RISCOS por lorenamezza
CAPÍTULO 16 O PASSADO BATE À PORTA
Pela manhã, Cameron já de pé telefona para casa, para saber se tudo está bem, e para seu alívio a mãe tinha passado bem a noite.
- Bom dia Bela adormecida! Tenho de passar em casa e pegar uma roupa, não posso chegar com a mesma no escritório.
- Só mais 5 minutos! - ela finge reclamar colocando o travesseiro no rosto.
- Não dá! Sabe como é o trânsito.
- Vem cá! - a puxou, fazendo-a cair sobre si. - Bom dia morena linda. Que horas são?
- 6:30.
- Morena! Tudo bem. Apesar de que você está com a chefe, então pode chegar mais tarde.
- Am.. Não quero usufruir desse privilégio. Obrigada. - sorriu envergonhada e Carrie sorriu de volta entendendo o que ela queria dizer.
- Ok! Você venceu.
Quase que em sincronia, tomaram banho juntas, se arrumaram, entre beijos e brincadeiras. Parecia que elas se encaixavam, tudo estava leve. Tomaram café rapidamente e saíram.
- Cameron precisamos conversar.
- O que? Já vai terminar comigo e aquela história de que queria tudo comigo? - brincou, provocando risos na parceira.
- Vamos ser tudo. Só que o escritório está sob muita pressão com esses trabalhos. Queria que isso ficasse entre nós, até terminá-los. Ainda tem o fato da Susan estar afim de você. Quero evitar estresse.
- Isso quer dizer que ficaremos na surdina por mais ou menos 1 ano. Parece que voltei à infância. - sua feição não era de chateação, mas de alguém que não sabia o que esperar.
- Vamos poder sair, fazer nossas coisas, mas não em público. Além de que a imprensa vai cair matando. É uma situação complicada.
- Tudo bem. Agora que nos encontramos, não quero te perder e também não quero ser taxada de aproveitadora. Por conta da sua posição.
- Assim como eu fui taxada, quando casei com aquele traste.
- Não quis dizer isso. Por favor. - Cameron segurou sua mão.
- Eu sei! Só estou repetindo o que eles falaram. Viu como é complicado.
- Vamos fazer do nosso jeito. Vai dar certo. Agora pisa um pouquinho que parece uma velha dirigindo.
Entre risos e piadas, elas pegaram seu caminho. Ao chegar em casa, foi direto para o quarto, sua mãe e Liz ainda dormiam. Carrie conversava com a enfermeira, que por sua vez disse que apesar de dona Glória ter passado bem, seu estado necessitava de cuidados.
- Ela esconde a dor que sente. Conversei com ela, seu caso é grave. Infelizmente não tem mesmo o que fazer. A medicação não fará mais efeito. Sinto muito. É uma questão de tempo.
- Não posso mesmo ajudar?
- Infelizmente não Carrie. Olhei os exames, o atraso no tratamento impossibilitou isso.
- Quanto tempo acha que ela tem?
- Não sei dizer ao certo, mas com certeza menos de 1 ano. Sinto muito.
Carrie a agradeceu antes da mesma sair pela porta. Encostou no batente da porta vendo a amada, abraçada à mãe a enchendo de beijo.
- Bom dia Carrie. Pela carinha de vocês, vejo que deu tudo certo essa noite.
- Mãe! - recriminou rindo a filha.
- Não quero cortar o barato de vocês, mas temos de ir Cameron.
- Está bom. Vou só trocar de roupa.
Por sorte o trânsito estava bom, conseguiram chegar a tempo.
- Tudo bem se quiser me deixar na Central Station. É perto, posso ir andando.
- Imagina. Posso inventar qualquer desculpa.
- Não. Não pode. São dois quarteirões, não tem problema.
- Cameron! Me sinto mal assim.
- Você acha que somos as únicas no mundo a ter de esconder relações? Conheço muita gente que tem de se esconder. Infelizmente a sociedade não está preparada para os homossexuais. -Cameron falou de coração. Entendia bem como a sociedade tratava os iguais à ela. Apenas deu um beijo no rosto e desceu.
Carrie conhecia as agruras de ser filha de uma celebridade, mas escondeu todas as relações homoafetivas que teve, mas com Cameron, ela sabia que seria diferente, ela queria algo de verdade.
