Capítulo 15
Os meses se passaram, Adriana já estava com a documentação toda pronta para viajar, o escritório entraria em recesso por conta das festas de fim de ano, assim como o de Ana Paula.
No Natal, ambas ficaram em casa com suas famílias.
Adriana tentou evitar muito contato com Ana Paula, mas as duas ainda conversavam pelo MSN, Ana voltou para Gisele, contando com a promessa de que a loira estava se separando do marido, mas até aquele momento nada acontecera.
Era quase meia noite e Adriana sentia falta da advogada, ela queria estar com ela, pegou o celular e mandou um torpedo para o número da amada.
-- “Feliz Natal, eu espero que você seja muito feliz!”
Ana Paula sentiu o celular vibrando no bolso, até pensou que fosse mais uma mensagem de Gisele, mas quando olhou o nome no visor sentiu um grande alivio. Leu o recado e respondeu em seguida.
-- “Feliz Natal para você também, a minha felicidade depende da sua. Você está feliz?”
Adriana viu a mensagem chegar e ao ler, não sabia o que escrever, ela sentia um misto de sentimentos, estava feliz por ter a oportunidade de estudar na melhor universidade doo mundo, mas o peito estava em frangalhos, por deixar para traz a melhor coisa que acontecera nos últimos tempos, ter conhecido Ana Paula.
-- “Eu estou bem, fique bem também.”
Foi evasiva na resposta, não queria provocar nenhuma reação na outra. Ana entendeu o recado, ela não queria expor os seus sentimentos, mas a advogada sabia que Drica estava fazendo uma força enorme para não procura-la, ela desejava sair naquele momento e ir até Adriana, mas conteve o impulso, não queria invadir o espaço que a morena havia pedido.
**********
O Réveillon Drica combinou com Ale e Paula de irem para Copacabana assistir a queima de fogos na praia. Ela foi para o apartamento das amigas e já acampou por lá. Isadora e Nathalia também foram para lá, Alessandra as convidara. Ana tinha combinado de ir para a casa de Gisele, ficar com ela, o marido dela estaria viajando e elas ficariam juntas.
Ana estava na casa de Gisele em Ipanema, almoçando com a loira. As duas ouviram a porta da frente bater e se olharam, Gisele levantou e foi constatar o que ela temia, Bruno chegou em casa de surpresa para passar o Ano Novo com a esposa.
-- Bruno, o que você está fazendo aqui?
-- Eu também estou com saudades de você Gisele. Poxa, eu vim antes para te fazer uma surpresa, e é assim que você me recebe?
-- Desculpa meu amor, é que eu não estava te esperando, se eu soubesse tinha feito algo melhor para o almoço.
Ana Paula ouvindo isso sentiu que Gisele mentia para ela quando dizia que estava se separando, a conversa não era de um casal em crise.
-- Não tem problemas, eu comi no aeroporto, agora vem aqui que eu quero matar outra fome.
-- Espera Bruno, nós estamos com visita.
-- Quem está ai?
-- Minha amiga, Ana Paula.
-- Ah sim, aquela amiga.
Ana sentiu que havia certa maldade no tom de voz do marido de Gisele, ela não gostou nada disso e começou a ficar irritada.
-- Bruno, não vai falar demais hein! – Gisele sussurrava--
Levou ele até a cozinha onde Ana estava sentada.
-- Oi Ana, tudo bem? Que bom que você está ai fazendo companhia para Gisele, ela reclama tanto quando eu viajo.
-- Oi Bruno, tudo bem.
Ana tentou ser o mais discreta possível, para não chamar a atenção do rapaz. Enquanto isso ele segurava Gisele pela cintura e a abraçava para matar as saudades. Ela retribuía o carinho e Ana assistia a tudo sem entender como esse relacionamento poderia estar em crise.
-- Gi, eu vou tomar um banho para descansar um pouco, qual é a programação para o ano novo?
-- Agora que você chegou, eu não sei, nós iriamos para Copacabana.
-- Então para mim está ótimo, vamos para Copa.
Bruno deixou as duas na cozinha, deu um beijo na esposa e Ana estava com cara de poucos amigos quando Gisele voltou o olhar para ela.
-- Gisele o que foi isso?
-- Como eu vou saber? Ele resolveu voltar antes do esperado.
-- Não é isso, eu estou perguntando dessa melação toda entre vocês, não me pareceu um relacionamento em processo de separação.
-- Ana, você não entende, as coisas não são tão fáceis quando se é casada. Querendo ou não ele é minha família.
-- Gisele, eu já vi tudo, você está me enrolando de novo, eu não vou ficar aqui para assistir você pagando amor para o seu marido.
-- Ana Paula deixa de bobagem.
-- Eu vou embora. Vai lá matar a fome dele.
-- Não vai não. Senta ai.
Ana ignorou o pedido da namorada e levantou para pegar suas coisas que estavam no quarto de hóspedes, Gisele foi atrás de Ana, já começava a chorar, tentando fazer a loira desistir de ir embora.
-- Ana Paula, não vai embora, fica comigo, nós vamos passar o Ano novo juntas.
-- Não Gi, você vai passar a virada do ano junto com ele, e eu vou ficar de lado assistindo a tudo, eu não vou me prestar a esse papel.
-- Ana Paula, você está sendo infantil. Eu acho que não dá mesmo para ficarmos juntas, toda vez que nos encontramos nós só brigamos.
-- Gi acorda, só você que não vê que nós só brigamos por causa do seu casamento, você mente para mim, diz que está se separando mas isso nunca acontece, se ele não existisse entre nós, nós não viveríamos nesse pé de guerra.
