Amanda deu uma sonora gargalhada após ouvir a proposta de Ana Júlia, parecia absurdo para ela sair da capital, pra viver numa cidadezinha do interior onde não havia nada além de pessoas cuja única diversão era falar da vida dos outros.

Amanda falou em tom de deboche: Aninha você só pode tá brincando comigo, nunca na minha vida que eu iria morar no fim de mundo de onde você veio, tá louca (Gargalhou em deboche mais uma vez)

Ana Julia: Não entendo essa sua reação Amanda, seria ótimo você está longe dessa muvuca toda que é a tua vida, num lugar tranquilo, respiraria ar puro e continuaríamos a faculdade lá em Principado.

Amanda descartando a possibilidade: De jeito nenhum tá doida... Volta pra terra Ana Julia, eu sou uma mulher que ama, ama esse agito, ama uma boa foda, enfim.

Ana Julia: O problema não é amar uma boa foda, o problema é o jeito que você vive essas fodas Amanda, porque se o problema fosse esse lá há pessoas que também gostam, mas o que te falta é respeito e respeito a você mesma Amanda, ao seu corpo, a sua vida e dignidade, porque dinheiro nenhum, nem o meu, nem o seu compram isso, põe de uma vez por todas isso na sua cabeça. (Falou séria, de alguma forma aquilo tocou Amanda quanto ao modo como vinha levando a vida, mas não iria morar numa cidadezinha que não oferecia nada que lhe apetecesse).

Amanda fala: Eu não vou, não quero!

Ana Júlia: Eu tô indo amanhã muito cedo e vim pra me despedir...

Amanda fala triste: Você já vai amanhã? Nossa, mas já? Não queria que você fosse Aninha (A abraçou)

Ana Julia disse: Vamos comigo amanhã (Amanda a olha sem entender). Isso, vem comigo, convida teu pai, amanhã vai ter a amostra, você conhece a cidade, assiste as apresentações da amostra cultural, já é um passeio que faz com teu velhinho (Sorriram ambas) E voltam no dia seguinte se quiserem

Amanda fala em dúvida: Será? (Ana Julia se encheu de expectativa, havia se afeiçoado a Amanda, a sentia como uma irmã, a que nunca teve e tinha muito medo que ela se entregasse de vez aquela vida promiscua que só desvalorizava a ela própria)                            

Todos estavam ainda perplexos pela entrada de Lady Dayane na sala principal da ONG, mas com certeza ninguém estava mais em choque do que Luciana, era sempre um choque ver aquela mulher, mas naquele momento foi ainda mais forte.

Lady Dayana diante de todos pergunta diretamente a Luciana: Que foi que-ri-da, não ouviu meu cumprimento? Perguntei como você está? Enfim te encontrei aqui!

Júlio fala: Você não pode entrar assim aqui moça. (Tentou ser educado, mas queria poder tirar aquela mulher dali por algum meio)

Lady Dayane: Recolha-se a sua insignificância criatura, você está falando com a PRIMEIRA DAMA desta cidade, eu posso o que eu quiser (Falou olhando fixamente pra Luciana, nada lhe dava mais prazer do que tentar diminuir aquela mulher)

Luciana enfim saindo daquele estado de torpor: Mas não aqui! Aqui além de não mandar nada você se quer é bem-vinda, e por isso eu peço, por gentileza, que você se retire.

Lady Dayane fala em tom cínico: Resolveu falar a EX primeira dama de Porto Novo... (Todos que estavam na sala tinham em seus rostos uma expressão aflita e preocupada).

Luciana pergunta nervosa: O que você veio fazer aqui?

Lady Dayane responde debochada: Não foi olhar pra sua cara de perdedora, foi pra falar que eu fiquei encarregada de levar a amostra cultural amanhã fotos de todas as primeiras damas que Porto Novo já teve, e das que ainda estão vivas as fotos são atuais, eu já peguei de todas, só falta a sua e a exposição já é amanhã, preciso da sua...

Luciana a olhava tentando manter o mínimo do controle: Garota eu não sei o que te falta no cérebro, se é que ai dentro tem alguma coisa, não me interessa aparecer nesta tua exposiçãozinha, eu vou te dar uma idéia de mais futuro, que tal você levar fotos das artesãs e das artes que elas preparam aqui mesmo na ONG? Eu creio que interessará muito mais, do que ver fotos de mulheres com o intuito de...? De o que mesmo?

Lady Dayane a olhou possessa: Ora, Luciana quer saber o Carlos Fernando realmente só podia ter te deixado mesmo mulher, você e ele são opostos.

Luciana responde: Você não consegue me responder uma pergunta tão simples como essa? Qual motivo, o que vai acrescentar na exposição essas fotos, além de um show de exibicionismo teu?

Lady Dayane fala: Não tenta fazer a superior Luciana, você perdeu pra mim, pra minha beleza, pra minha juventude, isso tudo aí é recalque, ou inveja como você preferir. Porque eu sou muito melhor que você, sou mais mulher, e arraso em todos os sentidos, é sem comparação, e se há alguma dúvida o Carlos Fernando responde.

Luciana ordena perdendo o controle, aquelas palavras abalavam, mas não tinha força pra falar, tinha medo: Sai daqui! Porque ou você sai por bem, ou eu mando que te escurrassem daqui e não faço eu mesmo pra não sujar minhas mãos com um troço tão insignificante como você é! (Lady Dayane saiu com raiva, Luciana sentia-se esgotada, todo embate com aquela mulher desqualificada lhe deixava assim, sentia a pena no rosto de seus funcionários e aquilo era ainda pior e percebeu naquele instante que precisava parar de se importar tanto, mas naquele momento a dor foi mais forte e quis sumir e pediu) Eu não quero que ninguém fale nada, eu espero que na próxima vez que essa mulher quiser pisar os pés aqui eu seja avisada antes. Agora eu vou pra minha casa e só volto no fim de tarde, resolvam qualquer imprevisto que aparecer até lá por favor. (Assim abatida Luciana saiu, ao chegar em casa foi direto até o escritório que nesses momentos era na verdade seu refúgio e chorou como uma menina, se perguntando até quando seria daquela maneira, até quando aquilo doeria tanto. E como seria amanhã? Teria que ver o ex marido e a atual mulher juntos, compartilhariam o mesmo ambiente nas apresentações da amostra que aconteceria no dia seguinte, e precisaria arrancar forças de onde ser quer sabia que tinha, pra sobreviver aquilo.

Na sala de visitas da ONG Juliana a coreografa do balé, Júlio e Vanessa conversavam sobre o ocorrido.

Júlio fala compadecido: É triste ver como ainda abala dona Luciana estar diante dessa mulher...

Juliana fala compartilhando do mesmo sentimento de Júlio: Fico imaginando como vai ser amanhã, ela vai estar diante dos dois. E terá que ser forte para vê-los e resistir a isso firme, ela vale muito mais.

Vanessa fala tímida: Muito mais do que eles, vale. O prefeito foi muito safado em deixar uma mulher como dona Luciana por uma como esta (As palavras ditas por Vanessa apesar de duras foram ditas calmamente como era maneira de sempre Vanessa agir)

Júlio: Você tem toda razão Vanessa (Neste momento Lorena chegou animada, com sua alegria costumeira, só que desta vez por um motivo diferente)

Lorena fala: Olá, olá! Bom dia.... Vim ver Luciana, onde ela está? Preciso dizer muitas coisas (Depois de despejar sua alegria, olhou e percebeu a cara preocupada de todos) O que houve gente? Porque essas caras de vocês? Cadê a Luciana, algo com ela? (Preocupou-se e ainda mais com o silencio deles). Vamos gente, o que houve falem!

Júlio diz: Venha comigo Lorena, eu vou precisar ver como estão os meninos do futsal, e no caminho te falo, até porque acho que depois que falar você vai querer estar com ela (Ambos saem depois de se despedirem da coreografa e sua aluna, que ficam a sóis)

Ao estar só com Vanessa Juliana fala um pouco ansiosa: Eu vou guardar as roupas de vocês.... Você já pode ir Vanessa.

Vanessa fala olhando intensamente pra professora: Eu prefiro ficar e te ajudar professora.

Juliana: Acho melhor não... (Falava com a voz vacilante)

Vanessa pergunta: Do que tem medo Juliana? Só estamos nós duas aqui agora... (tocou no queixo da coreografa e a fez olhá-la). Não me renegue desse jeito, eu te amo tanto Juliana.

Juliana fala tentando ser firme: Para com isso menina. Professora, melhor não me tratar pelo nome e evitarmos essa intimidade, eu jamais te dei cabimento pra isso, pare, você não percebe o quanto me angustia com isso...