Subiu pelo elevador parecendo uma criança, dançando e se imaginando em uma vida real com a pessoa que gostava. Cameron era a humildade e pureza que a vida maltratou, que desde cedo teve de lutar para conseguir sobreviver. Ela pensava em quando poderiam sair do armário e viver seu amor.
- Bom dia Susan! Chegou cedo! - falou sorridente ao avistar a mesma debruçada sobre os projetos.
- Seu ex marido ligou e disse que quer falar com você.
- Logo cedo e você já me dá más notícias
Toda felicidade sumiu de seu rosto, foi para sua sala resolver logo os b.os. Nem viu Cameron chegar e ser assediada por Susan.
- ‘Liam! O que quer logo cedo?. - falou sem vontade, mas demonstrando preocupação.
- Carrie, meu amor! Você acha que esqueci que ficou com todos meus contratos quando nos separamos?
- Olha você ia acabar com tudo! Já não te paguei o suficiente?? - ela vociferava.
- Você quem vai dizer. Quero o negócio com os Russos, mas eles preferem você. Então, sim quero mais dinheiro pelo meu silêncio.
- Você quer mais dinheiro???
- Depende de você! Você é que tem medo de ser descoberta, eu só me aproveito da situação. - riu bem debochado.
- Já não basta tudo que me fez passar? Vou pensar no seu caso, respondo a noite.
- Vê se não demora na resposta, ando sem paciência esses dias, sabe. Carrie. Não estou brincando você tem até a noite para me dar o dinheiro.
- Desgraçado.’
Desligou e ficou bufando com raiva, mas não era com ele, era dela mesma. De ser tão covarde e deixar que fizessem isso com ela.
Na outra sala, Cameron fugia das investidas de Susan.
- Melhor não. Tenho de voltar cedo para casa.
- É um convite de colegas de trabalho. Podemos até levar Jennifer e o marido se você quiser. Já entendi que não quer nada comigo.
- Obrigada, mas hoje não dá mesmo. - respondeu sem graça, tentando ser educada.
-Tudo bem. Hoje aceito sua recusa. Pensa direitinho. Quero ser sua amiga.
- Tá bom, vou pensar- sorriu e voltou a seus afazeres.
Durante o almoço, Carrie e Cameron permaneceram distantes, trocaram algumas mensagens sobre a volta para casa. Carrie evitou falar sobre o ocorrido e preferiu comer em sua sala.
No fim da tarde, como combinado, ficaram de se encontrar na Central Station.
- Está tudo bem? - Cameron fala ao notar a feição da parceira.
- Mais ou menos. Quero te contar algo que aconteceu hoje.
- É sobre sua mãe? E o filme?
- Minha mãe? Que filme?
- Que ela está cotada para fazer o novo filme do Scorsese. Vi o povo comentando hoje lá no escritório. Mas se não é isso, o que é?
- Que saco! Toda vez que ela estrela um filme, meu suplício começa. Acho que joguei pedra na cruz! - suspirou em desânimo. - Olha. Liam me procurou hoje, me pedindo dinheiro. Vai ver que ele jpa sabe dessa notícia, por isso me procurou hoje.
- Mas a família dele é rica. Porque está te pedindo dinheiro?
- Ele tem fotos comprometedoras minhas, e ameaça jogar na imprensa para que eu lhe dê dinheiro. Na verdade, ele só quer me azucrinar.
- Que tipo de fotos?
- Do tipo, eu com uma mulher. Já estávamos separados, mas ele não me deixava em paz e um dia me seguiu até em casa e bateu algumas fotos. - silêncio ensurdecedor no carro. - Diz alguma coisa Cameron
- Estou pensando. Neste momento não sei o que dizer. - Carrie segurou a mão de Cameron e o silêncio persistiu até chegarem em Nova Jersey.
Entraram e Cameron como sempre, foi direto dar um beijo e abraço em sua mãe.
- Oi Liz! - abraçou também a amiga. - Essa é .. - apontou para Carrie.
- Carrie! Prazer. - soou educada
- Olha! Até que enfim conheci sua namorada. - brincou, sendo observada pela amiga que arregalou os olhos e negando com a cabeça.
- Tudo bem. - sorriu Carrie. - Somos sim. Se ela quiser, claro!
- Não acredito que estou presenciando esse pedido! Você vai aceitar né Camy.
- Isso não é justo! - entrelaçou os braços no pescoço da amada. - Mas eu aceito. - deu um beijo rápido na nova namorada.
Foram as três para a cozinha, ficando Glória no sofá da sala.
- Como ela passou o dia? - Cameron preparava um lanche para sua mãe.
- Ah amiga. Ainda está tomando a última cartela de remédio, então não tem reclamado. Não passou mal, comeu bem. Achei até estranho.
- Que bom! Mas… - suspirou.
- Ela te elogia o tempo todo. Sabe que você tem feito tudo. Desculpe amiga. - Carrie segurou a mão de sua namorada, vendo que a mesma deixava uma lágrima cair.
- Liz. Pode ficar mais um pouquinho. - fez sinal com a cabeça, dando a entender que precisava conversar com Carrie.
- Claro! Vou deixar vocês a sós.
O casal se encaminhou para a praia.
- Não precisa conversar hoje, você está lidando com suas coisas, não quero que se preocupe com as minhas.
Sentaram-se à beira d'água, lado a lado, encostadas uma na outra. Carrie se sentiu à vontade para deitar no colo da outra.
- Porque você paga ele? Quero dizer, não é pelas fotos. Porque? - ela deslizava a mão pelos cabelos da namorada.
- Porque quando você é perseguido pela mídia até na faculdade, você entende que sua vida não será mais sua. Eu pago porque não consigo lidar, porque sou fraca, medrosa e apesar de ter meu próprio negócio, ainda tenho medo do que pensem de mim. - sua voz ficou embargada. - E toda vez que minha mãe vai rodar um filme, minha vida também vira do avesso. A mídia é implacável.
- Como isso nos afetará?
- No dia a dia, em nada. Como fazia antes, precisamos de um outro lugar para nos encontrarmos. A casa da mamãe, não vai mais rolar. Não poderei te levar a lugares, caronas. Mas posso vir aqui e você ir ao meu apartamento.
- Se sua mãe não estivesse no filme seria diferente?
- Não muito.
- Olha Carrie, não entendo uma mulher como você: bem sucedida, estudada, se deixar ser chantageada assim. Não te acho fraca, mas boba por perder momentos que podem ser únicos, por causa de pessoas que não fazem diferença em sua vida. Mas entendo que passou por muita coisa por conta da fama de outra pessoa. Como minha mãe sempre diz: prioridades.
- Você é minha prioridade! Acredite que quero mesmo ficar com você.
- Eu acredito! Não estou falando por mim. Tudo bem a gente se esconder por um tempo. Mas ser chantageada por isso, não entendo. Veja o que é prioridade para você. Se coloque em primeiro lugar. Não vou e nem devo dizer o que fazer, o que decidir, decida por você, não deixe as outras pessoas fazerem isso.
Apesar de dura, o tom da conversa se manteve leve. Não era briga, era uma conversa de acerto.
- Como pode? Tem mesmo 22 anos?
- Carrie! Olha onde moro! Sempre tivemos que lutar para nos manter. Sabe como tratam os latinos nesse país? Batalhamos muito para sobreviver. Crescemos e aprendemos cedo a lidar com a vida. Quando minha mãe descobriu a doença.- fez uma pausa, tentando prender o choro. - Fez questão de me ensinar tudo, contar o que passou na fronteira, o trabalho. Me ensinou que a vida vai continuar mesmo ela não estando mais aqui. Que nós latinos, não temos tempo de sofrer, precisamos nos virar. E que preciso estar preparada. Todos tem problemas, mas que cada um olha para ele de forma diferente.
Sem resisitir, Carrie deu-lhe um grande e apaixonado beijo.
- Você é tudo que eu esperei. Obrigada por me deixar fazer parte da sua vida.
- Esperei tanto por você Carrie! - elas se acariciavam com delicadeza.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 09/09/2025
Ela estão fofas juntas e sendo sinceras uma com outra ...mas sinto que vem bombas estão bem proximas
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lorenamezza Em: 14/09/2025 Autora da história
Por isso se chama riscos rs.