Capítulo 29
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 29
Bruna virou-se e viu a mãe descendo os degraus. Ela estava linda. Discreta, mais linda.
-- Não perderia o noivado da minha filhinha, por nada nesse mundo...
Bruna abriu um sorriso expressando grande alegria. Seus olhos brilhavam, feito uma estrela.
-- Você é a melhor mãe do mundo. Sabia?
-- Claro que sabia - abraçou a filha.
-- E a mais linda.
-- Isso eu também sabia.
-- Eu não vou deixar você ir sozinha - jogou o capacete em cima do sofá - Vamos no seu carro.
-- Mas você não vai se atrasar Bruninha?
-- Se sairmos agora, ainda chegamos antes que elas. Vamos mãe - pegou na mão da mãe e a saiu puxando.
Na Barra.
-- Eu não vou.
-- Vic a Bruna teve um imprevisto - Sabrina estava a meia hora tentando convencer a morena emburrada.
-- Nenhum imprevisto é mais importante que eu - cruzou os braços -- Não vou.
-- Priscila. Faz alguma coisa - implorou.
-- Vic - Priscila segurou as duas mãos dela nas suas - A mana teve uma emergência médica. Inclusive se viu obrigada a ir de moto - fez a melhor cara de desolação.
-- Sério? Tadinha. Porque não falaram antes - foi até o quarto pegou a bolsa e voltou rápida - Então vamos.
Sabrina comemorou e levou um beliscão da Priscilla.
No Apartamento de Ricardo.
-- Meu Deus Thiago. Estou começando a achar que nós somos os noivos - jogou-se no sofá -- Criatura do céu você já colocou um pote de gel nesse cabelo.
-- Ric, Ric. Quanto mais você fala, mais eu fico nervoso, mais eu demoro - jogou o pote sobre o sofá - Esse meu cabelo está um horrorrrrr...
Na rodovia a caminho de Angra.
-- Então essa reunião vai marcar o fim do reinado do papai no Sontag, né mãe?
-- Digamos que sim, filha. Seu pai aprontou demais. Agora não estou falando dele como meu esposo. Agora estou falando dele como presidente. Ele desviou milhões ou bilhões, não sei ao certo. Ainda não terminamos a auditoria no hospital. Comprava aparelhos, equipamentos para o hospital, de empresas estrangeiras e superfaturava.
-- Juro que nem em meus piores pesadelos, eu poderia imaginar atitudes tão desonestas do meu pai. Você tem as provas de tudo isso mãe?
-- Tenho filha - parou no sinaleiro - Por falar nisso, é melhor que mais alguém saiba - o sinal abriu - As provas estão no banco, no meu cofre particular. A senha é o seu nome de trás para frente. Se precisar fale com a minha advogada, a Dulce. Ela é de confiança e vai ajudar.
-- Que criativo, mãe - brincou.
-- Muito - sorriu.
Débora não lembrava a última vez que havia saído com Bruna para passear. Aquele programa estava lhe fazendo muito bem. Sentia-se leve, feliz. Bruna sempre foi a menininha mimada do papai. Sempre que Débora falava algo que ela não gostasse, saia chorando para o colo dele. Por isso nunca se intrometeu na educação dela. E hoje parando para pensar, o sem vergonha até que fez um ótimo trabalho.
-- Coloca uma música bem animada para a gente ir escutando Bruna.
-- Claro, mãe - Bruna procurou os cds no porta luvas do carro - Preciso te dar uns cds de presente. Aqui dentro está praticamente vazio. Só tem um envelope e dois cds.
-- Mandei o carro para lavar hoje pela manhã lá no hospital e provavelmente eles tiraram o estojo e esqueceram de colocar novamente. Esse envelope aí é o meu presente de noivado para vocês duas. Pode abrir.
Bruna abriu sorrindo.
-- Poxa mãe, que show! Um apartamento no Leblon?
A loira estava feliz, não só pelo fato de ter ganho um presente maravilhoso, mas pela mãe, depois de tanto tempo, ter reservado esse momento tão especial para ficar ao lado dela. Deixando de lado todos os sentimentos ruins que nutria pela futura nora.
-- Não é só um apartamento. É o apartamento, Bruninha.
-- Não precisava mãe. Estou há algum tempo economizando para comprar um imóvel no Leblon.
-- Eu sei, e gastou o dinheiro comprando o anel.
-- Só um pouco.
-- Bruna, o hospital é seu e da sua irmã. Não precisava ficar juntando dinheiro para comprar um apartamento.
