As Cores do Paraíso - Capítulo 49

 

Sábado.

 

Larissa e Gabriela acordaram cedo e em clima de romance foram comer alguma coisa. Elas prepararam uma linda bandeja de café da manhã e foram para a sacada. O sol radiante começava a entrar pela janela.

Os prédios pareciam mais bonitos naquela manhã, com as suas enormes quilhas de janelas o lado para onde o sol nasce.

Larissa colocou um pedaço de bolo de fubá na boca da loira.

-- Até ver o sol nascer entre os prédios nessa selva de pedra se torna feliz com você ao meu lado.

Da sacada do apartamento de Larissa via-se a frente, uma via à beira do mar com casas de praia, barcos e prédios, muitos prédios. Era possível ver os barquinhos no mar, os carros na pista...

-- A cada dia que passa, a cada mês que passa, sinto que você é a pessoa certa para mim - Gabriela falou com um brilho profundo nos olhos fazendo Larissa levantar e sentar no seu colo, de costas para ela e de frente para o mar.

Gabriela deslizou os seus braços ao redor da cintura da ruiva e a abraçou apertado.

-- Minha vontade seria sair daqui de mãos dadas com você, e andar por aí sem rumo, só olhando o céu, as ondas do mar, passar pelos bares cheio de pessoas se divertindo, ir aos lugares vazios também, e ficar curtindo o silencio, observar as pessoas indo e vindo, sei lá de onde. Talvez, de seus trabalhos, das compras... Vontade de ver os carros passando... - sorriu envergonhada - Sou uma boba romântica, não é mesmo?

-- Claro que não. Eu também fico imaginando o que estaria acontecendo ali. Fico imaginando a vida das pessoas, parece uma síndrome de curioso ou fofoqueiro, mas não é nada disso, eu realmente gosto de imaginar o que elas estariam fazendo.

-- Eu queria poder voar e passar por entre eles, sentir aquele vento mágico e observar tudo de perto! A água batendo no mar, os barcos, as pessoas... tudo. Desde pequena sou fascinada por essas coisas. Perdia horas olhando os prédios e o mar. Isso me cativa, me prende.

A ruiva se empolgou, passou os braços ao redor do pescoço de Gabriela e continuou a falar animada.

-- Essa paisagem me traz lembranças boas, me traz bons pensamentos, uma energia incrível. Me vem à mente a minha infância e meus sonhos, aqueles momentos especiais da infância.

-- Você deve ter tido uma infância muito feliz, né amor?

-- Muito feliz! -- trocou um olhar triste com Gabriela, e depois de um rápido silêncio falou com a voz embargada: -- Perdi o meu irmão quando ele tinha doze anos de idade.

-- Sinto muito...

-- Tudo bem. Por doze anos acumulamos alegrias para o resto da vida.

Gabriela nesse momento sentiu o seu pescoço ser apertado com um pouco mais de força pela ruiva.

-- Quer falar mais a respeito?

Ela simplesmente balançou a cabeça confirmando.

-- Estávamos na praia, eu, meu irmão e um amigo que tínhamos em comum. Brincávamos na água quando uma onda arrastou o nosso amigo para o fundo. Meu irmão foi atrás dele na tentativa de salva-lo, mas acabaram morrendo os dois afogados.

-- Que triste amor.

-- Tudo teria sido bem mais fácil se meus pais não tivessem desistido de viver, se tivéssemos enfrentados juntos aquele momento tão difícil de nossas vidas. Mas não. Cada um se isolou em seu próprio mundo e enfrentou a dor a sua maneira.

-- Juntos somos mais fortes, para enfrentar a aspereza do caminho. A família deve permanecer unida.

-- Principalmente a minha. Somos tão poucos - falou cheia de ressentimentos - Enfim, com apenas treze anos me vi sozinha e desamparada.

Gabriela secou as lágrimas dela com o dorso das mãos e beijo-a na face carinhosamente.

-- E apesar de tudo isso, você tornou-se essa pessoa maravilhosa, dedicada e que ama a todos. Esse é o poder divino - apertou-a contra si, um abraço carregado de carinho e proteção.

Larissa pulou do colo dela e ficou de pé.