-- Ana fala baixo, ele pode escutar.
-- Eu quero que ele escute para ele ver a dissimulada que você é.
Ana Paula pegou a mochila e saiu da casa de Gisele com os olhos embaçados pelas lagrimas que tentava segurar, quando tomou o elevador ela não resistiu e deixou a emoção extravasar. Na calçada, ela não sabia para onde ir, entrou no carro e ligou para Isadora.
-- Oi Aninha.
-- Isa, você está onde?
-- O que aconteceu Ana? Você está chorando?
Isadora já estava na casa de Paula, Adriana que estava na cozinha ajudando na preparação da comida para o jantar ouviu a conversa e já ficou preocupada, passou a prestar atenção nas palavras de Isadora.
-- Eu preciso conversar com alguém, você está em casa?
-- Não Ana, eu estou aqui no Rio, na casa de Paula e Alessandra, as amigas de Nathalia.
-- Eu estou em Ipanema, eu posso ir até ai?
Isadora já percebeu que acontecera algo entre Ana e Gisele, ela sabia onde ela morava, pensou em Drica, ali no apartamento, ela sabia que a morena não queria envolvimento com Ana pois ela deixará o país logo, mas não podia deixar a amiga na mão. Tapou o fone do celular e olhou para Drica.
-- Drica, Ana está com problemas, ela quer conversar comigo, tem problema pra você se ela vier para cá?
-- Claro que não! Ela está bem? Quer que eu vá busca-la?
-- Calma.
Isa voltou a falar com Ana.
-- Ana, você quer que alguém vá te buscar?
-- Não eu estou de carro.
-- Então vem para cá, dirige com cuidado o transito está meio enrolado por causa das ruas fechadas.
Isadora passou o endereço para Ana e ficou aguardando a amiga chegar.
-- Isa, o que aconteceu?- perguntava Adriana Apreensiva. -
-- Drica, eu sinto muito fazer você passar por isso, mas eu vou te falar, ela deve ter brigado com a Gisele de novo, ela estava em Ipanema, essa insuportável mora lá e ela estava chorando no telefone.
Adriana logo sentiu o peito apertar, não conversava com Ana há algum tempo, ela até sabia da possibilidade de Ana Paula voltar para Gisele, mas não queria ouvir isso, pior ainda era ouvir que a loira estava sofrendo mais uma vez nas mãos da namorada. Sua vontade era de embalar Ana Paula em seus braços e cuidar da advogada, mas não se sentia mais nessa posição, pois iria viajar logo.
Sem dizer nada ela voltou à cozinha onde Paula afagou seu ombro, tentando confortar a morena, ela sabia que Drica não esquecera Aninha, ela ainda era perdidamente apaixonada por ela.
-- Você tem certeza que consegue participar disso?
-- Sim amiga, eu só quero o bem dela.
Algum tempo depois o interfone tocou, o porteiro anunciava a chegada de Ana Paula ao prédio, Paula liberou a entrada da amiga.
Chegando ao apartamento, Ana já estava mais calma, Isadora foi abrir a porta, Drica na cozinha não sabia se ia ao encontro da amada, ou se deixava que Isadora conversasse com ela sozinha, sua vontade de ver Ana Paula era tão grande que seu coração acelerou dentro do peito.
Ana entrou no apartamento e cumprimentou a amiga com um forte abraço. Isadora a levou para a sala, onde Nathalia estava. Ela cumprimentou a amiga e Paula e Ale saíram da cozinha para falar com Ana, foi quando ela viu a silhueta de Drica atrás das meninas, e percebeu que ela não se dera conta que a contadora com certeza estaria ali. Seu corpo estremeceu inteiro ao ver a morena andando logo atrás das meninas, ela estava com uma roupa simples, de short e camiseta, mas a visão era espetacular, os cabelos presos em um coque para não caírem sobre a comida, Ana ficou absurdamente feliz ao ver Drica naquele momento onde ela estava tão frágil.
Em um impulso incontrolável, a advogada foi em direção a Drica e ignorando todas as meninas ao seu redor a abraçou. Drica retribuiu o abraço com o maior carinho do mundo e percebeu Ana recomeçar a chorar.
As meninas assistiam a tudo embasbacadas, elas não aceitavam a forma como a vida das duas estava seguindo, elas se gostavam e estavam separadas.
Drica afastou Ana de si, segurou seu rosto entre as mãos, e olhava para os olhos azuis da loira, vermelhos de chorar, as lagrimas escorriam como um rio, e sem se importar com o motivo da tristeza da amada se propôs a cuidar dela.
-- Vem comigo, eu vou cuidar de você.
Ela enxugou as lágrimas de Aninha com os dedos, e deu um beijo na amada, não conteve a vontade de tocá-la.
Pegou Ana pela mão, e dirigiu-se ao quarto de Paula, para conversar com ela.
Isadora ficou até meio chateada com Ana Paula, pois a deixou de lado quando ela viu Adriana na cozinha. Mas depois acabou aceitando, pois ela sabia que Adriana mexia muito com Ana, e deixou que elas se entendessem.
No quarto, Adriana colocou Ana sentada na cama e apenas esperou a loira se acalmar.
-- Drica, me desculpe, eu devia ter me ligado que você estaria aqui, eu sei que você não quer me ver. Eu tinha que ter ido para outro lugar.
-- Ana, você está aqui, entre pessoas amigas que vão cuidar de você, não interessa o que eu quero, o que importa é que você se sinta bem. Quer me contar o que aconteceu?
-- Ai Drica, é melhor eu conversar com Isadora.
