Elisa mudou-se para Porto Alegre há 10 meses, morava em São Paulo com sua mãe e irmã quando percebeu que precisava seguir sua vida e se libertar, pois nunca se sentiu livre ou plena, sendo ela mesma. Com isso, se candidatou a muitas vagas de trabalho pelo país todo e por “sorte” como ela mesmo dizia conseguiu uma entrevista em uma construtora de Porto Alegre e assim que fez a entrevista foi contratada por Guto, Diretor Geral da Alcântara e Andrade Construções, e também filho do proprietário da empresa. Já na entrevista Elisa e Guto sentiram que não seria somente uma relação de empregador e empregado e sim de amizade, o que foi comprovado com o passar dos meses.

- To passando ai com o Bê para te pegar e irmos ao Pub ok?- dizia Guto ao telefone com uma Elisa ainda de pijamas e debaixo do edredon.

- Guto, melhor eu ficar em casa hoje não estou me sentindo bem acho que irei ficar gripada, sei lá... – dizia Elisa querendo escapar do casal de amigos.

- Amore! – era como Bernardo, o BÊ, chamava a todos os que ele gostava carinhosamente – levanta agora e se arruma, senão eu vou entrar no seu apartamento, no seu guarda roupa ... que por sinal precisa de uma reforma com o jeito Bê de ser ... – risadas altas do Guto – e na sua vida minha querida paulistinha e fazer uma revolução em você, 10 meses na seca não dá então levanta e vamos sair! Em 20 minutos estamos ai, e sei que você é rápida, beijos amoré!!!

Elisa nem respondeu, simplesmente cobriu sua cabeça e gritou – Fuck!!!-em 2 minutos estava em frente ao seu guarda roupa procurando algo para vestir, seu estilo era bem casual pois como engenheira civil não gostava de nada muito justo para trabalhar porque ia em obras e sempre com muitos funcionários e mesmo assim já a olhavam. Elisa tem 1,73 de altura, loira, olhos azuis, a vida inteira foi gordinha, mas um ano antes de vir para Porto Alegre decidiu mudar, pelo motivo errado que era seu ex, mas como ela mesmo diz foi o que sobrou de bom depois do chifre, hoje por onde passa chama atenção tem aquele típico corpo de mulher brasileira com coxas grossas e quadril largo, e agora com braços definidos e sem barriga, porém ainda não tirava da cabeça que era “gordinha”.

- Que droga, gordinha só se ferra ao sair as pressas, bom, se fosse pra escolher também iria me ferrar ... – disse colocando uma legging preta jeans, uma regata justinha preta e por cima uma camisa xadrez roxa com preto também mais justa e comprida a qual sempre deixava os botões sobre o colo abertos e nos pés uma bota de cano baixo, se olhou no espelho – até que não estou tão ruim, é Elisa, segunda feira comer mato e correr igual uma condenada na academia – foi se maquiar nunca se deu bem com maquiagem, mas era de lei pelo menos quando saia se maquiar, sempre caprichava no rímel para realçar os olhos que ela dizia que era a única coisa que tinha de bom.

O interfone tocou e era o Sr. João avisando que tinha um amigo esperando por ela lá embaixo.

- Obrigada Sr. João, avisa que estou descendo, obrigada!

Elisa pegou sua bolsa trancou seu apartamento e foi pelas escadas mesmo pois não tinha paciência para elevador e morava apenas no terceiro andar.

Chegando a portaria já viu o carro do Guto, um Jeep Gran Cherokee preto, que era sua paixão o que levava Elisa e Bernardo a atormentarem ele com isso sempre. Encaminhou-se para o carro, quando a janela do passageiro foi aberta.

- Ui Paulista, até que hoje você acertou, adorei o look, mulherada vai cair matando !!!- Bernardo sempre atormentava Elisa, mesmo sabendo que ela nunca tinha ficado com nenhuma mulher, sempre namorou homens e desde o fatídico chifre não esteve com mais ninguém.

- Guto, por favor, controle seu homem !!! – disse Elisa entrando no carro e beijando o rosto dos dois – Bê, quando você vai parar com isso? Já te falei que não sou homossexual, mais de mil vezes, e para onde vamos já que me tiraram do meu sossego?

