Capítulo 22 - Lascívia
Cusco era uma cidade de médio porte, por possuir um aeroporto tornara-se porta de entrada para o interior do Peru, e haviam hotéis de todos os tipos e tamanhos. Mike escolheu o mais caro de todos.
– Nossa… – Sam balbuciou ao estacionar o carro já dentro do hotel.
– O que foi?
– É um bom hotel, Mike não deveria esbanjar assim, vou conversar com ele.
– Ele sabe que você tem companhia?
– Sabe, reservou um quarto para você.
– Quanta consideração, o soldadinho de chumbo ganhou pontos comigo.
Sam tomou a mão de Theo para conduzi-la ao elevador da garagem.
– Sua mão está quente, você está com febre de novo, não está? – Deu uma olhada em Theo e percebeu suas bochechas vermelhas.
– Depois você me dá um antitérmico.
– Ok, só para reforçar. – Sam falava nervosamente, suava as mãos. – Cuidado com o que fala na frente dele, Mike se irrita com facilidade, então nunca o retruque. Não faça piadinhas, não fale sobre religião, sex*, serviço militar, e tatuagens. Se ele perguntar algo sobre você, diga que você tem um namorado lhe esperando em San Paolo, mas não prolongue o assunto.
– Só uma dúvida.
Já subiam o elevador.
– Sim?
– Não é melhor eu fazer de conta que, além de cega, sou muda?
– Não brinque com isso.
A porta do elevador se abriu e caminharam até a recepção, havia um balcão alto, caramelo, que fazia um S, com dois funcionários bem arrumados atrás.
– Boa noite, procuro por uma pessoa, Michael Phillips, ou apenas Mike.
– Deve ser aquele moço do outro lado do saguão. – O funcionário apontou com a cabeça na direção de um ambiente com 3 sofás pérolas, do outro lado do saguão de entrada.
Carregando suas próprias bolsas, logo chegaram até o sofá onde Mike aguardava com os cotovelos apoiados nos joelhos.
– Finalmente. – Sam abriu um sorriso, rapidamente o abraçando.
Mike mantinha um porte garboso, mesmo sem os trajes militares era fácil identificá-lo como um soldado. A camisa de flanela xadrez o deixava com os ombros ainda mais largos, o cabelo claro já não era tão curto.
Também com um grande sorriso satisfeito, Mike desprendeu-se do abraço e beijou Sam, que transpassava seus braços pelo pescoço dele, não foi um beijo longo, mas foi com o fervor da saudade.
Theo apenas permanecia ao lado, com o olhar baixo, era a única ali a não ostentar um sorriso.
– Senti tanta saudade… – Sam murmurou, ainda com os braços ao redor do seu noivo.
– Eu também. Desculpe ter demorado tanto, assim que a licença saiu corri para arrumar as malas. – Mike colocava uma mecha de cabelo de Sam para trás da orelha.
– O que importa é que você está aqui comigo agora.
– Você não está mais sozinha, sua busca vai finalmente tomar um rumo. – Mike dizia com convicção.
– Ãhn… – Sam soltou-se, virando-se na direção de Theo. – Mike, essa é a garota que lhe falei, Theo.
– Finalmente conheci o famoso noivo. – Theo sorriu e estendeu a mão, aguardando o cumprimento, que foi sonoramente ignorado por Mike. – É bom saber que você não é uma lenda.
– Prazer em conhecê-la. – Mike respondeu.
– Já jantou? – Sam perguntou.
– Já, enquanto te esperava fui até o restaurante do hotel. Está com fome?
– Sim, não jantamos.
– Vamos subir, lá você pode pedir alguma coisa pelo serviço de quarto. – Mike disse já entregando o cartão de acesso à Sam. – Esse é do quarto dela.
Sam tomou o cartão da mão de Mike e entregou na mão de Theo. – Segure no meu braço. – Sussurrou.
Dentro do elevador, Mike enlaçou Sam pela cintura, lhe roubando outro beijo.
– Não via a hora de ficar a sós com você… – Mike falou com a voz baixa.
Assim que o elevador se abriu, Mike tomou a mão de Sam, já caminhando na direção do quarto deles.
– Espera, preciso levar Theo até o quarto dela.
– Ela se vira. Não se vira, Theo? – Mike perguntou.
– Ãhn… Acho que sim.
– É melhor… – Sam ia dizendo, e foi interrompida por Mike.
– Ela já disse que se vira, vamos.