-- Eu quero lutar pelas minhas coisas, mãe. Não quero nada de mão beijada. Vocês já me deram tanto. Pagaram meus estudos e me bancam até hoje - dobrou o envelope e guardou no bolso.
Débora fitou o rosto da filha por poucos segundos.
-- Filha, quando eu crescer quero ser igualzinha a você.
-- Que tal o Rappa?
-- Rappa é ótimo.
Colocaram o som bem alto e cantavam juntas.
Pescador de Ilusões -- O Rappa
Se meus joelhos não doessem mais
Diante de um bom motivo que me traga fé
Que me traga fé
Se por alguns segundos eu observar. E só observar
A isca e o anzol A isca e o anzol
A isca e o anzol A isca e o anzol...
Na rodovia muitos quilômetros atrás...
-- Nós vamos chegar super atrasadas. O noivado já vai ter terminado - Victória estava no banco de trás com o celular na mão e olhar perdido lá fora.
-- Com sorte chegaremos para o casamento - Sabrina guiava a pick up de Bruna tranquilamente pela rodovia. O trânsito estava muito bom naquele horário.
-- Sempre exagerada né dona Brina. Nem estamos tão atrasadas assim.
-- Como que não, Prí? A Bruna de moto, já deve estar a tempo lá em Angra.
-- Você acha Sabrina? - Victória animou-se.
-- Acho. Com esse trânsito calmo e aquela moto potente, ela já deve ter pego umas... - olhou para Victória pelo retrovisor e achou melhor mudar o discurso - Dez coxinhas de galinha e umas cinco empadinhas.
No carro de Débora...
-- A Priscilla me falou que o anel de noivado é lindíssimo. Posso ver?
-- Claro. Vou pegar na mochila - Bruna desconectou o cinto de segurança e virou-se para pegar a mochila no banco de trás.
-- Eu nunca gostei desse rio que acompanha a rodovia até Angra. É assustador.
-- Acho ele bonito. Ao menos não é tão poluído como todos os outros.
-- Isso é verdade.
-- Olha, só mãe - Bruna abriu a caixinha e mostrou para ela.
-- Gente, que joia mais linda! Nem seu pai com todo aquele jeito de Don Juan, me deu um presente tão lindo.
Bruna sorriu orgulhosa.
-- A Vic não é muito dada a esse glamour, acho que o gesto é que vai deixar ela feliz.
-- Toda mulher gosta de gestos romântico - concluiu voltando a concentrar-se na estrada.
-- Vou deixar a caixa no bolso para me garantir. Caso eles cheguem antes - guardou a caixa e jogou a mochila para trás.
-- Já estamos quase...
Em uma curva Débora pisou no freio e eles falharam. A primeira coisa que fez foi olhar para a filha. Entrou em pânico. Não meu Deus...
-- O que aconteceu mãe? - Bruna percebeu o olhar de desespero da mãe.
-- Estamos sem freio - não sabia o que fazer.
O carro aumentava a velocidade drasticamente. Em segundos já estava desgovernado.
-- Mãe... - a imagem de Victória, Priscila, Sabrina, vieram em sua cabeça em questão de segundos. Olhou para a mãe e uma lágrima rolou de seu rosto pálido...
Débora perdeu o controle da direção. Bateu contra a mureta de proteção da pista e capotou.
O que se seguiu foi uma série muito rápida de capotagens que lançou Bruna para fora do carro.
Ele deu uma pirueta no ar e foi tombando aos poucos até o rio, onde gradualmente, foi ficando submerso... em poucos minutos desapareceu.
Na pick up...
-- Agora estamos perto.
-- Sabrina aonde você colocou os nossos presentes? - Priscila olhava por todo o carro.
-- Está aqui Priscila - Victória pegou as rosas e entregou para a garota.
-- Obrigada Vic, e a sua?
-- Está aqui - fechou os olhos e aspirou o perfume da flor.
-- Gente. Olhem quantos pedaços de carro espalhados pela rodovia - Sabrina passou lentamente pelo local.
-- Caramba deve ter sido um baita de um acidente - Priscilla abriu o vidro do carro para ver melhor.
-- Os carros já foram retirados do local, então deve ter sido atarde - Victória moveu-se um pouco para frente para olhar.
-- Espero que estejam todos bem - Sabrina olhou no relógio - Estamos no horário.
No carro de Ricardo.
-- O que você está fazendo Thiago?
-- Estou passando uma sombra bem leve, que destaque melhor os meus olhos castanhos.
-- Que fofo.
Ricardo passou por cima de um pedaço de carro.
-- Meu Deus, o que foi isso Ric? - Olhou-se no espelho - Aiiiiii...
-- Jesus...
-- Olha o que você fez. Me borrei todo.... Agora é que não vou mais mesmo.
-- Não tenho culpa se tem pedaços de carro por todo esse trecho da rodovia.
-- Podia ter cuidado, né amor? Vou tentar dar um jeito nisso.
Ricardo deu um sorrisinho disfarçado. Thiago estava parecendo a Amy Winehouse.
No local do acidente.
Depois de algum tempo o socorro chegou. Foram chamados por um morador que passava pelo local e estranhou a mureta quebrada, os pedaços de carro pelo asfalto e o mato à beira do rio estar todo amassado. Olhou ao redor e encontrou uma pessoa caída no chão desacordada.
Os paramédicos agiram em conjunto com os bombeiros para retirá-la em segurança do local. Ela estava bem machucada. No local recebeu tratamento emergencial e um colar ortopédico. Em seguida foi carregada de maca até a ambulância.
Em Angra dos Reis.
Quando chegaram a festa ficaram espantados, a casa estava toda iluminada e enfeitada. Ouviram um som alto que vinha lá de dentro, parecia uma banda tocando músicas estilo anos 80.
Sabrina abriu a porta do carro para Victória sair. Ela olhava para a casa admirada. Estava linda demais.
Um carro parou ao lado deles. Era Ricardo e Thiago.
-- Que sonho - Thiago colocou a mão na boca.
A fachada da casa estava enfeitada por luzes douradas e rosas vermelhas. Bruna não economizou nenhum centavo pela decoração.
Caminharam em direção a entrada aonde foram recepcionados por uma moça muito simpática e atenciosa, que os guiou até o interior da casa.
Lá dentro a beleza era ainda maior. As rosas vermelhas preenchiam as mesas e alguns arranjos na parede.
A música estava agora mais alta. A banda tocava em um jardim nos fundos da casa. Muitas pessoas dançavam e bebiam. Garçons passavam com bandejas oferecendo taça de champanhe aos convidados.
Sabrina agarrou Priscilla pelo braço e a puxou para um canto.
-- Não estou entendendo. Aonde está a sua irmã?
-- Não faço a menor ideia - abriu a bolsa e retirou o celular - Vou tentar falar com ela.
Victória olhou ao redor procurando por Bruna, mas de conhecida avistou somente Adriana.
-- Adriana, você viu a Bruna?
-- Não Vic. Achei que ela viria com você.
-- Aconteceu um imprevisto. Ela viria de moto - estava ficando nervosa.
-- Daqui a pouco ela aparece. Não se preocupe - tomou um gole de champanhe.
-- Descobriram quem são os noivos? - Victória perguntou por perguntar.
-- Ainda não. Que mistério, não é mesmo?
-- Verdade, mas seja lá quem for, devem estar muito apaixonados. Isso aqui está um verdadeiro mar de rosas.
-- Sabe Vic, se alguém fizesse uma festa de noivado dessa para mim, eu nunca mais largaria dela. É coisa de princesa.
Risos.
-- E então Prí? - Sabrina estava desesperada.
-- Liguei para a mana e o celular dela parece estar desligado - respirou antes de continuar - Liguei para casa e a Marga contou que mamãe mudou de ideia e resolveu que viria a festa.
-- De moto?
-- Não. As duas vieram no carro da mamãe.
-- Então está explicado a demora. O jeito é esperar. Elas devem estar pintando por aí.
-- Eu vou tentar enrolar a Vic. Ela está uma pilha.
-- Vai lá.
No Hospital de Praia Brava em Angra dos Reis.
-- Ela não tem nenhum documento, mas em seu bolso encontramos um envelope com uma escritura de imóvel em nome de Bruna Sontag e Victória Galvão. Havia também uma caixa com uma joia.
-- Será que ela é a Bruna ou a Victória?
-- Sontag não é aquele hospital particular do Rio?
-- Helena Sontag...
-- Em todo caso, vamos ligar para eles e perguntar - a recepcionista procurou o número no Google e fez a ligação.
Na festa...
-- Quando esse casal de noivos vai aparecer? - Victória já não aguentava mais a demora de Bruna - Quero ir embora.
-- A minha rosa já está murchando - Thiago olhou para a plantinha e fez cara de tristeza.
-- A minha não - Sabrina mostrou a rosa para ele - Será que tudo que você coloca a mão murcha? Que nojo.
Ricardo olhou para ela de cara feia.
-- Brina, vem aqui - Priscilla a chamou e caminhou na frente até a rua.
Priscilla encostou-se no carro com o celular na mão.
-- Tem alguma coisa errada Brina - passou a mão pelo rosto - Eu sinto isso.
-- Calma, meu amor - abraçou a amiga com carinho - Não vamos nos precipitar.
-- Vamos esperar mais meia hora. Nada mais - falou decidida.
No hospital da Praia Brava.
-- Amiga. É ela mesma. A filha do cirurgião e dono do Hospital Helena Sontag. Nestor Sontag.
-- Você avisou eles lá do hospital?
-- Avisei. Só não falei do estado dela. Cara quando ele souber que a filha está morre não morre, vai pirar.
-- O Pablo falou que ele está vindo de helicóptero e trazendo consigo uma equipe completa de médicos. Chegam daqui a pouco.
Na festa...
-- Thiago você vai ficar embriagado. Essa deve ser a sua décima taça de champanhe.
-- Ai Ric. Estou nervoso só de ver a gaúcha nesse estado.
-- Eu também estou... - o celular de Ricardo tocou no bolso - Vou atender lá fora, amor. Aqui dentro não vou conseguir ouvir nada.
Thiago aproximou-se de Victória que olhava pela janela.
-- Vic, meu anjo - pegou nas mãos dela - Suas mãos estão geladas.
-- Estou com uma sensação ruim, é algo absolutamente perturbador. Está acontecendo algo com a minha loirinha, Thiago. Vamos embora. Por favor - Victória implorava.
-- Vamos sim. Vou chamar o Ric. Espera aqui.
Assim que Thiago passou pela porta de saída esbarrou-se com Ricardo que entrava.
-- Vem comigo - puxou Thiago pela mão até o estacionamento.
-- O que houve amor? Você está branco - fitou o médico por alguns segundos - Não. A Bruna, não.
-- Thiago calma.
-- NÃO. A Bruna não - ficou descontrolado.
-- CALMA - Ricardo sacudiu o namorado - Ela está viva.
Ricardo esperou Thiago ficar um pouco mais calmo.
-- A gente tem uma missão cruel a realizar Thiago. Com você nesse estado vai ficar difícil.
O rapaz abaixou a cabeça e engoliu o choro.
-- Você está certo - respirou fundo - Vamos lá.
-- Chega Sabrina. Já esperei demais - Priscilla pegou na mão dela e a puxou até onde Victória estava - Vic, vamos.
-- Até que enfim, meu Deus. Não sei o que vocês ainda estão esperando.
Viraram-se para sair, mas pararam em frente a Thiago e Ricardo.
Quando Victória virou e encontrou os olhos de Ricardo, sentiu um arrepio por todo o corpo. A expressão dele dizia que algo ruim havia acontecido.
Ela cobriu o rosto com as mãos e soltou um grito. Com as costas na parede atrás dela, foi escorregando até o chão.
-- Minha irmãzinha Ric. O que aconteceu com a minha irmãzinha?
-- Gente, eu sei que é difícil, mas nós precisamos reagir. A Bruna está em um hospital aqui perto. Temos que ir rápido para lá - Ricardo lutava para não desabar - Sabrina.
Ricardo a chamou mais ela não ouviu. Aliás, ela não ouvia nada ao seu redor, nem mesmo a música alta que a banda tocava. Tudo ao seu redor não fazia sentido algum. Estava de olhos fechados.
-- Sabrina - Ricardo segurou o seu rosto com as duas mãos - Me ajuda.
Ela sacudia a cabeça de um lado para o outro como que não querendo aceitar a situação.
-- Ela está morta. Você está mentindo, a minha loira está morta, eu sei disso - Priscilla abraçou-se a ela chorando.
-- Ric, minha mãe está morta não é mesmo?
-- O carro caiu no rio Prí. Sinto muito - Ricardo estava arrasado.
Victória continuava sentada no chão. Desolada, perdida, sem forças para levantar.
-- Pessoal - Adriana abraçou Priscilla - Precisamos ir.
-- Vamos mona - Thiago ajudou Victória a levantar.
-- Eu e minha namorada levamos vocês até lá - Adriana ofereceu-se.
-- Sabrina, vamos - Priscilla abraçou a amiga e choraram juntas - A mana está precisando da gente.
-- Vamos logo - Victória respirou fundo e saiu caminhando.
-- Vic - Sabrina a chamou e ela virou-se - O noivado era de vocês duas.
Victória olhou ao redor e depois fechou os olhos cheios de lágrimas.
-- A Bruna nunca mentiu para mim, então vou acreditar no que ela me falou ontem.
"Meu amor não será passageiro, te amarei de janeiro a janeiro, até o mundo acabar".
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]