edwiges, bom dia! Tudo bem e com senhora?

- Tudo em ordem. Vamos até o escritório quero ficar a par de tudo, aquele grupo grande vai chegar em quinze dias e eu quero deixar tudo pronto o quanto antes.

- Precisamos organizar tudo mesmo, a pousada vai ficar lotada com este grupo.

- Fique tranquilo, vai dar tudo certo.

Depois de acertar todos os detalhes, Edwiges almoçou na ilha e no meio da tarde retornou para o centro da cidade.

No mesmo dia Tabata resolveu assistir ao nascer do sol. Ficou empolgada com o espetáculo da natureza e ali encontrou muita inspiração para escrever, passou a manhã toda trabalhando. Depois do almoço ela dormiu um pouco e quando acordou caminhou pelas ruas da cidade. A tarde estava muito bela e ensolarada.

Em uma rua próximo da pousada, Tabata se distraiu observando as crianças que passavam brincando, acabou virando o pé direito em uma das pedras do calçadão e caindo em seguida. Ela sentia muita dor no tornozelo e demorou para levantar, com muito sacrifício seguiu em direção a pousada, se arrastando praticamente.

Tabata não via a hora de chegar na pousada e pedir ajuda, a dor só aumentava.

Quando Edwiges chegava a sua pousada viu a mesma mulher bonita das noites anteriores, mas desta vez ela estava estranha, com dificuldade para andar, estacionou o carro e resolveu falar com a ruiva.

- Boa tarde! Tudo bem?

- Boa tarde! Eu acho que torci meu tornozelo, quero chegar logo na pousada e pedir ajuda.

- Eu te ajudo! (afirmou Edwiges chegando próximo da outra, quando estendeu seu braço para auxilia-la e encostou sua pele na dela uma corrente elétrica tomou conta do seu corpo, era uma sensação estranha. Despertou quando ouviu a voz da ruiva).

- Eu acho que vou precisar ir ao médico, sinto muita dor (comentou Tabata apoiando-se no braço da morena a sua frente).

- Aqui próximo tem um hospital e vou te levar para lá.

Com cautela as duas foram em direção ao carro, entraram e seguiram em silêncio para o hospital. Tabata não falava nada por que sentia muita dor. Já Edwiges estava concentrada dirigindo, queria chegar rápido e estava preocupada com a moça que estava ao seu lado. Elas chegaram bem rápido e Edwiges desceu do carro pedindo uma cadeira de rodas, acomodou Tabata com cuidado e foram encaminhadas para o pronto-socorro.

- Boa tarde! Ela precisa de atendimento médico, torceu o tornozelo e esta sentindo muita dor (falou Edwiges para a recepcionista).

- Boa tarde! Por gentileza, os documentos da paciente (pediu a atendente).

Tabata abriu a pequena bolsa que carregava, retirou seu RG e entregou.

- A senhora é acompanhante dela?

- Sim, ela esta hospedada na minha pousada (explicou Edwiges).

- Então, por favor, a senhora assine essa guia e a enfermeira já vai levar a paciente para a triagem.

- Muito obrigada!

Edwiges sentou em uma cadeira na recepção e Tabata foi levada pela enfermeira para fazer um raio - x. Depois de passar por alguns exames recebeu uma injeção para diminuir a dor e cerca de uma hora depois foi encaminhada para a sala da médica que tinha atendido a ruiva inicialmente. Na sequência Edwiges também entrou na sala e sentou ao lado de Tabata.

- Senhora Tabata de acordo com as radiografias, não ocorreu nenhuma fratura. Já no exame físico do tornozelo identifiquei uma torção que é uma das lesões mais comuns. Gostaria que a senhora relembra-se o momento da lesão, ok?

- Doutora eu estava andando lentamente por uma rua próxima da pousada que estou hospedada, acredito que eu tenha me distraído com algumas crianças que passavam brincando, só lembro que virei o pé em uma pedra e com a dor acabei no chão. Levei um bom tempo para levantar, eu estava sozinha e sentia muita dor. Quando levantei fui praticamente me arrastando até a pousada para pedir ajuda.

- Quando se machucou houve uma sensação de algo rompendo?  (questionou a médica).

- Não.

- Ouviu um som de algo estalando ou quebrando?

- Também não, nenhum barulho, senti apenas a dor e meu pé virou para dentro de encontro com a perna esquerda.

- A senhora fez muito bem em procurar ajuda médica imediatamente, sua recuperação será mais rápida. Nos próximos dias será necessário tomar analgésicos, não há necessidade de usar muletas, pois a senhora já consegue colocar o pé no chão e o inchaço esta diminuído consideravelmente. Saliento que descansar a torção durante vinte e quatro horas é essencial para uma cicatrização rápida. A senhora compreendeu?

- Sim, vou repousar.

