Capítulo 29. . I definitely want you
Emily entreabriu a boca para tentar dizer alguma coisa à Anne, mas sua voz falhou. A morena sentiu seu coração apertar dentro do peito. Será que aquela era a garota de quem a ruiva estava falando na manhã de hoje?! Pensar nessa possibilidade deixou-a completamente desconfortável e sem graça.
Quem acabou dando a iniciativa foi Mila, que estava logo atrás de Emily, e por acabar não percebendo o clima entre as duas, agiu da forma mais inocente possível.
-- Emily, meu Deus. Me desculpa! Eu estava distraída e... -- Mila aproximou-se das duas, tentando verificar se estava tudo bem, e acabou notando que havia alguma coisa a mais entre as duas, e embora ela não soubesse o quê, o clima pesado e intenso transmitido pela troca de olhares entre elas era evidente.
-- Está tudo bem. -- A ruiva demorou, mas por fim retomou o controle sobre seu corpo, sendo despertada completamente do transe em que estava por ter encontrado Anne novamente. Suas mãos pararam o contato com os braços da morena, mas antes que ela mesma pudesse se afastar, Anne se encarregou de fazer isso.
-- Desculpa, eu não sabia que estaria acompanhada. Eu só... -- Anne segurou a ponta da língua entre os dentes, recusando-se a continuar falando. A morena sentiu sua respiração falhar pelo nervosismo de vê-la com outra pessoa que não fosse ela. Quem Emily pensava que era para já estar com outra garota depois de tudo que havia acontecido entre elas.
A ruiva pressionou os lábios e mordiscou a parte interior da boca, buscando quaisquer palavras que ela pudesse dizer tanto para Mila quanto para Anne. Mas ela não achou nenhuma. Seu olhar alternou cerca de três demoradas vezes entre as duas enquanto suas falhas tentativas para dizer alguma coisa faziam com que sua expressão facial ficasse de certa forma engraçada e indefinida. Ela entreabria a boca como se fosse finalmente começar a falar, mas depois soltava um forte suspiro e pressionava os lábios os lábios em seguida.
-- Desculpa por essa confusão. -- Após perceber a situação embaraçosa na qual Emily estava, Mila decidiu intervir, ajudando-a com as palavras. -- Você está bem, se machucou? -- Dessa vez a jovem se dirigia à Anne, seu olhar voltou-se para a morena de cabelos ondulados. Mila tentou uma aproximação, mas por puro reflexo Anne acabou se afastando, impedindo qualquer contato.
-- Está tudo bem, eu estou bem. -- A morena gaguejou, falando de forma completamente desconcertada.
Mila revirou os olhos após sentir-se incomodada com a reação de Anne.
-- Eu sou sempre tão desastrada. -- Ela resmungava, repreendendo-se. -- Ainda bem que Emily te segurou, senão... -- A ruiva que até então não conseguia manter seus olhos sobre Anne, olhou-a novamente após ouvi-la falar em um tom tão calmo.
-- É, ainda bem. -- Os olhos de Anne foram de encontro com os de Emily, trazendo não só para ela, mas também para a ruiva, todo aquele choque de sentimentos e desejos. A ruiva engoliu seco ao sentir todo o nervosismo subir pelo seu corpo novamente.
-- Anne, essa é Mila. Mila, Anne. -- A ruiva falou apressada, enquanto tentava causar qualquer distração que interrompesse a troca de olhares entre elas.
-- Essa definitivamente não foi a melhor maneira para te conhecer, mas é um prazer mesmo assim. -- Mila sorriu amigavelmente para a morena. -- E desculpa mais uma vez.
-- Não se preocupe Mila, essas coisas sempre acontecem. -- Anne tentou manter-se firme perante àquela mulher incrivelmente linda que estava ao lado de Emily. -- Eu acho melhor eu ir, não quero atrapalhá-las. -- Anne gesticulou com uma das mãos, apontando que seguiria para fora da casa.
-- Não se preocupe, já estamos de saída. Não é mesmo? -- A ruiva olhou para Mila, que prontamente concordou. -- Fique a vontade, mas acho que o Robbert não está em casa. -- Afirmou.
-- Eu sei. -- A morena deixou escapar, mas hesitou logo em seguida.
