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  • Capítulo 5 - Heterocromia

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2121 por Cristiane Schwinden

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Palavras: 5167
Acessos: 7216   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 5 - Heterocromia

– Já anoiteceu. – Theo comentou, ao perceber que havia escurecido.

– Sim. – Sam dirigia compenetrada.

– E o plano para passarmos pela fronteira? Você continua sem documentação. Já estamos perto, não?

– Tentarei achar algum caminho alternativo ilegal. Se não encontrar, tenho um plano B.

– Qual é o plano B?

– Não posso contar, você não toparia. – Sam sorriu.

– E não é me assustando que você vai conseguir minha colaboração.

Andavam por uma rodovia larga, com umas doze vias, no acostamento haviam moitas de capim e placas perfuradas por tiros e lasers. Já era visível a estrutura do policiamento da fronteira, as guaritas da aduana bem iluminadas. Havia um grande painel eletrônico no alto que dizia ‘Bem-vindo à Nova Capital, terra de prosperidade e oportunidades’, e logo abaixo alguém pichou ‘mentirosos’, em vermelho.

O carro andava agora numa velocidade reduzida, Sam observava ao redor, tentava achar algo visualmente, já que pelo localizador no carro nenhuma outra via fora encontrada, elas teriam que realmente passar por aquelas guaritas.

– Não há alternativas, Theo… – Sam falou com desalento.

– Use minha documentação.

– E as fotos? Você não se parece comigo.

– Não?

– Nem um pouco. Tem também o reconhecimento de íris. – Sam parou o carro no acostamento, praticamente dentro de um pequeno matagal.

– Podemos tentar passar a pé, por algum buraco na cerca. – Theo sugeria.

– Não tem cerca, toda a fronteira tem sensores de movimento, que atiram no que tentar ultrapassar.

– Que radical.

Sam batia com os polegares no volante, nervosamente.

– Plano B. – Sam soltou o cinto de segurança, abriu a porta e saiu.

– Onde você vai? – Theo mexia a cabeça de um lado para outro, tentando entender.

A porta do passageiro se abriu.

– Assuma o volante. – Sam disse, a empurrando para o lado.

– Quê?

– Anda, vá para o lado. – Sam a empurrou pelo ombro novamente.

– Você não acredita quando eu digo que não enxergo?

– Acredito, uma pessoa que enxerga não bateria com a cabeça no box daquele jeito, nem de propósito. Nem sairia com a camisa do avesso.

– Você me deixou sair com a camisa do avesso?

– Ok, não é hora para isso, vá para o volante, daqui até a guarita são trezentos metros em linha reta.

– Você acha que eles não perceberão que a motorista é cega?

– Seja uma boa atriz, quando entregar os documentos permaneça com a mão estendida, para que eles devolvam na sua mão, ao invés de ficar caçando no ar.

Theo hesitou, mas acabou correndo no banco, assumindo o volante.

– Ótimo. – Sam fechou a porta e entrou no carro por trás.

– Onde você vai ficar?

– Aqui no fundo do carro, embaixo dos cobertores. Se quiserem inspecionar, diga que é roupa hospitalar suja.

– Isso não vai dar certo, eles vão achar alguma discrepância.

Sam já se escondia embaixo dos cobertores e outros objetos.

– Já dirigiu antes?

– Já.

– Então acelere, vá com velocidade reduzida até a guarita, eu vou avisar quando for para frear e parar.

– E depois? Acelero novamente e ando em linha reta?

– Eu não consigo ver a estrada daqui, vamos torcer para continuar sendo uma reta.

– O carro está no acostamento agora, não está?

– Sim, dê a partida e o recoloque na estrada. Tome seus documentos, mantenha no colo até entregar para eles. Tome isto também, vista.

– Um casaco? Mas está calor.

– Para esconder as tatuagens.

– Mas…

– Vista.

Theo coçava a cabeça com as duas mãos, o coração disparava.

– Você consegue, você é uma garota esperta e também quer sair da zona morta. – Sam continuou.

– Ok, mas fique sabendo que isso é uma loucura. – Ligou o carro.

– Se você tiver uma ideia melhor, sou toda ouvidos.

– E se não der certo?

Sam pensou por um instante.