- Por três dias é importante aplicar gelo umas duas vezes ao dia, ajuda a diminuir o inchaço e nas primeiras quarenta e oito horas manter o tornozelo elevado evita dores. Durante todo o período de recuperação permaneça com esta faixa elástica, retire apenas para tomar banho. Alguma dúvida?

- Qual o tempo de recuperação?

- Se a senhora seguir todas essas recomendações em uma semana estará recuperada. Caso sinta dores e tenha algum outro problema retorne e nos próximos quinze dias não faça nenhum exercício físico. Sua torção foi de grau um e seguindo tratamento adequado não enfrentará nenhum problema. Eu tenho aqui uma cartela de analgésico e outra de anti-inflamatório, comece a tomar hoje a noite um de cada. Nos próximos dias tome até acabarem os medicamentos de manhã e a noite.

- Doutora muito obrigada e já me sinto melhor.

As mulheres despediram-se e deixaram o consultório. Edwiges auxiliou Tabata até o carro. Antes de sair do estacionamento as duas conversaram brevemente.

- Com a correria não me apresentei, meu nome é Edwiges e o seu é Tabata correto?

- Sim, prazer Tabata (cumprimentou estendendo a mão que foi apertada cordialmente), Edwiges muito obrigada por tudo, você me ajudou muito e nem sei como agradecer.

- Não precisa agradecer e fico feliz por saber que você esta melhor.

- Sim bem melhor e eu não sabia que você é a dona da pousada que estou hospedada.

- Sou sim e te vi duas vezes por lá. Tabata, você esta em qual quarto?

- No quarto trinta e um.

- Hoje desocupou um quarto no térreo, o que você acha de mudar? Seria interessante para sua recuperação.

- Eu não quero atrapalhar, já te dei muito trabalho hoje.

- Trabalho algum moça, você autoriza que as camareiras levem sua bagagem para o outro quarto?

- Se não for muito incomodo e eu te agradeço novamente.

Edwiges ligou para a recepção da pousada e pediu para providenciarem a troca, explicou o ocorrido e em seguida deixaram o hospital.

- Edwiges muito obrigada e eu também já tinha te visto pela pousada algumas vezes. Gostei muito da sua apresentação.

- Obrigada! Foi neste dia que te vi pela primeira vez em uma das mesas do restaurante.

- Isso, eu estava jantando aquela refeição deliciosa e admirando muito você. Sua voz é linda, chega a ser doce de tão serena e meu estilo musical favorito é a MPB.

- O meu também (falou Edwiges risonha).

- Você toca e canta há bastante tempo?

- Tem uns dez anos mais ou menos.

- Que legal e além da pousada onde mais você se apresenta?

- Só na pousada mesmo, faço por hobby.

- Você deveria investir nisso tem talento.

- Mas não tenho tanto tempo, administro três pousadas, gosto de cantar e tocar por prazer, sem ser um dever ou obrigação.

- Entendi e muito legal você conciliar tudo.

- Tabata e você trabalha com o que? Esta passando férias por aqui?

- Eu sou escritora profissional. Não conhecia Paraty, estou passeando e também produzindo por aqui, em cinco meses tenho que entregar um livro para a editora que trabalho.

- Boa sorte com seu trabalho! Já sobre os passeios, conheço bem a cidade, nasci aqui. Quando estiver recuperada, se você quiser te apresento Paraty.

- Claro que eu quero, vou adorar, agora vou até me cuidar melhor para ficar recuperada logo.

- As pedras por aqui são muito irregulares e infelizmente ocorrem alguns acidentes. Quando hospedamos grupo da terceira idade eu fico muito preocupada, até organizo palestra e chamo algum profissional para passar algumas orientações.

- É perigoso mesmo e eu me machuquei por uma distração.

- Prontinho chegamos, espera um pouco que eu abro a porta para você e te ajudo a entrar (falou Edwiges descendo do carro em seguida).

Tabata ficou impressionada como a outra era atenciosa, além de bonita, simpática e uma excelente cantora, a morena dona da pousada era adorável.

As duas mulheres entraram na pousada e devagar foram até um quarto no térreo. As malas de Tabata e todos os seus pertences já estavam por lá.

- Se você precisar de alguma coisa é só avisar. Você esta confortável assim? (perguntou Edwiges ajustando as almofadas na perna da ruiva seguindo a orientação médica de deixar o tornozelo elevado).

- Estou sim. Novamente nem sei como te agradecer, fico até sem jeito.

- Deixa disso e melhore logo, tenho que te apresentar Paraty.

- Pode deixar, logo estarei 100% e quero muito conhecer a cidade ao seu lado.

- Vou te deixar descansar e mais tarde retorno para saber como você esta.

Edwiges deixou o quarto e minutos depois Tabata adormeceu, estava cansada e precisava repousar.

Fim do capítulo