Na cova do leão!
Capítulo 34. . Uma fênix pousou.
Na parte da tarde, a major pediu ao sargento Prado para que ele preparasse a viatura oficial do comandante do regimento, pois, ela iria sair para fazer uma visita.
– Chegou a hora, não é major?
– Sim sargento, creio que chegou e agora não há mais como adiar.
A capitã ao ver o movimento além do normal na sala da major, ela resolveu ir saber o que estava acontecendo.
– Oi amor, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
– Quem deveria fazer essa perguntas seria eu, não é major?
– Sim capitã, mas eu vou contar o que está acontecendo.
Olhando seriamente para a capitã e para o sargento respondeu:
– Querida, vou fazer uma visita ao seu pai.
– O que? Você endoidou Márcia?
– Não querida, não endoidei não. Só vou retribuir a visita que ele veio fazer para você aqui no regimento, é só uma cortesia.
– Eu não estou acreditando no que estou ouvindo!
– Bom se você não está acreditando, eu não posso fazer nada. Mas se quiser vir comigo, eu aceito.
– Por favor meu amor, deixe o meu pai pra lá!
– Andressa entenda uma coisa, eu preciso ver o seu pai, ele tem que saber onde ele se meteu quando resolveu fazer do regimento de cavalaria a casa da mãe Joana. E já é hora de saber que eu não morri como era o desejo dele.
– Eu sei major e também sei que você não mudará de ideia. Mas não conte com a minha presença para assistir essa cena, disse gritando para a major.
– Eu só gostaria que você entendesse capitã, mas não posso fazer nada para que mude de ideia.
Andressa saiu e Márcia a seguiu com o olhar. Nunca haviam brigado e a primeira briga estava sendo justamente por causa do pai da esposa e também pela intransigência da capitã. Sentou-se na cadeira da sua mesa de trabalho e pedindo para que o sargento saísse, pôs-se a chorar. Pensou o quanto a sua vida havia mudado com a presença de Andressa, dos sonhos em relação aos filhos, da convivência de paz e harmonia que depois de muitos anos, conseguira readquirir e da alegria de se sentir viva novamente.
Estava divagando sobre sua vida anterior com Celina e agora a sua vida posterior com Andressa. Como elas eram parecias em alguns detalhes, até o gênio era praticamente igual. Cortando todos os seus pensamentos, o sargento Prado veio avisá-la de que a viatura já estava pronta.
Pegou o quepe, pôs o revólver na cintura e saiu. Ao sair viu que a capitã Andressa entrara rapidamente para dentro de sua sala. Aquilo entristeceu ainda mais a major, pois, ela não esperava que a capitã fosse agir assim. Andressa não entendia o quão era importante a ida da major àquela unidade policial. Olhou para a mão esquerda e viu a aliança de casamento e pensou se tinha mesmo feito a coisa certa. Mas como dizia o ditado “quem está na chuva é para se molhar”, e a major nunca corria de um desafio.
Ninguém quis acompanha-la até a unidade da Força Tática e ela sabia o porque, por isso, não insistiu com ninguém, nem com a esposa que agora nesse momento olhava a sua saída do quartel pela janela da sala.
Ao parar o carro no estacionamento, todos ficaram olhando para saber quem estava ali naquele veículo militar e ainda mais sendo da cavalaria. Os soldados que estavam olhando primeiro viram um par de botas com esporas e depois quando a pessoa em si saiu do carro com o uniforme da cavalaria que continha nos ombros e no bibico duas estrelas prateadas e uma dourada, usava óculos escuros tipo policial rodoviário e virou-se em suas direções observando a tudo viram de quem se tratava a pessoa em questão quando viram no lado direito do peito bordado o nome Mantovanni.
– Minha nossa senhora, é a major Mantovanni! Exclamou o sentinela que estava na guarita do estacionamento.
– É ela mesma, o que essa mulher veio fazer aqui?
– Só Deus sabe senhores, mas, se ela veio aqui arrancar o chifre daquele capetão do major Pires Paiva, eu ajudo, disse outro soldado.
– Bom dia senhores, disse batendo continência para os que estavam ali.
– Bom dia major Mantovanni, responderam.
– Onde posso encontrar o major Pires Paiva?
– Ele está ali no segundo andar major, está vendo aquela janela que está aberta?
– Sim, aquela próxima da caixa d'água?
– É lá que a senhora vai encontrar aquele demônio major. Tome cuidado que isso é coisa ruim e se precisar para arrancar os chifres dele é só chamar.
– Obrigada soldado Macedo.
– Disponha major.
Saiu rindo sobre o que o soldado havia falado do sogro: “Arrancar os Chifres”, pensou. Ali mesmo já descobriu que a fama do major entre os soldados era péssima.