-- Ana, eu sei que o seu problema é com a Gisele, pode conversar comigo.
Ana Paula ficou olhando para Drica, sem saber o que fazer.
-- Ana pode falar comigo.
-- Drica, eu estou tão perdida, eu não sei mais o que fazer, eu estou cansada de ficar esperando a Gisele, mas eu não consigo me desligar dela, você vai embora, eu estou me sentindo tão sozinha.
-- O que ela fez agora?
-- Ela esteve na minha casa falando que tinha contado para o Bruno que ela tinha um relacionamento comigo, e que eles iriam se separar, e tudo o mais, mas até agora nada aconteceu.
Ana Paula omitiu que isso aconteceu logo após Adriana deixa-la em casa no domingo que passaram o dia juntas.
-- Entendi.
-- Eu passei três anos esperando por essa decisão, e só agora ela resolveu se manifestar, mas eu não vejo nada acontecer realmente.
Adriana escutava atentamente.
-- Eu estava na casa dela hoje, ela me disse que ele estaria viajando até semana que vem, e nós combinamos de passar a virada do ano aqui em Copacabana, só nós duas, e hoje ele já chegou de viagem, dizendo que pensou em fazer uma surpresa para ela.
Drica permanecia em silencio, apenas ouvindo o desabafo de Ana Paula, ali na sua frente tão vulnerável, chorando por outra mulher, ela estava com o coração na mão mas não podia abandonar a amada naquele momento.
-- E um casal que está em processo de separação não tem essa intimidade com que eles se falaram, o carinho que ele a tratava e ela também. Eu não tive coragem de ficar lá, eu não queria participar disso, ela queria que eu ficasse para passar a virada do ano com os dois, ela está pensando que é quem? Dona Flor e seus dois maridos?
-- Olha só, se acalma, não adianta você ficar assim, eu acho que independente do que eu sinto por você, eu vou te dar um conselho, você precisa terminar com ela e não voltar mais, mesmo que você não fique comigo, mas você precisa encontrar alguém que te faça feliz.
-- Eu sei, mas eu não consigo, eu fico cega quando eu estou com ela, é como se minha razão me deixasse, é só ela falar qualquer bobagem que eu já estou toda derretida.
-- Ana você tem que se afastar dela, não pode atender telefone, não deixa entrar na sua casa, nem no trabalho.
-- Ela me liga todo dia, Drica, no caminho até aqui, ela já me ligou dez vezes, eu já recebi vários torpedos, ela não me deixa.
Nesse momento o celular de Ana toca, e loira pega e vê que é Gisele ligando de novo. Ela mostra o visor para Drica, confirmando o que ela acabara de contar.
-- Viu?
-- Deixa eu atender.
-- Você? O que você vai fazer?
-- Pode deixar que eu atendo e despacho ela para você.
-- Não, Drica, isso só vai piorar as coisas.
O celular parou de tocar e logo em seguida tocou novamente. Drica não teve dúvidas e pegou o aparelho de Ana Paula.
-- Alo.
-- Ana é você? – Gisele estranhou a voz ao celular --
-- Não, Ana Paula não pode falar no momento.
-- Quem está falando? Camila?
-- Adriana, e eu peço, por favor, para que você pare de importunar Ana Paula, ela não quer falar com você.
-- Quem é você para me dizer o que eu tenho que fazer? Eu quero falar com ela agora.
-- Eu sinto muito mas isso não vai acontecer, ela está comigo e eu não vou deixar que você a machuque mais. Feliz Ano Novo!
Adriana desligou o celular sem dar chances de Gisele falar mais nada, a loira insistiu em ligar para o celular de Ana novamente, ao que Drica desligou o aparelho. Ana assistia a tudo assustada com a reação de Gisele depois do que Drica fizera.
-- Ela não vai mais te incomodar, pelo menos por hoje.
-- Adriana, eu não sei se eu fico feliz ou preocupada, ela vai me cobrar essa ligação depois.
-- Que tal você pensar nisso depois? Olha para mim.
Adriana segurou o queixo da amada e pôs o seu olhar sustentando o de Ana, via angustia naqueles lindos olhos azuis.
-- Você está com pessoas que amam você, que te valorizam como você é, e você é maravilhosa, uma advogada brilhante, com tudo para ser muito feliz, e é isso que você vai pensar na hora que o ano velho ficar para trás e o novo ano surgir hoje, você vai desejar uma vida nova para você, sem sofrimento e sem Gisele.
Ana olhava firme para Drica, a segurança que ela passava era incrível, ela se sentia invencível quando estava perto de Adriana, sua vontade era fugir dali com a morena e viver outra vida.
-- Adriana por que você é assim?
-- Assim como?
-- Tão linda, e tão perfeita! Por que você não entrou na minha vida antes? – segurou as mãos da morena --
-- Antes eu não sei, mas eu estou aqui agora. Então viva o agora, o antes é passado e o depois só depende de nossas atitudes hoje. Viva o hoje Ana.
Aos poucos as duas foram se aproximando, e as respirações se encontraram, os olhares cruzavam e as bocas cada vez mais próximas, aquele jogo de sedução seguia até que uma delas tivesse coragem de vencer o pequeno espaço que as afastava.
Não teria como dizer quem o fez, as duas mulheres se beijaram de comum acordo, esquecendo tudo o que estava em jogo, esquecendo uma viagem para fugir desse amor, esquecendo que um dos corações é de outra mulher, mas ali naquela hora o seu corpo era de ninguém mais a não ser a morena estonteante que lhe fazia tão bem.
