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  • O Nosso Recomeco - 2a Temporada
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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

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Palavras: 4600
Acessos: 326   |  Postado em: 29/10/2025

EPILOGO.


EPÍLOGO. O NOSSO RECOMEÇO. 


 


Era um domingo preguiçoso. O sol entrava pela janela da sala, fazendo pequenos riscos claros no tapete, enquanto eu estava sentada no sofá, pernas atravessadas, cobertas com uma manta e lendo um livro sáfico que Fernanda havia comprado para mim. Ela dizia que a personagem principal tinha muito de mim em vários aspectos, o que eu acabo concordando, pois além de ser uma pessoa bem brava, a coitada também era traumatizada com a vida. 


A diferença é que eu já superei essa fase. 


Minha esposa chega com uma xícara de capuccino para mim, do jeito que eu gosto, com bastante canela, forte e doce. 


— Isso é pra me acordar ou pra me viciar de vez? — perguntei 


— Os dois. — Fernanda respondeu, encostando o copo na minha mão e se abaixando para me dar um beijo.  


O beijo foi lento, preguiçoso, mas tinha uma pitada de fogo, como sempre. Aquele beijo que eu já conhecia o caminho, mas fazia total questão de me perder. 


Ainda com os olhos fechados, dou um sorriso. 


— Você ainda me beija como se fosse a primeira vez... 


— Porque você me vicia nesse beijo maravilhoso que você tem... — Fê senta no meu colo, tirando o copo da minha mão e colocando na mesa lateral — Nesse sorriso lindo que você abre quando me vê passar... — põe o dedo indicador na minha boca fazendo um desenho — Nesses olhos cor de mel que ficam me olhando como se eu fosse a mulher mais linda do mundo... 


Sorri, envergonhada. 


— E eu amo quando você fica vermelhinha quando eu te elogio — dá um sorriso sapeca 


— Eu só fico assim quando você elogia demais — bufo, tentando disfarçar o rubor que subia pelo meu rosto, como se eu confessasse sem dizer em palavras o quanto ela me deixa ruborizada quando começa a falar essas coisas. 


— Então te prepara. — Fernanda disse, brincando com uma mecha do cabelo dela. — Porque eu nunca me canso de te achar linda. Os anos podem passar, Anna, podem colocar rugas, olheiras, boletos e menopausa, mas… cada manhã que eu te vejo acordar é como se eu sentisse tudo de novo. E cada vez que nossos olhares se cruzam, é como se eu tivesse te vendo pela primeira vez.  


Olhei para ela toda boba e com os olhos marejados. 


— Para, amor... — dou um sorriso tímido  


Dou um abraço apertado na minha mulher, colocando minha cabeça em seu peito, enquanto ela fazia um leve carinho em meus cabelos loiros. Aproveito o momento para brincar um pouco com ela e começo a dar beijinhos no seu seio, me aproveitando da posição.  


— Anna Florence... você é impossível. — revira os olhos, mas ri do meu gesto 


— Eu sou viciada em você, Fernanda Alencar. 


Levanto a cabeça para olhá-la e no mesmo instante, ela se vira na minha direção e me dá um beijo novamente, puxando de leve meu cabelo, enquanto aperto sua cintura um pouquinho mais forte. Sorrimos. Ela me dá um selinho demorado pra finalizar e me abraça de novo, mas logo escutamos passos na escada e um pigarro forçado. 


— Eu não estou vendo nada... eu não quero ver nada... não me traumatizem como da outra vez, por favor! — Cecilia entrou tampando os olhos, mas rindo 


— Pode abrir os olhos, filha. Não estamos fazendo nada demais — eu digo e ela abre os olhos, relaxando os ombros ao ver que estávamos apenas abraçadas  


— Que grude vocês duas — revira os olhos  


— Olha quem fala... — Fernanda retruca, me olhando com um olhar divertido — Amor, não foi ontem que alguém pediu sua opinião para comprar um presente pra namorada?  


— Em minha defesa — Cecília levanta as mãos — Era especial. Ela merece, pois passou na prova que tanto queria — sorriu orgulhosa  


— Apaixonadinha. É isso que você está. — Implico  


— Mãe, quer parar? — ela semicerra os olhos  


— E se eu não parar? — provoco 


— Nunca mais te chamo de “mamãe” quando você estiver carente.  


Abro a boca perplexa, Fernanda segura o riso.  


— Você venceu — digo, simplesmente  


Fernanda se ajeita no sofá, rindo. 


 — Eu juro que, às vezes, parece que estou criando duas versões da mesma mulher. 


— Isso é ofensivo ou um elogio? — pergunto. 


 — Depende do dia — ela responde, e Cecília gargalha. 


Ficamos as três ali por alguns segundos, rindo por nada, até que Cecília decide perguntar.  


— Marina pode dormir aqui hoje? — faz um biquinho que eu não resisto  


— Ela vai entrar no seu quarto com um colete a prova de balas? — pergunto, olhando despretensiosamente minhas unhas  


— Mainha! — Cecília reclama com Fê — Dá um jeito na sua esposa, por favor?  


— Amor... deixa, vai — Fê olha pra mim com uma carinha como quem dissesse ‘vai, loira, deixa de ser ranzinza’ 


— Pode.  


Cecília e Fê comemoram com um gritinho que me faz tampar os ouvidos e unem as mãos mexendo com os dedinhos. Reviro os olhos mais uma vez. 


Depois que Cecília subiu pra arrumar o quarto, que sempre está impecável, mas ela cisma que tem coisa fora do lugar, Fê e eu fomos fazer o almoço. Segundo ela, eu ainda sabia fazer o melhor fricassê de frango do mundo.  


Eu estava com um avental que ela tinha comprado pra mim com os dizeres “sou boa no que faço”, já que ultimamente eu tenho pegado os finais de semana para cozinhar, já que a nossa cozinheira ganhava folga aos sábados e domingos. Eu tinha aprendido muita coisa nos últimos anos e era sempre um prazer cozinhar para minha família.  


Fê me abraça por trás enquanto termino de colocar a tampa na panela de pressão.  


— Nunca me arrependi de ter comprado esse avental pra você... — ela diz, sussurrando no meu ouvido  


— Ele combina comigo?  


— Totalmente — ela me vira na direção dela, ficando com a boca próxima a minha — Você é realmente boa no que faz.  


— Só no que faço ou em tudo o que eu faço? — flerto, surrando isso próximo ao pescoço dela  


— Anna, não me faz te agarrar aqui... — balança a cabeça negativamente  


— Você quem começou, amor — faço um biquinho e ela aproveita pra me dar um beijo, coloco as mãos em volta do pescoço dela enquanto ela envolve minha cintura  


— Meu Deus. Depois a grudenta sou eu! — Cecília aparece na cozinha, protestando novamente 


— Tá protestando muito. — digo pra ela e me viro para minha esposa — Fernanda, veja se tem brócolis na geladeira, de repente me deu uma vontade de fazer isso para o almoço. 


— Mamãe, me desculpa, mamãe — ela sorri e vem correndo na minha direção me dar um beijo estalado no rosto  


Aproveito para abraçar a versão adolescente de mim. Ela me abraça forte e dá um suspiro. Sinto que ela tem algo a me dizer, mas ela mesma se encarrega de verbalizar isso. 


— Preciso conversar com vocês. 


Ela se senta na bancada e eu retiro meu avental, colocando no local adequado para ele e Fê se senta ao meu lado, prestando atenção na nossa filha. 


— Eu... queria ter conversado sobre isso há alguns meses, mas estava me faltando coragem, eu sinceramente não sei qual vai ser a reação de vocês, mas espero que eu esteja viva quando sair daqui — ela olha na minha direção e dá um sorriso irônico  


Ah, sua pestinha adolescente.  


— Vocês prometem que não vão surtar?  


Eu e Fernanda trocamos um olhar rápido.  


Lá vem. 


— Ceci, não tem como prometermos isso sem saber de fato o que você tem a dizer, filha — Fê responde suavemente, mas sua mão encontra a minha por baixo da mesa 


— Eu... não quero prestar vestibular pra Direito. 


Silêncio. 


