Giovana

- Mamãe – Theo coloca a cabeça para dentro do escritório – A mama está chamando a senhora.

- Ela está bem? – Digo na defensiva.

- Você terá que descobrir, ela parece estar um pouco com raiva.

Me levanto e me preparo para enfrentar o dragão. Faz dois anos que me formei e me tornei sócia da minha, agora noiva. Depois que recebi a herança, comprei a metade do restaurante e comecei a trabalhar nele como chefe de cozinha durante a semana e aos fins de semana tinha o tempo livre para minha família. 

Hoje em dia a fala do meu filho não é mais errada, e isso me trás tanta saudade de quando ele errava as palavrinhas.

Depois de muita conversa e entendimento de ambas as partes, Olivia e eu decidimos ter um filho nosso, mesmo eu considerando Theo como meu, ainda sentia a necessidade de acompanhar uma gestação. Mas como nunca tive a intenção de gestar, deixei minha mulher completamente livre de qualquer obrigação. Eu sempre entendi o fato de ela já ter passado por isso duas vezes e entenderia ela não estar aberta a passar por uma terceira. 

Mas para minha grande surpresa, ela decidiu embarcar nessa aventura comigo e realizar esse sonho meu, e desde então eu tenho feito de tudo para que essa experiencia seja diferente para ela também, porque nas outras vezes, Olivia sempre esteve sozinha, não teve a presença de Pietra na gestação de Aurora e na de Theo teve apenas seus pais, mas quero proporcionar a ela a segurança de ter uma companheira de verdade.

Então faz cinco meses que descobrimos que a inseminação deu certo, e faz um mês que decidimos que seria melhor eu trocar minha função no restaurante e deixar a cozinha e começar a cuidar da parte burocrática. 

Entendemos que a gravidez pode trazer algumas complicações devida à idade da minha noiva, então resolvemos que seria melhor ela evitar qualquer tipo de estresse e eu assumiria essa parte e estaria mais presente em casa para ajudá-la no que for preciso. 

Contudo, estamos na fase em que os hormônios estão mexendo muito com ela e muitas vezes eu não sei nem como agir. Ontem, por exemplo, ela chorou porque disse que sente que Theo não ama mais ela e que Aurora já está entrando na fase de querer sair de casa e morar sozinha e que não vai aguentar ver a filha longe.

Detalhe, a menina tem quinze anos. Mantive a paciência e a consolei, depois chamei Aurora até o quarto e pedi que falasse para sua mãe que ela não possui nenhum plano mirabolante de fugir de casa e nem ir morar longe.

E agora me preparo para encarar a fera mais uma vez. Saiu a sua procura com meu filho em meu encalço, mas ele me abandona quando descemos as escadas e eu a encontramos na cozinha.

- O que a gravida mais linda desse mundo todinho está aprontando? – Me aproximo com cautela.

- Você não ficou responsável de levar Aurora na aula de dança? 

Minha enteada ficou bem interessada quando contei que amava dançar e disse que tinha vontade de fazer aulas, então fui atras de uma escola legal e que fosse do jeito que ela gostava, e fiquei responsável de levá-la e buscá-la, e se tornou um momento muito legal entre a gente, só nosso.

- Sim.

- E o que ela ainda faz em casa a essa hora?

- A professora dela me mandou mensagem avisando que hoje não teria aula, houve um problema no estúdio e estará fechado até amanhã – Explico.

- E por que a professora tem seu contato se foi o meu telefone que deixamos no cadastro para caso de emergências? – Respira fundo e meu me preparo para acalmá-la – Tem algo acontecendo que eu deva saber?

- Não há nada acontecendo além de um problema no estúdio e uma aula cancelada.

- Acho bom mesmo, porque se eu descobrir que você está de conversinha com outra professora, eu te mato.

Hormônios. Hormônios. São apenas os hormônios. 

- A única professora que eu tenho olhos é você, amor – A abraço.

- Você não vai me trocar por que eu estou gorda, né? – Faz um bico e seus olhos se enchem de lágrimas.

Tem mais esse detalhe, sua oscilação de humor é constante, ela pode ir do riso ao choro em questão de segundos. Conforme a gravidez vai avançando, ela está ganhando alguns quilos a mais, mas está longe de estar gorda, porém isso tem mexido com sua autoestima.

- Você não está gorda, minha linda, só está carregando nosso pacotinho de amor – Tento ser o mais delicada possível.

- Jura?

- Juro.

Nem nos meus melhores sonhos eu pensei que viveria tanta coisa boa em minha vida, e ter a minha família é a melhor delas, e se ter que aguentar tudo isso está no pacote, assim eu farei. 

Fim do capítulo