Theo ouviu a porta do quarto se fechando ao longe, ficou algum tempo de pé, no meio do corredor, segurava o cartão de acesso em uma mão e sua bolsa marrom em outra. O rosto ainda vermelho e quente.
Com o polegar procurou alguma indicação em alto relevo em seu cartão de acesso, algo que dissesse qual seu quarto, mas não havia nada. Ficou ainda mais algum tempo com o olhar perdido à frente, sem saber o que fazer.
Resolveu voltar ao elevador, aproximou-se e tateou a parede até encontrar o botão para chamá-lo. Ouviu o plim da sua chegada, entrou na cabine e procurou o painel com os andares, os botões eram planos, sensíveis ao toque, não havia relevo, apenas braile. Mas ela não sabia ler braile.
De uma das três colunas de botões, apertou o mais abaixo que encontrou, e aguardou chegar ao seu destino, procurava a recepção. A porta se abriu, ela deu alguns passos inseguros à frente, o local era abafado, deu mais alguns passos e percebeu o som de um carro passando à sua frente, estava numa garagem.
Voltou ao elevador, apertou um dos botões inferiores e aguardou o deslocamento. Assim que deu os primeiros passos, percebeu o ambiente abafado novamente, o barulho distante de um carro manobrando, mais uma garagem.
Já com impaciência, apertou novamente um botão abaixo, haviam mais de cem botões e sabia que sua busca seria longa.
A terceira e a quarta tentativa tiveram destinos diferentes: acabou saindo em andares de quartos. Na quinta tentativa, voltou a encontrar uma garagem, retornou para o elevador com passos rápidos e irritados, apertou outro botão e desferiu alguns chutes na parede metálica do elevador.
– Merda!
– Tudo bem, posso pegar o próximo. – Um homem de aproximadamente trinta anos, bem vestido, mas com a gravata desafogada, a fitou assustado, assim que o elevador se abriu e viu Theo ainda chutando o metal.
– Não! Me ajude, eu estou perdida nessa porcaria de elevador. – Theo falava desesperada.
– Perdida?
– Eu não enxergo, não consigo achar o botão certo.
O homem entrou na cabine, e gentilmente ofereceu sua ajuda.
– Qual andar você quer?
– Recepção.
– Vamos lá.
Ao chegarem no andar correto, ele colocou a mão de Theo em seu braço, a levando até o balcão da recepção.
– Essa mocinha precisa de ajuda. – Ele disse, ao seu lado.
– Vocês podem me ajudar a encontrar meu quarto? – Theo ergueu o cartão. – Não enxergo.
– Claro, me desculpe não ter ajudado antes, é que eu vi você em companhia do casal, achei que eles a levariam até seu quarto, mil perdões. – O solícito funcionário já saia detrás do balcão.
– É, eu também achei…
– Não, pode deixar comigo, estou no mesmo andar que você, posso dar uma carona. – O homem de belas curvinhas no rosto disse.
Já no elevador, ele olhava Theo dos pés à cabeça.
– Você ficaria dias tentando, esse hotel tem doze andares de garagens. – Por fim ele disse.
– Um jogo de adivinha bem irritante… – Theo resmungou.
– Bom, se for descer para a recepção novamente, saiba que é o quarto botão, de baixo para cima, da fileira do meio.
– Obrigada. – Theo finalmente abria um sorriso. – Theo, prazer. – Estendeu a mão.
– Sério? Theo de Theodora? – Ele apertou sua mão.
– Sim, por que?
– Prazer, Theodore.
– Você não tá falando sério, está?
– Pode me chamar de Theo também, mas acho melhor Theodore para não nos confundirmos. – Ele riu.
– Ok então, Theodore.
O elevador se abriu e ele a conduzia devagar até seu quarto.
– Aqui, seu quarto é o 4612, saindo do elevador é a sexta porta à sua direita.
– Obrigada pela ajuda, eu estaria igual uma barata perdida por esse hotel até agora se você não tivesse aparecido.
– Não há de quê. Se quiser carona amanhã para o café, estou à disposição.
– Eu agradeço, mas não sei que horas eles descerão para o café, então… Obrigada.
Despediu-se de Theodore e entrou em seu quarto. Era grande, espaçoso, à frente da cama havia uma cadeira e uma pequena bancada.
Procurou a cama, pousando sua bolsa em cima.
– Ok, vamos desbravar o quarto, o banheiro não deve estar longe. – Falou para si, caindo por cima da cadeira.