- Amore, você ainda não sabe que é sapinha, mas tenho olhar clínico para isso, e desde que te conheci isso está comigo, e só você não percebe a mulherada olhando para você, confesso que homens olham também, mas você se faz de cega para os dois, o que acho um desperdício-disse Bê rindo, e ele tinha razão, Elisa era muito tímida, e depois que foi traída ficou muito introspectiva nunca olhando mais de uma vez para alguém e se alguém se aproximava para puxar assunto ela logo pedia licença e inventava algo para fugir.

Com isso tudo em mente, Elisa passou o restante do caminho em silêncio enquanto Guto e Bernardo discutiam qual música colocar, logo chegaram ao Pub que era muito frequentado por eles e também por amigos em comum.

- Li – apelido que Guto usava quando via que Elisa estava no mundinho dela pensativa e um pouco para baixo – não fica assim, você sabe como o Bernardo é, ele é você de calças avançado – risos – super sincero e muitas vezes fala demais.

- Eu falo demais? Ok Sr. Guto, ficarei quieta e vamos ver se você aguenta ficar sem falar comigo – Elisa e Guto tinham uma amizade onde pareciam irmãos brigavam e logo em seguida já estavam se abraçando e Guto sempre dizia que ela falava muito e que se ficou quieta é porque algo está acontecendo, e Guto não suportava ver Elisa ou Bernardo quietos, era como se fosse um castigo para ele.

- Tá bom retiro o que falei Li, desculpa é que só quero te ver bem – dizia Guto procurando por Bernardo que já tinha entrado no Pub – você sabe que é muito importante para mim, e não aguento mais ver você assim faz mais de um ano q tudo aconteceu e 10 meses que você está aqui mas mesmo assim você se prende ao passado e fica ai querendo se esconder do mundo.

- Guto, ainda é difícil para mim eu fiz de tudo por alguém que preferiu me trair com a ex, ainda dói, tenho medo de me entregar outra vez a alguém e me machucar como me machuquei, mas concorda que já melhorei? Meses atrás eu nem saia de casa a não ser para o trabalho! – dizia Elisa na porta do pub com Guto.

- Eu sei Li, só queria que você se desse uma chance entende? Vamos fazer o seguinte, hoje você vai dar mais um passo gigante em relação a sua vida vai entrar beber conversar rir e vamos nos divertir e toda vez que eu ver que você está triste você vai ter que tomar uma tequila ok? – Guto apelou, sabia que tequila acabava com a vida de Elisa, o pior porre que ela teve na vida foi de tequila, mas ele queria que sua amiga se divertisse mais e se abrisse para a vida outra vez.

- Você só pode estar louco - disse rindo – você sabe que tequila acaba com a minha vida!

- Por isso mesmo, ou você se diverte ou fica de ressaca.

- Nem pensar!

- Ok, então lembra aquele projeto que você queria que aprovássemos em relação à reforma da praça ao lado do Titanium 1? Nem pensar também!- Guto jogou sujo.

Pois o empreendimento Titanium 1 ficava muito próximo a uma área carente da cidade e Elisa queria revitalizar a praça para que as crianças da redondeza pudessem ter algo melhor, os gastos teriam que ser bancados pela construtora e só o Diretor Geral, Guto, poderia dar o aval. Guto já tinha assinado aprovação do projeto naquela tarde, mas não tinha dito para Elisa ainda, pois além de ser algo muito bom para imagem da empresa, Guto também se importava muito com causas sociais, sua mãe tinha uma ONG e ele sempre participou desde pequeno de tudo.

- EU NÃO ACREDITO! CHANTAGEM!- gritou Elisa dando um tapa no ombro de Guto – Ok, então eu quero a praça e o ralf de skate, e entro agora neste pub e já tomo uma tequila! – disse encarando Guto com uma sobrancelha arqueada esperando sua resposta.

- FECHADO!- Guto estendeu sua mão para fecharem o “acordo”

Entraram no Pub procurando o Bernardo, o viram do lado oposto que entraram, perto do palco onde iria ter uma banda tocando pop e rock.

- Aleluia! Estavam fazendo o que lá fora? – perguntou Bernardo já tomando o seu whisky.

Chegando próximos a Bernardo, Elisa viu que tinham algumas pessoas conhecidas na mesa que estavam ao redor e também pessoas que ela não conhecia, e uma delas chamou atenção de Elisa que mesmo não querendo encarar a pessoa sentiu algo a atraindo e não conseguia parar de olhar até que Bernardo começou as apresentações.