O beijo era sereno, carinhoso, sem segundas intenções, era apenas a simples vontade de estar ali, cuidando e sendo cuidada, amenizando uma dor e sendo confortada, era apenas aquele beijo naquele momento.
Ao se separarem, elas se admiravam, como se aquele momento fosse fotografado pelas suas memórias, e ficasse congelado para sempre em seus corações.
-- Ana vamos para a sala, eu acho que você tem que conversar com a Isadora, foi para ela que você ligou, eu não quero ser a causadora de uma separação entre amigas.
Ana acabou rindo de Adriana.
-- Você tem razão, eu preciso conversar com ela, é que quando eu te vi, eu estava com tantas saudades que eu não resisti em te abraçar, você me faz muito bem. – tocou o nariz de Adriana com o indicador --
-- Eu fico muito feliz com isso. Vamos porque eu ainda tenho um rocambole para enrolar.
-- Nossa, eu não sabia que você é tão prendada.
-- Tem inúmeras coisas sobre mim que ainda pode descobrir. –piscou o olho para Ana--
Adriana disse isso com o olhar safado para Ana Paula que retribuiu um sorriso discreto e meio sem graça. Adriana pegou na mão de Ana, e a levou para a sala. Foi para a cozinha e deixou Ana a vontade para conversar com Isadora.
Elas foram para a varanda do apartamento para conversar, enquanto isso na cozinha Paula cuidava de Drica.
-- Oi amiga, e ai, como você está?
-- Eu não sei, é estranho enxugar as lagrimas dela por causa de outra mulher.
-- O coração é estúpido não é?
-- Muito. Eu fico triste, pois eu daria qualquer coisa para ter o amor que essa mulher tem da Ana. E ela não aproveita nada. Enquanto eu aproveito cada minuto que eu consigo passar perto dela, mesmo sabendo que ela vai voltar para os braços da outra. Confuso não é?
Uma lagrima escorreu de seus olhos, que Paula secou com o polegar e abraçou a amiga a confortando.
Alessandra entrou na cozinha e implicou com as amigas.
-- Ih, olha só vocês duas ai, hein! Eu vou ficar com ciúmes!
-- Fica não amiga, eu não faria isso com você.
-- Eu estou com ciúmes de você, fica abraçando todo mundo e eu não ganho abraço nenhum.
-- Ah tá, achei que era da sua mulher, você está carente? Vem cá que eu te dou um abraço também.
As três se abraçaram e voltaram aos afazeres, enquanto Ana e Isa ainda conversavam na sacada do Apartamento.
-- Drica, tem molho de tomate ai, não quer colocar no bacalhau para dar uma corzinha?
-- Não Ale, o bacalhau não leva molho de tomate.
-- Hum, e milho e ervilha? Não fica melhor?
-- Não Ale, não fica melhor, o bacalhau é bacalhau e só, no máximo azeitona, por que você não vai para a sala conversar com Nathalia?
-- Ai, que horror. Eu só quero ajudar.
Ale voltou para a sala resmungando e Drica e Paula terminavam a refeição da Ceia rindo da reação da amiga.
Na sacada as duas amigas ainda conversavam.
-- Ana Paula quando você vai me escutar? Essa mulher não é para você, ela só está te usando.
-- Isa, infelizmente eu sou apaixonada por ela, eu não consigo, ela aparece e eu viro outra pessoa, insegura, dependente, eu perco minha essência.
-- É isso que está errado, você não pode se perder em outra pessoa, você tem que ser você mesma, ela te manipula e te afasta das pessoas que te amam, você precisa dar um fim a isso.
Ana ficou pensativa olhando a paisagem do Rio de Janeiro. As pessoas andando nas ruas, todos eufóricos com a chegada de um novo ano. E ela pensava em como se libertar desse amor por Gisele.
-- Ana, desculpe quando eu falo assim para você, eu não tenho que me meter na sua vida, mas é que nós te amamos de verdade e queremos ver o seu bem. E ver como ela te aniquila me incomoda demais.
-- Eu entendo, eu te entendo. Drica já me falou isso também. E eu sei que não é porque ela me ama, é porque ela quer me proteger.
-- Ana, a Drica é uma pessoa especial, ela entrou na sua vida com um propósito, aproveita isso, não a perca.
-- Isa, ela vai embora, ela vai deixar o país, o que você quer que eu faça?
-- Você poderia ir com ela.
-- Como? Eu não posso deixar o escritório, eu tenho vários casos em andamento.
-- Se você realmente quiser, você pode pensar em algo, não pode?
-- Essa não é a questão Isa, eu realmente tinha pensado nisso, até brinquei com ela uma vez, o problema é que ela vai estudar, e eu vou fazer o que?
-- Procura algum curso para você se especializar também.
-- Eu não sei, eu vou pensar.
-- Vamos entrar, daqui a pouco temos que nos arrumar para ir para a praia, você fica para passar o Ano novo conosco não é?
-- Eu não sei se seria uma boa ideia.
-- Eu tenho certeza que é uma ótima ideia. Vem.
As duas entraram na sala e Paula saia da cozinha com uma garrafa de cerveja e alguns copos nas mãos.
-- Meninas, já está tudo pronto, é só esperar anoitecer, nós jantamos e vamos para a praia assistir aos fogos.
-- Maravilha, você vem conosco não é Ana? – perguntou Isadora-
-- Eu não sei. Eu ia embora.
-- Nem pensar, você fica conosco. –Paula interviu sabendo que Adriana a mataria mas ao mesmo tempo adoraria estar perto da amada.-
-- Eu não sei se eu devo.