Ouvi-la dizer isso deu a Emily a certeza de que Anne estava atrás dela, provavelmente querendo conversar sobre o que havia acontecido entre elas, e perceber isso fez a ruiva agradecer internamente por realmente estar de saída com Mila. Ficar a sós com Anne era perigoso de mais para que ela pudesse o fazer de novo. Sempre que a morena ia atrás dela as coisas terminavam em um beijo ou coisa maior, e embora Emily quisesse muito todas essas coisas, tê-las enquanto Anne estava com Robbert era inaceitável, e ela jamais admitiria que isso viesse a acontecer de novo.
-- Vamos? -- A ruiva dirigiu as palavras a Mila, enquanto já adiantava seus passos na direção da jovem.
-- Claro. -- Mila sentiu sua mão ser tocada por Emily, a ruiva apertou sua mão em conseqüência ao nervosismo que a tomava por inteiro. -- Até mais Anne. -- Mila deixou as palavras para trás enquanto era rapidamente conduzida para fora da casa.
-- Até nunca mais, eu espero. -- Anne resmungou em tom baixo, sentindo seu coração apertar dentro do peito, lhe causando uma constante sensação de embrulho no estomago.
Emily e Mila já passavam pelo portão quando a ruiva encerou o contato de suas mãos. Ela soltou um forte suspiro enquanto apoiava suas mãos sobre a superfície de sua barriga.
-- Emily está tudo bem? -- Mila se aproximou, depositando sua mão sobre o ombro da ruiva. -- O que foi aquilo lá dentro?
-- Aquilo o quê? -- A ruiva virou-se para olhá-la, encontrando aqueles olhos castanhos claros que a fitavam tão atentamente.
-- Aquele clima estranho. Está tudo bem entre você e sua... -- Mila hesitou por não saber qual o tipo de relacionamento Emily mantinha com Anne.
-- Cunhada. -- Emily sentiu seu coração rasgar, era a primeira vez em que ela se referia a Anne daquela forma.
-- Cunhada? -- Mila franziu a testa, completamente surpresa com as palavras de Emily.
-- Sim, cunhada. -- Emily engoliu seco. Pensar em Anne como sua cunhada deixava seus pensamentos ainda mais desordenados. Ela arfou, sentindo-se completamente desconfortável por ter colocado Mila em uma situação que nem mesmo ela entendia.
-- Você não gosta muito da mulher do teu irmão, é isso?
Emily sentiu seus olhos murcharem, ela realmente desejava que essa fosse a grande verdade sobre seus sentimentos por Anne, mas saber que era completamente o contrário disso trazia à tona todas as suas mágoas.
-- Eu acho que este seria um assunto para outra hora Mila, afinal, estamos indo para alguma espécie de festa, certo?! -- A ruiva sorriu, tentando manter a compostura.
-- Como você quiser Emily. -- Ela retribuiu o sorriso.
Mila acompanhou a ruiva até o carro e de lá guiou Emily até que chegassem em uma casa em um bairro nobre da cidade. A casa era enorme e o som podia ser ouvido mesmo de fora dela, o estilo de música que tocava era do tipo mashup eletrônico.
-- Isso tocando por acaso é Christy Million? -- A ruiva olhou-a, curiosa.
-- Quer dizer então você conhece os mashups dela? -- Ela olhava para a ruiva completamente surpresa. -- Vem, vamos entrar. Quero que conheça algumas pessoas. -- Mila desceu do carro em passos empolgados, acompanhada pela ruiva.
Elas caminharam até a porta de acesso da casa e o segurança deixou-as passar sem pedir qualquer informação. Mila já era uma conhecida do anfitrião da festa, tendo sempre os passes livres para qualquer evento que acontecia lá, e bastou que ela dissesse que a ruiva estava com ela para que a ruiva pudesse passar sem apresentar nenhum convite.
Dessa vez foi Mila que pegou na mão de Emily e a guiou-a pelo gramado da casa. A ruiva estava surpresa com a quantidade de pessoas que estavam presentes ali, o gramado estava coberto por uma multidão que pulava e dançava no ritmo da música que embalava o lugar completamente iluminado pelos diversos tipos de jogos de luzes que estavam espalhados por lá. A piscina localizava-se no centro do espaço, onde nas bordas mais externas dela podia-se ver uma leve fumaça ser liberada, provavelmente por algum sistema interno de expulsão de vapor d’água. Os limites da piscina eram iluminados por diversas LEDs em tonalidades diferentes que davam à água remexida pelos dispositivos de retorno da piscina uma junção de cores em seu centro.
