Isabella

                  Cheguei no fórum e vi que Siqueira já estava ali. Encontrei-o sentando em uma das salas de espera. O lugar fervilhava de pessoas, ocupei a cadeira vizinha a que ele estava.

- Isso está uma loucura hoje.

- Sim, parece que tem júri, o que me leva a acreditar que sairemos tarde daqui.- falou desanimado.

- Não importa, só sairemos daqui depois que resolvermos isso.

                  Continuamos sentados ali por boa parte da manhã, nenhum juiz estava disponível. Já haviam se passado mais de duas horas quando enfim fomos atendidos, conseguimos expedir o pedido de prisão preventiva de Otavio, confesso que as ameaças ajudaram nesse caso. O juiz nos aconselhou a abrir um Boletim de Ocorrência para tornar oficial as ameaças sofridas.

                  Seguimos para a delegacia, a delegada era filha de um amigo de Siqueira, fomos atendidos logo que chegamos. Fizemos o B.O, a delegada nos informou que já iriam realizar a prisão de Otavio.  Ficamos aguardando a volta das patrulhas. Siqueira era uma pilha de nervos, nunca tinha visto ele assim antes. Depois de quase uma hora os policiais voltaram, para nossa surpresa não traziam Otavio.

- Dr. Siqueira, não conseguimos localizar o suspeito. Realizamos as buscas na residência, inclusive na de parentes próximos, mas não conseguimos encontra-lo.

                Os nossos celulares tocaram simultaneamente. Senti minhas mãos tremerem, abri o conteúdo e como eu imaginava era ele:

Pensaram que seria tão fácil assim me pegar? Vocês não fazem ideia de quem eu sou.

                 Siqueira me olhou sem acreditar, junto da mensagem havia uma cópia do pedido de prisão dele. O que significava que alguém no fórum havia vazado a informação para ele.

- Como pode algo desse tipo acontecer? Esse cara é perigoso.

- Eu sei, mas não vamos deixar isso barato. Iremos até o fórum mostrar isso ao Juiz assim ele vai querer saber quem foi que informou Otavio.

               Confirmei e mais uma vez fomos para o fórum, enquanto ele foi falar com o juiz senti uma vontade absurda de ouvir a voz de Larissa, talvez assim eu me acalmasse. Claro que ela percebeu que algo estava errado, porém não quis contar por telefone o que havia acontecido. Combinei de conversamos mais tarde. Resolvi dar uma saída para pegar um ar fresco, me sentei em um banco em frente ao fórum. Olhei dois homens bem vestidos que conversavam discretamente. Siqueira chegou sentando-se ao meu lado:

- Vamos embora daqui, estou extremamente desgastado com essa situação toda.

- Claro, mas o que o Juiz disse?

- Vai abrir uma investigação para descobrir quem mandou a foto para Otavio. Juro que vi uma veia da testa dele saltar quando mostrei a mensagem. Isa, precisamos tomar cuidado.

- Eu sei, a Larissa queria contratar dois seguranças, eu recusei achando que resolveríamos isso hoje. Mas como não deu em nada vou aceitar a proposta dela.

- Ótimo, mas agora o que eu quero mesmo é um almoço para repor minhas energias. Vamos?

- Sim.

         Seguimos para o restaurante, estávamos em carros separados. Logo que chegamos ao lugar fiquei surpresa ao ver Susane em uma das mesas. Siqueira disse sorrindo.

-Espero que não se importe.

- Imagina.

         Depois de cumprimentar a mulher fizemos nossos pedidos, conversamos sobre qualquer coisa para não tocar no assunto “Otavio”, porem foi impossível evitar que ele viesse à tona.  Suse estava preocupada, quando contamos tudo o que havia acontecido mais cedo no fim ela perguntou:

- O que Larissa disse de tudo isso Isabella?

- Ela queria garantir nossa segurança. Disse que ligaria para um tal de Montanha. Eu não deixei, nunca pensei que Otavio fosse escapar.

- Você devia ter aceitado. – disse séria.

- Eu sei, mas agora não tenho mais escolha. – falei triste.

- Nós não temos escolha. – Siqueira.