Após alguns minutos tateando o quarto, paredes, móveis, finalmente achou o banheiro. Lavou o rosto com água fria, sentia a cabeça quente e pesada da febre.
Ainda com o rosto molhado, apoiou as mãos nas laterais da pia, ficando pensativa.
– Que pena… – Murmurou, balançando a cabeça de forma desanimada.
***
– Por que você não cumprimentou Theo? – Sam disse ao entrar no quarto com Mike.
– Eu não encosto em prostitutas.
– Ela não é mais, não trabalha desde o ano passado.
– Isso não a faz menos suja, nunca se sabe que doenças essas mulheres podem passar. – Mike já abria sua mala em cima da mesa.
– Ela… Ela não é suja. – Sam dizia com incômodo.
– Ok, vamos deixar essa menina pra lá, venha aqui. – Mike caminhou até Sam, correndo suas mãos pela cintura dela. – Que bom finalmente ter você nos meus braços.
– Eu estava com tanta saudade… Nem acredito que você veio, amor. – Sam sorriu, o encarando.
– Eu disse que viria… Sou um homem de palavra. – Mike a puxou contra seu corpo, beijando seu pescoço. – Vamos matar essa saudade?
– Uhum… – E Sam o beijou.
Já na cama, Sam o surpreendeu montando em seus quadris, não esquecendo de subir o lençol antes. Mike foi rápido em tirar a própria roupa, a urgência era mútua. Sam queria fazer amor de forma intensa, movia-se como nunca em cima de Mike, o beijava com lascívia. Mas logo Mike girou para cima dela, e a relação foi finalizada em poucos, mas intensos minutos.
De fato ela estava tentando provar algo a si mesma naquela noite.
“É assim que as coisas devem ser.” – Foi o que passou por sua cabeça ao final, mesmo o clímax sendo alcançado apenas por seu noivo.
Mike assistia TV com Sam deitada em seu peito, corria seus dedos em suas costas. Quando deslizou sua mão pela lateral do corpo dela, baixou as sobrancelhas, com confusão.
– O que é isso? – Mike perguntou, levantando o lençol para ver o que seus dedos haviam descoberto.
– Eu ia te contar, mas acabei esquecendo, não é nada de…
Mike a interrompeu, a tirando de cima de si.
– Uma tatuagem?? – Ele fitava atônito o local onde estava a pequena tatuagem, estava agora sentado ao seu lado.
– É um trecho da bíblia, não é nada demais, e é tão pequena. – Sam dizia de forma acuada.
Tentou subir o lençol, para cobrir-se, mas Mike baixou novamente, com violência. Aproximou-se, olhando de perto, boquiaberto.
– Você estava bêbada? Que raios passou pela sua cabeça?
– Não estava bêbada, na verdade eu já vinha amadurecendo essa ideia há algum tempo… – Falava com a voz baixa.
– É daquelas temporárias? Tem como remover?
– Não vou remover, eu gostei, eu fiz porque quis.
– Sem me consultar? Que loucura foi essa?
Sam puxou o lençol com força, se cobrindo.
– Não é nada demais, eu já disse, nesse local ninguém nunca verá, é algo meu.
– Ninguém?? – Mike se exaltava. – Eu vou ter que conviver com esse rabisco no seu corpo para sempre! Como você ousou macular seu próprio corpo? Deus te fez assim, te deu esse templo, e você agradece se riscando?
Sam suspirou com impaciência, enrolou-se no lençol e foi na direção do banheiro.
– Onde você pensa que vai?
– Tomar banho.
– Essa sujeira não sai com água.
Sam parou na porta e virou-se para trás.
– Eu sei que não.
– Quando voltarmos para a Inglaterra vamos procurar alguém para remover isso, ok?
Sam balançou a cabeça contrariada.
– Ok, darei um jeito de remover. Eu… Eu agi por impulso, desculpe.
– E não faça mais esse tipo de coisa, não tome essas decisões sem me consultar.
– Não farei.
– Volte para a cama, quero fazer de novo com você.
– Mais uma vez?
– Sam, estou em abstinência desde o mês passado, minhas necessidades são diferentes das suas.
Sam assentiu com a cabeça, e voltou para a cama.
***
– Não vamos à Salvador. – Mike falava de dentro do banheiro, fazendo a barba, na manhã seguinte.
– Isso já estava decidido há muito tempo, nosso destino agora é Salvador. – Sam terminava de se vestir ao lado da cama.