A ruiva estava completamente distraída observando todo o local, quando sentiu a mão de Mila perder o contato com a dela, fazendo-a imediatamente olhar em sua direção, mas Mila já estava passos à frente, correndo em direção a uma garota alta e loira, que Emily, infelizmente, deu o azar de conhecer pouco depois que retornou para a cidade. Era Lívia. A ruiva sentiu uma estranha sensação subir-lhe pelo corpo, e sem que pudesse evitar, acabou recuando alguns passos, querendo fugir de qualquer apresentação que Mila pudesse querer fazer entre elas. Lívia estava vestida com uma saia longa até a altura dos tornozelos, em estampas indianas, e na parte de cima ela usava apenas o biquíni rosa choque. A loira parecia embalar uma conversa entusiasmada com Mila, fazendo-a rir constantemente.
“-- Que mundo pequeno.” -- A ruiva pensou, sentindo seu estomago embrulhar logo em seguida. Aquela mulher que tanto conversava com Mila era a mesma mulher que havia feito sua amiga sofrer tanto. Como duas pessoas aparentemente tão diferentes podiam sequer ter algum tipo de amizade?! Isso não entrava na cabeça da ruiva de forma alguma.
Mila olhou para trás, buscando Emily com o olhar, e assim que o alcançou ela a chamou com uma das mãos.
-- Vem cá Emily, quero que conheça alguém. -- Antes que a ruiva pudesse recusar ou até mesmo ter qualquer outra reação, a loira que antes tinha sua visão interrompida pelo corpo de Mila, inclinou-se para o lado para olhar quem era “Emily” e para a sua surpresa, ela já conhecia aquela ruiva. Aqueles olhos castanhos e entusiasmados foram se desfazendo na medida em que Emily se aproximava em passos apreensivos, dando a ela a certeza de que realmente a conhecia. Lívia olhava incrédula para a ruiva, era quase impossível acreditar que esse mundo era tão pequeno a ponto de proporcioná-la esse reencontro desagradável. Os lábios da loira se juntaram, formando um pequeno bico. A cara de deboche daquela mulher trazia os nervos da ruiva a flor da pele.
-- Oi, Emily. -- Lívia chamou seu nome com certo desprezo, deixando-a ainda mais irritada.
-- Lívia. -- A ruiva falou sem nenhum entusiasmo.
Mila olhou-as sem entender um terço do que estava acontecendo ali. A morena tinha a completa certeza de que não havia dito à Emily que o nome de sua amiga era Lívia.
-- Espera ai, vocês já se conhecem? -- Ela arqueou uma sobrancelha enquanto olhava para Emily.
A ruiva dirigiu seu olhar a Mila, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa Lívia se aproximou.
-- Infelizmente, sim. -- A loira sorriu irritantemente. -- Ela é a garota de quem te falei, aquela que beijou a minha namorada no jogo dos pumpkins.
Emily não pôde conter o riso irônico que escapou de sua boca.
-- Você só pode estar de brincadeira. -- A ruiva tentou se conter, mas lembrar de todo o sofrimento de Alice por causa de uma mulher como Lívia deixou-a completamente fora de si. -- Alice não era sua namorada. -- Ela apontou o dedo no rosto da loira. -- Você é muito idiota ou burra por pensar que ela continuaria com você depois de você ter a traído com o primo dela.
Mila deu um passo em falso para trás, surpresa com a versão da ruiva sobre a história. Lívia nunca tinha a dito que tinha traído a sua namorada, fazendo-a achar que Alice era a vagabunda da relação.
-- E quem é você para falar algo sobre a nossa história?! Você nunca esteve aqui pra saber. -- Lívia peitou a ruiva.
-- Quem sou eu? Eu sou aquela que passava horas ao telefone com a Alice ouvindo-a chorar e se lamentar por causa de VOCÊ. -- Enfatizou. -- Acredite, se eu estivesse aqui você nunca teria sequer chegado perto dela.