Chegou em frente ao oficial do dia e perguntou pelo major. Recebeu a informação de que ele estava na sala do tenente coronel Cardoso e logo retornaria. Disse ao rapaz que esperaria o major em sua própria sala. Entrou e sentou-se na cadeira da mesa do sogro e ao olhar a sala, viu que em cima da mesa do major havia a foto dele com a esposa e os filhos quando pequenos. Viu Andressa com um vestidinho cor-de-rosa e notou que ela não havia mudado em nada. Foi despertada de sua curiosidade quando ouviu:
– O que você faz aqui?
– Boa tarde para o senhor também meu sogro.
– Seu sogro o cassete major, você pensa que eu aceito esse seu “CASAMENTO” com a minha filha?
– Major, eu não vim aqui saber se o senhor gosta ou não do meu casamento com a sua filha e nem vim lhe pedir consentimento, porque ela já me deu até mais do que você imagina.
– Então o que você quer aqui, seu estrume de cavalo.
– Em primeiro lugar, prefiro ser estrume de cavalo do que valer menos do que uma costela de vaca ao qual, é o seu caso.
Olhando diretamente para o sogro, a major disse:
– Major Pires Paiva, vamos direto ao assunto que me trás aqui?
– Sim vai desinbucha logo!
– Eu sei que o senhor major sempre esteve envolvido em muitas falcatruas durante toda a sua vida militar.
– Você não pode provar nada major, nada! Falou já sentindo que vinha chumbo para o seu lado.
– Cale-se Paiva eu ainda nem comecei, falou com o dedo em riste na cara do major.
– Como eu estava dizendo antes de ser brutalmente interrompida, o senhor sempre esteve envolvido em muitas falcatruas durante toda a sua vida militar. Eu vim aqui propor para você Paiva, que peça a sua exoneração da polícia militar.
– O que? Você só pode estar louca?
– Sabe que quando eu vinha para cá agora a tarde, a sua filha me disse a mesma coisa que o senhor acabou de me dizer. Como vocês em partes se parecem, até na intransigência.
– Ainda bem que ela ainda tem um pouco de juízo naquela cabeça!
– A coisa é bem simples major, o senhor se exonera da corporação e todas as acusações às quais está respondendo serão arquivadas, inclusive a de assédio sexual e estupro contra a minha esposa Celina com quem eu na época do ocorrido ainda era casada.
– O cheiro daqueles cavalos estão fazendo mal a você Mantovanni, disse rindo.
O riso do sogro da major, era o medo que estava sentindo em relação aos assuntos e processos aos quais o major respondia. A major sabia que pegara o ponto fraco do sogro e esse por sua vez, tentava um meio de ganhar tempo. Como essa infeliz descobriu sobre a tenente Celina?
– E então Paiva, como vai ser? Não se esqueça que sobre a sua linda cabeça ruiva, ainda pairam as acusações de milícia e tentativa de assassinato de um oficial da cavalaria, ou seja, EU, sua nora. Eu já sei quem são os envolvidos e quem é o mandante dessa milícia, portanto, meu “querido sogro”, você pode até se safar de alguns processos e continuar na polícia. Porém, da acusação de estupro da Celina e da tentativa de assassinato da minha pessoa, você não sairá ileso, pode apostar.
Levantou da cadeira e encaminhava-se para a porta quando o major falou:
– Você pensa que eu tenho medo Mantovanni? Eu não tenho medo de você e de ninguém.
– Se não tem medo Paiva, porque então mandou aquele jovem tenente Gregório fazer o serviço sujo que poderia ter sido seu? Ah, faça-me o favor major, vá ver se eu já estou la na esquina!
– Eu não vou desistir e nem vou me exonerar, tenha a plena certeza disso Mantovanni!
– Veremos Paiva, veremos até onde os seus aliados irão. Pelo que vi aqui, você não é bem quisto com o pessoal dessa unidade.
Despediu-se dos soldados e já estava entrando no carro quando foi interpelada pelo soldado Macedo.
– O que houve soldado?
– Nada major, eu só quero saber se tem alguma vaguinha lá no regimento?
– Porque?
Ah major, eu quero ir trabalhar com a senhora, falou o rapaz.
– Faça o seguinte, vá na próxima quarta-feira de manhã ao regimento com os seus documentos e deixe que com o coronel Cardoso, eu me entendo.
– Obrigada major, vá em paz e boa semana.
– Obrigada soldado.
Quando a major saiu o soldado Macedo disse aos amigos:
– A major Mantovanni é porreta mesmo, deve ter deixado o capetão fulo da vida.
– Sabe com quem ela é casada Macedo? Perguntou o soldado Clóvis.
– Com a filha do capetão ali, disse o sargento Peres.
– Com a Andressa? A major é casada com a capitã Andressa?
– Sim é com ela mesma, ou seja, o major Pires Paiva, é sogro da major Mantovanni.
– Chiiiiiiii, danou-se. Então é agora que o capetão vai bufarrrrrrrrr.kkkkkkkk.
Quando estava saindo do estacionamento, ouviu alguém que a chamava e parou. Olhou pelo retrovisor e viu o tenente coronel Cardoso que conversava com a capitã Andressa e desceu rapidamente do carro indo em direção aos dois.
