Renata Fontes

Quando chegamos na casa da Flávia, Groot explorou cada canto do lugar. Ele estava muito agitado.

— Desculpa, se ele quebrar alguma coisa, prometo que reponho.

— Está tudo bem, Renata. Podem ficar à vontade, vou tomar um banho.

— Tudo bem.

No caminho da praia até aqui, Flávia ficou calada. Alguma coisa tinha acontecido. Talvez fosse a conversa que tivemos; acho que foi muita informação para ela processar. Por isso não gostava de conversar sobre aquilo com ninguém.

Levei Groot para o quintal, assim ele poderia gastar um pouco de energia e fazer as suas necessidades. Sentei no degrau da escada na varanda e fiquei observando o meu labrador. Estava preocupada com Flávia. Podia escutar o som da água do chuveiro caindo, de certa forma aquilo me confortava. Ela só podia estar cansada, ou talvez estivesse estressada com alguma coisa. Ficar pensando demais não iria me tranquilizar, precisava conversar com ela. Olhei para o meu celular, tinha pedido comida e o motorista já estava a caminho.

Depois de alguns minutos, fui buscar o pedido no portão de entrada. Gostava da comida daquele lugar, mesmo que não estivesse com fome agora. Estava preocupada e nervosa, e isso me atrapalhava na hora de comer.

Dei comida para Groot e depois ele deitou ao meu lado. Por conta da tarde agitada, o grandão estava sonolento.

— Deixei uma muda de roupa para você na cama. — Flávia apareceu vestida em seu pijama já conhecido.

— Tá bom, vamos jantar primeiro. Depois tomo banho. — Ela concordou e se serviu. Comemos e conversamos sobre nossos amigos. Nada relevante. A jornalista estava um pouco distante; alguma coisa estava errada. Podia sentir.

Depois da janta, tomei banho e vesti roupas limpas. Estava decidida a ir embora, não queria incomodar e Flávia já estava deitada na sua cama.

— Obrigada pelo passeio. Acho melhor ir para casa. — Comuniquei.

— Pensei que fosse dormir aqui. — A jornalista sentou na beira da cama, perto de onde eu estava. Ela parecia triste.

— Ia, mas não quero incomodar.

— Você não está incomodando.

— Então por que você está tão calada? Aconteceu alguma coisa? — Estava começando a ficar preocupada. Flávia permaneceu calada e aquilo me deixou mais aflita. — Me desculpa. Não devia ter te contado sobre a minha doença. Não queria que as coisas mudassem entre nós.

— Não. Em nenhum momento fiquei chateada com você, pelo contrário, hoje foi ótimo. E obrigada por se abrir comigo. — Flávia segurou na minha mão. — Me desculpa, não estou chateada pelo que conversamos.

— Então por que você está diferente? — Toquei em seu rosto e ela afastou as pernas para que eu me acomodasse entre elas.

— Quando estávamos na praia, meu chefe me ligou. Vou ter que viajar a trabalho para Londres na semana que vem. — O quê? Ela mal tinha chegado de uma viagem e já estava indo para outra. Não consegui disfarçar a minha tristeza.

— Vai ficar fora por quanto tempo?

— Três semanas. Vai ser meu primeiro trabalho como repórter. Não estou triste, só um pouco apreensiva. — Não era tanto tempo, mas para mim, seria uma eternidade. Logo agora que estávamos nos acertando.

— Parabéns, sei que você queria essa promoção. — Mesmo que Flávia fosse ficar longe, estava feliz por ela. Mas ainda precisaria de um tempo para processar aquela informação.

— Ei. Sinto muito. — Ela me puxou para o seu colo e me encarou. — Vou sentir a sua falta. Sinto por ter que ficar longe, mas o meu trabalho é assim mesmo. Passo um tempo aqui e outro viajando. Isso é um problema para você?

— Eu também vou sentir a sua falta. Não é um problema, só tenho medo de que as coisas fiquem estranhas entre a gente. Agora que fizemos as pazes e ainda estamos nos conhecendo. — Estava me segurando para não chorar. Sei que era diferente agora, mas não podia deixar de pensar na última vez que ela foi embora e em como as coisas ficaram quebradas entre a gente. Como se soubesse o rumo que meus pensamentos estavam tomando, Flávia deitou na cama e me acomodou em seu peito.

— Entendo, também tenho medo. Mas talvez seja bom esse tempo.

— O que você quer dizer?

— Vamos ter tempo para pensar no que temos. E também descobrir se a rotina do meu trabalho se encaixa no que você quer para a sua vida. — Sabia muito bem o que queria, eu queria ela. Mas talvez aquela viagem fosse importante para que Flávia descobrisse o quão profundo eram os seus sentimentos por mim.

— Você tem razão. Então vamos aproveitar os dias que temos até a sua viagem.

— Sei que amanhã você vai cuidar da sua sobrinha. Estava pensando se poderia ir com você para conhecê-la.

Meu sorriso devia estar enorme, mas não me importava. Flávia queria conhecer a pequena Esther. Depois do que aconteceu na maternidade, aquele pedido foi um enorme avanço. Beijei seus lábios lentamente, aproveitando cada segundo do contato macio e delicado.

— Acho que isso quer dizer sim. — Ela brincou.

— Com certeza. Tenho certeza que o Gustavo e a Júlia não vão se importar. Eles querem te conhecer melhor.

— Então está combinado. Amanhã vamos juntas para a casa do seu irmão. Depois vou ter que sair para resolver algumas coisas da viagem. — Flávia acariciava o meu cabelo.

— Tá bom. Obrigada por ter me escutado e pela tarde perfeita que tivemos hoje.

— Eu que agradeço. Quero aproveitar cada segundo com você antes dessa viagem.

— Sou toda sua. — Brinquei.

— Toda minha? — Ela sussurrou.

— Pode contar com isso.

— Então devo começar a aproveitar esse tempo agora mesmo? — Flávia segurou a minha cintura com mais força.

— Com certeza. — Rimos, enquanto tirávamos as roupas uma da outra. Nunca me cansaria daquilo. Cada dia que passava, os meus sentimentos por Flávia só ficavam mais fortes. Conseguimos superar os ressentimentos e agora estávamos mais próximas. Era um sonho ter a morena tão disposta a conversar comigo. Teve um tempo em que achei que nunca mais teria a sua confiança novamente. Foi um longo caminho, mas finalmente as coisas começaram a dar certo para nós.

@escritora.kelly

Fim do capítulo