Capítulo 4
POV Elisa
Eu linda? Carol só foi simpática, só isso, calma e respira. Se bem que parei de respirar na hora que ela segurou minha mão no restaurante dizendo que NÓS íamos à casa dos meninos e que ela viria me buscar, como assim? Preciso de uns 5 minutos de “ local sem Carol me olhando e sorrindo pra mim”.
- Obrigada Carol, demorei bastante para conseguir deixar do jeito que queria – ignorei o fato do elogio, nunca me senti confortável recebendo elogios, principalmente porque desde criança só me elogiavam por causa da minha mãe, eu nunca fui a Elisa em São Paulo, eu sempre fui a filha da Senhora Maria Angélica Bortolo.- Carol aceita uma água ou um suco? São as únicas coisas que tenho em casa – ou vinho, mas ficar alcoolizada no momento não seria uma boa ideia.
- Não Elisa obrigada. Fique tranquila.
- Bom fica a vontade, pode ligar a TV ou o som, vou até o quarto colocar o celular pra carregar e já volto – e também ficar longe de você e pensar um pouco.
- Ok, Elisa onde fica o banheiro?
- Nossa, me desculpe, primeira porta a esquerda, já volto.
Cheguei no meu quarto e coloquei o celular para carregar, fui até o meu banheiro e joguei uma água no rosto fiquei me olhando no espelho e pensando: - Será que estou imaginando coisas? Em momento algum alguém falou que a Carol é lésbica eu meio que deduzi por causa dos meninos e também porque ela me olha diferente e não só como uma amiga olha para outra. Mas e se eu estou viajando? E ela só quer mesmo minha amizade ... tá ok, ótimo, mas e se for a segunda opção e se ela é mesmo lésbica e está interessada? Porque estou tão preocupada com isso? Nem homem se interessa por mim imagina mulher ... ahhh mas que saco! – deitei na minha cama com os braços abertos e olhando para o teto. – Sei que a pergunta é outra.
- E eu? O que eu quero? – eu e minha mania de falar sozinha em voz alta. Passei 27 anos da minha vida tentando fazer tudo que minha família dizia ser o certo, será que até nisso eu acatei a eles e parei de sentir? Dos poucos relacionamentos que tive, ou minha família não gostava da pessoa e eu acabava pegando um”urgh”, ou me traiam. Estou a mais de um ano sem me sentir atraída por alguém, e desde ontem não consigo parar de olhar para a Carol, fico imaginando como seria um abraço dela, o beijo ... Definitivamente eu estou perdida, estou atraída por uma mulher linda, espetacular, inteligente, engraçada, simpática...
Eu, Elisa Bortolo Mesquita estou atraída pela Carol, melhor amiga dos meus amigos e que está na minha sala me esperando enquanto eu fico tendo uma DR comigo mesmo, tá tudo errado...como eu deixei isso acontecer? Preciso voltar para lá e deixar tudo explicado que somos somente amigas, eu não posso estar gostando dela, não é certo.
Voltando para a sala encontrei a Carol olhando um álbum que ganhei na minha despedida em São Paulo, até distraída ela continua linda.
- Oi, desculpa a demora – ela se assustou por ser pega olhando o álbum – nossa jura que você está olhando isso? Meus amigos fizeram antes de eu vir para cá para eu lembrar deles.
- Desculpa, você estava demorando e acabei me distraindo – sorriu continuando a olhar o álbum – se era um álbum de despedida para não esquecer deles, porque só tem foto deles se divertindo e não tem você com eles?
- Tem fotos minhas com eles sim – passei algumas paginas e encontrei – Olha aqui!
- Elisa, de trinta fotos você está em quatro, isso está errado, desculpa falar, mas super de mal gosto isso, tinha que ter mais fotos suas com eles para lembrar os momentos felizes que vocês tiveram. – Carol falou fechando o álbum e olhando para Elisa com um jeito irritado.
- Mas estou na maioria delas, não como a fotografada, mas como fotógrafa, sempre foi assim e eu acabei me acostumando eu tirava as fotos e aparecia em algumas – abaixei a cabeça mas antes fiquei bagunçando os cabelos da minha nuca, mania que tenho quando fico nervosa – e sinceramente de todos que estão ai, acredito que três deles eu vou levar para sempre o restante era puro interesse, e hoje eu vejo isso, é triste saber disso mas demorei um pouco mais que os demais para conseguir entender as pessoas.
- Como assim?