-- Como se umazinha como você pudesse me impedir de fazer o que eu quero. -- A loira falava com desprezo. -- Pelo menos eu não fico com mulheres que estão noivas. -- Ela tocou o busto da ruiva enquanto se referia a ela, deixando-a completamente irritada.
Emily apertou as mãos com força, tentando conter a vontade que teve de socar aquela garota. Ela sempre fora uma mulher calma, mas odiava quando as pessoas se referiam a situações de sua vida das quais elas não sabiam sequer um terço.
-- Quer saber, você não vale à pena nem para uma discussão. -- A ruiva deu de ombros e se afastou. Deixando a loira completamente imóvel pela atitude que havia tomado ao se afastar e deixá-la falando sozinha.
Os olhos de Mila expressavam completa surpresa por todo o assunto que ela tivera que digerir tão rapidamente. Ela encarou Lívia e entreabriu a boca como se quisesse dizer-lhe alguma coisa, mas acabou hesitando, a ruiva estava certa, não valia a pena nem discutir com ela. Mesmo conhecendo a loira por tantos meses, foi muito mais fácil para Mila acreditar nas palavras da ruiva do que nas da suposta amiga. A morena já conhecia muito bem a fama que Lívia carregava de ser mentirosa, mas até o momento ela ainda não tinha presenciado nada que evidenciasse essa fama, até Emily cuspir aquelas palavras e fazê-la acreditar.
Ainda parada no mesmo lugar, sem ter qualquer reação, Mila olhou a sua volta, procurando pela ruiva que havia saído de lá com tanta pressa. Emily andava em passos pesados seguindo em direção a saída da casa, quando foi vista pela morena.
Mila não pensou duas vezes e correu em direção a ruiva.
-- Emily, espera. -- Ela segurou em seu braço, fazendo-a parar. -- Aonde você vai?
-- Será que não é obvio? Eu estou indo embora. -- A ruiva ameaçou continuar seus passos, mas Mila insistiu em segurá-la.
-- Espera Emily, por favor. Vamos conversar. -- Ela contornou a jovem, postando-se em sua frente.
-- Eu não tenho nada para conversar. -- A ruiva afirmou, após soltar uma forte respiração.
-- É claro que tem. Emily, você precisa confiar em mim. -- Mila olhou em seus olhos. -- Se você quer mesmo ser minha amiga, precisa fazer isso.
-- Como você consegue sequer ser amiga de uma garota como a Lívia? -- Emily questionou-a, indignada.
-- Viu? Essa já é uma coisa para se conversar. -- Sorriu de forma tímida. -- Vem comigo? -- A ruiva retribuiu o olhar que Mila lançava sobre ela, mas não demonstrou qualquer vontade de se mover dali. -- Por favor? -- A morena lançou-lhe um olhar implorativo, fazendo com que Emily ficasse completamente vulnerável as suas vontades. Como não ficar?! Mila era sempre tão gentil e carinhosa com a ruiva, que vê-la implorar com aqueles olhos tão atenciosos e hipnotizantes deixava-a completamente desconcertada, mas de uma forma extremamente boa. Emily sentia que podia confiar em Mila com todas as suas forças. A morena lhe causava sentimentos e emoções tão agradáveis que estar com ela fazia com que a ruiva acreditasse cegamente que nada pudesse machucá-la, e essa sensação de estar protegida deixava-a completamente confortável.
Mila tocou a mão de Emily com delicadeza, seus olhos buscaram pelos da ruiva, e encontrá-los causou-lhe uma onda de emoções das quais a morena não conseguia se livrar. Os olhos da ruiva estavam em um tom de azul bem mais claro que o normal, um azul intensificado pelo sentimento de raiva que havia a afligido momentos atrás. Mila acariciou o topo de sua mão com o polegar, transmitindo-a certa segurança. Ser observada pela ruiva foi inevitável. Emily olhou para suas mãos conectadas e mal pôde acreditar que o simples toque daquela mulher conseguia lhe trazer tanta paz e tranqüilidade, e ainda sem acreditar, seu olhar voltou-se de encontro ao de Mila, tornando-se inevitável para ambas não mergulhar naquele mar de sentimentos que começavam a surgir entre elas. A morena guiou Emily para dentro da casa, e juntas subiram até um dos quartos no segundo andar da casa. Ao entrar no quarto, a ruiva se deparou com uma decoração maravilhosa. As paredes eram de um tom branco pérola, exceto pelas paredes onde ficavam o closet do dono do quarto, que eram revestidas em uma madeira em um tom negro. A cama Queen estava localizada no centro do quarto excessivamente grande. A iluminação era mantida por algumas LEDs brancas instaladas para dentro do teto, reduzindo a luminosidade em alguns pontos do quarto. Pegando metade da parte de baixo da cama, um tapete em tons de cinza de fios longos estava fixado ao chão. A ruiva percorreu o olhar por todo o ambiente.
-- Eu acho que nós não deveríamos estar aqui. -- Falou apreensiva.
-- Não se preocupe Emily, eu conheço o dono da casa. -- Mila ainda segurava na mão da ruiva, enquanto se aproximava da cama. Ela se sentou e esperou que Emily a acompanhasse, e ela o fez, sentando-se um pouco distante.
-- Você pode me explicar sobre o que aconteceu lá em baixo com a Lívia? -- Mila perguntava calma.
-- É uma longa história Mila. -- A ruiva tentou fugir do assunto de novo, querendo ao máximo evitar qualquer coisa que se aproximasse do nome “Anne”.
-- Nós temos muito tempo. -- Ela fitou Emily, vendo seu rosto murchar ao perceber que teria que falar sobre o assunto.
-- Se eu tiver mesmo que falar sobre isso, precisarei começar bem do inicio. -- Emily olhava para os próprios pés enquanto pensava no melhor ponto para se começar a história. Mila concordou com a cabeça e deixou que a ruiva prossegui-se. -- Alice e eu somos amigas desde o colegial, bom, melhores amigas. Mas eu acabei indo cursar a minha faculdade em Ouro Preto, deixando-a sozinha aqui. Foi quando ela começou esse relacionamento com a Lívia. Como nós nunca perdemos o contato, eu sempre soube de tudo que acontecia na vida dela, inclusive na amorosa. E bom... -- A ruiva olhou para Mila antes de continuar. -- Lívia nunca foi uma boa namorada com ela. Alice vivia me ligando para contar de umas e outras que essa mulher aprontava. Mas até então, tudo se baseava apenas em alguns furos e algumas mentiras sem sentido que ela contava. Até o dia em que eu voltei para cá, seis anos depois. -- Emily respirou fundo ao lembrar-se do rosto de Alice ao contar o que havia acontecido. -- Quando finalmente fui me encontrar com Alice, eu realmente achei que ela levaria a namorada, pois ela vivia falando que queria muito que eu a conhecesse. Mas para a minha surpresa Lívia não estava lá. E foi ai então que ela decidiu me contar que a vagabunda -- A ruiva se exaltou. -- Estava namorando o primo dela ao mesmo tempo em que a namorava. E sabe como ela acabou descobrindo isso?! Em um jantar de família, que a Lívia fez questão de ir acompanhando o primo de Alice. -- Emily deu um sorriso forçado e sonoro, deixando claro o seu sentimento de indignação com a situação. -- E agora eu volto a minha pergunta, como alguém como você Mila, pode ser amiga de alguém como ela? -- Quando a ruiva voltou seu olhar antes perdido pelo quarto, para a morena, ela se deparou com uma expressão de total surpresa.
-- Emily, eu não sabia dessa história. -- Ela engoliu seco. -- Eu sempre soube que Lívia não era a melhor pessoa do mundo, e que ela tinha essa fama de ser mentirosa, mas eu nunca, até então, tinha ouvido alguma história sobre essas mentiras ou mesmo tinha a visto mentir. -- Mila mordiscou o lábio inferior. -- Lívia me contou uma versão completamente diferente dessa história. Ela vivia se fazendo de coitada dizendo que a namorada havia traído ela com uma ruiva sem sal. -- Emily arqueou as sobrancelhas ao ouvir a ultima parte.
-- Sem sal?
-- Eu sei, eu também discordo completamente. -- Mila falou em um tom brincalhão, fazendo com que a ruiva finalmente sorrisse de verdade.
-- Eu realmente beijei a Alice no jogo do pumpkins. -- Admitiu, deixando sumir de seus lábios aquele sorriso tão sincero e alegre.