Eu piscando, Fernanda mordendo o lábio, Cecília encarando o chão como se as palavras tivessem peso demais. 


— Explica... — digo, num tom calmo demais pra mim mesma. 


— Eu quero... seguir na natação. Profissionalmente. — ela diz, num fôlego só, como se arrancasse um curativo. — Eu quero tentar uma carreira de atleta. 


Fernanda respira fundo, e eu sinto o ar me faltar. 


— Ceci, você sempre quis Direito... — começo. — Desde pequena, você... 


— Desde pequena vocês quiseram isso por mim, mãe. — ela me interrompe, olhando direto nos meus olhos. 


Porr*. 


Dói. 


Não o tom dela, mas infelizmente minha mini versão tem razão.  


E eu odiava não ter razão. 


Advogada que fala, né? 


— Mãe, os meus planos mudaram. Os meus sonhos também.  


Fernanda toca meu braço, aquele toque silencioso que diz “calma, não fala agora” 


 — Filha, calma, a gente só quer entender. — diz ela, tentando apaziguar. — Quando foi que você decidiu isso? 


— Eu venho pensando faz tempo. Eu amo a natação, vocês sabem. Desde pequena... e eu quero competir, representar o Brasil, quem sabe... ir pras Olimpíadas um dia. 


Eu suspiro, tentando não perder o controle da voz. 


— Cecília, isso é lindo, mas... é uma carreira difícil. Instável. 


— E Direito não é? — ela rebate. — Quantas vezes eu ouvi você, mãe, reclamar de audiência, de processo, de cliente ingrato? De sobrecarga? Sem falar que você pode ser a dona do seu escritório hoje, mas pelo que você me conta, olha quantas coisas você passou para chegar a isso. Eu não quero isso pra mim.  


Eu fecho os olhos por um segundo. Ela fala com a minha mesma teimosia. 


— Eu só quero o melhor pra você — digo, sentindo a garganta apertar, doer. 


— E eu também, mãe. Mas o meu melhor talvez não seja o seu. 


Fernanda passa as mãos nos cabelos, visivelmente nervosa, talvez dividida. Ela sabia que tinha dois furacões em casa e quando a gente discordava, era pior que guerra de facção no Estado do Rio.  


— Filha, a gente entende que você tem seus sonhos. — diz ela, com aquela voz tentando equilibrar o caos. — E se é isso que você quer... a gente vai estar aqui pra apoiar. 


Eu viro o rosto pra ela, surpresa. 


 — Fê... 


 — Anna, escuta. — ela se vira pra mim. — A gente quis ter uma filha pra ela ser livre, lembra? Pra escolher o próprio destino. 


Cecília sorri de leve. 


 — Eu só quero tentar, mãe. Se não der certo, eu recomeço. Você sempre diz isso, né? Que vive de recomeços. 


A frase dela me atinge.  


Era o poste mijando no cachorro mesmo. 


Recomeço. 


Minha palavra. Minha vida. 


Respiro fundo, tentando engolir o orgulho e o fato de que não terei mais uma delegada de polícia, pois quando Cecília enfiav* algo na sua cabeça insana e loira, era difícil ter quem tirasse as ideias de lá.  


Me levanto, sento ao lado dela, pego suas mãos. 


— Jamais ficaria brava porque você quer sonhar, meu amor. Eu só... tenho medo de ver você se frustrar. 


Ela se inclina e encosta a testa na minha. 


— Se eu cair, eu recomeço. Igual a minha mamãe.  


Ela passa a mão no meu rosto e sorri.  


— Você me ensinou isso, lembra?  


Assinto.  


Ela era tão madura, mas tão menina ainda...  


Fernanda vem por trás de nós duas e nos abraça ao mesmo tempo. 


— Pronto — ela diz, entre um riso e um suspiro. — Trégua antes que vocês declarem guerra de novo. 


— Eu não quero guerra — murmuro, abraçando as duas. — Só quero paz. 


Fernanda beija minha têmpora. 


 — Então relaxa, Florence. E termina o almoço, pois não vou te perdoar se queimar meu fricassê — Fê pisca e sai, deixando eu e Cecília ali, naquele momento. 