– Boa tarde major Mantovanni!
– Boa tarde senhores, disse olhando seriamente para a capitã.
– Boa tarde para a senhora também major, respondeu Andressa.
O tenente coronel percebeu o clima que se instalou entre os três e tratou de amenizar a situação.
– Foi bom saber que você estava por aqui Mantovanni, eu estava justamente conversando com a capitã sobre um churrasco que vou dar em minha casa amanhã a noite e gostaria muito da presença de vocês.
– Obrigada Cardoso, mas acho que não poderemos ir, não é capitã? Perguntou cerrando os dentes.
– É verdade Cardoso, quem sabe uma outra vez.
Despediram-se do oficial e saíram. Márcia perguntou para Andressa:
– Você vai para o regimento ou já está indo para casa?
– Vou para casa e você?
– Tenho que ir ao regimento e deixar a viatura para depois ir embora.
– Então vou para casa e te espero, disse se afastando.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Márcia chegou em casa por volta das oito horas da noite e Andressa a esperava com o jantar pronto. Ela entrou e foi direto para a biblioteca, onde deixou o notebook e a pasta de serviço. Serviu uma dose de vinho e sentou-se pensando no que Andressa havia ido fazer no quartel da Força Tática. A major não entendeu o porque da capitã ter ido até lá. Escutou uma leve batida na porta e viu quando ela entrou, mas não teve reação alguma. Andressa chegou perto de Márcia e disse:
– O que houve amor, aconteceu alguma coisa lá na Força Tática?
– Não aconteceu nada, está tudo bem. Como pode ver eu não morri e o seu pai também não, mas o que você foi fazer lá?
– Eu fiquei lá no regimento pensando no que eu tinha falado para você e me senti muito mal com a minha atitude. Eu deveria ter ido com você quando me perguntou e ao invés disso, te magoei.
– É Andressa eu te entendo, por isso não falei nada. Mas sabe qual a pior atitude que me aconteceu? Foi você correr e se esconder na sua sala, sabe qual a impressão que eu tenho? Que o bandido nessa história sou eu e não o seu pai. As minhas atitudes parecem que não lhe agradam.
– Eu tenho medo que algo te aconteça novamente Márcia, você sabe o quanto meu pai é perigoso e vingativo. Eu fique desesperada quando você disse que ia até lá e logo pensei um monte de coisas e foi por isso que tomei a decisão errada. Depois quando eu tinha acabado de chegar, eu encontrei o Cardoso na entrada e fiquei conversando com ele perguntando se tinha acontecido alguma coisa e foi quando vi você saindo. Fiquei aliviada amor, quando vi você vindo em nossa direção. Por favor me perdoa essa atitude, eu entendi tudo errado Márcia, disse chorando copiosamente.
Márcia então abraçou Andressa e disse:
– Calma amor, isso já passou. Esse episódio está riscado da nossa vida, assim, como o dia de hoje, tudo bem?
– Sim amor e mais uma vez me perdoa.
– Amor já passou certo, tudo bem! Eu te amo Andressa.
– Eu também amor, mas só me atende mais um pedido?
– Sim amor, qual o seu desejo madame?
– Vem fazer amor comigo, vem me amar.
Encerrado o assunto, Márcia e Andressa foram tomar banho e relaxar. Mal sabia a major, que a noite ainda nem tinha começado. A luz suave, a cama totalmente perfumada e enfeitada com detalhes românticos, o som preparado, o vinho branco, as uvas e maçãs davam um toque todo especial ao ambiente. Márcia estava em êxtase e sem que Andressa esperasse, puxou-a para junto de si e pediu que ela a deixasse amá-la.
Sem mais demorar, ambas começaram uma mistura de gostos e sensações. Márcia estava louca de desejo e Andressa sabia disso. Antes de se amarem, ela foi até o som e colocou para tocar no aparelho um cd com vários sucessos da MPB. A música que começou embalando aquela madrugada de muitas que teriam fazendo amor era Sá & Guarabira.
Fonte da Saudade
Esse quarto é bem pequeno
Prá te suportar...
Muito amor, muito veneno
Prá pouco lugar...
O teu corpo é uma serpente
A me provocar...
E teu beijo a aguardente
A me embriagar...
Essa boca muito louca
Pode me matar...
Se isso é coisa do demônio
Eu quero pecar...
Fecha a luz, apaga a porta
Vem me carinhar...
Diz aí prá minha tia
Que eu fui viajar...
Diz que fui prá Nova Iorque
Ou prá Bagdá...
E que isso não é hora.
De telefonar...
Eu já sei que qualquer dia
Tudo vai dançar...
Mas a fonte da saudade
Nem o tempo vai secar...
Márcia e Andressa se amaram até chegarem a exaustão total. O desejo era tão intenso que uma parecia competir com a outra em matéria de dar e receber prazer. Dormiram abraçadas até o dia amanhecer.
Fim do capítulo
O amor verdadeiro sempre vence e derruba as barreiras.
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: