Capitulo 58
Luísa conduziu Marcela até a sala, mantendo a distância certa entre elas, como quem traça limites invisíveis. Sentou-se no sofá e indicou a outra cadeira com um gesto frio, mas educado.
— Então… por onde você quer começar esses assuntos pendentes? — perguntou Luísa, a voz firme, controlada, quase mecânica.
Marcela sorriu, encostando as mãos no colo, serena como se não houvesse nenhum passado pesado entre elas.
— Por onde sempre começamos — disse ela, com uma calma quase cortante. — Pelo que ficou pendente. Eu sei que você sofreu… e eu também. Perdemos algo que nunca mais teremos. Mas eu queria que a gente conversasse, sem acusações, só para fechar as coisas de algum jeito, de um jeito bom.
Luísa respirou fundo, sentindo a memória do filho perdido, do divórcio, tudo que tinha marcado sua vida. A raiva, a dor, a culpa — tudo vinha à tona só de ouvir a voz dela.
— Conversar é diferente de reabrir feridas, Marcela. — Afirmou Luísa, mantendo os olhos fixos nela. — Eu não quero voltar ao que éramos. Temos histórias, sim, mas isso acabou. É claro que faz parte de nós, sempre fará, mas seguimos em frente.
Marcela inclinou-se ligeiramente, os olhos brilhando com uma mistura de sinceridade e ardilidade.
— Eu sei disso… mas o que eu quero é encarar o que ficou mal resolvido. Eu não quero que você me odeie, Luísa. Eu não quero que o passado nos assombre. Só… eu não sei, quero poder dormir em paz.
Luísa respirou devagar, tentando separar a vontade de abrir a porta para tudo de novo da certeza de que não poderia se permitir ser arrastada.
— Se é isso que te impede, pode voltar às suas longas noites de sono. — Repetiu, firme. — Foi uma fatalidade. Lamento muito por tudo que aconteceu, mas ninguém teve culpa. Quero que você seja feliz, porque eu estou.
Marcela assentiu, um pouco incomodada, como se seu objetivo não tivesse sido alcançado. Sorriu lentamente, mas de forma que agora parecia excessiva para Luísa — muito branca, muito vermelha, muito… forte, e não de um jeito bom. Não como Bianca.
— Bem… fico contente que estejamos na mesma página sobre isso. Ver você bem me deixa feliz, e ver as coisas resolvidas me dá paz e me acalma. — Murmurou, um sorriso calculado, brincando com a tensão no ar.
Luísa manteve a postura. Mas no fundo, sabia que não seria simples. Aquela tarde, que deveria ser tranquila, acabara de se tornar uma batalha silenciosa entre o passado e o presente — e Bianca, mesmo que ausente, estava em cada pensamento seu.
— Você me disse que tinha alguém. Espero que essa pessoa seja sensacional. Você merece o melhor, Luísa. — disse Marcela suavemente. — Eu adoraria conhecê-la. Tenho certeza de que temos várias coisas em comum.
Pela primeira vez desde que aquela conversa começou, Luísa deu um sorriso sincero.
— Ela é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. E a pessoa mais incrível que já conheci. Ela é perfeita.
Marcela sorriu, se despediu e foi embora, deixando Luísa com o silêncio reconfortante do apartamento… e a certeza de que, por mais que o passado tentasse bater à porta, o presente tinha sua própria força.
Marcela respirou fundo, como se quisesse apagar aquele momento na memória, e finalmente disse: — Bem, então… até mais, Luísa. Cuide-se.
— Você também. — Luísa respondeu, observando enquanto ela saía, o sorriso ainda presente, mas contido.
Quando a porta se fechou, Luísa soltou o ar que segurava desde a chegada da ex. Um suspiro longo, pesado, mas aliviado.
Ela se virou, caminhou até o sofá e, sem pensar muito, se jogou de costas, espalhando-se entre as almofadas. Sentiu o corpo relaxar finalmente. O apartamento estava silencioso novamente, e com isso veio a certeza de que, por enquanto, ela podia respirar.
O passado tinha batido à porta… mas por agora, pelo menos, tinha ido embora
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]