O dia nem havia clareado e Roberta é desperta pelo som do alarme do seu despertador, decidiu levantar e não ficar de preguiça na cama, afinal ainda precisava rever a apresentação que faria para o cliente antes de embarcar. Tinha reunião marcada em Curitiba e seu voo sairia dentro de três horas, tempo mais que suficiente para rever a apresentação, se arrumar e chegar ao aeroporto. Desde que aceitou o novo emprego sua rotina era essa, viagens a trabalho e tempo calculado para todas as atividades, era comum emendar uma reunião a outra, dessa forma, ela passava mais tempo viajando do que em casa, mesmo assim, ela fazia questão de manter seu apartamento, para onde ela podia voltar e ter tranquilidade.

Antes de terminar de organizar suas coisas decidiu chamar o táxi, que segundo o aplicativo chegaria em 8 minutos. Essa era uma das coisas que ela gostava da vida paulistana, os serviços costumavam funcionar de forma rápida e eficiente a qualquer hora do dia, a cidade nunca parava, muito diferente da pacata cidade do interior do Estado, em que nasceu e foi criada.  Foi desperta dos seus pensamentos pelo táxi que havia chegado e assim, seguiu para o aeroporto. Ao chegar lá, foi direto para o portão de embarque, já havia feito o check-in e não possuía bagagem para despachar, ficou feliz em ver que a secretária havia reservado uma poltrona no corredor, assim, levaria menos tempo para sair do avião.

-       Ei moça, com licença, eu acho que essa poltrona é minha. Moça?! - Ao sentir uma mão no seu ombro Roberta se assustou, retirou os fones de ouvido e olhou para a pessoa que a chamava.

-       O que disse? – Perguntou Roberta, dessa vez, não mais assustada, mas atônita pela beleza da mulher a sua frente.

-       Desculpa, não queria te assustar. Acho que você está sentada na minha poltrona.

-       Eu?! Éééé...não, você deve ter confundido, é este número que consta no meu cartão de embarque.

-       Puxa, no meu também! Que absurdo, vou chamar o comissário.

E Roberta acompanhou com os olhos a mulher e só conseguiu pensar em como ela era sexy, mesmo estando de jeans, camiseta e tênis.  – Nossa, por que estou pensando nisso? Roberta, você está louca! Decididamente preciso marcar novos encontros, talvez aceitar o convite do Mateus, que apesar de ser uma porta falando, é razoável na cama.

-       É, nossos cartões de embarque estão com o mesmo número de poltrona. – Dizia a desconhecida ao se aproximar com o comissário.

-       Hummm, entendo, pedimos desculpa pela falha. Senhora queira me acompanhar, vamos disponibilizar um lugar no espaço “mais conforto” para a senhora. – Disse o rapaz, se dirigindo a Roberta.

-       Como é que é? Desculpa, mas você sabe se esta poltrona foi reservada primeiro por mim ou por ela? – Falou novamente a desconhecida.

-       Não senhora, não tem como saber quem fez a reserva primeiro, nem porque aconteceu este erro.

-       Então por que você vai disponibilizar uma poltrona melhor para ela e não para nós duas?! É porque ela está aí, toda bem vestida? Pois fique você sabendo que eu também quero sentar em outra poltrona!!! Gritou a mulher.

-       Olha, pode disponibilizar a poltrona pra ela, eu não me importo em continuar aqui. – Finalmente Roberta resolveu se pronunciar.

-       Ora, ora, como a patricinha é bondosa! Devo agradecer?!

-       Minha senhora, eu apenas quis te fazer uma gentileza, mas se você não sabe aceitar, não é problema meu. Ao menos não sou eu que estou me vitimando por causa de uma poltrona de avião. - Roberta disse, no mesmo tom de voz sarcástico que a mulher havia usado com ela.

-       Senhoras, por favor, não precisam se exaltar. Acho que já resolvemos a situação, senhora Laís, queira me acompanhar para o seu novo assento. – Falou o comissário constrangido com a situação.

-       Retiro o que eu disse, minha única exigência é sentar bem longe dessa patricinha azeda.

-       Patricinha é a mãe e azeda é você! Azeda e mal educada. Roberta respondeu e pôde ver a mulher apontando o dedo do meio em sua direção.

Mulher mal educada, pensou Roberta antes de voltar a se concentrar no seu tablete e nos pontos importantes da reunião. Ao abrirem as portas do avião ela foi ágil em pegar sua bagagem e se dirigir a porta.

-       Além de querer sentar no melhor lugar, a patricinha ainda quer ser a primeira a sair?! Pessoal, todos esperem a madame passar!

-       Olha Laís, é Laís, né?! Vá para a puta que pariu! - Esbravejou Roberta, devolvendo o aceno com o dedo do meio para a mulher e desembarcando do avião.

Saindo do aeroporto ela pegou um táxi e foi direto para a empresa do cliente. A reunião, apesar de demorada, foi um sucesso, eles conseguiram chegar num acordo e renovaram o contrato. A noite Roberta já se via novamente em um avião, voltando para a casa. Dessa vez, sem nenhuma maluca a bordo. Chegou em casa, pediu o jantar, tomou banho e resolveu deitar e descansar, afinal, o dia seguinte seria repleto de trabalho.

Fim do capítulo