Mila sentiu seu coração apertar dentro do peito. Uma de suas mãos apertou o cobertor que cobria a cama entre os dedos. Ela não sabia o motivo de sentir-se tão nervosa ao saber que a ruiva tinha beijado outra pessoa, mas foi inevitável o sentimento de incerteza que tomou todo o seu corpo. Emily estava ou não com Alice?!
-- Mas eu a beijei em um impulso idiota de tentá-la impedir de conversar com a Lívia. -- Emily repensou suas palavras, vendo que não fazia o mínimo de sentido explicar a situação apenas nessa forma, o que a fez contar tudo que havia acontecido no dia do jogo. -- E foi por isso que eu a beijei. Elas não estavam mais juntas, Alice não estava em momento algum traindo a Lívia. -- Mila observava atentamente as palavras da ruiva, mas era como se ela esperasse por qualquer coisa que lhe dissesse que aquele beijo não significou nada para Emily. -- Mila? -- A ruiva balançou a mão em frente ao seu rosto, chamando-a atenção.
-- Desculpa, eu ouvi, juro que ouvi. -- Ela sorriu. -- Eu só acabei me distraindo um pouco no meio da conversa. -- A ruiva retribuiu o sorriso.
-- Aquele beijo não significou nada para mim. -- Emily falou com convicção. -- Mas eu o faria de novo se isso significasse protegê-la.
Mila não conseguiu dizer nada, seus pensamentos apenas rodeavam em torno daquelas palavras ditas pela ruiva “Aquele beijo não significou nada para mim”, e embora pudessem parecer um pouco cruéis, essas palavras acabaram deixando a morena aliviada por saber que Emily não estava apaixonada pela Alice.
-- Alice é a minha melhor amiga e eu sempre vou fazer de tudo para protegê-la. -- Mila pôde ver os olhos da ruiva alternarem o seu tom após reluzir em um brilho cheio de confiança.
A morena olhou em seus olhos, deixando fluir toda aquela onda de sentimentos novamente. Era impossível não gostar de Emily, ela era sempre tão cheia de si, tão divertida e atenciosa. Era inevitável não sorrir e se sentir bem ao lado dela, e isso deixava a morena completamente louca. Louca por ela.
-- Emily eu... -- Antes que Mila pudesse dizer qualquer coisa, a ruiva a interrompeu.
-- Eu sei que isso deve parecer estranho pra você, às vezes parece para mim também... -- Neste momento a ruiva tocou a mão de Mila que estava sobre a cama, sobrepondo-a. -- Mas eu tenho essa terrível mania de proteger todos que eu gosto, e isso vai muito além de mim.
Mila não pôde evitar o calafrio que passou por todo o seu corpo, deixando-a arrepiada com o simples toque da ruiva. Ela desviou seu olhar, lançando-o em direção as suas mãos que mantinham o contato, seus dedos dobraram-se, puxando as dobras do cobertor entre eles. Emily percebeu o nervosismo de Mila, e mesmo que não entendesse o porque, ela apertou sua mão sobre a da morena e em seguida entrelaçou seus dedos sobre os dela. Sentir aquela pele tão macia sob sua mão fez com que a ruiva sentisse um frio na barriga. Ela fechou os olhos e apenas aproveitou a sensação maravilhosa que era tê-la tão perto de si. Mila observava-a com certa descrição, mas assim que Emily fechou os olhos, ela não pôde evitar manter o seu olhar tão constante e intenso sobre o rosto pacato da ruiva, observando cada detalhe. Seu coração acelerou ao pegar-se pensando em como seria sentir aqueles lábios finos e delicados tocando os seus. Mila curvou-se em direção a ruiva e aproximou-se devagar sentindo seu coração pulsar de forma cada vez mais intensa. Os olhos da morena logo seguiram de encontro aos lábios de Emily, que tão inocentemente não percebia nenhuma aproximação, ela retirou a sua mão com delicadeza, perdendo o contato com a ruiva por poucos segundos, até o momento em que o contato voltou, estando a morena agora, com a mão sobre a de Emily. Ela tocou a superfície da pele da ruiva com a ponta dos dedos e acariciou-a por todo o perímetro da mão até alcançar a altura do seu antebraço, onde por puro instinto ela acabou por dar um leve aperto. Emily sentiu os pelos do seu braço arrepiarem por completo, o contato da morena causava-lhe calafrios na espinha. A ruiva entreabriu os olhos, tendo