– Foi um prazer te conhecer.

– Você precisa melhorar seus argumentos motivacionais.

E deu a partida, vagarosamente manobrando de volta à estrada.

– Você está indo bem, siga reto nesta via.

– Como você sabe que estou indo bem?

– Estou acompanhando as câmeras externas do carro através do meu comunicador, aqui embaixo.

– Agora sim, isso é algo motivacional para se falar.

– Acelere um pouco.

– Ok.

– Nem tanto!

– Ok, ok.

– Guarita número oito em cinquenta metros, desvie só um pouquinho para a direita. Dois agentes, uma de cada lado. O agente do seu lado é um homem alto, então levante os documentos quando for entregar. O da direta está com cara de poucos amigos, talvez ele seja encrenca.

– Você está me deixando nervosa com esse monte de informações.

– Vá diminuindo a velocidade.

– Esse carro é antigo demais, as coisas não estão onde deveriam estar.

– Depois conversamos sobre automobilismo. Reduz, freia!

– Boa noite, senhora. – O homem alto que usava um óculos com armação vermelha a cumprimentou.

– Boa noite. – Theo disse, segurando firmemente os documentos em seu colo.

– Identificação e passaporte, por gentileza.

– Aqui.

– Ai!

Theo ergueu os documentos para fora da janela, acertando o queixo do agente.

– Desculpe, senhor.

Ele conferia minuciosamente os cartões de identificação e passaporte antes de checá-los no leitor. Escaneou rapidamente a íris dela.

– Faz uma agradável noite hoje, não? – O agente perguntou, enquanto lia os dados que apareciam na tela à sua frente.

O outro agente saiu para ir ao banheiro.

– Sim, uma bela lua.

– Lua? Bom, o tempo está nublado, por isso não faz calor hoje. – Ele respondeu, confuso.

– O tempo estava aberto na cidade em que eu estava. – Theo tentou remendar.

– E de onde você está vindo?

– Ãhn… Tampa.

– Flórida? Você está dirigindo da costa leste até a oeste, sem parar?

– Não, fiz algumas paradas.

– Espero que tenha dormido o suficiente, senão terei que detê-la para que faça o descanso mínimo exigido.

– Dormi no carro todas as noites, estou ótima.

Ele deu uma olhada para dentro do carro, ficou algum tempo olhando para a parte de trás, com um pequeno refletor.

Sam não conseguia enxergar nada, apenas suava e percebia que havia uma luz sendo direcionada para ela, já havia feito várias orações.

– Não parece confortável. O que tem atrás dos bancos, uma pilha de cobertores?

– Ãhn… Não, roupa hospitalar contaminada.

– Contaminada?? Senhora, tenho que pedir para que desça e se afaste do carro.

– Suja, eu quis dizer suja! Não está contaminada! – Theo agora também transpirava e tentava não tremer as mãos.

– Saia do carro, por favor.

– Ok. – Tateou o botão que abria a porta, mas não estava onde acreditava estar.

– Senhora, saia do carro agora.

Finalmente achou o botão, abrindo a porta. Saiu lentamente, recostando-se na porta traseira.

– Para onde está levando esta roupa? – O agente estava de joelhos no banco do motorista, percorrendo o feixe de luz pelo carro, principalmente no monte de cobertores, mas não tinha coragem de colocar as mãos.

– Uma lavanderia em Ensenada.

– Minha cidade natal! Você mora lá?

– Não, moro em Tijuana mesmo, mas trabalho para uma empresa de lá.

– Conhece a taqueria Los Panchos? Ao lado do supermercado Redondo, é do meu pai.

– Já estive neste supermercado, mas não me recordo da taqueria, fica dentro ou ao lado?

– Do lado esquerdo, tem uma placa vermelha com um sombrero do lado, não tem como você errar. – O agente estava agora entretido, esquecia a busca.

– Então da próxima vez que for ao supermercado com certeza farei uma boquinha na taqueria do seu pai, qual prato recomenda?

– Taco Real, peça com bastante chili.

– Adoro chili, vou adorar o Taco Real, eles fazem para viagem também?

– Sim, sim. Tome. – Ele já estava fora do carro, e ergueu a mão com seus documentos.

Theo estendeu a mão para um cumprimento, ele a cumprimentou e ela tomou os documentos, com firmeza.

– Desculpe o incômodo. – Ele abriu passagem para que ela entrasse no carro. – Quando for na taqueria diga que foi indicação do Carlitos, filho do Carlos.

– Carlitos, farei de questão de falar pessoalmente com seu pai.

– Você o reconhecerá fácil, por causa do lance do bigode que nós temos.

– Ele tem um bigode igual ao seu.

– Eu não tenho bigode, apenas a barba, assim como meu pai. – Ele disse, confuso.

– Claro, a ausência do bigode. – Theo deu a partida no carro.

– Boa viagem, não exagere no chili, hein?

Ela apenas acenou e partiu, mais rápido do que deveria.

– Esquerda, esquerda! – Sam falava ainda debaixo da pilha, mas já parcialmente descoberta.

– Tem curva?

– Tem! A esquerda! – O carro sobressaltou para o acostamento.

– Esquerda! Não, menos, menos, volte! Direita, direita!

– Ok. – Theo dirigia segurando firmemente o volante, tensa.

– Você está dirigindo em zigue-zague depois de passar por uma aduana!

– Desculpe, talvez seja pelo fato de que eu não estou vendo a estrada!

– Continue nesse sentido.

– Posso parar o carro?

– Ainda não, eles veriam, ande mais um pouco. Curva leve à direita. – A estrada estreitava para apenas duas vias ali, e ficava mais escuro à medida que prosseguiam.

– Ok, vamos encostar o carro. Direita.

– Até que enfim. – Theo ainda tremia, e o carro ia para a esquerda.

– Direita!

– Desculpe. Já estou no acostamento?

– Está, pare o carro e vá para seu banco.

Sam levantou-se, olhou para trás e não enxergou ninguém as observando, pulou para frente.

– Conseguimos. – Theo exasperou.

– Vamos embora. – Sam estava tensa, saiu dirigindo cautelosamente.

– Posso tirar o casaco?

– Pode. Acho que conseguimos. – Finalmente Sam relaxava.

– Enganamos a aduana! – Theo vibrava.

Sirenes começaram a ser ouvidas.

– Oh não. – Sam resmungou.

– Estão atrás de nós?

– Acho que sim, ainda não vejo.

– Então acelera!

A ordem foi atendida, e Sam dirigia como se estivesse numa corrida de rua, Theo segurava-se no banco.

– Não ouço mais sirenes. – Theo constatou.

– Ficaram para trás, peguei uma estrada adjacente.

– Estou impressionada com sua habilidade em pilotagem.

– Nem eu sabia que conseguia dirigir assim. Nos desviamos do nosso curso, mas não podemos voltar por onde viemos.

– Continue por aqui até achar uma rota para nosso curso.

– Está longe, tem uma pequena cidade adiante, acho que vamos passar a noite lá.

– O que importa é que conseguimos. – Theo fez um afago de dois segundos na mão de Sam, a chamando atenção.

– Eu falei que conseguiríamos, você duvidou da minha ideia. – Sam finalmente tirou a tensão dos ombros, sorriu a fitando.

– Fui uma boa atriz.

– Houveram furos no seu script, mas seu trabalho como um todo foi bom.

– A do bigode foi péssima, reconheço.

***

Uma hora depois chegaram no centro de uma cidade de pequeno porte, haviam uns poucos prédios, alguns pareciam desabitados, mas estavam invadidos por moradores sem teto. Apesar de ser quase nove da noite, as ruas centrais estavam movimentadas, Sam deu uma boa olhada ao redor, procurando policiais, agentes ou sentinelas, mas parecia uma cidade esquecida no tempo, com pessoas simples circulando.

– O comércio local ainda está funcionando, preciso de algumas coisas, me acompanha? – Sam disse, estacionando o carro numa praça.

– Adoro compras.

– Não vamos fazer compras.

– Mesmo assim eu gosto.

Sam foi até o outro lado do carro, Theo saiu e ergueu o braço, para ser levada por Sam, mas ao invés de conduzi-la pelo braço, pegou em sua mão.

– Mais humano. – Sam murmurou, a mão de Theo atrelada à dela lhe transmitiu uma sensação de conforto.