Mais tarde, quando terminamos de almoçar, deitei-me no sofá da sala refletindo sobre tudo. Fê percebeu o quanto fiquei calada e fez um gesto para que eu levantasse a cabeça pra ela sentar. Fiz o que ela pediu e apoiei minha cabeça na perna dela, enquanto ela fazia um cafuné. 


— Eu conversei com a Ceci. 


 — E? — pergunto, com o estômago já revirando. 


— Ela tá decidida, Anna. E feliz. Assustada, mas feliz. E sinceramente... eu prefiro vê-la com medo de iniciar algo novo, que ela tenha vontade, do que conformada com a vida e a carreira que foi planejada pra ela.  


— Você vai me dizer que eu tô errada de querer estabilidade pra nossa filha? 


— Não, amor. Eu só acho que o nosso papel é preparar o terreno pra ela correr. — ela pensa um pouco — E sinceramente, essa questão da estabilidade da Cecília está mais do que resolvida. 


Arqueio a sobrancelha. 


— Sei que a gente não olha desde a viagem pra Disney, que a gente só vai jogando dinheiro lá, mas... eu olhei a conta do Mickey depois que Cecília soltou essa bomba pra gente — suspira — dá pra bancar muito cloro, muito treino e umas medalhas também. Se não der certo, ainda sobra para faculdade ou o que quer que seja o que ela quer fazer. 


Eu a encaro, confusa. 


 — Você contou pra ela da conta do Mickey? 


— Não. Só quando ela fizer dezoito. Combinamos isso, se lembra? — ela responde e eu assinto. 


— Vou conversar com ela — digo, já me levantando  


— Vida... — ela segura meu pulso delicadamente — Quando entrar no quarto lembra que nossa filha nos ama igualmente, mas no fim das contas, ela quer sempre ser a melhor pra você. 


Reflito sobre suas palavras e subo as escadas quase que correndo, bato à porta do quarto de Cecília. 


— Posso entrar? — pergunto  


Ela está sentada na cama, com o celular colado ao ouvido e os olhos marejados. 


 — Tá... eu te ligo depois, amor — diz baixinho, antes de desligar. 


Quando me vê, dá um sorrisinho tímido. 


 — Era a Marina? — pergunto. 


— Era. Ela me ligou pra me acalmar... e dizer que já está a caminho.  


Entro, fecho a porta e me sento na beira da cama. 


— Eu queria conversar com você. 


Cecília deixa o celular de lado para prestar atenção nas coisas que vou dizer. 


— Por que natação, Ceci? — pergunto, tentando manter a voz calma. — Você sempre falou em Direito... sempre disse que queria ser como eu. Achei que era só um hobby. 


— Eu achava que queria. — ela responde. — Mas o que eu queria mesmo era te agradar, mãe. E eu não quero mais viver com isso... 


Essas palavras me machucam. 


— Mas eu nunca te pedi isso, Ceci...  


— Não pediu, mas às vezes parece. — ela sorri de um jeito triste. — Eu sempre achei que você esperava que eu fosse uma versão melhor de você. 


Ela me desarma. 


E eu quase choro. 


— Cecília... você é o meu maior amor. Eu nunca vou te abandonar, nem dizer o que fazer com a sua vida. Só tenho medo de te ver sofrer. 


Ela ri baixinho, enxugando os olhos. 


— E se eu sofrer, não posso recomeçar, mãe? Você vive dizendo que a vida é feita de recomeços. Eu também não posso viver os meus? 


Eu sorrio entre lágrimas, acariciando o rosto dela. 


Não consigo segurar mais. 


— Pode, meu amor. E vai. Eu prometo que vou estar aqui pra assistir cada mergulho seu. Eu sou sua maior fã. 


Ela se joga no meu abraço, soluçando. 


— Você é a melhor mãe do mundo. Às vezes é difícil conversar com você, porque eu morro de medo de te decepcionar... 


— Ei — interrompo, segurando o rosto dela. — Você nunca me decepcionaria. O amor que eu sinto por você é muito forte pra isso. O que eu mais quero é ver você nadando livre. 


Ela ri, fungando. 


— Eu te amo, mãe. 


— E eu amo você, minha princesinha. 