Ana olhava para Drica, como se estivesse pedindo permissão. Até que Adriana se fez presente.
-- Ana, eu quero muito que você fique, você tem roupas ai?
-- Sim, eu tenho.
Adriana aproximou-se de Ana e falou bem pertinho dela.
-- Então fica comigo essa noite.
Ana olhava para Drica, e parecia que as meninas que assistiam a tudo não existiam, ela sorriu para Adriana e assentiu com a cabeça, Drica abraçou a loira e elas se beijaram novamente, fazendo com que as meninas soltassem gritos de alegria, batiam palmas e faziam festa para o amor das duas mulheres.
-- Precisamos comemorar, vamos beber uma cervejinha.
Paula distribuía os copos, e todas brindaram à vida, e à felicidade.
Passaram a tarde toda bebendo e conversando, rindo, namorando, uma tarde agradável entre amigas.
A noite todas estavam se arrumando, e Drica foi ficando para o final, Ana intrigada resolveu perguntar à morena se ela não ia se arrumar.
-- Drica você não vai se arrumar?
-- Eu já vou, vou terminar de arrumar a mesa, depois eu tomo banho.
-- Você está ficando por último.
-- Eu me arrumo em vinte minutos, eu vou entrar no banho e me arrumar inteira e esse povo ai ainda vai estar andando de toalha pela casa.
-- Eu apostaria isso.
-- O que você quer apostar?
-- Uma noite de amor comigo, que você não consegue.- Ana fez uma voz baixa perto do ouvido de Adriana, o que arrepiou o pescoço da morena.-
-- Apostado, e se eu conseguir?
-- Duas noites de amor comigo.
Adriana voltou o olhar para Ana Paula e sorriu para a advogada.
-- Fechado, se prepara porque eu vou te dar uma canseira Doutora Ana Paula. Em nenhuma situação você perde não é?
-- Eu torço por isso.
Drica a beijou e saiu para a cozinha. Depois de deixar tudo pronto para o jantar, ela resolveu se arrumar.
-- O banheiro está livre?
-- Sim, só falta você para se arrumar.
-- Eu estou entrando então.
Adriana entrou no banho, meia hora depois saiu do banheiro pronta, só faltava colocar os acessórios e a sandália, ela realmente ganhou a aposta, Alessandra ainda passeava pelo apartamento de toalhas, e as meninas ainda tinham peças de roupas por passar ou se maquiar, Ana ficou impressionada com a praticidade da garota, os cabelos penteados, ainda molhados, ela vestia um short azul, com uma camiseta branca com as costas estilo nadador, mostrando uma tatuagem recém-desenhada de uma fada com tons de azul que Ana não tinha visto ainda, feita nas costas no lado direito. Ela já estava maquiada, e perfumada. Chegando ao quarto e vendo o estado das amigas, ela olhou para Ana Paula e piscou o olho.
-- Viu, eu ganhei a aposta, você pode se preparar.
-- Que aposta? – perguntava Alessandra-
-- Ela apostou comigo que ficaria por ultimo para tomar banho e ainda seria a primeira a ficar pronta. E ela ganhou.
-- Obrigada Ale, e você é a principal peça dessa aposta, olha o seu estado, você foi a primeira a entrar no chuveiro.
-- Eu estou procurando minha roupa, eu acho que eu não peguei a sacola na loja.
-- Amor, sua roupa está passada na área de serviço há horas, você que não sabe onde deixa as coisas. Está desfilando de toalhas há uma hora dentro do apartamento.
Alessandra saiu do quarto contrariada, e foi buscar sua roupa, quando Alessandra voltou, deixou a toalha cair para colocar a roupa sem ligar para Nathalia que estava dentro do quarto, a namorada de Isadora ficou admirando o corpo da amiga, o que deixou Paula com ciúmes ao entrar no quarto e perceber a cena.
-- Ale, isso são modos? Olha a menina aqui no quarto, e você pelada ai.
-- Ah amor, desculpa, mas nós não temos segredos, somos amigas ha tanto tempo, sempre tivemos esse tipo de intimidade.
-- Tudo bem, mas intimidade de 15 anos é completamente diferente de quando temos 30 anos.
-- Eu já entendi Paula, eu já estou vestida. Satisfeita?
Isadora entrou no quarto onde rolava a discussão entre as duas e não entendeu o que acontecia.
-- O que houve gente?
-- Nada não, Paula que está chata hoje.
A contadora não respondeu, balançou a cabeça e foi para o banheiro, Nathalia fez um gesto para Isadora ignorar o que presenciara.
Adriana terminava os detalhes da produção com acessórios prata, e uma sandália rasteira branca.
Ana vestia um macacão tomara que caia todo branco com os acessórios dourados, nos pés uma sapatilha branca com detalhes dourados.
-- Adorei a tatuagem, quando você fez?
-- Ah, tem um mês, eu já tinha muita vontade de fazer, e acabei decidindo, Paula me ajudou a escolher.
-- Ficou linda.
-- Obrigada.
Adriana vislumbrou a amada e admirou sua beleza por alguns momentos. Ana percebeu que estava sendo observada e foi até Drica.
-- Oi, eu percebi que você me olhava, o que foi?
-- Nada demais, eu estava apenas contemplando a sua beleza, você é linda Aninha.
-- Não, você que é linda, e é fofa, e é carinhosa, e maravilhosa, eu não tenho palavras para descrever o quanto você é perfeita.
-- De perfeita eu não tenho nada, se eu fosse perfeita eu não teria sido traída.
-- Não pense nisso hoje, é dia para nossas alegrias, e essa traição faz parte do seu passado, não foi você que me falou isso hoje cedo? Que nós temos que viver o hoje.