- Eu...as pessoas não me viam como Elisa, e sim como filha da minha mãe, minha mãe sempre se dedicou a causas sociais e como consequência disso entrou para a política ... ah deixa pra lá .. assunto longo e chato... – falei isso dando as costas para Carol e indo em direção do sofá me sentar.
- Hey, conversa comigo – Carol falou segurando meu braço - nada melhor que uma pessoa neutra no assunto para desabafar.
- Vamos sentar então, mas não me responsabilizo se você dormir no meio do assunto de tão chato que é – nos sentamos e após dizer isso olhei para ela sorrindo sem graça e percebi que ela sentou bem”BEM” perto de mim. – Carol, não quero que depois disso você me veja como uma pessoa diferente ou sei lá, como uma pobrezinha ou algo do tipo. – disse olhando em seus olhos, pois isso era um assunto que eu não queria que qualquer um soubesse, pois geralmente as pessoas dizem: pobrezinha! Ou então: ai que frescura! Mas me fez mal durante muitos anos e me fez ser quem sou hoje.
- Elisa, para com isso, tudo bem que mal nos conhecemos mas acho que a empatia foi mútua – falou isso e segurou minha mão – conversa comigo, se em algum momento se sentir desconfortável mudamos de assunto.
- Certo – não consigo soltar a mão dela, é mais forte que eu – minha mãe sempre foi uma pessoa que todos conheciam, pois fazia trabalhos sociais e em seguida entrou para a política, com isso nossa família ficou um pouco em destaque onde morávamos isso seria ótimo se não tratassem eu e minha irmã como filhas da Dona Maria Angélica, pois tudo era “facilitado” para nós, mas não do jeito bom, pois tudo o que nos sobressaímos, por exemplo, na escola era dito que como éramos filhas dela então tivemos facilidade, ficamos visadas também e perdemos qualquer liberdade que adolescentes comuns tem como, por exemplo, sair com os amigos para ir ao shopping, nunca podíamos pois iríamos como todos de metrô e ai seria perigoso pois todos nos conheciam. – Parei um pouco para respirar. – Ou seja, não saímos com amigos, não saíamos de casa, era uma prisão sem estar presa e ainda tinham as piadinhas. Eu era um pouco revoltada com isso e acabava desobedecendo algumas ordens e saia tentava ser “normal”, até que em uma destas saídas, eu tinha 16 anos, eu fui sequestrada.
- Nossa Elisa – agora ela segurava minha mão com as duas dela fazendo carinho, o que eu estava falando mesmo? – mas eles fizeram algo mais ... foi só o sequestro ... desculpa, continua.
- Não, me pegaram a hora que sai da estação e estava indo para casa, pois minha casa era perto e eu ia andando, eu achei que era um assalto tanto que falei para levarem tudo, mas foram me puxando para o carro, me levaram para um lugar bem afastado de onde eu morava e ficaram fazendo inferninho na minha cabeça, falando que iriam abusar de mim, que iriam me matar se não pagassem o resgate. – ah não tem como lembrar isso e não chorar me perturba até hoje.
- Vem cá – Carol falou isso e passou um braço pelos meus ombros me acolhendo perto dela – não precisa mais falar nada.
- Preciso Carol, o psicólogo que eu fui depois disso sempre disse que era bom eu falar, desabafar para não me sufocar como fiz anos atrás. – encostei minha cabeça no seu ombro e continuei a falar – Passei três dias presa nos fundos de uma casa, eu gritava muito quando percebia que eles saiam e em uma destas vezes um vizinho escutou e achou estranho, acabou chamando a polícia que já tinha sido notificada sobre o meu sequestro, só que enquanto os policiais chegavam os sequestradores também chegavam e ai houve uma troca de tiros a única coisa que fiz foi me encolher no papelão que tinha como cama e cobrir minha cabeça até que invadiram o quarto que eu estava, eu tremia tanto que os policiais falavam comigo e eu achava que respondia mas não saia palavra alguma, uma viatura me levou para delegacia e depois de me acalmar contei tudo para eles e eles falaram que prenderam dois dos sequestradores, eram em três. Em seguida, minha família chegou e foi aquele festival de abraços e “graças a deus”, estas coisas, só que a única pessoa que eu queria que me abrasasse e falasse algo me abraçou e disse: - você não deveria ter saído de casa, muito menos a pé! Viu o que aconteceu?tem que fazer o que eu mando! – Carol me segurou mais forte. – A vida inteira eu fiz o que me mandavam fazer, o que era o certo para todos, sempre coloquei minha família e o bem dela em primeiro lugar e o que recebo? Olhares tortos e palavras que magoam. Nos mudamos, fiz faculdade mas sempre tinha que ter hora para tudo, sempre eu tinha que ligar ou mandar mensagem de onde eu estava, muitas vezes deixei de sair com amigos ou até namorado porque não seria “seguro”, fui sufocada até que no último ano de faculdade não aguentei mais e comecei a ser “rebelde” – eu ri e a Carol também. – Com essa fase rebelde só existiam discussões e comparações com a minha irmã que como minha mãe diz é a filha certa. Passei a vida toda sendo sufocada com excesso de zelo, comparações, inveja, pessoas que queriam me usar para chegar até minha mãe e com isso ter relações afetivas independente do nível se tornou muito complicado para mim, até hoje algumas vezes eu me deixo de lado pelo bem dos outros, mas no início do ano passado eu decidi que tinha que mudar que queria mudar e foi ai que conheci o Guto em uma entrevista de emprego e estou aqui! – ri e levantei a cabeça para olhar para a Carol.
- Elisa, eu nunca iria imaginar que você passou por tudo isso e é esta pessoa fantástica que conheci ontem e já gosto – eu travei, escutei ela falando que gostava de mim e fiquei com cara de idiota olhando para ela – Todos temos coisas que iremos carregar para o resto da vida, no seu caso é este sequestro e a vida de prisão que levou antes e depois até que chegou uma hora que você teve que”fugir”, além de um relacionamento conturbado com a pessoa que mais precisamos no mundo,mãe.
- Sim, mesmo eu sabendo que nada disso é culpa dela e sim consequências da vida que ela tem e ao mesmo tempo eu saber também que esta vida que ela tem ajuda milhares de pessoas, eu senti a vida toda falta da minha mãe, falta da família, e hoje sinto principalmente falta da minha irmã.
- Sim, eu entendo você.
- Com isso tudo, eu sempre tive medo de me entregar em relacionamentos de todo o tipo sendo de amizade ou namoro, pois sempre achava que estavam me usando querendo algo em troca de estar comigo. Até que na faculdade conheci pessoas espetaculares, e outras não, e algumas delas eu vou levar para sempre como amigos. Só que eu precisava sair de perto de todos e começar outra vez, descobrir quem realmente é a Elisa. – me afastei de Carol e agora virei de frente para ela pois queria saber o que ela achava disso tudo e rezava para que ela não fosse como os outros e ficasse com dó de mim, eu não quero isso.
- Concordo com você, enquanto você não se encontrar, não se descobrir como a verdadeira Elisa, tudo em sua vida será incompleto ou cheio de problemas. Em relação ao sequestro, graças a deus que você foi resgatada e que está aqui com vida, claro que com lembranças ruins, mas que não impediram você de seguir em frente, e isso já mostra o quanto você é forte – Carol sentou de lado no sofá também para ficar de frente para mim e nunca deixando de soltar minha mão.
- Obrigada Carol – olhei para baixo, pois estava já esperando algo como: coitadinha de você Elisa, e isso com certeza iria me decepcionar muito.
- Em relação a sua criação, sinto muito por você não ter aproveitado tanto sua infância e adolescência, e até a fase adulta. Mas agora com Guto e Bernardo como amigos pode ter certeza que se divertir e aproveitar muitas coisas que não aproveitou irá acontecer. – Carol falou isso dando aquele sorriso lindo dela e eu desde que escutei e percebi que não era dó já estava olhando para ela igual uma babaca. – Já em relação a sua família, principalmente a sua mãe e irmã, você não acha que está na hora de terem uma conversa?Pois em nenhum momento você disse que alguma vez conversou com elas sobre tudo que te deixava mal.
- Não tem como conversar com elas Carol, sempre vou ser a infantil, a egocêntrica que foi embora e deixou a família.
- Elisa, você já tentou? Depois que veio morar aqui você já voltou a São Paulo?
- Não, não tentei, só vou para São Paulo no final do ano. Fora isso quero viver minha vida.- tentei levantar mas Carol me segurou e me puxou pela mão para eu continuar onde eu estava.
- Já tinha percebido desde ontem, mas agora deu pra ver melhor como você é teimosa – disse rindo – Elisa, pelo o que você me contou, você já mudou muito, só de vir para um estado diferente e estar se virando sem a ajuda delas, ter suas amizades mostra o quanto você é forte e corajosa, será que a Elisa nova não conseguiria conversar com elas?Pensa nisso.
- Eu não sei Carol, eu tenho medo de falhar, de acabar sendo idiota mais uma vez e sair de lá sem falar uma vírgula do que queria mesmo falar. – abaixei minha cabeça outra vez e em seguida senti a outra mão da Carol levantar meu rosto.
- Para de falar que você é ou será idiota! Enfrentar tudo que você enfrentou e ser esta pessoa incrível que estou conhecendo não é coisa de alguém que algum dia já foi idiota, confia mais em você, não veio para cá para melhorar e fazer o que você quer? Decidir como será sua vida daqui para frente? Então seja a Elisa que eu estou vendo, conhecendo e gostando – ai minha nossa senhora, ela quer me deixar louca só pode ser isso, me fala tudo isso em seguida me olha como se eu fosse importante e agora faz carinho no meu rosto, estou perdida.
- Carol ... eu ... – fechei meus olhos e quando abri outra vez ela já estava mais perto de mim olhando dos meus olhos para minha boca, e quando percebi eu já estava fazendo o mesmo e chegando mais perto dela.
E foi ai que a realidade nos chamou de volta, o celular da Carol tocou e eu dei um pulo do sofá levantando e ela ficou parada onde estava e um pouco depois de sacudir um pouco a cabeça em sinal de confusão ela pegou o celular que estava do outro lado do sofá e atendeu, era o Bernardo perguntando onde ela estava e ela disse que já estava chegando, enquanto isso eu fui ao quarto pegar meu celular e colocar a cabeça em ordem e também me lembrar como se respira. Voltei para sala, ficamos sem graça, eu muito mais que ela e sugeri irmos para a casa dos meninos pois meu celular também estava cheio de mensagens do Guto.
- Melhor irmos, o Guto está quase saindo de lá e vindo aqui ver se estou bem.
- Tudo bem, vamos.
Saímos do meu apartamento em silêncio e seguimos até a casa dos meninos, em silêncio ainda. Quando tocamos a campainha deles eu me virei para ela antes da porta abrir e disse:
- Desculpa. – ficamos nos encarando e quando ela foi se aproximar de mim levando sua mão para o meu rosto outra vez a porta abriu.
- Olha só!!!! Chegaram e juntas, como assim? E porque demoraram?E porque essas caras de cachorros que caíram da mudança? Cruzes!!! Entrem! – entramos e a partir daí eu não conseguia mais ficar perto da Carol, sou uma burra, preciso falar com o Guto.
Fim do capítulo
Olá meninas, mais um capítulo!!!
Obrigada por todos os comentários !!!
bjosssss
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Mag Mary
Em: 06/11/2015
Gente a Elisa já passou por tanta coisa mas continua aí firme e forte tentando se encontrar, se descobrir de verdade. Gostei da atitude da Carol dando apoio pra ela.
Só não gostei do celular tocando bem na hora exata rsrs
Bjus
Resposta do autor:
Oiii
Sim, e os amigos foram fundamentais nesta busca para se descobrir !!! Carol é demais rs... sou suspeita para falar das duas rs ...
Ahh esse maldito celular rsrsrsr
bjos
Luh kelly
Em: 24/10/2015
Oiiiii MAGGIE, nossa quanta coisa a Elisa já passou, mas foi bom ela desabafar com a Carol dizer como se sente, esse problema com a familia, Carol é uma boa ouvinte e deu conselhos muito bons. Sacanagem na hora que elas iam se beijar essa merda de telefone toca. afffff
Será que não rola um beijinho nessa festa.kkkk
BEIJO grande MAGGIE e um maravilhoso fim de semana.
Resposta do autor:
Oi Luh Kelly, tudo bem ?
A Carol é sensacional ... e se encantou com a Elisa, tipo aquela coisa do santo bater rs ...
Quem sabe nesta reuniãozinha algo não aconteça rs ...
bjos e ótimo FDS para vc tbm !!!
Obrigada por ler e comentar !!!
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NayGomez
Em: 24/10/2015
Ooooooh celular fdp e maldito quem abriu a porta afeeeeee quando o finalmente ta pra acontecer ele simplismente nal acontece... Kkkk
Resposta do autor:
Hahahaha
Calma NayGomez, prometo que a hora delas está chegando rs
Obrigada por ler e pelo comentário !!!
bjos
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Srta Petrova
Em: 23/10/2015
Poxa :( nem um beijinho :( rsrsrsr
Já sei nessa reuniãozinha ai vai rolar alguma coisa, tenho certeza rsrsrsrs
vamos, coloca fogo nisso minha querida srsrsrsr tá legal demais.
Baijossss.
Resposta do autor:
Calma rsrsrs
Já disse q a Elisa é lerda ...
Mas logo logo acontece rs ... obrigada por ler e comentar !!!
bjos
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