— Saudade de você me chamar assim. 


— Então se acostuma, porque eu vou voltar a chamar. Você sempre será a minha princesinha. 


Dou um beijo demorado na testa dela, e ficamos abraçadas até Fernanda bater de leve na porta. 


— Tá tudo bem por aqui? — ela pergunta, entrando. 


Cecília se levanta, puxa a mãe pra sentar na cama com a gente. E logo estamos as três ali, um amontoado de braços, risadas e carinho. 


Cecília encosta a cabeça no meu ombro e diz baixinho: 


— Vocês são a melhor família que eu poderia ter. 


Fernanda sorri, fazendo um carinho no cabelo dela. 


— E você é o melhor presente das nossas vidas.  


— E se um dia der errado, eu posso chamar vocês pra me socorrer? 


— Sempre. — Digo, beijando o topo da cabeça dela. — Nem sempre conseguiremos te proteger de tudo na vida, filha... mas nós duas sempre estaremos lá pra te socorrer. 


Ela se aninha mais no nosso colo e sorri.  


E eu?  


Já pensando no próximo passo.  


✈✈✈✈ 


AEROPORTO INTERNACIONAL DO GALEÃO — 14H53 


Mês de Julho. Férias. O céu do Rio de Janeiro estava ameno dessa vez, estávamos no inverno, então não estava fazendo aquele sol escaldante, mas também não estava fazendo tão frio. Afinal, cariocas não gostam de dias nublados.  


O bom é que em Paris, estaríamos no Verão.  


Sim, Paris. 


Escolha nossa? Absolutamente não.  


Fernanda ajustava os documentos, revisava as passagens, conferia os passaportes e eu tentava manter Cecília calma.  


Missão impossível. 


— Mãe, você sabe o que é Paris? Paris, mãe! E eu ainda vou conhecer a Samanta Vasconcelos pessoalmente! Você tem noção? 


Ela estava histérica. 


Não sei se ela estava sonhando acordada ou algo assim, mas desde que ganhou a prova de 800m livre e 200m de costas pela sua equipe no campeonato estadual e descobriu que o prêmio era, além da medalha, conhecer essa tal de Samanta nas Olimpíadas de Paris, ela não falava em outra coisa.  


— É claro que eu tenho noção, Cecília. Olha o quanto essa viagem tá custando... — rio de nervoso  


— Ai, Anna... deixa ela viver esse momento. — Fernanda disse, ajeitando o casaco da filha. — Você também teria surtado se fosse conhecer aquele mascarado berrante. 


Olho para ela com os olhos semicerrados. 


— Corey Taylor é simplesmente... o Corey Taylor. 


Ela revira os olhos.  


— Eu só acho engraçado... que você não surtou quando me conheceu — ela retruca  


— É claro que eu não surtei, eu tava preocupada demais olhando pra você tentando não entrar em colapso por ver uma mulher tão linda. 


Selo nossos lábios e ela fica toda boba sorrindo. 


Ah, eu amo essa mulher demais. 


Eu perco o chão quando lembro da troca de olhares mais intensa da minha vida. 


Cecília fez uma careta.  


— Ai, por favor, vocês duas não comecem. 


— O que foi? — perguntei, fingindo inocência. — Você morre de amores pela Samanta e quer me impedir de amar a sua mãe? 


— Não é amor, é admiração! — ela protestou, corando. 


Fernanda se aproximou dela, provocando.  


— Hmm... admiração com direito a foto no fundo de tela do celular, né? 


Cecília mostrou uma foto no celular, com a tal Samanta sorrindo com a medalha de ouro, cabelos molhados, corpo de atleta. 


— Olha isso, mãe! Ela é incrível! 


Fernanda olhou e soltou um “hmm...” arrastado.  


O quê? 


— Que linda mesmo. 


— Oi? — inclino a cabeça, tentando entender se foi isso que eu ouvi mesmo 


— Ué, Anna, ela é! — respondeu, rindo. — Você tá com ciúme, amorzinho? 


— Não. — cruzo os braços — Jamais. 


Fernanda me abraçou por trás, rindo, e deu aquele cheiro no meu cangote que me desmonta até hoje. 