-- Passado é passado. Não precisamos deixá-lo para trás, ele já está lá. Você nunca chegará no próximo capítulo de sua vida se continuar relendo o anterior. Hoje vou viver o capítulo mais lindo da minha vida. Porque com você vou passar os meus próximos anos de vida, porque sei que em você eu vou poder confiar sempre, porque pra mim, você acima de tudo, é minha melhor amiga, e me protegerá de tudo e todos que possam me fazer mal, e sempre estará ao meu lado desde os dias felizes aos dias mais ruins.

-- Sem dúvidas, eu sempre estarei do seu lado.

-- Você gosta do seu pão com Nutella... - Larissa falou sorrindo.

-- Você gosta do seu com geleia - Gabriela preparou um pãozinho e entregou para a ruiva.

-- O seu café é com leite...

-- Se em tão pouco tempo nos conhecemos tanto, imagina daqui a uns 60 anos. Nos comunicaremos por telepatia.

Sorriram juntas.

 

 

Na praia do Encanto.

 

-- Talita, você não provou a sua roupa? - Alice tentava fechar a calça da noiva.

-- Provei amor, tinha ficado perfeita - Talita murchava a barriga, mas mesmo assim a calça não fechava - E se eu deitar no sofá?

-- Tenho uma ideia melhor. Vai ficar sem comer o dia inteiro.

-- Há tá... já estou morrendo de fome - reclamou - Não vou mais. Devo ter engordado uns dez quilos - sentou no sofá emburrada.

-- Deixa de ser melodramática, Tali. A calça deve ter encolhido.

-- Obrigada por tentar, amor, mas não deu certo. A partir de segunda vou começar um regime.

-- Porque só na segunda-feira?

-- Porque segunda é o dia Internacional do início de regimes...

-- Talita...

-- Tá bom... Porque no domingo tem lasanha, macarronada, feijoada, churrasco, buchada, bacalhoada, barreado, tainha na telha, camarão à grega, picanha do avesso, lambari com polenta, maionese de batatas, maionese de aipim, suflê de chuchu, mocotó, quibe assado na brasa, esfiha, dourado assado na folha de bananeira, marisco à milanesa, bife a parmegiana, Talharim ao molho de shitake, canederli, rondeli, canelone...

-- Chega, Tali - Alice respirou fundo e pediu paciência antes de se aproximar dela - deixa eu ver se tem solução.

-- Tem. Vou com a calça aberta - Talita estava de frente pra ela, com as mãos nos bolsos e a calça aberta.

-- Tira a calça - mandou já sem muita paciência - Vou levar para a minha costureira ver se pode fazer um milagre.

-- Não precisa. Já disse que não vou - tirou a calça e jogou sofre o sofá - Aliás, não vou sair dessa casa até emagrecer os dez quilos que engordei.

Alice fez de conta que não havia escutado o que Talita resmungou. Pegou a calça e colocou dentro de uma bolsa.

-- Fica aí e se comporta até eu voltar. Escutou?

-- Não precisa se preocupar só sairei daqui quando estiver com o corpinho da Alessandra Ambrósio.

Alice levantou as mãos ao céu e disse: -- Senhor, Senhor, dai-me paciência.

-- Pára com isso Alice, não sou uma pessoa difícil, só acho que as pessoas deveriam ter um pouco mais de paciência comigo.

 

 

Laura entrou no quarto com o celular na mão.

-- Fê a Talita ligou dizendo que não vai ao casamento.

-- O que? - Arregalou os olhos -- Ela disse o motivo? - Fernanda deu um sorriso forçado não querendo acreditar.

-- Disse que engordou! E a roupa que ela comprou para o casamento não cabe mais - Laura falou fazendo pouco caso e saiu do quarto.

 

 

Na praia do Encanto.

Luísa estava impaciente, andava de um lado para o outro da sala e olhava de minuto a minuto no relógio.

-- Por favor Samanta, desse jeito vamos chegar depois do casamento - berrou da sala para a esposa que estava há horas se arrumando no quarto.

-- Já vou amor... só falta o batom...

-- Hô gloria...

 

 

O Casamento.

 

O restaurante estava decorado com flores delicadas. Um jardim suspenso de orquídeas brancas e lustres de cristal, o romance ficou por conta da paleta de cores com branco e tons de rosa, na decoração.

Samanta e Luísa recepcionavam os convidados que não paravam de chegar.