- Elisa, você já conhece o Paulo, a Kátia e a Cris – nisso Elisa já estava cumprimentado os amigos de Guto e Bernardo.

Paulo, Kátia e Cris eram amigos do casal a mais de 10 anos e sempre saiam juntos, Paulo e Kátia eram médicos como Bernardo e Cris era chefe de enfermagem, eram pessoas super alto astral e divertidas sempre gostaram muito de Elisa, Cris até era mais próxima de Elisa por suas afinidades e principalmente por adorarem a serie Grey’s Anatomy e sempre que se encontravam algum assunto sobre a série surgia.

-Cris, estreia esta semana a nova temporada!!! Temos que marcar para ver!!!

-Mas com certeza! Eu ia comentar com você hoje mas você foi mais rápida – disse Cris rindo – Já vamos preparar os lencinhos.

- Elisa, vem aqui!- Guto chamando para onde Bernardo estava junto de mais duas mulheres, sendo uma delas a que Elisa encarou quando chegou.

Elisa deu a volta na mesa e foi até eles, antes de chegar reparou um pouco nas duas, uma ruiva mais baixa que ela de sorriso fácil e que parecia ser muito simpática pois estava pendurada no pescoço do Bernardo, olhos verdes, branquinha. Já a outra, ahhh a outra, fez com que Elisa ficasse se sentindo um pouco estranha e desconfortável, pois jurava a si mesmo que nunca tinha visto mulher tão linda quanto ela, uma morena de cabelos pretos até os ombros jogados de lado, olhos negros, boca bem feita, com sorriso fácil e lindo, mais alta que ela deveria ter 1,78, aquele corpo de jogadora de vôlei com tudo no lugar, bom Elisa nunca teve falta de ar ou asma, mas no momento estava sem fôlego.

-Oo...oi Guto – disse Elisa gaguejando e tentando a todo custo só olhar para Guto.

- Li, quero te apresentar duas amigas sumidas que deveriam aparecer mais e pararem um pouco de trabalhar tanto..

- Quem trabalha muito é a Dra. ai, eu to sempre na pista mas ela insisti em ficar em casa estudando os casos dela – disse a ruiva a qual soube depois que se chamava Letícia.

-Elisa – diz Bernardo – esta doida que eu adoro aqui é a Letícia, melhor advogada que você pode encontrar nesta cidade, maluquinha assim, mas dentro do tribunal se transforma – risadas.

- Muito prazer, Elisa. – disse Elisa cumprimentando Letícia.

- O prazer fica para mais tarde, satisfação conhecê-la. – disse isso piscando para uma Elisa que ficou rosa arrancando gargalhadas de todos – Báh guria, to brincando não precisa ficar tomate não, confesso que foi o Be que pediu para fazer broma com você.

- Obrigada Be, também te amo tá? Vou lembrar-me disso na reforma do apartamento de vocês. - diz Elisa já voltando ao normal e tentando brincar para não perceberem o desconforto gerado pela expectativa da próxima apresentação.

- Ai miga, deixa de ser ruim ... e está aqui é a mulher da minha vida, minha ídola na medicina, mesmo sendo de especialidades diferentes, minha “Best” Dra. Carolina. – falou Bernardo passando o braço pelos ombros de Carolina.

- Olá, muito pra.....droga – todos começaram a rir de Elisa novamente pois ela iria outra vez dizer muito prazer e ficou sem graça.

- Olá Elisa, não ligue para eles, já percebi que o papel de ser a mascote do grupo passou para você e fico feliz porque antes eu que era sempre atormentada por eles. – Carolina falou isso com um sorriso no rosto e se aproximando de Elisa para dar aquele famoso beijo de comadre no rosto.

Elisa e Carolina se cumprimentaram, e ambas sentiram que naquele roçar de rostos algo foi diferente, como se fosse um choque, se afastaram olhando uma nos olhos da outra, Carolina balançou um pouco a cabeça disfarcadamente como se tivesse colocando as ideias no lugar e continuou a sorrir, já Elisa, coitada da Elisa, estava com cara de boba e para disfarçar tentou sorrir mas o sorriso parecia mais uma cara de dor, ela estava perdida não sabia o que fazer ou falar até que Guto pescou algo no ar e falou:

- Carol, a Elisa trabalha comigo, meu braço direito, mesmo sendo paulista e muito acelerada – risos

Elisa voltou um pouco do mundo da lua e disse:

- Você que me acelera todos os dias, até para vir pra cá só me deram 20 minutos, e desculpa – disse olhando para Carol e Letícia - podem me atormentar, mas foi um prazer conhecer vocês.

- Prazer aqui, prazer ali e nada de a senhorita pagar a aposta, vamos para o bar que Elisa me deve uma dose de tequila, ou melhor, ela tem que tomar uma dose de tequila, alguém acompanha?- Guto disse já puxando Elisa para o bar.

Os outros três seguiram eles para o bar, então Guto pediu cinco doses de tequila, todos pegaram seus copos limão e sal, menos Elisa que não suportava a mistura e sempre tomava a tequila pura. No canto do bar antes de tomar a tequila Guto falou com Elisa.

- Você está bem? Meio que paralisou na frente da Carol, se eu não te conhecesse, acreditaria nas suposições do Be.

- Eu só me surpreendi, sei lá, elas são lindas não é, qualquer um vê isso e ai fiquei um pouco estranha ... ah Guto ... não sei o que houve comigo ... vamos beber que quero garantir minha praça reformadinha!- Elisa disse isso já virando sua tequila e batendo o copo no balcão fazendo uma careta, olhou para o lado e deu de cara com Carol a olhando, e como sempre desviou o olhar e pediu uma cerveja.

- Li, você sabe que to sempre aqui certo? Fica tranquila só eu percebi algo e não vou falar com o Be porque sei que ele iria te atormentar mais, e olha, você pode dizer que não foi nada, mas tem coisa ai ... ahhh se tem.

- Você está pegando a mania do Be, eu to bem, to aqui com vocês tomando minha cerveja numa boa, vamos focar nisso ok?- disse Elisa tomando um gole de sua cerveja e olhando outra vez para o lado e seus olhos procurando por outro par de olhos só que negros.

-Tudo bem, vamos nos divertir, e a propósito, elas foram ao banheiro, por isso você não viu mais a Carol – Guto disse isso sorrindo e saiu andando em direção a mesa onde estavam anteriormente deixando uma Elisa confusa vindo atrás.

- Fuck ... – Elisa disse baixinho e seguiu seu amigo em direção a mesa – só me faltava essa agora, calma Elisa, você só achou ela bonita por isso olhou mais do que deveria, isso é normal, mulheres admiram outras – falou para si mesmo se encaminhando a mesa onde estavam todos.

- Ai que engraçado, este Bernardo não presta, atormentando a guria assim – Letícia falou lavando suas mãos esperando Carol sair do reservado do banheiro. – Mas acho que ele está certo, só ela não sabe ainda que ela não é hétero.

- Como assim? Lê – perguntou Carol indo lavar suas mãos.

- A Carol, você já foi melhor hein, a guria quase te engoliu com os olhos vai dizer que não percebeu.

- Claro que não Lê. – disse Carol se lembrando daqueles olhos azuis e sorrindo.

- Xiii já vi que não foi só ela que ficou de olhares então, isso ai Dra. já estava na hora de partir para outra, fora que a guria é linda, e engenheira, ou seja, não vai ser mais uma Geórgia na sua vida tentando te usar.

- Ai Lê, para com isso e não saímos para que eu esquecesse estas coisas? Geórgia é passado, acabou a um bom tempo, e só não sai antes porque estava me dedicando ao mestrado.

- OK, OK, OK parei, vamos beber e nos divertir que estou muito feliz que minha amiga voltou a vida e pretendo rir muito ainda hoje com a guria tentando não olhar para você. – falou Letícia saindo do banheiro em direção ao bar.

- Vamos sua doida!

Carol saiu do banheiro seguindo a amiga e pensando – Letícia tem razão à guria é linda, ficou mais linda ainda quando ficou vermelhinha ... Ahh Carol, para com isso que você não quer mais complicações para sua vida, portanto se interessar por alguém que nem sabe que gosta de mulher não é uma coisa boa. – e seguiu para o bar ainda pensando na guria e foi pegar uma bebida com sua amiga para tentar tirar um pouco os olhos azuis de sua mente.

Fim do capítulo