Ohana era uma jovem linda, loira cabelos longos, barriga perfeita, ninguém sabia como aquela mulher mantinha a forma, pois nunca encostou em uma academia. Ela era professora de musica em uma escola clássica que tinha próximo a sua casa. Ohana não tinha muito dinheiro, porém dava para se sustentar e manter seu pequeno filho Davi, o pequeno tinha três aninhos, era loirinho a cara da mãe.

   Ohana tinha ficado grávida muito nova, o rapaz fugiu, pois não aguentou o peso de ter uma mulher com deficiência visual e um filho recém-nascido.

   Ela era uma mulher forte, matava um leão por dia, cuidava do Davi sem maiores problemas, tudo em sua casa era fácil de encontrar. E alem disso ainda tinha Hadassa sua fiel amiga que também era professora da escola. Ohana ensinava piano, mas sabia tocar todos os instrumentos, era uma verdadeira musicista.

   Hadassa não ficava atrás na questão de beleza, parecia aquelas lutadoras de mma, tratava Ohana com muito carinho, pois nutria também um amor pela outra. Hadassa era professora de violino.

   Quando as duas se juntavam para tocar, parecia que o mundo ficava mais vivo.

Naquela manhã, Ohana deixou Davi com Hadassa, pois iriam dar aulas apenas a tarde. Ohana estava atravessando a rua, tinha certeza que estava seguro, tinha uma audição perfeita. Mal iniciou a caminhada, quando sentiu um baque forte em seu corpo, não sabia o que pensar, estava com muito medo, no escuro.

   Ohana sempre foi uma garota muito ativa, o fato de não conseguir ver com os olhos, não impedia em nada, fazia tudo que as outras pessoas faziam, aprendeu a se virar. Os pais partiram muito cedo. Ficou com sua avó até os dezoito anos, foi quando conheceu o crápula do Jonathan, era tudo muito lindo no começo e quando Ohana descobriu a gravidez, ele esperou apenas a mulher dar a luz. Ela sofreu muito, mas tudo foi superado graças ao seu pequeno Davi e sua amiga Hadassa.

***

- Desculpem meu atraso – Disse Kiara esbaforida entrando na sala, Paulo e Laís já estavam sentados esperando a outra.

- Tudo bem Kiara, vamos começar logo – Falou Paulo paciente.

Kiara se acomodou, olhou para Laís e viu que a amiga tinha um sorrisinho como quem diz: Eu avisei.

- Bem Kiara, quero patrocinar o ateliê, vou fazer uma viagem de mais ou menos três meses, esse vai ser o tempo que você terá para fazer o que quero.

- E o que seria – Disse curiosa, Laís apenas observava.

- Eu quero que você faça um desfile fora do padrão, quero pessoas de todas as formas, gordinhas, magrinhas, pessoas especiais. – Falou empolgado.

- Mas... mas – Kiara foi pega de surpresa. (Era só o que faltava – Pensava ela).

- Calma mocinha, deixe eu terminar – Ela afirmou com a cabeça, Laís só sabia rir internamente (Agora você aprende a ser gente – Pensava Laís). – Kiara essa é uma causa que minha empresa está abraçando, e vou ganhar muito por isso e consequentemente você também, então o que me diz?

- Ela aceita. – Disse Laís de um salto, Kiara estava pasma – Pode deixar com a gente Paulo, em três meses vai estar tudo pronto para o desfile.

   O homem saiu satisfeito do ateliê.

- Mais que raios você fez Laís, eu me recuso – Disse irritada.

- Se recusa porcaria nenhuma – Disse Laís que perdeu a paciência – Você vai fazer isso nem que seja amarrada. – Kiara se assustou com o tom, sabia que quando Laís falava daquela forma, ela tinha que ceder. – Bom ‘’Alice’’ – Kiara bufou – Temos que começar a procurar os modelos e por fim a música. Kiara fechou a cara, sabia que o nome da empresa de Paulo iria dar um up na sua carreira.

