Capitulo 38
Renata Fontes
O percurso até Angra dos Reis seria de duas horas. Elisa e Soph alugaram uma van que nos levaria até a ilha particular, reservada somente para nós. Flávia sentou com os amigos, ela estava com saudade deles. Era bom vê-la feliz. Quando nossos olhares se cruzavam, ela sorria. Aproveitei para fazer algumas ligações para o escritório. Mesmo que fosse uma viagem para relaxar, teria que trabalhar algumas horas por dia, já que nossa equipe estava reduzida por conta dos funcionários que estavam de férias. Sentei na parte de trás da van e liguei o meu notebook; a cada ligação atendida, atualizava o meu cronograma de atividades. Foi um tempo muito bem aproveitado. Consegui revisar alguns documentos e preparar defesas consistentes. O caso de Sueli é a minha maior prioridade no momento, nosso objetivo é reduzir o tempo do processo para que ela fique livre desse casamento o mais rápido possível. Estamos tendo progresso no caso, nossa primeira vitória foi conseguir que o Senhor Carlos mude de endereço. Pelo menos agora, Sueli tem a sua privacidade de volta.
— Você não muda mesmo, não é? — Matheus, que até alguns segundos atrás estava com uma venda no rosto, falou.
— Pensei que estivesse dormindo. — Ele ajeitou a postura no assento.
— Tentei, mas é impossível com tanta gente falando ao mesmo tempo. Não sei como consegue trabalhar.
— Isso não me incomoda. Tenho hiperfoco. Além disso, quero aproveitar a viagem quando chegarmos lá sem precisar ser interrompida por uma ligação do trabalho. E você, pensei que nem ia aparecer, vive trabalhando também.
— Sou o padrinho, não posso fazer essa desfeita.
— Como se esse papo fosse colar comigo.
— Tá legal, Elisa me ameaçou. Disse que cortaria minha cabeça se eu não aparecesse. Então, aqui estou. Pronto para passar o meu tempo de folga rodeado de pessoas animadas e felizes. Muito animador. — Falou, irônico como sempre.
— Não duvido que ela faria isso. — E foi só falar na estilista que ela apareceu e sentou no banco entre nós.
— Isso é o máximo, não é mesmo? — Elisa sorriu e segurou na mão dos amigos.
— Claro. — Matheus ironizou.
— Seria melhor ainda se os dois parassem de trabalhar e dormir e aproveitassem a viagem. Ei, Matheus, você já viu a irmã do Henrique? Acho que ela precisa de companhia.
— Não banque a cupido, Lizzy. Tá na cara que ela não quer conversar com ninguém. E devo admitir, que compartilho do mesmo sentimento. — Chloe estava sentada a dois assentos na minha frente. Ela usava óculos de sol e olhava a paisagem pela janela. Ainda não tinha prestado atenção nela, mas agora percebi que ela não falava muito.
— Nisso, tenho que concordar com o Matt. Você sabia que o Rick tinha uma irmã mais velha? — Perguntei, curiosa.
— A Soph me contou, os irmãos são próximos, mas por conta do trabalho, não passam muito tempo juntos. Se o Rick não tivesse falado que ela era mais velha, nunca teria adivinhado. Vocês viram como ela é linda?
— Se reparar bem, o Henrique é a versão masculina dela. — Matheus completou. Era novidade que nosso amigo reparasse na beleza alheia, já que ele era bem egocêntrico.
— Santa genética, os dois são como deuses antigos, altos e imponentes. — Analisei. Sempre achei Rick um homem muito bonito. Facilmente conseguiria ganhar a vida como modelo. A sua irmã é ainda mais bonita, mas com um ar de mistério. Ao contrário de Rick, Chloe parecia ser uma mulher de poucas palavras.
— E não é só beleza, ela também é inteligente. Tem uma carreira de prestígio como piloto de avião. Parece que é a única mulher que ocupa esse cargo na companhia onde trabalha. — Soph tinha feito um bom trabalho em saber os detalhes sobre Chloe. O que era um combustível para nós fofoqueiros.
— Tá, agora fiquei impressionado. — Matheus admitiu. Analisei a irmã de Henrique com mais cuidado. O fato de trabalhar num ambiente machista explicava muito o seu jeito sério. Mas não foi isso que me chamou a atenção.
— É melhor não ficar empolgado. — Falei.
— Por quê? — Lizzy e Matt falaram ao mesmo tempo, fazendo Lara e Henrique olharem para nós.
— Sejam discretos. — Repreendi. — É só um palpite, mas eu acho que ela não curte homens. — Sussurrei.
— Você não pode dizer isso só de olhar para uma pessoa. — Matheus disse.
— Bom, meu gaydar é muito bom. Acertei com a Flávia. — Me arrependi do que disse, porquê sabia que meus amigos ficariam curiosos.
— O quê, como assim? — Matheus estava confuso.
— Ai, amigo, você está atrasado nas notícias. A Renata e a Flávia estão namorando. — Lizzy disse.
— Ainda não estamos namorando.
— Mas não é por falta de vontade. Me fala, o que falta para vocês começarem a namorar? — Lizzy perguntou. Matheus ainda estava digerindo a notícia e nos olhava com atenção.
— Estamos analisando se é o que realmente queremos. Se a relação pode dar certo.
— Pensei que o namoro servia para isso. — Matt disse.
— É diferente no nosso caso.
— Por quê?
— A Flávia nunca namorou, então para ela, a decisão de namorar é um grande passo. E eu respeito isso. Se vou ser a sua primeira namorada, fico feliz que ela leve tão a sério esse compromisso, já que para mim, essa pode ser a decisão da minha vida. Sei exatamente o que quero com a Flávia e isso só vai acontecer se ela estiver disposta a se comprometer de verdade.
— Nossa, você sabe mesmo o que quer, hein? Nunca te vi falando de sentimentos dessa maneira. Espero que dê tudo certo entre vocês. — Lizzy tocou na minha mão.
— Mesmo não acreditando no amor, não julgo quem acredita. Então, espero que as coisas deem certo entre vocês também. — Foi a vez de Matt falar.
— Obrigada, gente. — Eles eram bons amigos. — Espero que esse tempo na ilha ajude a Flávia a tomar uma decisão.
— Vai ajudar sim, amiga. Vocês formam um lindo casal e tá na cara que estão apaixonadas. Aproveita esse clima de romance e pede ela em namoro. — Lizzy falou.
— Até pensei nisso, mas tenho medo dela dizer não. Além do mais, não quero ser a única que toma a iniciativa.
— Bom, se precisar de ajuda, pode contar conosco.
— Obrigada, Matt.
— Mais uma coisa. — Elisa estava empolgada. — A casa na ilha só tem cinco quartos. Eu e Soph vamos ficar com um, Henrique e Chloe com o outro, Lara e Matheus terão quartos individuais. Você e a Flávia vão ficar com o quarto de casal que sobrou. — Aquela notícia era maravilhosa. Mas lembrei que Flávia queria que as coisas fossem devagar e ficar em um quarto de casal em uma viagem com nossos amigos, não era a melhor descrição de "ir devagar".
— A Flávia não vai querer. — Falei.
— Que estranho, porque quando contei, ela adorou a ideia. — Ok, aquela notícia me deixou muito surpresa. Olhei para a jornalista e ela estava me encarando, até aí tudo bem, passamos a viagem inteira fazendo isso. Mas o seu olhar estava diferente. E se fosse para ser justa, ela estava diferente desde o momento em que lhe busquei no aeroporto.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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