-- Sim, fui eu.
-- Então é hora de você levantar a cabeça e ser feliz.
-- Ana eu só seria feliz hoje se eu ficasse aqui no Brasil junto com você.
-- Mas você não pode fazer isso, é uma oportunidade ótima para sua carreira.
-- Eu largaria tudo se você me pedisse.
Ana Paula se assustou com Adriana, não esperava que a morena dissesse algo nesse teor. Ela não podia pedir isso para Drica, seria muito egoísmo da sua parte, até porque ela ainda sofria por estar longe de Gisele, ela amava a outra, e não seria justo privar a contadora de crescer na carreira por um capricho seu.
-- Eu não vou te pedir isso, não porque eu não quero ficar com você, pelo contrário, por eu gostar tanto de você, eu não posso permitir que você abra mão dessa oportunidade por um amor tão ingrato como o meu.
-- Eu te amo Ana Paula.
Ana não poderia dizer o mesmo, ela não amava Adriana, queria muito dizer o mesmo, mas o sentimento não era igual. A loira permaneceu em silencio pensando no que dizer. Até que Adriana se pronunciou.
-- Ana, eu não disse isso esperando nada em troca, eu sei que você não me ama. Mas eu preciso te dizer o que eu sinto e eu te amo, eu sou tão apaixonada que até dói o peito quando eu penso em você.
-- Drica, me perdoa. Eu não sei o que dizer.
-- Não pede perdão, não tenho o que te perdoar, nosso coração é burro, e ele quem manda no nosso sentimento.
Ana beijou Adriana que retribuiu apaixonadamente. No quarto as amigas conversavam, e comentavam a relação confusa entre Ana e as duas mulheres que estão em sua vida.
-- Gente que babado, onde isso vai dar? – questionava Alessandra-
-- Eu não sei, mas eu não acho que isso vai acabar bem. - Paula dizia preocupada com Drica-
-- Paula, eu garanto a você que eu mais do que ninguém quero que Ana Paula defina a vida dela, eu não aguento mais ver minha amiga sofrer. – disse Isadora-
-- Eu só espero que ela não faça Adriana sofrer mais do que ela já está sofrendo, ela vai viajar por causa dela, você sabia disso?
-- Não, do que você está falando?
-- Ela não disse isso para nós, mas eu tenho certeza que essa viagem para a especialização é para fugir daqui e tentar esquecer Ana Paula.
-- Será? – perguntou Alessandra, sempre alheia ao mundo a sua volta-
Nathalia que estava quieta ouvindo as meninas conversarem resolveu se pronunciar.
-- Eu aposto que sim, eu já tive vontade de fazer o mesmo ha um tempo atrás, queria sumir por amar uma pessoa e não poder estar com ela, consegui convencer minha mãe a me mandar para um intercambio no Canadá, foi onde eu fiz minha faculdade e eu não ia voltar para o Brasil, mas quando meu pai adoeceu, eu pedi demissão da agencia que eu trabalhava em Montreal e voltei para ajudar minha mãe, foi quando eu te conheci e resolvi ficar aqui e trabalhar aqui novamente. Eu tenho certeza que essa viagem surgiu depois que ela se decepcionou com Ana.
-- Eu não sabia que sua viagem tinha sido por causa disso meu amor.
-- Eu não te contei Isa, depois com calma eu te conto.
Alessandra e Nathalia trocavam olhares cumplices que ninguém no quarto percebeu.
Eis que surgem as duas na porta do quarto.
-- E ai gente, como é que é? Nós não vamos chegar à praia nunca para ver a queima de fogos.
-- Já estamos prontas.
-- Então vamos comer, para descer para a praia.
Alessandra e Paula moram em Copacabana, a três quadras da praia onde é feita a maior festa de Reveillon do mundo. As meninas comeram o jantar, beberam brincaram, prepararam o kit para levar para a praia, o champanhe e algumas taças de plástico que Alessandra comprara no Saara, um grande mercado popular no centro do Rio para não correr o risco de quebrar as taças de vidro que ela tanto adorava.
As meninas desceram por volta das onze horas e foram caminhando calmamente até a praia, permaneceram na esquina da rua de Paula, longe da multidão, estavam ali para celebrar a vida e saudar o novo ano que chegava trazendo muitas alegrias.
Os dois casais estavam de mãos dadas, Drica e Ana Paula estavam próximas mas sem contato até o momento. Ana estava doida para segurar a mão de Drica, mas estava sem graça de fazer o movimento. Ao que Drica olhou para ela e estendeu a mão, para que Ana a segurasse, esta o fez e Drica a puxou para perto, sussurrando em seu ouvido.
-- Você está muito longe, fica aqui perto de mim.
-- Eu não sabia se você me queria por perto.
-- Ana, eu te quero de qualquer maneira.
Ana Paula contente abraçou Drica por trás e ficou com o queixo pousado em seu ombro, enquanto conversavam com as amigas, muitas pessoas circulavam pela orla, a festa foi preparada como sempre com muito capricho, a praia estava toda decorada, o palco estava pronto para receber a atração da noite. Pela orla havia vários pontos com alto falantes, tocando vários estilos musicais até a chegada da meia noite, estavam todas felizes.
Ana ligou o aparelho celular para ligar para casa e felicitar sua família, e guardou no bolso o aparelho ligado.