Um salão todo revestido em tecidos fendi e com vários espelhos nas paredes foi preparado para a realização da cerimônia.

Fernanda e Laura aguardavam ansiosas ao lado do juiz.

-- Vocês são as testemunhas de quem? - O juiz perguntou escrevendo em um livro que estava sobre a mesa.

-- Nós somos as testemunhas da Larissa - Fernanda respondeu enquanto corria os olhos pelo salão a procura de algum casal que substituísse Talita e Alice.

-- E as testemunhas da Gabriela, aonde estão?

-- Elas não virão - Fernanda sacudiu a mão.

-- Como assim, não virão? O que aconteceu? - fechou o livro com força.

-- A minha amiga engordou uns vinte quilos. Sabe como é que é né. Não encontrou roupa para vir.

-- Coitada! Deve estar enorme...

-- Gigante...

Laura com a palma da mão tocou em seu ombro - Olha lá quem está chegando.

Fernanda e o juiz se viraram para olhar.

-- Não entendi - a advogada cruzou os braços - Essa maluca falou que não vinha.

-- Quem são essas? - O juiz ficou de pé, entre Fernanda e Laura, meio indiferente, meio curioso do que ouvia sem entender.

-- Essas são as testemunhas que falaram que não iriam vir.

-- Mas ela não é gorda - o juiz abriu o livro novamente - Já havia imaginado uma Alcione, Fafá de Belém, sei lá...

Talita e Alice pararam ao lado do juiz e o cumprimentaram.

-- Desculpe o atraso. Tivemos alguns probleminhas -- Alice olhou para Talita e sacudiu a cabeça de um lado para o outro - Mas felizmente tudo acabou bem.

Fernanda mediu-a com o olhar de alto a baixo, como se estivesse analisando o seu corpo.

-- Emagreceu rápido, hein... para quem havia engordado vinte quilos.

-- Dez quilos - Talita corrigiu - Mas a minha noiva é um gênio e mandou colocar um... um... como é mesmo amor?

-- Easy Fit.

-- É isso aí.

-- Nunca ouvi falar - o assunto despertou a curiosidade de Laura.

Alice levantou a blusa de Talita e mostrou.

-- Ele é um pedaço de tecido com um botão em uma ponta e na outra a "casa" de um botão, assim é só encaixar o botão da calça jeans na casa do Easy Fit e abotoar o botão do Easy Fit na casa do botão da calça jeans. Depois é só colocar uma camisa um pouco mais comprida ou um cinto para esconder a gambiarra.

-- É uma saída bem "tabajara" - Fernanda deu um sorrisinho debochado.

-- Mas funcionou. Segunda-feira vou começar a dieta da lua.

-- Pra ir pra lua você quis dizer...

-- Fernanda... chega! Esse não é o momento e nem o lugar para picuinhas - Laura puxou a namorada para o seu lado.

 

-- Pessoal! - Samanta bateu palminhas tentando chamar a atenção de todos - Por favor, ajeitem-se em seus lugares que as noivas estão entrando.

 

Gabriela e Larissa entraram de mãos dadas cantando a música: Thousand Years de Christina Perri.

 

O coração acelerado, Cores e promessas. Como ser corajoso

Como posso amar quando tenho medo de me apaixonar

Mas ao ver você na solidão. Toda a minha dúvida de repente se vai de alguma maneira

Um passo mais perto. Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos. Eu te amarei por mais mil

O tempo fica parado. Há beleza em tudo que ela, é

Terei coragem. Não deixarei nada levar embora

O que está na minha frente. Cada suspiro. Cada momento trouxe a isso. Um passo mais perto

 

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil

 

O tempo todo eu acreditei que te encontraria

O tempo trouxe o seu coração ao meu

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil

 

Um passo mais perto

Um passo mais perto

 

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil

 

O tempo todo eu acreditei que te encontraria...

 

 

Nota da autora:

Eu odiava ir a casamentos porque havia sempre aquele momento no final, em que todas as avós e tias vinham a mim e davam-me um tapinha e diziam com um ar melado:

"A próxima é você!"

Mas eu resolvi isso, elas pararam de me encher o saco.

Sabem como?

Passei a fazer-lhes a mesma coisa nos funerais!!

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo