CapÃtulo 6 E agora?
Afastamo-nos rapidamente, meu coração batia tão rápido que acreditei que sairia pela boca, meu corpo todo tremia, minhas mãos suavam, e na minha mente um único pensamento se fazia presente: " eu vou para o tronco ".
Minha senhora encarou-me de forma indecifrável, e sem uma única palavra pronunciar, montou Trovão chamando me para que fizesse o mesmo logo em seguida. Obedeci-a sem questionar, confesso que temia um castigo devido a tamanha ousadia que cometi a pouco para com minha senhora.
Trovão galopava muito rápido, fazendo com que retornássemos a casa grande em metade do tempo que levamos pra vir. Minha senhora desceu rapidamente, deixando-me ainda sobre o cavalo, entrando na casa grande sem olhar pra trás, uma sensação ruim tomou meu peito, fazendo-me estremecer.
--O que houve?
Fui retirada dos meus pensamentos por Miguel (meu pai), que se aproximava de Trovão, segurando-o pelo pelas rédeas. Encarei-o ainda confusa, imaginando o quão cômica era minha situação, afinal, minha mãe também era uma escrava que envolveu-se com seu "senhor", a única diferença é que "meu senhor" era mulher.
--Está indisposta! Creio que devido ao sol forte.
--E o que ainda está fazendo aqui? Vá ficar com sua senhora! É seu dever.
Assenti, descendo de Trovão com a ajuda de Miguel. Ao entrar na casa grande não procurei por minha senhora, mas sim encaminhei-me até a cozinha a procura de Ana.
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A noite chegou e só voltei a ver minha senhora no jantar, Malvina não pôs o seu olhar sobre mim uma única vez, deixando-me incomodada de certa forma. No entanto, fiquei aliviada por saber que não seria castigada devido a falta de respeito para com ela, se bem que fora ela quem me tocou não? Não, ninguém acreditaria.
O senhor Leôncio e o senhor Henrique, conversavam animadamente durante o jantar, e confesso ter percebido alguns olhares de ambos, em minha direção. Retrai-me temerosa, não sabia o que esperar daquela atitude, não sabia o motivo pelo qual ambos estavam a me analisar com sorrisos misteriosos de parte do senhor Henrique. Como eu reagi? Eu não reagi! Até porque nada eu poderia fazer, a minha única atitude era olhar para minha senhora, temendo que ela visse os olhares e interpretasse de forma errada, acreditando que eu tinha com eles a mesma postura que tivera com ela pouco mais cedo.
No entanto, os dias se passaram e nada aconteceu. Nada em relação ao que acontecera na volta da senzala, porquê em relação aos olhares de meus senhores, estava cada vez pior. Hoje eu já conseguia identificá-los, eram olhares de pura malícia, principalmente de parte do senhor Leôncio, já o seu cunhado Henrique, olhava-me de forma carinhosa alem de maliciosa, era como se nutrisse algum sentimento além da depravação.
Malvina não voltou a tocar-me, nem ao menos falar comigo, evitava estar onde eu estava, evitava olhar pra mim, e confesso que isso magoava-me de forma inexplicável.
Certa tarde, senhor Leôncio e Henrique estavam no cafezal, haviam ido vistoriar a lavoura e o andamento dos trabalhos, enquanto minha senhora Malvina estava na sala tocando piano, hábito cada vez mais comum. Eu estava andando pelo jardim, quando Belchior aproximou-se.
--Que tristeza é essa que vejo nos olhos da mais bela flor deste jardim?
Sorri, Belchior não mudava, era um ser único no mundo, encantador.
--Estava pensando...em como é ser livre...
--É bom, e as vezes nem tanto. Afinal, de nada serve ser livre, poder ir e vir, ser dono do próprio nariz, se sua felicidade depende de uma outra pessoa.
Sorri, um gosto amargo apossou-se de minha boca, pois era exatamente assim que me sentia, minha felicidade dependia de minha senhora, só ela poderia dar-me a liberdade e parecia não desejar isso, se bem que naquele momento eu não sabia identificar, se a tristeza que vinha tomando conta de mim nos últimos tempos, se devia a "não liberdade".
--E você Belchior?! Nunca pensou em sair daqui?
--Sim sim, mas quando isso acontecer pretendo levar minha esposa comigo, para realizáramos sonhos juntos.
Seu olhar era significativo, intenso, como se o "minha esposa" fosse uma indireta. Sorri, dando uma desculpa qualquer recolhendo-me para a casa grande logo em seguida, tinha muito carinho por Belchior, mas não queria dar qualquer tipo de esperanças a ele.
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Andava pelo corredor em direção a cozinha, ia atrás de Ana pra saber se ela precisava de minha ajuda nos afazeres da casa, quando ouvi o som que vinha da sala: Era Malvina no piano tocando (Beethoven).
Como se estivesse hipnotizada, segui a música estancando na entrada da sala. Ela estava linda, com os cabelos mal presos, alguns fios caiam sobre seu rosto enquanto tocava. Fiquei ali incontáveis minutos, apenas admirando-a, com o coração aos pulos, mãos suadas e corpo trêmulo. Definitivamente, eu sentia saudade.
--Maldição!
Praguejei em voz alta, afinal os maus espíritos seguiam fazendo-me pecar, tendo aqueles pensamentos nada inocentes com minha senhora. Balancei a cabeça tentando afastar aquilo tudo, quando deparei-me com olhos verdes encarando-me.
--De...desculpe senhora!
Abaixei a cabeça dando um passo pra trás, temendo sua reação ao ser pega bisbilhotando-a. No entanto, minha senhora manteve-se em silêncio com sua postura extremamente"superior". Até que alguns segundos depois ela levantou-se aproximando-se de mim, andou lentamente ao meu redor, parando em seguida a minha frente.
--O que você tem com o jardineiro?
Engoli em seco, fora pega totalmente de surpresa com aquela pergunta. Como assim o que eu tinha com Belchior? Desde quando ela desconfiava que tínhamos algo? E porquê razão ela estava...irritada? Antes mesmo que respondesse ela prosseguiu.
--Vi vocês dois no jardim! Ele estava próximo de mais pro meu gosto. Íntimos eu diria, deveria se respeitar.
"Pro meu gosto?", e desde quando ela tinha que gostar da minha amizade com Belchior? Se bem que ela era minha senhora, podia tudo. Só então ao analisar seu...desgosto em relação a minha amizade com Belchior é que caiu a fixa, ela pensava que eu tinha algo mais do que amizade com ele. Arregalei os olhos explicando-me logo em seguida, atropelando as palavras.
--NÃO! Eu...eu não tenho nada...nada com ele. Somo amigos! Só isso!
--Ele sorria pra você!
--Ele é uma ótima pessoa!
--Você sorriu pra ele!
--É uma boa pessoa pra mim, tenho carinho por ele.
--Gosta dele!
--Meu amigo apenas...
--Ele te quer mais do que como amiga!
--Sinto muito mas terei que decepcioná-lo!
Acho que agora eu havia acertado nas palavras, ela ficou em silêncio encarando-me durante alguns segundos.
--Onde está Ana?
--No porão! Supervisionando o trabalho das lavadeiras...
--Leôncio e Henrique? Saíram a muito tempo?
--Não senhora, saíram a pouco mais de vinte minutos, iriam as lavouras, devem ter acabado de chegar lá...
Ela sorriu, de uma forma estranha, com o canto dos lábios.
--Venha comigo Isaura!
Arrepiei-me inteira, ela não esperou qualquer resposta, passando rapidamente por mim, deixando apenas um rastro de perfume por mim. Segui-a com o coração aos pulos, não sabia explicar os motivos mas meu coração batia feito louco.
Andamos pelo corredor da casa grande, entrando em um cômodo qualquer, apenas quando estava do lado de dentro observando Malvina trancar a porta, é que percebi que estávamos em um dos quartos de hóspedes. Prendi a respiração enquanto Malvina encostava-se na porta de frente pra mim.
Sua respiração estava alterada, seu peito arfava, seus olhos faiscavam fazendo meu corpo corresponder involuntariamente, e minha mente recitar o mantra:"pai nosso que estais no céus...".
Vi-a aproximar-se um pouco de mim, e com a voz extremamente rouca se manifestar.
--Isaura! Você tem cinco segundos pra deixar esse quarto, caso prefira ficar, esqueça de suas origens, crenças, e permita acontecer.
Estremeci dos pés a cabeça, sabia o que aconteceria ali caso ela fosse um homem, mas poderia acontecer da mesma forma mesmo ela sendo mulher não é? Ah...dane-se! Meu corpo reagia a ela, meu coração reagia a ela, minha mente reagia a ela, eu queria aquilo definitivamente.
Malvina aproximou-se de mim enquanto contava de cinco a um, terminando quando seus lábios já roçavam os meus.
--Me ame Isaura...
Gemi, enquanto minha boca era tomada com urgência, um bailar de línguas se iniciou, um abuso de seus lábios contra os meus, suas mãos segurando firme meu corpo de encontro ao seu, minha mente mandando o "mantra" para o inferno, ansiando o amor que me era proposto pela minha senhora. Entreguei-me.
Fim do capítulo
Notas finais:
Meninas meus amores! Quero desejar um Feliz 2016 pra todas, que a paz de Cristo esteja com todas nós, realizando todos os nossos sonhos.
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Comentários para 6 - CapÃtulo 6 E agora?:
Resposta do autor em 05/01/2016: Muito honrada com seu carinho! Um ótimo ano novo(ainda tá em tempo de desejar né?), beijo grande sua linda.
Resposta do autor em 05/01/2016: Ou sua linda! Muito obrigada tá? Se te consola acabei de postar a sequência 😊
Fanatica
Em: 04/01/2016
É impressionate como melhora a cada capítulo! Muito bom!
Estou aqui ansiosissima pelo próximo capítulo, para ver como acontecerá essa entrega, você parou na melhor parte rsrs
Até o próximo!
Feliz ano Novo!
Resposta do autor em 05/01/2016: Muito honrada com seu carinho! Um ótimo ano novo(ainda tá em tempo de desejar né?), beijo grande sua linda.
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Nik
Em: 01/01/2016
Aí aí ... Não acredito que vc parou logo agora Malvina cheia das más intenções, cada dia mais apaixonada ...ansiosa por mais n demore amo muito ler oq escreve .. <3
Resposta do autor em 05/01/2016: Ou sua linda! Muito obrigada tá? Se te consola acabei de postar a sequência 😊
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