– Vamos direto para San Paolo, onde fica a sede dessa empresa. É perda de tempo e esforços desviar para a Baia, esse cara não vai acrescentar em nada.
– Igor é um militante ativo, atuante, ele deve ter informações importantes, só perderemos dois dias.
Mike saiu do banheiro sem camisa, enxugando o rosto, já com um semblante irritado.
– Quem enfiou essa ideia inútil na sua cabeça? Aquela garota cega, não foi? Ela que insistiu em ir para a Baia, quer passear pelo litoral nas suas costas.
– Não, decidimos juntas, e ela teria motivos para querer ir diretamente para San Paolo, ela mora lá, mas sabemos que esse cara pode nos ajudar, é melhor chegarmos à San Paolo com informações concretas e atualizadas. – Sam erguia-se, após calçar suas botas.
– Você parece não me ouvir! É tempo perdido, nós vamos diretamente para San Paolo e não tem mais discussão.
Sam sentou-se incomodada na beira da cama, de cabeça baixa, e as mãos apoiadas na borda do colchão. Mike continuou o discurso.
– Meu amor, eu cheguei, estou ao seu lado agora, deixe a parte estratégica comigo, você sabe que sou melhor nisso que você, eu não estou no alto comando à toa.
– Exato, você chegou agora, não faz ideia do que foram as últimas semanas, não esteve ao meu lado, não tem as informações que eu tenho. Você é bom nisso, eu sei, mas também sei o que estou fazendo. Nós vamos para Salvador, conversarei com Igor, e seguiremos para San Paolo. – Sam falava firme, mas num tom baixo, ainda cabisbaixa.
Mike aproximou-se com passos agressivos, atirando a toalha na cama.
– Mas que merd*, Sam! Não discuta comigo, você tem o dever de me ouvir, eu sou seu superior!
-Não, não é! – Sam levantou-se, o encarando enfurecida. – Aqui você não é meu superior, entre essas paredes você não é superior a ninguém! Você pode guiar o carro se quiser, mas vamos pela rota que eu já havia traçado.
Mike, ainda assustado com seu rompante, a fitava boquiaberto.
– Estamos brigando no nosso primeiro dia juntos. É isso que você queria? Parabéns. É isso que eu mereço depois de ter vindo correndo para este fim de mundo para te ajudar?
– Não, não quero brigar com você… – Sam se recompunha, agora confusa.
– Ótimo, então vamos recomeçar esse dia, vou me vestir e desceremos para um café da manhã em paz. – Mike voltou ao banheiro.
– Eu já estou pronta, vou ajudar Theo e te encontro no café.
– Você vai me abandonar aqui para ir mimar aquela cega?
Sam deu um suspiro profundo, hesitante.
– Sam?
Ouviu-se apenas a porta do quarto se fechando.
Sam bateu na porta de Theo, deixando a mão espalmada, com desânimo.
– Quem é? – Ouviu-se através da porta.
– Sou eu, abra.
– Eu quem? – Theo respondia jocosamente.
– Eu não estou para brincadeiras hoje, Theo.
A porta abriu-se segundos depois.
– Bom dia, oficial! – Theo a cumprimentou sorridente.
Sam a fitou surpresa, fechou os olhos com força, segurando sua vontade de abraçá-la.
– Bom dia para você também.
– Não estou atrasada, estou?
– Não. Vejo que já está pronta, muito bom, nada como a necessidade.
– Tem algo do avesso?
– Não que eu tenha percebido, talvez a calcinha esteja, mas isso ninguém perceberia, então tudo bem. – Sam riu, o clima pesado se evaporava.
– Você está sozinha. – Theo se dava conta.
– Estou, Mike vai descer daqui a pouco. Vamos para o café?
– Sim, só vou pegar o casaco para esconder minhas tatuagens afrontadoras.
Theo voltou já vestindo seu casaco verde musgo, um casaco militar sem as insígnias.
– Nem me fale em tatuagem… – Sam resmungou, levando Theo pela mão.
– Mike odiou?
– Vou ter que remover.
– Você está brincando, não é?
– Não… – Sam respondeu de forma entristecida, já entrando no elevador com Theo.
Theo abriu a boca, ensaiando falar algo, mas desistiu.
– Ok, não vou me meter no relacionamento de vocês. – Por fim falou.
– E então, se virou bem sozinha?
– Tome, veja se você encontra o número do quarto em alto relevo. – Theo colocava seu cartão de acesso na mão de Sam.
– Não, não tem nada. Como você encontrou?
– Meu novo amigo me ajudou.
– Quem?
– Theodore, meu xará.
– E quem é Theodore?
– Alguém solícito que encontrei numa de minhas viagens de elevador ontem.
– Desculpe, eu deveria ter levado você ao seu quarto…
– Relaxa, Mike estava com pressa, eu entendo. Por falar nisso, teve tempo para dormir essa noite? – Theo perguntava com um sorrisinho cínico.
– Ãhn? Ah… Sim, tive tempo. Pronto, chegamos ao refeitório, vamos direto ao café.
– Essa é a minha garota.
Sam olhou para os lados preocupada.
– Não fale essas coisas. – A repreendeu.
– Mike chegou?
– Não, mas não fale esse tipo de coisa.
– Mas não foi com esse sentido, eu estava brincando.
– Nem por brincadeira, entendeu?
– Theo! Que bom te ver novamente! – Theodore aproximou-se.
– Bom dia, Theo número dois!
– Por que eu sou o dois? Não definimos isso ainda.
– Sam, esse é o Theodore, o gentil rapaz que me ajudou ontem.
Theodore cumprimentou Sam animadamente, que pareceu não gostar da presença dele.
– As senhoritas gostariam de dividir a mesa comigo?
– Não, vou tomar café com meu noivo. – Sam respondeu rispidamente.
– Eu aceito. – Theo respondeu enfática.
– Esse cara está incomodando vocês? – Mike surgiu, interpelando Theodore.
– Não, é meu amigo. Theodore, esse é o condecorado major Mike. – Theo falava.
– Prazer em conhecê-lo, Mike. Tenho um tio que serve no exército da Nova Capital também, é uma grande honra, não?
– Eu defendo o exército europeu. – Mike respondeu de bate pronto.
– Ah, perdão pela confusão.
– Sam, já se serviu? – Mike virou-se para sua noiva.
– Estava pegando o café para mim e para Theo.
– Ela não sabe pegar o café sozinha?
– Theo, que tal eu te servir na minha mesa? Sente-se lá e eu levarei um prato enorme para você. – Theodore se oferecia, de forma gentil.
– Não quero abusar de sua boa vontade.
– De forma alguma, venha. – A conduziu pela mão até sua mesa, seguiram sob a observação incrédula de Sam.
– Ótimo, um peso a menos. Hum, esse bolo parece bom. – Mike disse, já servindo seu prato com uma fatia do bolo.
Sam ainda olhava na direção da mesa deles, sendo interrompida por Mike.
– Quem é esse cara inconveniente?
– Theodore, um amigo que Theo fez aqui no hotel.
– Cliente?
– Não, ela o conheceu aqui.
– Aposto que dormiu com ele. Uma vez prostituta, sempre prostituta.
– Pare com isso, Mike. – Sam começava a se servir, tinha o semblante fechado e uma sensação ruim corroendo seu estômago.
– Não estou falando nada demais, a garota pode estar fazendo seu pé de meia aqui, aproveitando que estamos lhe pagando hospedagem em hotel bom, cheio de clientes em potencial. – Mike sorriu, gesticulando com o garfo.
***
– Como conseguiu esse carro? – Mike perguntou, já dirigia a caminhonete azul.
– Ãhn, comprei na Zona Morta, os carros lá são tão baratos. – Sam respondeu sem segurança.
– Estou pensando em comprar o carro do Brian, ele disse que me faz um bom preço, e o carro dele está ótimo, nem parece ter dez anos.
– Seu irmão vai trocar de carro?
– Não, ele está vendendo o carro por causa da gravidez de Rita, é difícil sustentar mulher e três filhos nos tempos de hoje.
– Eu sei, se Lindsay não tivesse dois empregos estariam encrencados.
– Alguém poderia fechar um pouco a janela? Tem vento demais aqui atrás. – Theo reclamou, estava sentada num canto do banco de trás, que dividia com a caixa de primeiros socorros e a de mantimentos.
– Mude de lugar. – Mike respondeu.
– Para onde?
– Se vire.
– Minhas alternativas são a caçamba ou seu colo.
– Você é bem atrevida para uma cega que depende de nós.
– Eu não dependo de você.
– É mesmo? E se eu parar o carro aqui e mandar você descer? – Mike freou abruptamente. – Você acha que duraria mais que algumas horas? Agradeça a Deus por ter pessoas lhe dando o que comer e onde dormir.