a surpresa de encontrar o rosto de Mila já tão próximo do dela. Olhos castanhos e azuis se encontraram novamente, travando uma conversa onde nenhuma palavra precisava ser dita. Ambas sentiam uma multidão de sentimentos intensos e confusos tomarem seus pensamentos e Emily já não via a hora de poder tomar aqueles lábios em um beijo doce e calmo, mas ela conhecia bem a improbabilidade de isso levá-las a alguma coisa a mais que um simples beijo, e perdê-la por uma ação impulsiva e estúpida estava completamente fora de suas vontades. A ruiva tentava decifrar o sorriso tímido que começa a tomar conta dos lábios da morena, mas não conseguindo chegar a nenhuma conclusão, ela precisou sentir o toque de Mila em seu rosto para que finalmente percebesse que não era a única a desejar aquele beijo, e que aquele sorriso não era nada além de uma demonstração de carinho e completo desejo. A mão de Mila percorreu o rosto da ruiva em um toque leve e cauteloso, até atingir o alcance de sua nuca. A morena aconchegou-se para mais perto de Emily, desarrumando o cobertor sobre a cama, e teve sua cintura tocada pela ruiva, que a puxava para mais perto fazendo com que seus corpos entrassem em contato. Mila inclinou-se, diminuindo a distancia entre seus lábios, fazendo com que a ruiva voltasse a fechar os olhos. Mas ao contrário do que ela esperava, os lábios de Mila tocaram sua bochecha em um beijo demorado e úmido. Emily sentiu seu coração pular no peito, a morena estava com os lábios a poucos milímetros dos dela, e ela repetia aquele beijo macio pelo seu rosto aproximando-os vagarosamente de seus lábios. Emily apertou sua cintura, deixando claro o nervosismo e principalmente a vontade de ter a morena que tomava cada parte do seu corpo. Mila travou suas unhas na nuca da ruiva e passou-as com delicadeza percorrendo seu pescoço e clavícula, até que ponta de seus dedos alcançasse o limite da gola da blusa que Emily usava. A morena prendeu parte da blusa entre seus dedos e puxou-a em sua direção, fazendo com que a ruiva contorcesse a parte superior do corpo ao tentar resistir um pouco mais a aquele beijo. Os lábios de Mila tocaram o canto de sua boca, causando-a um frio persistente em sua barriga. A morena afastou-se alguns milímetros e olhou em seus olhos novamente, notando o azul extremamente claro e instigante que tomava os olhos da ruiva, Mila soube, assim que a viu, que queria ser dela, e negar toda essa vontade não era algo possível de se fazer mais. A conexão entre seus olhares era forte a ponto de causar calafrios na ruiva. Ela puxou a morena para cima dela, fazendo com que Mila ajoelhasse sobre ela, cercando-a com suas pernas. A morena entrelaçou a ponta dos dedos nos fios de cabelo de Emily, desferindo um leve puxão em seus cabelos. Seus olhos mantinham o completo contato com os da ruiva até o momento em que a mesma mordiscou o lábio inferior, fazendo-a perder completamente o foco. Desejar ainda mais aquela mulher era provavelmente impossível. Mila curvou-se para beijá-la enquanto segurava seu rosto, mas antes que seus lábios pudessem se tocar a porta do quarto se abriu e uma voz eclodiu pelo ambiente do quarto, assustando-as.
-- Mila, minha querida, me disseram que eu te... -- A voz do rapaz falhou ao ver a amiga sentada sobre Emily, próxima de beijá-la.
A morena virou-se rapidamente para a direção da porta, enquanto suas mãos ainda mantinham o contato com o rosto da ruiva, que estava paralisada, não acreditando que estavam sendo interrompidas em um momento como esses.
O rapaz cobriu os olhos assim que notou o constrangimento de ambas.
-- Péssima hora, péssima hora...-- Ele resmungava enquanto retornava seus passos para fora do quarto.
Fim do capítulo
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lay colombo
Em: 12/05/2017
a primeira vez q eu li eu fiquei muito puta pq eu realmente qria q elas se beijassem kkkkkkkk
Esse beijo tá demorando mais pra sair do q bjo gay em novela das nove, assim não dá minha gente kkkkkkkkkk
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