Capítulo 4
Nos próximos dois anos eu registrava cada momento importante de nossas vidas, para quando Emily voltasse a ver. Cada pequeno detalhe, cada um de nossos sorrisos, nada escapava de minha câmera e assim também eu fazia com minha telas, eu queria lhe dar o prazer de ver tudo o que já havíamos passado juntas, os primeiros passos de Edgar, os olhos do nosso pequeno homem da casa que eram tão parecidos com os dela. Eu tinha tantas esperanças de que tudo desse certo, rezava todas as noites para que Deus atendesse o meu pedido.
Edgar já havia parado totalmente de tomar leite materno, Emily já poderia realizar a cirurgia, eu procurava ser forte e não demonstrar o medo que sentia eu precisava estar confiante, ser forte por mim e por ela.
-E se eu não voltar a ver Juh?
-E se você voltar? Meu amor eu vou continuar te amando do mesmo jeito.
-Eu não quero passar por tudo de novo Juh, pela dor de saber que eu não vou voltar a enxergar, essa chance de voltar a te ver é uma das coisas que mais me alegram hoje, eu não quero decepcionar você.
-Meu amor não diz besteira, eu te amo, te amei até hoje desse jeitinho por que isso mudaria? Pra mim você é perfeita Emily em cada detalhe, em cada sorriso.
-Promete que não vai me deixar Juh?
eu queria que ela visse nos meus olhos que eu nunca a deixaria, sorri lhe respondendo, por que lá no fundo eu sabia que um dia ela iria ver.
A cirurgia aconteceu quase três meses depois, lembro de estar tão nervosa quanto ela, da sua mão fria apertando a minha em busca de confiança, do pequeno Ed já tão questionador e curioso querendo saber de tudo.
Quando ela despertou, estava com faixas sobre os olhos, ainda grog pelos sedativos ela chamou por mim. Eu estava ao seu lado, minha respiração estava agitada e não pude responder, apenas enlacei minha mão com a dela.
Ela ainda permaneceu alguns dias com as ataduras, Ed e eu nos revesávamos para cuidar da nossa paciente mais linda, nós dois dormíamos num pequeno sofá e quando eu estava cansada o pequenino ficava conversando com ela. Lembro de acordar de madrugada algumas vezes e os ouvir, nesses momentos mais do que nunca eu desejava que tudo desse certo.
Estava deitada em seu colo horas antes dos exames finais, Emily acariciava meus cabelos e cantava uma música de ninar qualquer esperando que Edgar pegasse no sono.
-Emily eu to com medo. -confessei em um sussurro.
-Medo de que Juh?
-De que você não me ame, de que não me ache bonita, de que encontre alguém melhor que eu.
- Eu também tenho meus medos Juh, mais não de não te achar bonita, meus medos são de perder você, de você se cansar do fardo que eu sou na sua vida, de agora que eu possa voltar a ver você não sinta mais pena de mim e me deixe.
-Eu tenho vários sentimentos por você, mas pena não é um deles, você é a mulher mais linda e mais forte que eu já conheci.
A cada volta que o médico dava retirando as faixas eu sentia algo dentro de mim se remexer, a ansiedade chegava a ser angustiante, a expectativa me sufocava aos poucos, quando só faltavam os últimos curativos eu pedi ao médico que me deixasse tirá-los.
Aqueles olhinhos desfocados ainda estavam vazios, dilatados e tão longe de poder me ver, cai no chão de joelhos chorando silenciosamente para que ela não ouvisse, perguntando a Deus o porquê.
Delicadamente ela me puxou para seus braços me confortando, com carinho pressionou seus lábios nos meus e se afastou um pouco limpando minhas lágrimas.
-Não chora meu amor, eu nunca mais quero te ver chorar.
E sorrindo me beijou, foi então minha vez de afastá-la e mergulhar de encontro aqueles olhos. Neles eu vi a sua alma, a mesma alma que me completava e me fazia completamente feliz, eu somente agradecia por tudo que havia passado em minha vida, por todas as provas que já havia enfrentado, por todos os sofrimentos, pois eles me levaram a ela, a minha doce Emily, que me ensinou que primeiramente devemos amar com o coração...
Eu tive uma vida sossegada ao lado dela, cheia de desafios sim, mas com alegrias incontáveis. Quando ela partiu a alguns anos atrás, pensei que nunca mais fosse voltar a ser feliz, mais ela me deixou algo que sempre me faria se lembrar do seu sorriso, meu filho Edgar, agora casado, com seus próprios filhos, ela me deixou uma família linda, que esteve ao meu lado até quando eu já não tinha mais vontade de lutar.
Hoje eu estou velha, sinto que já não á muito o que viver, os melhores dias da minha vida eu passei com ela, mas não tenho ansiedade da morte chegar. Pois sei que quando for a minha hora, a minha doce Emily estará me esperando para me buscar e talvez mais uma vez nós fiquemos juntas no jardim do paraíso, eu desenhando linhas coloridos em uma tela de nuvens e ela ao meu lado tocando em sua flauta uma música qualquer que me faça criar.
Fim do capítulo
Fim
espero que tenham gostado
bjs
Am´s
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