I – Prazer, Alex!
Amor - o amuleto da vida
I – Prazer, Alex!
E por um triz não bati naquele carro, preciso dormir mais, descansar e deixar de correr um pouco, minha rotina nos últimos dias tem acabado comigo. Quando cheguei ao meu apartamento estacionei minha moto e subi correndo, só queria tomar uma ducha e cair nos braços de Morfeu. Quando acordei já passava das três da tarde em meio a um calor escaldante. Naquele dia a preguiça me fez companhia, só quis saber de cama e sofá, liguei para um restaurante e pedi uma marmitex.
No final do dia peguei meu notebook para ver as fotos da noite passada, eu tinha tocado em umas das principais baladas paulistanas, já tem mais de cinco anos que me aventuro como DJ, esta atuação tem sido muito prazerosa, mas meu grande sonho é ser uma renomada escritora, o que é muito complexo, porém continuo batalhando.
Atualmente estou com 24 anos e meus amigos me chamam de Alex. Meu nome é Alexandra Roriz Leão, moro sozinha em São Paulo, tenho um apartamento que herdei dos meus pais no bairro Bela Vista, perdi os dois em um acidente de carro ainda na minha infância, tenho poucas recordações e fui criada pelos meus avós maternos.
Na época, eu tinha uns sete anos, meus pais me deixaram na casa dos meus avós e viajaram para outro estado a trabalho. Após uma semana, lembro-me da vovó chorando muito e meu avô tentando explicar que eu não mais veria meus genitores. O acidente foi na rodovia Régis Bittencourt, popularmente chamada de "Rodovia da Morte", já que é uma das rodovias com o mais alto índice de acidentes com mortes de todo o Brasil. Infelizmente o carro dos meus pais foi engavetado por um caminhão e eles morreram no local do acidente. Eu demorei a entender, sempre imaginava que a qualquer momento eles voltariam para ficar comigo, mas este dia nunca aconteceu, fui acometida apenas pela tristeza e inebriada pela infinita saudade. Com os anos fui acostumando com a perda e meus avós sempre tão amáveis me deram todo o suporte necessário.
Antes do acidente que levou meus pais, nós morávamos em São Paulo, no meu atual apartamento. Já meus avós sempre moraram no litoral, especificamente na baixada santista e com eles morei cerca de dez anos. Porém, com a chegada da maioridade retornei para a capital e assumi o apartamento que tinha ficado fechado por muito tempo. Quando voltei tudo era diferente, a cidade não era a mesma e muito menos eu.
Sempre gostei de música e em Santos já me arriscava como DJ em casas noturnas. Aqui em sampa foi bem mais fácil, tinha um leque de opções e para a minha felicidade as inúmeras baladas voltadas para o público LGBT começaram a curtir muito meu trabalho, eu só sentia muita falta do mar, tinha como hábito frequentar a praia diariamente, seja para surfar ou apenas admirar o pôr do sol. Tinha dias que eu quase largava tudo e ficava muito saudosa. Sempre que possível eu corria para os braços dos meus avós, eles me recebiam com muito amor e carinho, eu tinha sorte, pois além de avós, eram eles meus pais e amigos, me apoiavam em tudo e minha família tinha boas condições financeiras, nunca me faltou nada, pelo contrário, temos comodidade e estabilidade.
Eu tenho grande facilidade pra me adaptar e não foi diferente em SP. Já tinha passado por outras experiências quando morei por duas vezes no exterior, o que foi fundamental para minha maturidade e independência. Na primeira vez fui para Espanha, fiz intercâmbio, por lá fiquei uns seis meses e para orgulho dos meus avós voltei com espanhol fluente. Minha outra estadia no exterior foi em Dublin e lá na Irlanda me profissionalizei como DJ, toquei no Dublin Fringe Festival e em diversos eventos de música eletrônica, mas eu gosto mesmo de comandar pickups em baladas do meu país. Nas duas vezes que morei no exterior, contei sempre com a companhia do meu primo e melhor amigo, meu querido Théo. Nós sempre adoramos ficar juntos, até brincamos que somos almas gêmeas e para nossa alegria, moramos próximo um do outro.