Entraram numa loja de roupas e bugigangas, havia um pouco de tudo e estava abarrotada de caixas pelo chão. Sam foi direto ao último balcão.

– O que é aqui? – Theo perguntou, esbarrando numa caixa.

– Uma loja. Vou providenciar uma muda de roupas limpas para você.

– Tudo isso porque eu consegui nos passar pela fronteira? Você é de fato uma pessoa benevolente.

– Não quero me arrepender, ok?

– Ok. Aqui tem boné?

– Para que você quer um boné?

– Para proteger meus olhos do sol.

Sam suspirou.

– Moça, você tem boné? – Sam perguntou.

– No balcão ao lado.

– Ok, ali na parede tem alguns, escolha um.

Theo virou a cabeça na direção de Sam.

– Você acha isso engraçado?

Sam riu.

– Aquele último. – Ela disse, indicando para vendedora com a mão.

Sam lhe entregou, prontamente Theo o colocou virado para trás.

– Está virado para o lado errado. – Sam disse.

– Eu sei, tá vendo algum sol dentro da loja?

Sam tirou o boné da cabeça dela, colocando sobre o balcão.

– Moça, mudei de ideia, não quero o boné. – Sam falou.

– Hey.

– Tome. – Recolocou o boné em Theo. – Como se diz?

– Obrigada.

– Apenas obrigada?

– Obrigada, Sam.

– Não, o correto é ‘muito obrigada, Sra. Samantha’.

– Eu não vou agradecer de novo.

– Ok, vamos pegar o que falta. – Sam a puxou para outro balcão.

– Moça, roupas femininas é aqui? – Sam indagou a vendedora.

– Que cor é o boné? – Theo perguntou.

– É sim, o que deseja?

– É verde com a frente rosa.

O boné era azul com a frente branca.

– Nossa, que discreto.

– Tá reclamando?

Theo engoliu em seco, resignada.

– Não, adoro rosa.

Após terminarem a compra, Sam a deixou no carro e seguiu para um mercado ali próximo.

– Tem certeza que quer ficar aqui? – Sam perguntou.

– Sim.

– Ok, se alguém te abordar seu nome é Maria Conchita González e mora em Chihuahua.

– É isso que diz meu documento?

– É sim. Comporte-se, Maria Conchita, eu não demoro.

Vinte minutos depois Sam retornou ao carro e não encontrou Theo, nem ao redor.

– Merda, onde ela se meteu. – Falou para si, olhando para todos os lados.

Colocou as compras no banco de trás e deu algumas voltas pela rua, ia e voltava mas nem sinal de Theo. Colocou as mãos na cintura, o coração queria saltar pela boca, mas não fazia ideia de onde começar a procurá-la, quando finalmente a viu despontando na esquina, vinha tateando as paredes, devagar.

– Onde você foi? Quer me matar do coração? – Sam disse com irritação, quando ela chegou até o carro.

– Tome, conte. – Theo tirou um montante de notas do bolso, e a entregou.

– Onde conseguiu esse dinheiro? – Sam pegou o dinheiro, com a testa franzida.

– Pode contar para mim? Ele disse que tinha 350.

– Primeiro você vai me falar que dinheiro é esse. Você roubou?

– Vendi aquela corrente.

– Onde?

– Eu encontrei uma casa de penhores há três quarteirões daqui. O localizador do seu carro tem uma função de áudio e voz, sabia?

Sam ainda a fitou surpresa por um instante, e contou o dinheiro.

– Tem 350 sim, pegue.

– Não, é seu.

– Claro que não, é seu. – Sam colocou o dinheiro na mão dela.

– Ok, é nosso. – Theo o enfiou no bolso da calça de Sam. – Use para nós, quando estivermos exaustas e quisermos uma noite decente numa hospedaria, por exemplo.

– Entre no carro. – Sam balançou a cabeça, concordando. – O dinheiro vai ficar comigo, mas se quiser usar para alguma coisa, me avise. – Sam falou, já dando a partida.

– Eu quero sim, hoje.

– O que?

– Vamos comemorar nossa passagem pela fronteira. E o réveillon.

– Comemorar como?

Após deixarem suas coisas numa hospedagem barata e tomarem um banho, elas foram caminhando num bar no quarteirão ao lado de onde estavam hospedadas, Sam agora a conduzia sempre pela mão.

O bar era bem iluminado para um comércio com estas finalidades, fazia um L e tinha um balcão ao centro, com prateleiras de garrafas coloridas adornando as paredes.

– Aquela sua conversa sobre a taqueria do pai do agente foi ótima, de onde tirou aquilo? – Sam perguntou.

– Improvisei na hora, eu precisava desviar a atenção dele do carro. E odeio chili.

– Foi bem convincente, e parabéns por conhecer o mapa do México.

– O que vão beber? – A garçonete virtual apareceu na tela da mesa.

– Para mim tequila. – Theo disse. – Para você também?

– Eu não deveria beber.

– Mas vai. Duas tequilas, por gentileza. – Theo decretou.

– Nunca bebi tequila.

– Já bebeu alguma coisa alcoólica?

– Claro, mas não é algo que uma mulher deva fazer com frequência, nem exagerar.

– Pfff. Você vai adorar.

– Apenas uma dose. – Sam olhava para os lados, alerta. – Não é bom ficarmos muito tempo aqui, expostas.

– Hey, garota. Escute.

– O que foi?

– Não vai acontecer nada essa noite, você tem o direito de se divertir um pouco.

Sam deu um sorriso encabulado, cabisbaixa.

– Quer ouvir as opções do cardápio? – Sam perguntou.

– Tem bife com batatas fritas?

– Hum… Tem.

– Maravilha. Você gosta?

– Gosto.

– Vamos pedir então.

Terminavam de comer as batatas, finalizavam também a terceira dose de tequila, Sam estava à vontade e bem humorada até algum tempo atrás, mas isso foi mudando aos poucos.

– Não acredito que você amarrou todos os cadarços da sua companheira de quarto! – Theo ria.

– Tomei uma advertência por conta disso.

Sam olhava insistentemente na direção do balcão, desconfortável.

– Ok, mais uma dose para cada. – Theo disse, fazendo o pedido na tela, já havia decorado o caminho.

– Não acho que deveríamos continuar aqui.

– Por que? Viu policiais? Já está tarde?

– Não, não muito.

– Eu estou gostando da noite, você não?

– Mais ou menos. – Sam mantinha as sobrancelhas baixadas, incomodada.

– Está se sentindo culpada por ter bebido um pouco? Hoje podemos, e você é dona de si, pode fazer o que bem entender, que se dane a opinião alheia.

– Não estou me sentindo culpada, já bebi mais que isso. – Ela respondeu séria.

Theo ficou em silêncio por um instante.

– Eu falei algo que te incomodou? – Perguntou com a voz baixa.

– Não, não aconteceu nada, só não estou mais no clima de comemoração.

Ficaram em silêncio, até que Sam interrompeu, de forma insegura.

– Tem uma garota no balcão do bar, ela não para de olhar para você.

– Você acha que pode ser alguém me procurando?

– Não do jeito que você está imaginando. – Ironizou, virando o último gole do seu copo.

– Hum… Mas acho que não entendi.

– Já faz algum tempo que percebi, ela está lançando olhares e sorrisinhos para você, discretamente.

Theo entendeu, e riu.

– Sério? Mas isso é bom.

– Bom? Ela está dando em cima de você!

– Como ela é? É bonita? Tenho chances? – Theo falava, animada.

– E o que import… Espera aí. – Caiu a ficha de Sam. – Você é…

– Gay? Totalmente. – Theo continuava com um sorriso sacana nos lábios.

– Você está me devolvendo as brincadeiras que fiz com você, não é?

– De forma alguma, eu realmente gosto de garotas.

Sam agora parecia transtornada com a notícia.

– Mas você não se parece…

– Ah não, esse papo de novo? – Theo a interrompeu. – Não existe isso, a sexualidade das pessoas não está atrelada à aparência ou comportamento.

– Eu não suspeitei, você disfarça bem. – Sam apoiou a testa em sua mão, fitando Theo de forma estupefata.

– Eu não estava disfarçando.

– Por que não me contou antes?

– E por que eu deveria contar antes? Isso faria diferença em algum ponto? Você teria me deixado pelo caminho se soubesse?

– Claro que não, não faria diferença, não tenho nada contra vocês. – Nem Sam acreditou em sua própria resposta.

– Eu não vou dar em cima de você, se este é seu receio.

– Homossexualidade é um pecado grave, você sabe disso, não sabe?

– Digamos que algumas pessoas já tentaram me convencer disso, mas o que importa é que sei que não estou fazendo mal a ninguém por ser como sou, eu estou em paz.

– O mal é a você mesma, você precisa procurar formas de resistir, talvez se você procurasse os ensinamentos bíblicos, encontrasse alguma luz para essa sua vida errante. Não sou eu que estou te julgando, Deus está, e você prestará contas um dia. Que fique claro que não abomino vocês, abomino o pecado que vocês praticam, é uma vida suja.

Theo tirou o restante de sorriso dos lábios.

– Você está me julgando, e muito.

Sam recuou, baixando a guarda.

– Quando você se tornou lésbica?

– Não sei, quando você se tornou hetero?

– É diferente.

– Por que?

– Porque ser heterossexual é o normal, todos nascem assim, apenas alguns desviam sua conduta e se tornam homossexuais, por conta de traumas ou uma educação falha. Ninguém nasce gay.

– E se eu te disser… Que nasci assim?

– Acho que não, algo falhou na sua infância, faltou orientação de pessoas normais, talvez tenha faltado uma vivência religiosa, você acabou se desviando da vida correta e ninguém te corrigiu.

– Meu pai era católico fervoroso, devo ter frequentado a igreja na minha infância tanto quanto você.

– Onde estão seus pais?

– Já morreram. – Falou com rispidez, vagueava seus olhos baixos sem focar em nada.

Sam ainda a fitava, a analisando e assimilando, usava e abusava do fato de Theo nunca saber que estava sendo observada.

– Ok, não estou aqui para julgar o comportamento de ninguém, sei que cada um tem suas próprias razões e seus próprios demônios. Me desculpe se você se ofendeu com algo que eu tenha falado. – Sam falou, com uma voz suave. – Tentarei não impor minhas convicções.

– Eu não quero mudar suas crenças, que fique claro. Você me respeita, eu respeito você, e tudo vai continuar correndo bem, como tem sido. Nós temos uma boa convivência e eu gosto disso. Porém se você se sentir desconfortável em continuar do meu lado, por eu ser quem eu sou, é um direito seu não querer mais contato comigo.

– Eu te respeito, eu não sou uma pessoa ignorante, eu nunca me afastaria de você por conta do que você faz entre quatro paredes.

– Ronco. – Theo sorriu.

– É, isso eu descobri por conta própria. – Sam também sorriu. – E também me joga para fora da cama.

As tequilas chegaram, Theo ergueu o copo pedindo um brinde.

– Pelas diferenças.

– Quais?

– As que nos une. – E brindaram.

Theo deu um gole, e retomou o assunto.

– E então, você não vai me descrever a garota que está dando em cima de mim? Ou ela parou de olhar?

– Está olhando mais do que nunca.

– Hum, está realmente interessada.

– Você quer ficar com ela? – Sam perguntou, cheia de dedos.

– Se você não descrevê-la não poderei te responder.

– Ok. – Sam decidiu entrar na brincadeira. – Ela é loira, um pouco mais baixa que você, tem a boca grande e vermelha.

– Você está indo bem, continue.

– Tem sobrancelhas escuras e grossas, os olhos estranhos, um olhar por baixo.

– Estranhos como?

Sam riu.

– Olhos juntos, e o nariz para baixo, não sei explicar, tem algo estranho no posicionamento dos elementos faciais dela. – Ela arrancou uma risada de Theo.

– Estava bom demais para ser verdade…

– Ela não é uma garota feia, só tem o rosto um pouco… Exótico.

– Tem peitos?

– Os seus são bem maiores.

– Obrigada. Continue.

– Tem os cabelos compridos, um pouco ondulados, como o meu.

– Seus cabelos são um pouco ondulados?

– Sim.

– De qual cor?

– Castanho escuro.

– Como o meu? – Theo estava mais interessada.

– Não, mais escuro, o meu é mais escuro que o seu.

– Continue.

– Ela não é gorda nem magra.

– Não, não. Me refiro a você, continue a se descrever para mim.

Sam sorriu de lado.

– O que você quer saber? Não sei me descrever.

– Você estava fazendo um bom trabalho com a garota do balcão.

Pensou por um momento.

– Hum… Sou um pouquinho mais baixa que você.

– Quatro centímetros, isso eu já sei.

– Não me interrompa.

– Ok, prossiga.

– Cabelos castanhos escuros, compridos, rosto meio quadrado.

– O meu é redondo.

– Você tem o rosto de uma menininha.

– Que cor são seus olhos? – Theo perguntou, cheia de curiosidade.

– Ãhn… É um pouco difícil explicar. – Sam estava contente por ser agora o foco da atenção dela, e não mais a loira no balcão.

– Como assim? Não existem mais do que… Quatro ou cinco cores de olhos. É alguma cor exótica?

– Não.

– Num formulário, como você preencheria, sucintamente?

– Castanhos esverdeados.

– É um bom começo.

– É castanho claro mais ao centro, e depois se torna verde.

Theo fez um semblante surpreso.

– Você tem heterocromia!

– Já me disseram isso, não sei exatamente o que é.

– É quando uma pessoa tem duas cores nos olhos ao mesmo tempo. Heterocromia completa é quando cada íris é de uma cor, tem também os casos onde um olho tem alguma mancha de outra cor, é a parcial. E no seu caso os dois olhos tem duas cores, partindo da pupila, você tem heterocromia central.

– Mas isso não interfere na visão, interfere?

– Você nasceu assim?

– Sim.

– Então não. É apenas uma característica estética, e eu acho lindo.

– Sério?

– Eu gosto do diferente.

– É, então você gostaria de mim.

– Eu adoraria um dia poder ver seus olhos. – Theo disse, pesarosa.

– Tenho certeza que um dia você me enxergará. Um dia colocaremos esse azul todo para funcionar novamente. – Sam falou, de forma descontraída.

– Algo mais sobre você que eu deveria saber?

– Fisicamente?

– Sim.

Sam hesitou. Lembrou-se de todas as vezes que Mike sentiu-se desconfortável por vê-la nua, mandando cobrir-se, ela sabia porque ele sempre fazia isso, não era apenas pudor. Sentiu-se mal, inferior.

– Acho que não.

– Algum sinal de nascença?

– Tenho um sinal no rosto.

– Onde?

– Próximo ao nariz.

– Posso ver?

– Ver?

Theo ergueu a mão aberta.

– Com a mão, eu vejo com as mãos.

Sam sorriu, pegando a mão dela no ar, Theo sentiu a pequena pinta com seus dois dedos, rapidamente.

– Já consigo montar uma imagem mental sua. – Theo disse, se esparramando na cadeira.

– Ah é? Espero que seja boa.

– Já ouviu falar em Frankenstein?

Sam riu.

– Fico lisonjeada com sua visão de mim.

– Estou brincando. Mais uma? – Theo ergueu o pequeno copo vazio.

– A última dose.

– Ok, faça o pedido. – Theo ficou um instante pensativa, preparando a pergunta. – Você tem um noivo, não tem?

– Como sabe? – Sam olhou surpresa para ela.

– Senti a aliança na sua mão.

– Tenho, tenho sim, se chama Mike.

– Deixa eu adivinhar: é militar também, um belo e forte soldado.

– Major do 14º regimento do exército da Europa, em missão na América do Norte. – Sam disse, com orgulho.

– Trabalhava com você?

– Sim, este ano ele foi realocado para outro pelotão, porém ainda dentro do mesmo regimento.

– E é belo e forte, como previ? Um grande loiro de olhos verdes?

– Quase, ele é um cara grande, musculoso, tem olhos verdes, mas o cabelo é castanho médio, curto.

– Também já criei o protótipo visual dele aqui na minha mente, agora já posso unir vocês dois e… É, combinam. Terão belos filhos que aprenderão a cantar o hino da Europa antes mesmo de dizerem papai e mamãe.

– Provavelmente. Uns cinco.

– E a pergunta que não quer calar é: Por que seu noivo não está aqui nesta cadeira desocupada ao nosso lado?

Sam voltou a ficar séria, quase encabulada.

– Ele ainda não pode vir.

– Mas ele sabe de sua corrida contra o tempo, para sobreviver?

– Sabe, nós nos falamos de vez em quando.

– O que o impede de vir?

– Ele ainda não conseguiu uma licença no quartel, quando conseguir virá ao meu encontro, vai me acompanhar e ajudar.

Theo acabou abrindo um sorriso, incrédula com o que ouvia.

– É a sua vida! A vida da mulher que ele pretende casar e construir uma família, isso não deveria estar acima do emprego? Quais as prioridades de vida desse cara?

– Não é simplesmente um emprego, e agora você o está julgando.

– Desculpe, é que… achei… egoísta. Estou acompanhando sua luta há apenas alguns dias e sei o quanto as coisas seriam mais fáceis se você tivesse um major grande e forte ao seu lado.

– Eu entendo o lado dele, e sei que ele virá em breve. Tenho me virado muito bem sozinha.

– E eu não duvido disso, você me parece uma mulher incrivelmente inteligente, valente e determinada, essa terra não é para os fracos, já sou sua fã. Porém também acho que toda ajuda é bem-vinda.

– Ok, vamos guardar nossos julgamentos e pedir a conta? – Sam disse, desconfortável com a verdade que Theo jogara em sua cara.

– Vamos.

Ao saírem do bar, Sam a conduzia pela mão direita, a porta fechou-se automaticamente, prensando a mão esquerda de Theo, a mão que fora baleada.

– Minha mão! – Theo disse se contorcendo, segurando a mão.

– Desculpe, não lembrei da porta. A mão não cicatrizou até agora?

– Se você trocasse meu curativo saberia que não cicatrizou muita coisa!

– Ok, eu troco seu curativo quando chegarmos. Vamos.

– Que merd*, essa porr* dói… – Theo permanecia curvada, o curativo manchava-se de vermelho.

– Theo, pare de drama, você apanhou muito mais que isso dos seus clientes e não deve ter reclamado nem metade.

Imediatamente Theo ficou com uma expressão irada, foi como se a dor na mão se convertesse em raiva, respirou fundo e ergueu-se.

Sam percebeu, se arrependeu do que dissera, ficou com um semblante consternado.

– Desculpe, eu não quis dizer isso, venha, vamos para o hotel. – Sam pegou em seu braço.

– Não encoste em mim. – Theo desvencilhou de forma abrupta de sua mão e começou a caminhar.

– Você vai sozinha?

– Vou.

Heterocromia: s.f.: Coloração diferente de partes que devem ter igual cor, como a íris dos dois olhos.

Fim do capítulo


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Comentários para 5 - Capítulo 5 - Heterocromia:
Lea
Lea

Em: 21/07/2021

Uma pequena descrença da Samantha,a submissão dela me deixa nervosa!!

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Aurelia
Aurelia

Em: 10/04/2020

Samantha não tem jeito, e ainda ficou com ciúmes da garçonete.

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Frost
Frost

Em: 05/03/2016

Quando li essa linha da Sam em que ela diz o que pensa sobre homosexualidade, lembrei na hora do marido conservador da minha tia que é Sargento da Policia. Era como se o ouvisse falando aquelas coisas. Espero que Theo consiga mudar esse pensamento dela. E eu queria que Theo tivesse ficado com a loira exótica do bar. haha

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Ana_Clara
Ana_Clara

Em: 30/11/2015

Esse capítulo é um dos meus preferidos! Tem de tudo, desde momentos engraçados, um certo clima de azaração e com sempre um pouco de drama. Adoro! E sempre que leio a Sam com suas ideias retrógradas dou graças pela oportunidade que o ser humano tem de melhorar, de viver em constante mudança. Pq só muita fé depois de ouvir tudo o que ela pensa e a maneira que enxerga a vida. rsrs

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Julia Eidrian
Julia Eidrian

Em: 09/09/2015

Duas doidas Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk ha BIGODE Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. E bom a Sam Ver que esse Mike não vale o que o gato enterra . Sam fez mer...... Lendo tudo e amando

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