Capitulo 1
RENATA FONTES
— E você, irmãzinha? Quando pretende dar uma chance ao amor? — Gustavo, meu irmão mais velho, perguntou enquanto acariciava a barriga da esposa grávida.
Todos na família estavam muito empolgados com o mais novo membro do Clã Fontes. Talvez, eu fosse a mais ansiosa. Não era à toa que minha sobrinha já tinha ganhado vários presentes, mesmo antes de nascer. Não era novidade que eu sempre me empolgava perto de crianças, mas agora seria diferente. Nunca fui tia, e aquilo estava me deixando muito animada, talvez fosse o que mais me empolgou nos últimos meses.
O que o meu irmão tinha me perguntado? Forcei a mente para lembrar. Minha família e sua mania de querer encontrar alguém para mim.
— Adoro ver vocês apaixonados e com as suas esposas. — Olhei para os meus dois irmãos e para as suas companheiras. — Mas, não esperem que eu vá encontrar o meu final feliz. Nem todo mundo tem essa sorte.
Os jantares em família sempre terminavam em interrogatório sobre a minha vida amorosa, eu já estava acostumada. Mas confesso que estava ficando chateada com aquela insistência.
— Você só não encontrou a garota certa. — Pedro, que era um pouco mais jovem que Gustavo, concluiu. Ele tinha Rute ao seu lado; os dois tinham chegado há poucos dias da lua de mel.
— Não é sobre encontrar a garota certa, eu só não quero me envolver com ninguém a ponto de me machucar, caso tudo dê errado. — Eu estava tentando convencer a mim mesma de que aquilo era a verdade.
— Mas isso é normal, filha. Ou você pensa que relacionamentos são apenas flores? Seu pai e eu tivemos a nossa cota de erros antes de as coisas começarem a se encaixar.
A minha mãe tocou na minha mão e começou a contar sobre como odiava o meu pai antes de se apaixonar perdidamente por ele. Nós já tínhamos ouvido aquela história um milhão de vezes, mas ninguém ousava interrompê-la, inclusive o meu pai, que apenas observava a cena se desenrolar. Ele sempre foi um homem de poucas palavras, apesar de saber sempre o que dizer e a hora exata para falar.
Fiquei satisfeita que o falatório sem freio da minha mãe desviou a atenção de todos da minha vida amorosa, que atualmente era inexistente.
Júlia, a minha cunhada grávida, se aproximou de mim e sentou-se ao meu lado.
— Às vezes, eles podem ser um pouco insistentes. — Ela comentou.
— Nem me fale, é difícil ser a caçula. Todos querem saber da minha vida ou dar opinião sobre o que eles acham que está faltando. — Júlia sorriu levemente. Ela já estava acostumada com o meu jeito direto de falar.
— Vamos esquecer essa história toda de par perfeito. Fale sobre o seu trabalho. Fiquei sabendo que ganhou um caso muito difícil. — Eu amava que Júlia sabia como me deixar confortável; ela seria uma ótima mãe para a minha sobrinha.
Passamos o resto do jantar conversando. Aproveitei para me atualizar sobre a previsão do nascimento da pequena Esther. Por sorte, a minha família não tocou mais no assunto de amor e felizes para sempre.
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Quando cheguei ao meu apartamento, fui recepcionada por um alegre e bagunceiro labrador. Groot era meu fiel companheiro e sim, eu era fã de Guardiões da Galáxia. Sei que minha cara de patricinha mimada e superficial enganava muita gente. Mas a verdade era que habitava uma Geek dentro de mim. Esse era um lado meu que poucas pessoas conheciam.
Groot quase me derrubou quando se jogou no meu colo. Não adiantava repreendê-lo, pois ele adorava fazer aquilo. Deixei minha bolsa de lado e sentei-me no sofá com o cachorro danado no meu encalço. Ele colocou as suas enormes patas em meu colo e descansou a sua cabeça na minha barriga.
— Quem disse que preciso de um amor para toda a vida? — Falei enquanto fazia carinho em Groot. Aparentemente entendendo, ele começou a balançar o rabo.
— Sim, eles não sabem de nada. Tenho tudo o que preciso bem aqui. — Descansei a minha cabeça no encosto do sofá, enquanto olhava para o teto. O meu labrador acomodou-se no espaço ao meu lado, que ele jurava ser o suficiente para comportar o seu corpo todo.
Por alguns momentos, deixei a minha mente vagar por pensamentos que jurei jamais voltar a ter.
Flávia estava fora do País há um pouco mais de um ano. Tentava não pensar nela com frequência, mas era impossível quando tudo estava tão fresco na minha mente. Odiava como tudo terminou entre a gente. E para completar, amanhã começaria a maratona de compromissos para preparar o casamento de Elisa e Sophie, minhas amigas que marcaram a data do seu tão sonhado dia para daqui a dois meses. Eu, como madrinha e amiga de Elisa, tinha a obrigação de comparecer e participar da maioria das decisões como comida, lugar, decoração e um monte de outros detalhes. Segundo as noivas, era inadmissível que eu ficasse de fora. Sophie, apesar de me detestar quando nos conhecemos, agora até que me tolera. Por isso, não consegui escapar da prova de vestidos que seria amanhã em uma das lojas de Elisa. Ela era uma estilista famosa e decidiu criar todos os trajes do casamento.
Não é que eu não gostasse de ajudar minha amiga com os preparativos do seu casamento. Só não queria ter que revisitar o passado. Sabia que Flávia estava com raiva de mim, talvez até me odiasse pelo que fiz.
Obviamente, eu estive presente na vida dos meus amigos nos últimos meses. Saímos muitas vezes, mas Flávia não estava aqui. Sabia que agora ela não perderia esse momento tão importante para a sua melhor amiga, que era Sophie. Assim como eu, ela era uma madrinha.
Era tão claro quanto água que ela não queria me ver, nem mesmo pintada de ouro. As suas últimas palavras para mim deixaram bem claro o seu desprezo e falta de consideração. Eu sei que merecia tudo aquilo, mas uma parte de mim ainda nutria esperanças e eu odiava que ainda fosse apaixonada por aquela mulher.
Adormeci torcendo para que na manhã seguinte acordasse gripada, simplesmente me desculparia e não apareceria na prova do vestido.
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Instagram: @escritora.kelly
Fim do capítulo
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