- Eu quero que você suma da minha frente – Kiara jogou as folhas de oficio na cara da funcionaria – Será que você não consegue fazer nada direito sua pouca sombra – Falava quase gritando.

   A funcionaria saiu com ódio, porém tinha que aguentar, pois aquela mulher horrorosa era sua chefe. Essa funcionaria desenhava muito bem e dava o suor pelo ateliê.

   Kiara era uma estilista, morena, cabelos curto repicado, um corpo definido. Era cruel com seus funcionários, pisava em todo mundo. Era filhinha de papai, nunca precisou levantar um dedo pra nada. Seu pai era dono de uma grande rede de roupas, Kiara fazia os desenhos e sempre eram as roupas dela que estavam na vitrine principal.

   A mulher tinha todo esse topete, era adotada, o pai era um amor, o senhor Arthur. Sua filha parecia que tinha o rei na barriga (O rei, a rainha e o palácio inteiro).

   O ateliê da Kiara contava com mais de vinte funcionários, todos tinham medo da mulher, mas cada um aguentava o quanto dava, pois estar naquele local era mil estrelinhas de ouro no currículo.

   Kiara contava com a ajuda da sua amiga Laís, era a única que aguentava a mulher. Laís era magra, completamente descolada, vivia com sua câmera na mão, era a fotografa e sócia do ateliê, registrava cada modelo, e quando tinha desfiles ela arrasava nas fotos. Laís diferente da Kiara, era doce, gentil, um amor de pessoa.

- O que deu em você – Laís entrou na sala da amiga – A cada dia parece que você fica pior Kiki, pelos céus, pare de ser tão dura. – Sentou de frente para Kiara – Você precisa de sex*, e durante dias – Riu.

- Deixe de ser idiota – Disse irritada – Tenho mais o que fazer – Voltou sua atenção para os desenhos que estavam em sua mão.

- A quanto tempo você não trans*? – Queria provocar a amiga.

- Não é da sua conta – Estava mais irritada ainda – Quer fazer o favor de sair Laís, você deveria estar trabalhando uma hora dessas – Disse levantando a cabeça em direção a outra.

- Calminha ‘’Alice’’ – Laís disse rindo enquanto Kiara bufou de ódio (Quando eram crianças brincavam sempre no ‘’pais das maravilhas’’, as duas amavam o conto, um dia estavam brincando quando Kiara caiu em um barranco, ficou conhecida como Alice e odiava esse apelido com todas as forças, Laís fazia isso sempre que queria chamar atenção) – Porque não saímos um pouco?

- Eu não vou segurar vela Laís, de jeito nenhum – Disse ainda olhando para os desenhos – Pare de me chamar assim ou te esgano aqui mesmo – Raiva. – Você quando sai com o Leo parece adolescente, nem parece que são casados a dois anos. (Leo era o marido de Laís, viviam felizes e Kiara não conseguia entender).

- Isso é amor Kiki, coisa que você não sabe – Riu – Ainda.

- E nem vou saber, não tenho tempo para esse mela mela de amor – Encarou a outra – O que eu preciso fazer pra você vazar da minha sala?

- Sair comigo e o Leo – Arqueou a sobrancelha.

***

   O barzinho estava lotado, Kiara tinha pavor de multidão, tinha nojo de pobre.

- Você vai me pagar caro por ter me arrastado pra esse lugarzinho xexelento – Fez cara de nojo.

- Abaixo o facho – Laís estava ficando impaciente.

- Calma Kikinha, vamos aproveitar – Falava Leo todo tranquilo, procurando uma mesa.

   Estavam sentados, Kiara pediu a bebida mais forte, queria esquecer que estava naquele lugar.

- Vai mais devagar Kiki, amanhã o Paulo vai passar no ateliê para fecharmos o projeto. – Disse uma Laís que começava a ficar preocupada.

- Me trouxe, agora aguenta – Disse entornando mais uma copada de bebida.

- Então tá – Laís deu de ombros – Depois não diz que ninguém avisou. - Leo só sabia rir, a todo momento se perguntava como duas mulheres tão diferentes pudessem ser amigas de infância.

   Duas horas da matina, o casal teve que sair arrastando Kiara para casa. Leo ficou na sala enquanto Laís arrumava a outra para dormir.

   A casa de Kiara era simplesmente linda, tinha uma piscina nos fundos, o quarto da estilista era um charme, tudo na casa era impecável, tinha três quartos, cada quarto com banheiro, cozinha muito bem arrumada, Arthur sabia que a filha era casquinha e por isso não tinha muitos empregados.

   Arthur tratava tão bem todo mundo, apesar de ser riquíssimo não tinha frescura. Ele começou pobre, e sabia muito bem o que era viver assim, sem poder ter um luxo de comprar algo a mais na feira do mês.

   Laís deixou tudo arrumado, já no carro com Leo, antes de dar partida.

- Amor, a Kikinha é tão fria que nem bebendo amolece – Leo estava pasmo, Kiara tinha enchido a cara e não tinha feito nenhuma besteira de bêbado.

- Ela é assim mesmo, só rezo para que um dia apareça alguém que vai mexer com aquele juízo, ai sim ela vai beber e dançar na boquinha da garrafa. – O casal riu. Leo deu partida e foram pra casa.

   O casal era muito harmonioso, se entendiam em tudo, tinham se conhecido na faculdade, eram jovens e futuramente estavam planejando ter o primeiro filho.

***

   Kiara acordou com uma dor de cabeça terrível, e ainda tinha mil coisas pra resolver antes da reunião com o Paulo.

   Paulo era um empresário simpático, pretendia patrocinar o ateliê no próximo desfile. Porém tinha uma proposta bem diferente para Kiara.

A estilista se arrumou rápido, não comeu nada e em minutos já estava gritando no trânsito. O engarrafamento estava terrível, e quando acabou ela arrancou o carro. Entrou em uma rua quase deserta, abaixou para pegar o celular que estava tocando, foi nesse momento que escutou o estrondo.

- O que foi isso – Disse assustada parando e descendo do carro. Ficou mais assustada ainda quando viu uma jovem desmaiada no chão, seu rosto sangrava um pouco. Kiara se aproximou verificou seu pulso, ainda estava viva, olhou para o relógio, entrou no carro ligou para a samu e disparou com o carro.

- Ela vai ficar bem, ela vai ficar bem – Repetia essa frase, estava fria, parecia que nada tinha acontecido.

   Kiara não reparou que próximo aquela jovem estava um objeto que era essencial na vida da moça.

Fim do capítulo