         Notei que Susane não parava de olhar para algo atrás de mim, depois de fixar o olhar por muito tempo ela sorriu. Fiquei sem entender nada, olhei para trás e lá sentados na mesa estava os dois homens que conversavam do lado de fora no fórum.

-Esses dois estavam no fórum agora a pouco. – pensei mais alto do que imaginei.

-Então, lembra quando você disse que não aceitou o segurança? Aquele ali é o Montanha.

       Sorri não acreditando o que Larissa tinha feito algo mesmo que eu tenha me negado a aceitar. Siqueira retornou do banheiro.

- Não fique brava com minha menina Isa, ela só quer ter certeza que você está bem.

- O que houve? – o homem perguntou sem entender.

- Dois seguranças naquela mesa ali. – apontou com a cabeça.

- Larissa?

- Ela mesma.

- Pelo visto não adianta dizer não para ela. – sorriu divertido.

      Almoçamos em um clima descontraído, os dois se entendiam muito bem. Era nítida a felicidade. Logo que terminamos ele se prontificou de deixa-la em casa. Eu teria que conversar com Ingrid para saber se deveríamos divulgar que Otavio está foragido. Nos separamos no estacionamento, observei que Montanha estava me seguindo. Larissa era impossível mesmo, porem teria que agradece-la afinal ela estava apenas demonstrando preocupação.

      Estava perto da casa dos meus pais, resolvi dá uma passada por lá. Parei o carro em frente. Observei o segurança parar um pouco atrás, toquei a campainha. Mamãe me viu pela câmera e liberou minha entrada.

- Pensei que havia esquecido o caminho daqui. – sempre dramática essa minha mãe.

- Menos dona Helena, menos.

       A mulher me deu um abraço apertado. Me senti um pouco mais segura ali.

- O que houve filha? Que carinha é essa? Não me diga que já brigou com Larissa?

- Não mãe, nós estamos bem.

- Então o que está causando essa ruguinha de preocupação? – disse tocando minha testa.

      Contei toda a história, ela dramática como sempre disse:

- Você vai ficar aqui em casa até esse maluco ser preso. E o que diabos você tem na cabeça de estar andando por ai sozinha Isabella?

- Mãe calma, não vou ficar aqui, meu prédio é seguro não se preocupe. E não estou andando sozinha, mesmo eu tendo me recusado a aceitar o segurança Larissa não permitiu. Ele está lá fora neste momento.

- Essa menina é mesmo de ouro. Agora não me venha dizer que você vai dormir sozinha?

       Depois de ouvir todas as recomendações prometi que tomaria o máximo de cuidado possível. Ela me acompanhou até a saída, me abraçou e disse:

- Amo você querida, por favor tome cuidado.

- Também te amo mamãe, prometo que tomarei.

       Entrei no carro e segui para a empresa, Montanha mantinha uma certa distância porém nunca me perdeu de vista. Parei no estacionamento, vi que o carro de Larissa não estava ali. Segui para a sala de Ingrid, Siqueira e Maísa já estavam lá.

- Estávamos lhe esperando. – minha chefe falou.

       A reunião demorou mais que o previsto Ingrid ficou satisfeita ao saber sobre os seguranças. No fim concordamos em divulgar a foto de Otavio para ajudar nas denúncias. Quando saímos da sala, Maísa me perguntou:

- Como você está Isa?

- Bem Má, só preocupada.

- Entendo. Mas vamos conseguir colocar esse cara no xilindró, prometo.

- Eu sei que sim.

       Segui para minha sala e passei o resto da tarde analisando documentos, ou tentando na maior parte do tempo meu pensamento volta e meia era levado ao sumiço de Otavio. Ao menos me dava um certo alivio o fato de não mais ter recebido nenhuma mensagem ameaçadora. Batidas na porta me trouxeram de volta a minha realidade.

- Pode entrar.

- Isa, viemos te levar para jantar.- Benjamim e Maísa.

- Oi gente, não estou muito no clima. – falei cansada.

- Ah Isa, qual é? Você precisa se distrair, mesmo que não queira sair para jantar nós podemos ficar no seu apartamento. – meu amigo insistiu.

-Tudo bem, eu espero vocês em casa. – realmente eu precisava deles por perto.

- Combinado, daqui a umas duas horas estaremos em sua casa com cerveja e pizza. – Má disse empolgada.

     Os dois saíram, eles eram amigos de verdade, sabia que sempre poderia contar com eles para tudo. Peguei o celular, resolvi mandar mensagem para Lari:

Meu amor, estou indo para casa agora. Ben e Maísa vão lá para casa me distrair como eles disseram. Rsrs. Espero que esteja bem, bjus sua Bella.

Oi Linda, fico feliz em saber que não ficará sozinha, assim que eu sair da faculdade irei para sua casa. Amo muito vc. Bjus sua Lari.

     Adorei saber que ela dormiria lá em casa hoje de novo. Peguei minhas coisas e sai da empresa. Dirigi para casa sem pressa, o segurança sempre me acompanhando de perto. Logo que cheguei em casa fui tomar um demorado banho, ao terminar peguei Nikki no colo e segui para a sala de vídeo. Liguei no noticiário, estava passando a matéria sobre Otávio. Aumentei o volume para escutar melhor, o repórter disse que o homem ainda não havia sido encontrado. Falou até meu nome e o de Siqueira em relação as ameaças.

      Suspirei cansada, queria mesmo era esse homem atrás das grades, assim poderia seguir minha vida normalmente. A campainha tocou, Ben e Maísa chegaram mais cedo do que o combinado. Fui em direção a porta abrindo-a, me assustei ao ver que quem estava parada ali era Alana:

-Oi Isa. – falou passando uma mão na outra, um sinal típico de nervosismo.

-Oi Alana, o que você quer? – falei sem paciência.

-Só queria saber como você está, eu vi a reportagem sobre as ameaças. Fiquei preocupada. – falou com sinceridade.

-Estou bem, não precisa gastar sua preocupação comigo. – disse grosseiramente, me arrependendo em seguida.

-Calma Isa, não precisa ser grossa. Eu me importo com você.

      Me olhou intensamente, nesse instante ouvi a voz de Maísa e Benjamim no corredor. Os dois se aproximaram sem entender muito o que estava acontecendo ali.

- Oi meninas. - falaram ao mesmo tempo.

- Oi gente. – Alana respondeu.

- Isa, vou colocar as cervejas no frízer, as pizzas chegam daqui a pouco. Vai ficar para jantar conosco Alana? – Benjamim perguntou educadamente.

- Não, obrigada gente, só vim saber como a Isa estava. Já vou embora. – falou rapidamente.

- Se quiser pode ficar Alana. – disse sem pensar direito no que aquilo poderia significar para ela.

- Tudo bem então. – falou sorrindo.

- Entre, fique à vontade. 

        Os três entraram e começaram a conversar e beber. Não conseguia me concentrar no que eles conversavam. Minha cabeça estava em Lari, queria ela ao meu lado. Não sei se por conta do álcool, mas Benjamim e Maísa pareciam não mais lembrar que Alana era minha ex.

- Isa, Isa? – Alana, tocou meu braço chamando minha atenção.

- Oi.

- Você está bem?

- Sim, quer dizer mais ou menos. Essa situação toda está me tirando o sono.

- Ei calma, vai ficar tudo bem. Daqui a pouco a polícia prende esse cara. – disse segurando minha mão.

       Naquele momento eu não lembrei de todo o sofrimento que ela me fez passar, naquele momento ela parecia a Alana por quem me apaixonei. Sorri, ao notar que isso não significava nada para mim. Larissa é a mulher que eu amo, Alana em nada me atrai.

- Obrigada. – sorri agradecendo.

- Disponha, agora preciso levar cerveja para aqueles dois. – falou divertida.

- Tudo bem.

        Ela pegou as bebidas e voltou para a sala, eles conversavam sobre uma festa de fim de ano que todos nós fomos para uma chácara dos pais de Alana. Lembrei de como havia sido divertido, porém não sentia saudades dessa época. A campainha tocou, eu pensei ser as pizzas, mas assim como me enganei em relação a chegada dos meus amigos, claro que errei mais uma vez.

      Abri a porta e dei de cara com Lari, confesso que senti um friozinho na barriga.

- Oi linda. – disse me beijando. – A aula acabou mais cedo, vim direto para cá.

      Fiquei completamente muda, o que será que ela iria dizer sobre a presença de Alana ali?

Fim do capítulo