Fico fraca. 


 — Relaxa, ciumentinha — sussurra no meu ouvido  


— Eca, mães! — Cecília fez uma careta hilária, fingo descontentamento e vai se afastando. — Vocês deviam ser proibidas de demonstrar afeto em público. 


— É trauma, é? — provoquei. — Supera. 


Mas acho que ela nunca ia superar. 


Ela deu língua e puxou a mochila, já caminhando pra fila de embarque. 


A gente estava leve. 


Uma família inteira, feliz, completa. 


E eu me sentia... realizada.  


Amada. 


De uma forma que eu nunca fui e talvez nunca mais seria.  


Foi então que o som dos alto-falantes se misturou com um burburinho estranho vindo da área de espera. Olhei para uma das televisões do aeroporto. As letras vermelhas piscavam entre as manchetes: 


“Rebelião no Presídio Talavera Bruce.” 


O tempo pareceu parar. 


As imagens mostravam chamas, sirenes, detentas correndo. 


Meu coração gelou. 


O telefone vibrou na minha bolsa. 


Oliver. 


Senti meu chão sumir.  


Fernanda olhou pra mim, preocupada com a minha expressão. 


— Amor... quem é? 


A voz no alto-falante anunciou o nosso embarque. Olhei pro celular tremendo na minha mão, para o nome na tela e para minha família que estava esperando há meses eu me desligar do trabalho e ter um momento de férias.  


Respirei fundo. 


 Apertei o botão de modo avião.  


O mundo lá fora desapareceu. 


🇫🇷✈ 


No avião, eu estava inquieta. Iríamos chegar na nossa conexão em Lisboa daqui há cinco horas e, em Paris, no dia seguinte. Eu estava exatamente quatro horas e meia dentro do avião com o meu coração em frangalhos. 


Meu amor dormir encostada com a cabeça no meu ombro, os dedos estavam entrelaçados nos meus. Cecília, ao meu lado, ouvia música com o olhar perdido na janela, talvez sonhando com a tal Samanta ou com saudade de Marina.   


Mas eu não conseguia ver ou pensar em nada.  


Só em Phetra.  


Eu tava sentindo algo muito estranho no meu peito, uma intuição. E infelizmente, eu não estava com pressentimento bom. 


Ouvi meus pensamentos. 


Destravei o cinto, peguei o meu celular, o modo avião ainda estava ativo, pensei duas vezes. Liguei o Wi-Fi.  


Em menos de dez segundos, a tela se acendeu. Pipocando mensagens, dezenas de notificações. Mensagens, chamadas perdidas, alertas de notícia.  


Abri a que me interessava e, por um momento, eu esqueci como se respirava.  


Oliver: 


“Anna, a rebelião é no bloco dela.” 
“Ela sumiu.” 


Meu coração parou. 


As letras da mensagem tremiam diante dos meus olhos.  


Sumiu. 


— Anna? — Fernanda acordou, sonolenta, notando meu rosto pálido. — O que houve? 


Eu não consegui responder. Mostrei a tela pra ela, que arregalou os olhos. 


— Meu Deus... 


Cecília percebeu o movimento e tirou os fones.  


— O que foi? 


Eu não conseguia escutar a voz da minha filha e uma lágrima caiu do meu olho sem que eu percebesse.  


 Eu só ouvia meu próprio coração, batidas secas, desesperadas, tentando entender. 


 


 


PRESÍDIO TALAVERA BRUCE, RIO DE JANEIRO. 


Fumaça.  


Gritos. 


O som de metal batendo em metal.  


Phetra corria pelo corredor com o rosto coberto de cinzas, a blusa rasgada, o olhar perdido. Atrás dela, o som das detentas correndo misturava-se aos gritos de agentes e policiais militares tentando conter a rebelião.  


As detentas gritavam, quebravam grades, jogavam pedras, arrastavam colchões em chamas. 


Sirenes, sons de tiros, helicópteros sobrevoando o local.  


O verdadeiro caos. 


— PRA CÁ! — alguém gritou. 


Ela virou o rosto e viu Bianca, ensanguentada, tentando abrir uma grade lateral.  


