Capitulo 1
Por Bia:
A luz suave do escritório refletia nas paredes de vidro, tingidas com o tom dourado do fim de tarde. O som das teclas do computador de Pietro ritmava no ambiente, junto ao cheiro inconfundível do perfume forte que ele costumava usar. A mesa dele, grande e impecável, estava coberta de papeis e contratos, mas sua atenção estava totalmente voltada para mim. Seus olhos castanhos estavam fixos nos meus.
— Bia, presta atenção. A oportunidade é única. Você não faz ideia dos pulinhos que tive que dar pra conseguir esse job pra você, então você não pode vacilar.
Eu respirei fundo, sentindo o peso das palavras dele se acumulando dentro de mim. Pela quarta vez, ouvindo o mesmo sermão. A pressão era sufocante e Pietro sempre foi esse tipo de pessoa. Intenso, exigente e, de certa forma, implacável. Mas ele também sabia o que era bom para minha carreira, e dessa vez, ele estava falando sério.
Ele sabia o que estava em jogo.
— Relaxa, Pietro. Vai dar tudo certo.
Tentei esconder a ansiedade que começava a se manifestar no fundo da minha garganta. O som da minha própria voz parecia mecânico, como se estivesse tentando convencer a mim mesma mais do que a ele. Pietro olhou para mim com desconfiança.
— Você diz isso e já me vem na mente aquela situação do ano passado. Se jogou pro fim do mundo, onde o Judas perdeu as botas, pousou pra foto e vídeo de político que se envolveu em escândalo e corrupção e o resto você bem sabe como foi.
Um arrepio correu pela minha espinha ao ouvir o relato de Pietro, carregado de julgamento. Claro, ele sabia exatamente onde cutucar para machucar. Como esquecer? A mídia me triturou, o escândalo virou manchete, e de quebra, ainda me pintaram como a melhor amiga do político corrupto. Pietro tinha todo o direito de se preocupar, afinal, minha brilhante ida a Vintervile para ver Helena não só detonou minha credibilidade como também espantou seguidores como se eu tivesse postado um tutorial no Wiki-How de como ser odiada. Uma verdadeira obra-prima do desastre.
— Já estou vacinada em relação a isso. — Respondi, com uma tentativa falha de parecer tranquila, enquanto minha cabeça gritava que, se isso fosse verdade, eu deveria estar imune ao estresse que Pietro causava. Mas não, meu corpo estava tenso, rígido como se eu estivesse equilibrando na beirada de um precipício, esperando que um sopro me jogasse lá embaixo.
Ele revirou os olhos de um jeito que dizia: “Não acredito em nada do que você fala, mas ok”. Suspendeu um suspiro tão dramático que parecia carregar nas costas o peso do mundo (ou o peso da minha carreira, segundo ele). Se recostou na cadeira, e o couro rangeu como se também estivesse cansado de lidar comigo.
— Assim espero, dona Bia Albuquerque.
Meu olhar caiu no contrato sobre a mesa de Pietro, como se aquele pedaço de papel brilhasse e piscasse a palavra "salvação" em neon. Pelle Serenità. O glamour, a credibilidade, o retorno triunfal. Tudo ali, a algumas rubricas de distância. Mas, claro, a dúvida não podia me deixar em paz, né? E se eu falhasse de novo? E se eu transformasse mais uma oportunidade de ouro em um desastre com glitter?
Porque, convenhamos, minha história de "recomeços" não é exatamente inspiradora. Era mais como aquelas novelas que repetem a mesma trama, só mudando o cenário e o figurino. Mas, dessa vez, algo precisava mudar. Afinal, não dava para passar vergonha profissional de novo. Pietro não iria sobreviver a isso, e eu também não.
O silêncio pairou entre nós, pesado e incômodo, enquanto eu encarava aquele pedaço de papel como se ele fosse um ser vivo, pronto para me engolir inteira. Meu coração estava acelerado e uma vontade absurda de fugir começou a crescer dentro de mim. Fugir para qualquer lugar onde contratos, expectativas e a expressão de “mãe desapontada” do Pietro não me alcançassem. Talvez para uma ilha deserta. Talvez para um reality show, onde o único requisito fosse existir e ser problemática. Mas, infelizmente, a vida real não dava essas opções.