– Agradeço apenas à Samantha.
– Pois é bom começar a ser mais humilde, não vou tolerar insubordinações.
– Você está insinuando que sou subordinada à você? Seu pelotão ficou lá na Zona Morta, não sou subordinada a ninguém, por que seria sua?
– Porque sou homem.
– E eu com isso?
– Theo, pare. – Sam pediu. – Pronto, fechei minha janela.
– As janelas ficarão abertas. – Mike abriu as janelas. – Não ouse fechá-la novamente.
– Ok. – Sam respondeu.
Theo exasperou de raiva, mas preferiu encerrar a discussão.
Passava das duas da tarde e não haviam parado em lugar algum ainda, Theo quebrou o silêncio.
– Mike, não encontrou nenhum lugar para almoçarmos ainda?
– Eu refiz a organização dos horários e paradas, vocês estavam perdendo muito tempo com paradas desnecessárias.
– E?
– Não haverá mais parada para almoço, a única parada do dia será as três da tarde, de quinze minutos, apenas para uso do banheiro. Depois as oito da noite para jantar e dormir.
– E ninguém come nada nesse interim?
– Tem coisas dentro da caixa de mantimentos, vamos nos virar com isso.
– Samantha tem gastrite, não pode ficar muito tempo sem comer. – Theo reclamava.
– Amor, você se vira com o que tem na caixa?
– Sim. – Sam respondeu.
A apatia de Sam estava evidente no início da noite, trocava algumas poucas palavras com Mike, que contava como haviam sido os dias no quartel no tempo em que Sam esteve ausente.
– Podemos ficar em algum lugar abandonado, com um mínimo de segurança. – Sam disse, ao ver Mike entrando no estacionamento de uma pousada.
– Eu não durmo em lugares abandonados, preciso de uma cama de verdade depois de dirigir o dia inteiro, é cansativo.
– É, eu sei que é cansativo, eu dirigia todo dia até às dez.
– Por que você não colocava sua amiga para dirigir? – Mike riu. – Ah, lembrei que você não enxerga.
– Eu dirigi uma vez, na fronteira com o México. – Theo retrucou.
Sam sorriu, completando.
– Em zigue-zague, mas dirigiu e nos passou pela aduana.
– Ok, peguem suas coisas, vou lá buscar as chaves. – Mike disse, saindo do carro.
Mike saiu na frente, deixando as duas para trás, pegando suas bolsas.
– Aqui, tome sua bolsa.
– Agradeço se puder me orientar a chegar ao meu quarto. – Theo dizia, em tom formal.
– Eu levo você. E pode me chamar de Sam na frente de Mike, ok?
– Ok, oficial.
– Não, oficial não. O que é uma pena, porque eu gosto quando você me chama assim. – Lançou um olhar sofrido para Theo, ambas estavam paradas ao lado do carro.
– Eu posso te chamar quando estivermos a sós.
– Melhor não. Vem.
Enquanto se aproximavam da entrada da pousada, puderam ouvir uma discussão acalorada ocorrendo lá dentro, era possível ouvir Mike discutindo em voz alta.
– Eu chamarei a polícia se você não expulsar estas duas vagabundas! – Ouviu-se Mike berrando.
– Theo, não se meta nisso, ok? – Sam orientou antes de subir os degraus que davam na porta de entrada.
– Tentarei. – Theo respondeu, soltando seu braço.
Lascívia: s.f. Comportamento de quem apresenta uma inclinação para os prazeres do sex*. Luxúria; tendência para a lubricidade, para a sensualidade exagerada.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 12/12/2015
É incrível como sinto algo estranho quando esse Mike aparece nos capítulos. Sentimento obscuro! Uau, até estou começando a ficar com dó da Sam, pq suportar esse traste não é nada fácil. E só dizendo, se ela não mudar, com certeza perderá a grande ajuda de Theo, pq a menina vai embora e com toda razão. Aliás, adorei o Theo versão masculina. rsrs
Sem cadastro
Em: 07/09/2015
Caramba,esse Mike é um ridículo... Que droga de homem...poxa vida...
Sam se anula na presença dele... Ele merece os chifres que ganhou com certeza...
E ele ainda tá atrapalhando...estão perdendo tempo... Ele precisa ficar pra tras... Sam precisa fugir com a Theo e deixar ele rsrsrs
Beeijoos
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