Aproximando da meia noite, o locutor anunciava que logo fariam a contagem regressiva, Paula preparou a garrafa de champanhe, e Ale, distribuía as taças para as amigas. Quando a contagem regressiva começou Paula se preparou para estourar a champanhe e quando os fogos começaram ela conseguiu o feito, serviu a todas um pouco da bebida e as seis amigas brindaram o novo ano que nascia, cumprimentaram-se e Ana e Adriana ignoraram as pessoas que passavam pela rua e ao cumprimentarem-se acabaram em um beijo apaixonado.
-- Feliz ano novo Ana!
--Feliz Ano novo Drica, eu te desejo toda a felicidade do mundo, que os seus sonhos se realizem nesse ano que está chegando.
-- O meu maior sonho hoje é ter você inteira para mim, como eu te falei, eu seria capaz de largar tudo, minha viagem, minha pós, só para ficar aqui e ser sua namorada.
O beijo veio logo em seguida, Ana não podia deixar que isso acontecesse, ela não tinha controle sobre seus atos, quando ela estava perto de Gisele o seu coração falava sempre mais alto, e não queria magoar Adriana, a mulher maravilhosa que lhe dera uma aula de maturidade.
Adriana queria que o mundo parasse de girar naquele momento, o gosto dos lábios de Aninha, o perfume da loira invadindo sua respiração, os cabelos macios que ela acariciava, tudo era perfeito. O barulho dos fogos estourando no mar, e as cores que eles formavam eram lindas.
As amigas, comemoravam, imaginando que as duas poderiam se acertar. Quando tudo parecia perfeito e em plena paz, as meninas ouviram o nome de Ana Paula no meio da multidão. A loira se assustou e não acreditou que era Gisele, a voz estridente, no meio da multidão de Copacabana, como Gisele a encontrara?
-- Ana Paula, o que significa isso?
Ana soltou Adriana, e se perguntou baixinho.
-- Eu não acredito, como ela me encontrou no meio de tanta gente?
-- Ela não te larga hein!
-- Ih, agora fudeu de vez! – Alessandra falou alto- Volta pro mar oferenda! – dizia para Gisele--
Paula deu um cutucão na esposa para ela ficar quieta, se colocando de uma maneira que se Gisele fizesse algo contra Drica ela tentaria defender a amiga.
Todas ficaram se questionando como o destino promovera aquele encontro no meio de uma multidão de mais de um milhão de pessoas. Era muito azar de Ana Paula.
-- Ana Paula você não pode ficar longe de mim um minuto que você já cai nas garras dessa sonsa.
-- Gisele não fala assim dela. Você que é sonsa, que fica me cozinhando, cadê o corno do seu marido?
-- Não fala assim dele. –Gisele levantava o dedo para Ana Paula, irada-
-- Ei, abaixa o dedo, você não tem o direito de falar assim com ela. –Drica tomou as dores de Ana-
-- Quem você pensa que é para se meter na conversa tampinha? Ana Paula larga essa mulher.
-- Gisele vai embora. Eu não quero mais você.
-- Mentira, você me ama, eu sei.
-- Qual a parte que você não entendeu que ela não te quer mais?
-- A mesma parte que você não entendeu que ela não te ama, e só fica com você quando nós brigamos, acorda sua sonsa, você é só um estepe.
-- Não fala assim com ela!- Ana Paula se precipitou na frente de Drica e ficou de frente para Gisele.-
-- É verdade Ana, você saiu da minha casa e foi correndo atrás dela. Não adianta lutar, você é minha. Só minha. – Gisele batia no peito--
-- Não é verdade, onde o Bruno está? Você deveria estar com ele para ele ver o seu barraco no meio de Copacabana, para ele ver quem é a mulher dele.
-- Ele está no posto nove com alguns amigos.
-- E como você me achou aqui?
-- Não te interessa, o importante é que eu te achei e você vai embora comigo.
-- Eu não vou.
-- Gisele vai embora, não percebeu que ninguém aqui vai deixar Ana sair com você?- disse Isadora-
Adriana passou a frente de Ana envolvendo um dos braços na cintura da loirinha como forma de proteção e enfrentou Gisele de igual para igual.
-- Olha só, ela não vai sair daqui com você, ela já foi muito humilhada, e eu não vou permitir que isso aconteça novamente hoje, você está perdendo uma pessoa maravilhosa, linda, carinhosa, por causa de egoísmo, eu daria tudo o que eu tenho para ter o amor dessa mulher, se você o está jogando fora, o problema é seu, daqui ela não sai, só por cima do meu cadáver, quer tentar?
Ana ficou sensibilizada com as palavras de Adriana, e se sentia mal por ver Adriana ali, sem barreiras, sem reservas, se expondo daquele jeito por amor enquanto a pessoa que ela queria que fizesse isso por ela estava sempre demonstrando o contrário.
As meninas ficaram assustadas com a firmeza com que Drica falara com Gisele, e perceberam que ela ficou tão intimidada quanto. Ela olhava para Ana Paula esperando alguma reação, mas a advogada só a olhava com muita tristeza. Ana apertava a mão de Drica que a segurava passando apoio à morena.
Gisele não desistia, e partiu para cima de Adriana segurando o seu braço para tirá-la da frente de Ana Paula. Gisele apertou o braço de Drica com força, e puxava a garota e esta fazia força para se desvencilhar, Ana Paula a segurava pela cintura para tentar dar apoio.
-- Solta ela Gisele!
-- Você vai comigo.
-- Eu não vou.
Até que Paula veio por trás de Gisele e a agarrou, com o susto ela soltou o braço de Drica, que quase caiu com Ana por causa da força que ela estava fazendo. Paula a afastou das meninas e a soltou.
-- Vai embora daqui sua doida, ninguém te quer aqui não, vai e deixa Ana Paula em paz.