— Eu vou dar o meu melhor, Pietro. Pode confiar em mim. — As palavras saíram firmes, quase convincentes.
Pietro me encarou, e, por um segundo, seu olhar suavizou. Quase dava para acreditar que ele estava se rendendo à ideia de que eu talvez não fosse estragar tudo dessa vez.
— Espero que sim. Essa chance é importante, e você sabe disso.
Ah, sim, Pietro, eu sabia. Sabia tão bem que o peso daquela frase praticamente grudava na minha testa como um aviso em letras garrafais: "NÃO VACILAR".
Ajustei o vestido pela terceira vez antes de entrar na sala de reuniões da Pelle Serenità. No reflexo da porta de vidro, vi o que Pietro chamava de 'produto final': meus cabelos cor de mel soltos nos ombros, os olhos amendoados destacados pelo delineador que aprendi a fazer vendo tutoriais no YouTube, e a postura ereta que construí para as câmeras. Por fora, a influencer perfeita. Por dentro, uma bagunça completa tentando não desmaiar de nervoso. Minha primeira grande campanha com uma marca tão prestigiada e meu estômago já estava fazendo piruetas.
Assim que cruzei a porta, lá estava ela: Valéria Fischer, a dona da Pelle Serenità, com um sorriso que parecia ensaiado. Ela era aquele tipo de mulher que intimidava só por existir. Pele negra brilhante, roupas impecáveis que gritavam "eu sou rica", e maquiagem tão perfeita que me fez questionar todas as minhas escolhas de beleza. Se ela tinha algum defeito, devia estar escondido em uma gaveta junto com o resto da humanidade que ela dispensou.
— Seja bem-vinda, Bia Albuquerque. Estamos animados em tê-la como o rosto da nossa nova linha. — A mão dela se estendeu com uma firmeza que deixava claro quem mandava ali.
— O prazer é todo meu. Estou animada para trabalhar com vocês — respondi, tentando não deixar minha voz tremer enquanto disfarçadamente olhava ao redor. A sala era um templo à elegância: móveis minimalistas e detalhes tão bem pensados que pareciam gritar "somos chiques e sabemos disso".
Foi aí que meus olhos caíram nela.
Perto da janela, como se tivesse saído de uma pintura renascentista com um toque corporativo, estava uma mulher alta de cabelos castanhos que capturavam a luz como um comercial de shampoo. A pele, em um tom pardo claro, realçava ainda mais sua presença. E foi o rosto dela que realmente me prendeu. Havia algo no olhar daquela mulher. Um misto de doçura e perigo. Ótimo, Bia, mais um minuto olhando fixamente e você ganha um prêmio por comportamento estranho.
— Essa é minha filha, Luísa. Ela cuida do setor administrativo e financeiro da empresa. — A voz de Valéria cortou o momento como uma faca afiada, trazendo-me de volta à realidade. Mas o tom que ela usou para apresentá-la? Totalmente desprovido de emoção, como se Luísa fosse uma planta de canto da sala. Ah, sim, com certeza a mãe mais carinhosa do ano.
— Olá, Luísa. É um prazer conhecê-la. — Sorri, tentando disfarçar o calor ridículo que subia pelo meu rosto.
Ela se virou para mim com um sorriso pequeno, tão profissional que dava para sentir o crachá corporativo quase pendurado no canto da boca. Mas havia algo nos olhos dela. Aquela distância calculada, como se ela estivesse presente fisicamente, mas a mente estivesse de férias num lugar muito melhor do que aquela sala sufocantemente elegante.
— O prazer é meu. Seja bem-vinda à Pelle Serenità. — A voz dela era suave, mas com uma firmeza que me fez sentir que talvez eu devesse agradecê-la por não me mandar embora imediatamente. Era o tipo de voz que te faz querer ouvir mais, mesmo que fosse para ela reclamar de relatórios ou planilhas ou então me xingar muito no twitter. Ops… X.
Valéria, por outro lado, interrompeu a breve troca como quem espanta uma mosca, com um gesto de mão tão casual quanto irritante.
Seguimos para a apresentação da campanha. As ideias eram boas, ok. Mas boas no sentido de "esforço aceitável para quem quer impressionar". As imagens do conceito apareceram na tela: modelos impecáveis, com pele impecável, em cenários impecáveis. Tudo tão perfeito que dava vontade de gritar. Gente, é sério? Alguém acredita que isso é real? A campanha precisava de mais humanidade, mais conexão, mais... não sei, alma?
Meu olhar, sem perceber, voltou para Luísa. Ela estava ali, sentada com a postura tão séria quanto o resto do conceito da campanha, mas suas mãos estavam cruzadas no colo, quase se escondendo. Havia algo nela. Uma mistura de força e vulnerabilidade que me fez querer saber mais.
E então, como quem salta de um penhasco sem olhar para baixo, eu falei:
— Sabe, achei a campanha para a linha Elementos simplesmente deslumbrante. As modelos são impecáveis, mas talvez incluir alguém diferente trouxesse um toque mais autêntico e aproximasse ainda mais o público da marca. — Me virei para Luísa, sem nem pensar. — Sua família toda exala elegância e sofisticação, e você não é exceção. Sua beleza tem um charme natural, uma presença marcante. Acho que você seria perfeita para isso.
O silêncio que se seguiu foi tão denso que eu poderia ter cortado com uma faca. Na verdade, uma motosserra teria sido mais apropriada. Valéria me encarou como se eu tivesse sugerido substituir as modelos por uma ninhada de gatinhos vira-lata.
— Luísa? — Ela riu, mas não foi aquele riso simpático que ameniza a tensão. Foi um riso gelado, quase cortante, de quem acaba de te jogar no chão e pisa em cima. — Bia, você é nova aqui, então vou relevar. Minha filha é deficiente. Então, o conceito de perfeição que tentamos vender não se aplica aqui, não é mesmo?
Antes que eu pudesse reagir, Valéria se abaixou e ergueu a barra da calça de Luísa, revelando a prótese metálica em sua perna direita, como se fosse uma peça de exibição.
O impacto das palavras e do gesto me atingiu como um soco direto no estômago. Fiquei ali, paralisada, tentando absorver o que havia acabado de acontecer. Meu olhar foi automaticamente para Luísa. Ela permanecia imóvel, o olhar fixo em algum ponto da tela do notebook, como se quisesse desaparecer. Mas o maxilar tensionado contava outra história, uma mistura de desconforto e raiva que ela tentava esconder.
Valéria, por sua vez, continuava como se tivesse acabado de proferir uma aula incrível sobre marketing. Quanto a mim, só consegui engolir seco e me torturar internamente: Parabéns, Bia. Você realmente nasceu pra pisar em terrenos minados sem checar o mapa antes.
— Entendi. Eu... não quis... — murmurei, enquanto sentia meu rosto queimar como se tivesse metido a cara num forno. Olhei para Luísa, esperando algum tipo de salvação, mas tudo que recebi foi um olhar gelado.
— Claro que não. Mas agora você sabe. — O tom de Valéria era cortante, frio, daquele jeito que só mães-passivo-agressivas conseguem fazer com maestria. A mensagem estava clara: fim da conversa, Bia.
Foi então que Luísa levantou-se de repente, quase derrubando a cadeira no processo.
— Se me dão licença, tenho um relatório para revisar. Boa sorte com a campanha. — A voz dela saiu controlada, polida, quase formal demais, mas não conseguiu esconder o leve tremor nas palavras. Era como uma taça de cristal que quase, quase rachava. E, se eu não estivesse tão paralisada e me sentindo um lixo, teria levantado e seguido ela.
Ela saiu sem olhar para trás, deixando um vácuo que parecia gritar mais alto que qualquer frase. Eu continuei plantada na cadeira, sorrindo sem graça para Valéria, que parecia satisfeita demais com o show e continuou com a apresentação como se nada tivesse acontecido, mas eu não conseguia mais prestar atenção. Tudo em mim gritava para ir atrás de Luísa, mas ao mesmo tempo, havia algo me segurando: medo, talvez. Medo de dizer algo errado de novo, de invadir um espaço que não me pertencia.
Uma coisa era certa: eu precisava me desculpar.
Após minha vergonhosa primeira impressão, Valéria se despediu e, como punição pelos meus pecados, me largou sob os cuidados de uma estagiária chamada Luana. Sua missão? Me arrastar por cada canto da Pelle Serenità como se eu fosse uma caloura no primeiro dia de aula.
Começamos pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento, onde um bando de cientistas de jaleco branco misturava substâncias misteriosas em potinhos. Depois passamos pela Produção, onde máquinas barulhentas engoliam ingredientes e cuspiam cremes e séruns em embalagens chiques. A cada nova ala, meu entusiasmo diminuía proporcionalmente ao desgaste nos meus pés. RH, Financeiro, Logística... Era um verdadeiro tour pelo inferno corporativo.
Finalmente, depois do que pareceu uma maratona através dos sete círculos burocráticos, chegamos ao setor de Marketing e Branding, o único que realmente me interessava. Soltei um suspiro dramático e encostei no batente da porta como se tivesse acabado de escalar o Everest.
— Ufa! Enfim, chegamos aqui.
Luana, a incansável guia, riu baixinho, ajeitando os óculos de armação fina no nariz. Até que ela era fofa, mas a energia de “fiel escudeira da chefe” não a ajudava muito.
— Foi cansativo, né? Mas a Dona Valéria foi bem clara quando me pediu para passarmos em todas as áreas da empresa.
Tradução: se eu tentasse pular alguma parte do tour, Valéria a fritaria viva.
Dei um sorriso forçado, daquele tipo que a gente dá quando alguém insiste para tirarmos foto depois de um dia inteiro de trabalho.
— Claro! Nada como um passeio corporativo completo pra fortalecer as pernas e testar nossa paciência, né?
Luana soltou um risinho nervoso, como quem não sabia se podia rir ou se deveria me ignorar para manter o emprego. Decidi não forçá-la a escolher. Meu foco agora era outro.
O setor de Marketing e Branding era o mais moderno de todos, com móveis estilosos, iluminação perfeita digna de blogueira e uma equipe que parecia ter saído direto de um editorial de moda. Pessoas corriam de um lado para o outro, grudadas em notebooks, analisando estatísticas e decidindo como vender a ideia de uma pele perfeita para um público obcecado por filtros.
E no meio disso tudo, minha mente ainda estava presa em outra coisa. Ou melhor, em outra pessoa.
Luísa.
A forma como ela me olhou. O silêncio dela. O jeito como Valéria a tratava como um detalhe insignificante. Algo ali tinha me incomodado mais do que eu queria admitir.
Balancei a cabeça, espantando pensamentos que não deveriam estar ali.
— E agora? O que acontece? — perguntei, tentando focar no trabalho e espantar os pensamentos intrusivos.
Luana me olhou com um sorriso tímido.
— Agora vamos conhecer a equipe que vai coordenar sua campanha.
Dentro do espaço, Luana me apresentou Roger, diretor de Marketing. Roger, um homem definitivamente gay e cheio de energia, enlaçou meu braço como se fôssemos amigos de infância e me puxou para perto da equipe, que se reuniu em um semi-círculo com a rapidez de quem teme perder uma fofoca quente.
— Pessoal, lhes apresento, ao vivo e em cores, Bia Albuquerque, a diva influencer que estreará e estrelará nossa campanha! — anunciou, com um entusiasmo digno de um mestre de cerimônias.
Ouvi um "Uhul!" vindo de algum lugar indefinido, seguido por aplausos. Pelo menos não jogaram tomates, então já era um bom começo.
— Agradeço a apresentação e estou ansiosa para começar os trabalhos — disse, mantendo a compostura, apesar de sentir os olhares curiosos avaliando cada centímetro meu.
— Quando Valéria me perguntou se eu tinha nomes, alguma referência para a campanha, na hora lembrei de você e do meu mais que amigo Pietro. Você é a cara da perfeição e é essa imagem que queremos passar. — Roger fez um gesto dramático com as mãos, como se estivesse moldando minha aura com elas.
— Olha esse cabelo cor de mel, esses olhos cor de mel também... Espera, estamos diante de uma verdadeira abelha-rainha! — disse, estalando os dedos, claramente satisfeito com sua própria analogia.
Ri do comentário, mas a ficha caiu rápido: era a "amizade" de Pietro com Roger que me garantiu esse contrato. Não que eu não tivesse talento, claro, mas um empurrãozinho dos contatos certos nunca fez mal a ninguém... certo?
Roger se aproximou um pouco mais, abaixando o tom de voz para um sussurro dramático:
— Sei que foram tempos difíceis. Não deve ter sido fácil lidar com o cancelamento, mas aqui você vai fazer história.
Senti um leve arrepio na nuca. Talvez fosse a maneira como ele disse, como se soubesse exatamente onde meus medos estavam, ou talvez fosse só o ar-condicionado no máximo. De qualquer forma, engoli em seco e mantive o sorriso. Se eu ia fazer história, que fosse do meu jeito.
Apesar da minha reunião inicial lastimável com Valéria, saí da Pelle Serenità com um entusiasmo surpreendente. Roger e a equipe tinham me passado uma visão clara da campanha, e, honestamente, se alguém conseguia me fazer esquecer o climão anterior, era ele. Gravei alguns stories dentro da empresa, fiz uma foto sorridente com a equipe de Marketing e tentei ignorar o peso invisível que Luísa havia deixado sobre meus ombros.
No estacionamento, meus olhos captaram um movimento à frente. Luísa. Ela caminhava com uma precisão quase mecânica, cada passo calculado com a leveza de quem já dominava o próprio ritmo. A prótese tornava seu andar elegante, mas havia um sutil atraso no movimento, um pequeno detalhe que, se eu não estivesse analisando cada centímetro dela, puramente por curiosidade, claro, talvez nem tivesse notado.
Foi aí que fiz o impensável. Chamei por ela.
Ela se virou devagar, como se já estivesse esperando o ataque. Estávamos praticamente sozinhas no estacionamento, e a forma como me olhou deixou bem claro que a alegria não era o sentimento que definia aquele reencontro.
— Luísa, quero me desculpar por hoje. Se eu soubesse que…
— Não quero suas desculpas. — Ela cortou minha frase sem hesitar. — Quando minha mãe anunciou que você seria a garota-propaganda da nova campanha, me posicionei contra. Argumentei, mostrei seu envolvimento com políticos corruptos, sua vasta vida amorosa, de balada em balada… mas não foi o suficiente.
O veneno na voz dela era tão refinado que quase a admirei. Quase.
— E como você mesma percebeu — continuou, com um sorriso irônico —, Valéria adora me contrariar e me deixar para baixo. Já estou acostumada. Agora, peço distância. Não quero minha imagem vinculada a alguém como você.
Ela nem precisou enfatizar o “alguém como você” para deixar claro o quanto desprezava minha existência. Minhas mãos se moveram no ar, num gesto nervoso, como se pudessem rearranjar a conversa para um rumo menos catastrófico.
— Aquilo em Vinterville foi uma confusão, e eu me expliquei inúmeras vezes em lives…
— Não quero saber. — Luísa me interrompeu novamente, seu olhar frio o suficiente para congelar o inferno. — Não sou uma das adolescentes lesadas nem um dos adultos solitários que te acompanham.
Ela disse isso e, sem cerimônia, virou as costas, encerrando a interação. Fiquei ali, piscando algumas vezes, me perguntando se aquilo tinha realmente acontecido. Entrei no carro, liguei o motor e dirigi para casa, consolando-me com um pensamento: pelo menos eu não teria que trabalhar diretamente com a mãe e com a filha.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
MalluBlues Em: 03/11/2025 Autora da história
Oiiiii! Sim, Luísa não se dobrará fácil, mas. Mas é como aquela música da Maria Gadu: Entre o bem e o mal a linha é tênue, meu bem. Entre o amor e o ódio a linha é tênue também....