***

   No hospital foi a maior correria, Ohana não tinha ferimentos graves e também não tinha fraturado nada, apenas sentia uma dor de cabeça e um medo terrível. Hadassa não tinha com quem deixar Davi, então levou o pequeno junto.

- Minha linda, viemos te ver – Hadassa entrou com Davi no quarto.

- Mama... mama mal – Disse Davi pegando a mão da mãe.

- Calma meu pequeno, mamãe tá bem – Disse rindo. – Obrigada Dassa, não sei o que faria.

- Minha linda, vou te ajudar sempre – Fez um carinho em sua cabeça, Ohana fechou os olhos sentindo aquele cuidado. – Eu te amo minha linda.

- Eu também te amo Dassa – Disse Ohana, porém aquele eu te amo era de amizade.

(Queria que você me amasse como te amo, queria acordar do teu lado e cuidar do nosso pequeno – Pensava Hadassa).

- Falei com o medico, amanhã você está liberada, porém tem que ficar alguns dias de repouso. – Hadassa falou, ainda fazia carinho na outra, viu que Ohana chorava baixinho. – Calma, estou aqui, estamos aqui com você linda.

- Da... Dassa... eu... eu tive medo – Disse soluçando – Tive medo, parecia que a escuridão que me acompanha, tinha ficado pior.

- Não fica assim, nenhuma escuridão vai te atingir, vou te proteger – Disse beijando sua testa. Davi abraçava a mãe com cuidado. O pequeno era muito inteligente, parecia que entendia os momentos.

   Naquela noite no hospital, Ohana dormia tranquila, Hadassa dormia com o pequeno Davi em uma poltrona muito confortável.

   Ohana estava caminhando na praia quando vê uma linda mulher, morena, cabelos curtos, tinha uma tatuagem pouco visível, ia em sua direção.

- Eu te amo – Disse a mulher.

   Quando Ohana ia responder, acordou.

(Como eu consegui ver tudo – Se perguntava ela, pois tinha visto toda a cena do sonho)

Ignorou aquele sonho bobo e voltou a dormir. Mas não conseguiu ignorar um perfume que invadia o quarto, não sabia de quem era.

***

   No dia seguinte Ohana teve alta, as mulheres conseguiram se ajeitar, Hadassa conseguiu alguns dias de folga para cuidar dos dois.

   Depois de duas semanas, tudo voltou ao normal, as mulheres voltaram a trabalhar, Davi voltou para a escolinha.

***

- Eu vou ficar loucaaaaa – Gritava Kiara – Maldito dia que o Paulo entrou aqui.

- Kiki, acorda mulher, você tem que escolher as pessoas certas, não pode escolher qualquer um – Dizia Laís, estava adorando aquele projeto.

- Laís presta atenção criatura, temos dois meses, já se foi um mês e não fizemos absolutamente nada, nadinha – estava realmente estressada.

- Epa epa, você pode não ter feito, mas eu sim. – Disse se levantando. – Preparei algumas fotos e ideias. – Estava chegando na porta – Olha Kiki vê se deixa de ser bruta, mal criada e arrogante, cresce ‘’Alice’’, cresce, se concentra no trabalho e faz a budega direito – Disse e bateu a porta de leve.

- Bem galera, vamos tocar o terror e começar a agilizar os paranauê para o desfile – Disse Laís gritando para os funcionários.

   Kiara era os espinhos e Laís a rosa, assim pensava cada funcionário daquele ateliê.

Quando Kiara chegou em casa se jogou na cama, nem animo pra tomar banho teve. Dormiu pensado na garota que tinha atropelado (Como consegui ser tão fria – Se perguntava).

- Vou cuidar de você – Kiara acordou sobressaltada, e essa frase ecoava em sua cabeça, via uma mulher linda acariciando seu rosto.

Fim do capítulo