Vanessa fala: Eu tenho certeza que você sente alguma coisa também, professora, se é assim que prefere. Nunca te vi com ninguém

Juliana responde: Isso não quer dizer nada. Vanessa, olha pra você, se descobrem isso é capaz de acharem que te dou cabimento e me acusarem até de pedofilia, você só tem 14 anos.

Vanessa fala como se fosse fazer muita diferença, estava apaixonada e pra ela todas aquelas convenções era o de menos: Vou fazer 15 mês que vem, tá tão perto já!

Juliana fala: E isso vai fazer que diferença Vanessa? Você continua sendo uma criança, eu sou muita mais velha que você, aliás, é bem mais que isso... (Juliana era lésbica, morava em Porto novo a pouco mais de seis meses, veio a convite de Luciana para coreografar o balé, que era um dos projetos da ONG. Preferiu não divulgar sua orientação sexual, a cidade era pequena e não queria que a apontasse, ela era de Principado, só aceitou também a proposta porque havia se separado a pouco tempo da companheira, tinha 31 anos e havia sido traída pela mulher. Quando percebeu que uma das alunas do balé a olhavam diferente em primeiro não se preocupou, não imaginava que a menina teria coragem de avançar o sinal, no entanto Vanessa foi mais corajosa do que imaginou e se declarou e desde então tentava conquistá-la, a que ela chamava de seduzi-la e cada vez estava mais difícil resistir, estava sozinha a tanto tempo, mas não podia se envolver com uma aluna ainda mais ela sendo praticamente uma criança, Luciana era tão ética, com certeza além de perder o emprego poderia perder até a liberdade e ser acusada de sedução de menor, não deixaria aquilo ir adiante, cortaria as investidas daquela garota, ou acabaria ela mesmo pedindo pra sair do emprego)

Vanessa falou tentando convencê-la: Acredita em mim professora, o que eu sinto por você não é coisa de criança...

Juliana responde tentando ser enérgica: Mas você é praticamente uma criança Vanessa, você se quer sabe da sua sexualidade mesmo ainda, você pode tá confundindo...

Vanessa responde firme: É confusão essa palpitação no coração? As mãos suadas, a sensação de borboletas no estômago a vontade que eu tenho de provar o gosto dos teus lábios? (Falava se aproximando de Juliana, que ao ouvir a declaração que soava tão verdadeira daquele garota, tocou-a de alguma forma, percebeu-se imóvel ao vê-la se aproximando) Não é confusão sentir a umidade entre as pernas só por estar tão perto de você (Neste momento Juliana teve medo do calor que sentiu no baixo ventre e deu as costas a Vanessa se afastando, mas teve seu braço segurado, Vanessa a fez olhá-la e mirou os lábios tão cobiçados e que foram motivos de tantos sonhos a poucos centímetros do seu e não teve dúvidas capturou os lábios daquela mulher e beijou-a, suavemente, docemente, não era, mas Vanessa sentiu como se aquele fosse seu primeiro beijo, quis prolongar aquele momento ao máximo, Juliana não teve coragem de segurar em Vanessa, sentiu as mão da garota rodeando sua cintura, aquele beijo era inocente, de alguém que estava provavelmente se descobrindo, teve medo de tocá-la e não resistir aquela avalanche de sentimentos que a perturbavam. Afastou-se.)

Juliana falou depois de se afastar: Eu exijo que você me respeite que nunca mais na sua vida volte a fazer isso. Eu... Eu vou acabar indo embora daqui, e nunca mais você vai me ver. (Falou nervosa, deveras abalada pelo beijo)

Vanessa fala feliz, apesar das palavras duras de Juliana: Tudo bem, tudo bem, eu me conformo em só te ver se isso que você quer, mas eu nunca vou esquecer o gosto dos teus lábios professora, eu amo você, amo (Falou sorrindo com os olhos repletos de lagrimas) E eu não tenho a menor dúvida do quanto te amo. (Ia saindo, mas voltou-se e disse). Eu nunca vou esquecer o gosto dos seus lábios Juliana! (Saiu, e Juliana caiu sentada, meditando aquela loucura e tentando convencer a si própria que não podia permitir se envolver com aquela garota, garota que beijava tão gostoso).

Fim do capítulo