-- Vocês vão se arrepender por isso, principalmente você sua sonsa, não perde por esperar.
Com a ameaça, Gisele deixou o local soltando fogo pelas ventas, as meninas ficaram assistindo ela se afastar, e Drica sentia o braço doendo pelo apertão bem dado de Gisele, as marcas dos dedos da loira ainda estavam em evidencia, ela sabia que ficaria roxo, muito branquinha, qualquer pancada mais forte a deixava com marcas.
-- Eu vou ficar roxa.
-- Desculpa Drica, me perdoa, eu não sei como ela me achou aqui no meio dessa gente toda.
-- É muita coincidência, Ana ela deve ter colocado um microchip ou um GPS em você, não é possível.
Com a brincadeira de Alessandra, Ana Paula teve um pensamento, puxou o celular do bolso, e viu que o deixara ligado.
-- Eu acho que eu descobri como ela me encontra.
-- O que é?
-- Foi ela quem me deu esse celular, ele deve ter algum tipo de GPS habilitado, que ela me encontra onde eu estiver pelo sinal do celular quando ele está ligado.
-- É uma possibilidade sim. Desliga o celular e leva em uma autorizada para saber se tem alguma coisa habilitada nele e como você faz para desfazer. –Isadora dizia tentando orientar Ana Paula.
Ana em um momento de raiva de Gisele, não pensou duas vezes, retirou o chip e o cartão de memórias e os guardou, ela jogou o telefone no chão, fazendo com que o aparelho se dividisse em vários pedaços, causando espanto nas meninas.
-- Agora ela vai me achar na puta que pariu.
Adriana assistia a cena feliz com a atitude que a loira, era sinal que o fantasma Gisele estava deixando de assombrá-la.
-- Como está o seu braço?
-- Está melhorando, eu vou ficar bem, não se preocupe.
-- É melhor voltarmos para casa, ela pode voltar e estragar nossa noite. –sugeriu Nathalia-.
-- Eu concordo, vamos?
As meninas foram para o apartamento de Paula e ficaram conversando até amanhecer o dia, Ana e Adriana ficaram sentadas na rede da sacada do apartamento namorando. Adriana sentiu o braço doer quando Ana a abraçou, e ela viu que o lugar onde Gisele a apertou já tinha ficado roxo.
-- Drica me desculpa, o seu braço já está roxo. Ela te machucou.
-- Não se preocupe, não foi você quem fez isso, ela não significa nada para mim.
-- Mas eu fico preocupada com você, ela não tem esse direito.
-- Olha para mim, o que me importa é que eu estou aqui com você, vivendo esse momento, que eu não quero que termine nunca mais.
-- Você é linda minha morena.
-- Me chamar de morena é forçar muito a barra.
-- Eu te chamo de morena por conta dos seus cabelos pretos, lindos, esses seus olhos carinhosos que me encantam.
-- Ana, eu não sei se eu posso fazer isso.
-- Isso o que?
-- Namorar, ficar perto de você, ela não vai te deixar em paz e eu vou embora para outro país, nossas vidas estão muito complicadas. Você precisa terminar com ela e ser livre para viver esse amor comigo.
-- Eu sei, é que você me faz tão bem, eu não quero te deixar.
-- Mas é necessário eu preciso estar longe para saber se o que eu estou sentindo realmente é amor, ou se é só euforia de ter conhecido uma maneira nova de ter alguém. E você tem que se resolver com ela, ou vocês ficam juntas de uma vez por todas ou ela te deixa em paz.
-- Drica, e se quando você voltar eu estiver casada com ela. Eu acho muito difícil ela se separar, mas e se acontecer?
-- Eu vou ficar triste se eu descobrir que o que eu sinto é mesmo amor, e não só uma atração, mas se você estiver feliz e realizada, eu vou ficar feliz por você, quem ama quer ver o bem da outra pessoa, mesmo que seja em outros braços.
Ana estava abraçada com Drica, e a apertou mais forte, ela queria que o sentimento dela fosse do mesmo tamanho que o de Drica, mas o coração dela ainda batia mais forte por Gisele, nós não escolhemos o amor, ele que nos escolhe, e diante de tanta maturidade em uma menina de vinte e três anos, ela se emocionou e deixou lágrimas caírem de seus olhos, Drica sentiu os pingos caindo, e se acomodou de modo a ver a face da amada.
-- Não chora, ninguém disse que a vida seria fácil, ou que o caminho seria curto, o que importa é como você vai fazer essa caminhada, se a sua verdade é ela, então vocês ficarão juntas e ela pode melhorar. Tudo vai se encaixar.
-- Eu não sei por que tem que acontecer assim, eu quero tanto me apaixonar por você, te amar como você me ama, mas meu coração é tão estúpido. Ele não me obedece. Ele escolheu o caminho das pedras.
As duas permaneceram em silencio, Drica olhou para Ana e inverteu os papeis, abraçou a loirinha e deitou na rede aconchegando a amada em seu peito.
Ficaram ali até adormecerem naquela rede, enquanto um novo dia de um novo ano raiava no horizonte, trazendo a esperança que suas vidas seriam diferentes dali para frente.
Fim do capítulo
Boa leitura meninas.
Beijos
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Cacavit
Em: 18/11/2020
Ai tá insuportável esse pensamento da Ana Paula "eu não consigo deixá la". poxa! Se realmente quisermos podemos fazer qualquer coisa, somos todos capazes de realizar qualquer coisa basta querermos e nos dedicar, tudo é possível se buscarmos por isso, palavras de derrota só nos atrasa.
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