Mas ali o sol nascia quadrado.  


Phetra não sabia como ou com qual força ela conseguiu abrir, mas só ouviu quando ela mesma disse:  


— Vai! — Phetra empurrou o corpo dela pra passar, mas o corpo não cedia. Era grande demais para o espaço.  


Um barulho de tiro ecoou no local. 


Bianca caiu. 


 Phetra recuou, tremendo, o coração palpitando.  


Os policiais penais, rendidos, estavam de joelhos no pátio — mãos na cabeça, cercados por mulheres furiosas que brandiam pedaços de ferro e facas improvisadas. 


O inferno tinha endereço, e naquele domingo, era Talavera Bruce. 


Por um instante, sentiu o tempo congelar.  


Recuou. 


Olhou pro alto e viu aquele teto rachado, coberto de fumaça. O caos tinha eco. Ela só conseguia ouvir os gritos, mas naquele momento, se lembrou do pouco de fé que tinha.  


Ouviu a voz que sussurrou no seu ouvido: 


— Siga em frente.  


Ela murmurou, rouca: 


— Eu não vou morrer aqui. 


Deu um passo.  


E sumiu na fumaça.  


Atravessando o corredor, tossindo, os olhos ardendo.  


O fogo lambia as paredes, o ar denso queimava seus pulmões, mas ela não parava, continuava correndo.  


Ela reconheceu o almoxarifado, aquele que esteve com Oliver tantas vezes. O único local daquele inferno que realmente a fez feliz. Se perguntou onde estava sua agente, mas não deu tempo.  


Um grupo de detentas passou correndo, empurrando tudo e todos. Uma delas era Raquel, vulgo “Raq”. 


O ódio nos olhos dela brilhava mais do que o fogo ao redor ao ver Phetra.  


— Sua desgraçada! — gritou, partindo pra cima. 


Phetra tentou recuar, mas a lâmina improvisada, um pedaço de vergalhão enferrujado acertou em cheio seu abdômen. 


O sangue quente escorreu pelos dedos de Raq de uma forma quase hipnótica.  


Ela ria. 


Enquanto o fogo queimava, mais graça ela achava do sofrimento de Phetra.  


Pegou a parricida pelo pescoço, apertando firme, não deixando espaço para reação, só uma dor insuportável e a sua visão ficar esbranquiçada.  


— Agora você vai pagar por tudo. 


Cuspiu no chão e apertou o pescoço dela mais firme, suas pernas fraquejaram e ela escorregou até o chão, tentando conter o sangue com as mãos.  


O barulho era ensurdecedor. 


Gritos. Passos. Tiros.  


Mas dentro da cabeça de Phetra, o som começou a se afastar.  


Raq correu com outras detentas e a deixou ali para morrer só.  


O tempo desacelerou.  


Ah, o tempo.  


Era um verdadeiro filho da puta. 


Ela pensou em Anna.  


Na risada dela. No olhar. Nas conversas de duas horas que tinham, nas coisas em comum.  


Na história dela. 


O quanto ela venceu e ela queria um final igual.  


Um recomeço igual. 


Na última vez que ouviu a voz dela dizendo “vai dar certo”. 


— “Você não devia estar pensando nela agora.”  
“Mas eu sempre penso.” 


O fogo que havia no presídio era como se fosse o pôr do sol. Bonito, mas... ao mesmo tempo, cruel.  


Phetra soltou um meio sorriso, cansado, os lábios e o corpo sujos de sangue. 


— Tempo... eu ainda não acabei com você. — Murmurou  


O olhar se ergueu uma última vez, procurando Oliver, um sinal, o céu por entre aquelas barras do presídio que a mantinha presa.  


A fumaça, a loucura. 


E então, tudo ficou branco.  

 

✈🇫🇷


DE VOLTA AO AVIÃO - SOBREVOANDO O ATLÂNTICO  


A turbulência havia começado. 


A porr* do cinto de segurança só piscava em vermelho.  


E eu? 


Tremendo de nervoso. De preocupação. 


Cecília segurou minha mão, assustada. Talvez achando que fosse pela vôo, mas não era. Fê olhava pra mim, em silêncio, tentando entender como eu estava me sentindo só pelo olhar.  


Mas eu só conseguia repetir em pensamento: 


“Ela sumiu.” 


As nuvens engoliram, agora, o avião. 


E o mundo, mais uma vez, mudou de lugar. 


Algumas histórias não acabam, elas apenas mudam de forma. 


 


FIM. 


 


 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

As minhas leitoras estão respirando???? Espero que sim! 

Demorou, mas chegou.

A minha vida pessoal é uma loucura. E quando digo loucura, digo que sou aquela escritora de recomeços que não sabe como recomeçar a própria vida.

"Mas eu sou a Nath, eu sempre dou um jeito." — reconhecem essa frase?  

O meu próximo livro, spin-off de "O Nosso Recomeço", vai dar voz à Phetra. 

Sim, amores. 

Ela vai contar a história dela pra vocês.

Eu deixei uma ponta solta no final de ONR justamente para que, no epílogo, vocês pudessem ter um desfecho da personagem. É claro, como sou essa escritora de recomeços, deixei o desfecho em aberto. 

Quando vocês poderão ler o spin-off?

Eu não sei, eu realmente agora preciso recomeçar minha vida e tá tudo uma bagunça aqui dentro, mas eu garanto pra vocês que vou entregar todo o amor, toda paixão, todo sentimento que eu tive ao escrever a história das nossas meninas.

E também queria dizer que achei meus textos antigos do Tumblr, da minha adolescência, quando eu era tragicamente apaixonada pela Beatriz da vida real, ou seja, vocês podem colocar o capacete pq lá vem pedrada nessa próxima história rs 

É brincadeira, eu não quero traumatizar ninguém. 

Mas vocês podem esperar uma história bem forte sim, com alguns gatilhos. 

Eu queria terminar agradecendo a vocês pelo carinho, pela paciência por terem esperado essa escritora terminar de focar na vida profissional pra conseguir terminar essa história linda que foi construida também com vocês. É a minha primeira história (se formos considerar as duas temporadas) e eu me sinto muito grata e feliz pelo resultado dela. 

Obrigada pelo carinho de cada uma, pelas mensagens no Instagram, pelos feedbacks na dm, obrigada também a minha leitora hater que me criticou pra caramba, disse que ia abandonar a história, mas sei que você lê escondido hahahaha 

É isso, meus amores. Eu tô muito feliz! Gratidão! ^^ 

Meu insta: https://www.instagram.com/nathh.autora/


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Comentários para 32 - EPILOGO.:
HelOliveira
HelOliveira

Em: 30/10/2025

Eu estava ansiosa, queria e não queria ver esse epílogo....mas chegou o momento de se despedir né....as duas temporadas foram maravilhosas e vão deixar saudades....

Anna, Fernanda e Cecília vão ficar guardadas sempre....

E agora só aguardar no seu tempo e com capacete conforme recomendado a próxima aventura 

 


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 30/10/2025 Autora da história
Ah, meus amores! A autora também está vivendo esse luto, até sonhar com as meninas eu tô sonhando rs


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Lea
Lea

Em: 29/10/2025

Quem tem coragem de,soltar um hate para nossa Nathy ?? Que absurdo! Quem quer abandonar uma história,um livro, qualquer coisa na vida,vai sem avisar!!

Amei demais acompanhar,tanto o livro 1 quanto o livro 2! E estarei lá quando você resolver voltar!

Sobre esse final: AMEI!! Fiquei apreensiva sobre o que aconteceu com a Phetra!

Gostei muito de ver a Cecília,correndo atrás dos próprios sonhos!

Mais uma vez, até breve Nathy!

Espero que,esteja tudo bem com você e sua família aí na sua cidade. Você mora no Rio de Janeiro,certo??


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 30/10/2025 Autora da história
Hahahahaha pois é, mas soltaram esse hate, fiquei chocada tbm

Obrigada por ter acompanhado até o final. Fico muito feliz por ter você como leitora!

Aqui na minha cidade está um caos, moramos próximo ao CPX da Penha, mas nosso bairro não foi atingido. Tudo certo por aqui! Obrigada pela preocupação


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