O Théo é um excelente companheiro e depois que se assumiu morou um tempo comigo, pois meus tios não aceitam sua sexualidade. Mas já tem um tempinho que ele leva uma vida de casado, após um ano de namoro com o Luiz, eles resolveram morar juntos, apesar de sentir muito falta do meu melhor amigo, fico feliz, pois eles nasceram um para o outro, se cuidam e principalmente se amam muito. Ambos até sonham em construir uma família quando terminarem a faculdade, Théo cursa arquitetura e Luiz engenharia. Os dois possuem muitas coisas em comum e um hobby deles que muito me incomoda é a constante mania de querer a qualquer custo arranjar a namorada perfeita para Alex, o grande problema: eu sou uma solteira feliz e convicta, gosto e prezo pela minha liberdade, não quero me prender a nenhuma mulher, mas eles não compreendem e sonham com o dia que sairei em casais com eles. Não gosto de desanimar e muito menos iludir as pessoas, sou muito realista, por isso, já expliquei incansáveis vezes que eu pego e não me apego.
Os meninos podem ser classificados como os cúpidos falidos, se não fosse trágico seria muito hilário. Uma das mulheres que eles me apresentaram, era uma guria linda, a sulista representava em todos os sentidos, simpática, gostosa, experiente,... mas como nada é perfeito a mulher se apaixonou muito rápido e me pediu em namoro no segundo encontro, claro que nunca mais encontrei com ela, eu nunca namorei, tenho pavor de relacionamentos e me enjoo rápido. Não tive nenhum trauma para ser assim, já conheci muitas mulheres interessantes, mas sou adepta da filosofia de vida do desapego.
Em outra tentativa os aprendizes de cúpido resolveram me apresentar para uma tatuadora carioca que tinha se mudado para SP. Com facilidade me recordo daquela mulher chamada Tatiana e essa com certeza foi uma das pessoas mais legais que me envolvi. Nosso lance durou alguns meses, pois ela não me cobrava e eu muito menos. Tati adorava me acompanhar nas baladas e não se importava quando eu conhecia alguma outra garota. Foi com ela o primeiro ménage que participei, nós já tínhamos bebido bastante e no final de determinada noite encontramos com uma amiga dela e acabamos ficando. Encerramos a noite em um motel, foi uma loucura, elas topavam de tudo e eu não me fiz de difícil, tivemos uma das noites mais prazerosas da minha vida. Realizei uma das minhas principais fantasias sexuais, ir para cama com duas mulheres.
Mas nem tudo na vida são flores e após uma semana daquela deliciosa noite, Tati me liga informando que estava voltando para o Rio de Janeiro e eu acabei não encontrando mais com ela. Não senti saudades, não me aborreci e nem mesmo derrubei nenhuma lágrima. Eu não tinha nada sério com ela, apenas tinha perdido uma amiga que curtia as noites comigo, juntas aproveitávamos e curtíamos a vida. As orgias e outras tantas loucuras não teriam a mesma graça sem ela. Tati entendia plenamente minha filosofia de vida, pois vivia da mesma forma.
As tentativas do meu primo e seu namorado foram inúmeras e a mais bizarra foi quando me apresentaram para uma mulher mais vivida, a Angélica, que tinha 40 anos. Se você pensa que pela idade ela queria encontrar alguém para amarrar, acertou! Mas não era se amarrarem no sentido de casar e tudo mais. Ela gostava mesmo de amarrar as mulheres que levava para a cama, curtia umas coisas mais pesadas e ela era um tanto ciumenta.
Em determinada noite ela não gostou da minha proximidade com algumas mulheres, ela até chegou a espantar algumas garotas comentando que eu não precisava de nenhuma ninfeta demonstrando interesse por mim. Já no carro a Angélica estava diferente, um pouco brava e disse que iria me castigar, pensei no máximo que levaria alguns tapas, até ai beleza, levei na esportiva, eu já tinha bebido, estava um pouco alegre e queria experimentar algo mais selvagem. Quando chegamos ao motel bebemos várias doses de tequila (bebida que até hoje não consumo, pois tenho trauma). Depois da bebedeira ela me prendeu na cama, começou a me bater com um chicote e eu nunca gritei tanto na minha vida. Eu pensando que aquilo não poderia ficar pior, aquela infeliz ainda foi embora e me deixou presa na cama. Depois de algumas horas consegui pegar o telefone, disquei para o meu primo pedindo socorro e usando muitas palavras “bonitas”, demonstrando minha indignação, só não chamei ele de santo. Não demorou muito os dois chegaram assustados com a cena, me soltaram e prometeram que não me apresentariam mais ninguém, era o mínimo depois do ocorrido, como pedido de desculpas eles ainda tentaram pagar a conta do motel, mas aquela louca já tinha pago antes de sair. Para o meu alívio nunca mais cruzei com aquela sádica.
Como diz o ditado “e por falar em coisa ruim”, meu telefone toca e é meu primo.
- Théo, você não morre tão cedo.
- Alex, aposto que estava falando muito bem da minha pessoa né queridinha (disse ele com sua habitual ironia e humildade).
- Na realidade pensava em vocês. Como vai meu casal favorito?
- Estamos aqui morrendo de saudades e por isso te liguei, queremos que você venha jantar conosco hoje. Luiz já esta preparando algo bem gostoso para nós e o cheiro esta ótimo.
- Hoje? Não! Trabalhei na noite passada e ainda estou cansada. Podemos nos encontrar amanhã, lembra que comentei contigo? Vou tocar naquela balada que vocês adoram.
- Poxa! Plena quinta-feira, depois vou morrendo de sono para faculdade, mas nós queremos ir sim, bom eu te aviso. Mas não mude de assunto espertinha, vem jantar aqui em casa, por favor!
- Primo, de verdade estou pregada. Tenho trabalhado muito e nesta noite preciso dormir, não vou nem escrever nada, o cansaço esta demais. Acredita que pela manhã quando larguei e estava voltando para casa quase bati a moto?
- ALEXANDRA E VOCÊ NÃO ME AVISA E NEM ME LIGA. PERDEU O AMOR PELA VIDA? COMO VOCÊ ESTA? JÁ FALEI QUE NÃO GOSTO DESTA MOTO.
-Théo, calma e para de gritar! Estou bem e não aconteceu nada, foi só um susto e eu estava muito cansada e não prestei muita atenção, mas o outro motorista foi rápido e nada aconteceu. Estou viva, sã e salva, sem nenhum arranhão.
- Sua palhaça, não brinque com coisa séria. Você esta bem mesmo?
- Sim! Tudo em paz e inteira (comentei rindo).
- Alex, então você não vem mesmo?
- Eu adoraria. Gosto muito da comida do Luiz e vou acabar comendo besteira por aqui. Além disso, também estou com saudades de vocês dois. Mas hoje eu preciso descansar e amanhã eu encontro com vocês.
- Tudo bem, fazer o que. Bom descanso então e se cuida viu.
- Pode deixar e vocês também. Um beijo para o Lu e outro para você.
- Tchau! Beijos.
Depois do diálogo com meu primo resolvi procurar algo na geladeira, pois meu estômago já estava reclamando, encontrei um alimento congelado, algo que nunca falta na minha casa, em alguns minutos estava pronto e logo jantei. Em seguida meu celular toca e era um amigo dono de um barzinho alternativo.
- Alô!
- Alex, é o Pedro. Você pode falar?
- Diga Pedrão. Posso sim e o que você manda?
- Quero te pedir socorro. Meu DJ residente avisou só agora que não vem, quebra essa para o seu amigo aqui vai.
- Poxa, estou muito cansada, pior que hoje não vai rolar.
- Alex, só desta vez, por favor! Eu já recorri para várias pessoas, mas só você atendeu, nem precisa ser a noite toda. Mas com essa crise os negócios estão difíceis e eu nem posso me dar ao luxo de fechar hoje, só que sem música não tenho público. Amiga, por favor!
- Sei não. Vou ver aqui.
- Valeu mesmo, até daqui a pouco (na sequência desligou).
Como assim? Eu disse que iria ver, não confirmei nada e ele desliga. Já que o dever me chama, lá vou eu. Tomei banho, me arrumei e fui para mais uma noite de trabalho. O trampo foi bem tranquilo e como prometido nem precisei estender tanto, por volta das três da manhã terminei, fui para casa e consegui meu merecido descanso.
Fim do capítulo
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lia-andrade
Em: 17/12/2015
Simplesmente adorei esse primeiro capítulo. Parabéns! Já anseio pelo próximo, não demore porque pelo que vejo a história promete. Alex é demais.
Beijos, até mais.
Resposta do autor em 17/12/2015:
Olá! Lia,
Muitíssimo obrigada!
Pode deixar que não vou demorar, em breve já vou postar o segundo capítulo.
Beijos e abraços. Até breve!
May.
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Mille
Em: 17/12/2015
Gostei da criatividade.
Morri de rir na hora que a Alex disse que ficou com trauma se tequila.
Gostei desse primeiro capítulo, seja bem vinda.
Abraço
Resposta do autor em 17/12/2015:
Mille, como vai?
Muito obrigada! Fico feliz por saber que você gostou.
Um grande abraço e beijos,
May.
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