Capitulo 57
Luísa estava no sofá, pés apoiados na mesinha de centro, bebendo água e curtindo o silêncio do apartamento. O som da cidade lá fora era distante, quase agradável. Ia aproveitar aquele fim de tarde tranquilo, quando ouviu a campainha tocar.
“Deve ser a Bianca… de novo sem interfonar”, murmurou, quase sorrindo.
Levantou-se devagar, ajeitando o cabelo, imaginando a loirinha entrando com aquele ar de “surpresa fofa”. Abriu a porta, mas não era Bianca.
Era Marcela.
— Oi, Luísa — disse ela, com aquele sorriso calculadamente doce, que mais parecia faca enfiada em algodão. — Não vai me convidar pra entrar?
Luísa franziu a testa, cruzando os braços.
— Marcela? Que surpresa… Não me lembro de termos marcado algo.
— Ah, relaxa — respondeu Marcela, avançando um passo, sem esperar permissão. — Só queria conversar com você. Deixar tudo no seu devido lugar agora que estou aqui.
— Conversar, certo — Luísa murmurou, mantendo a voz firme, tentando não deixar transparecer o turbilhão de lembranças que aquela presença despertava. — Bem como eu disse, não te esperava, então você vai ter que me perdoar, mas eu tenho um compromisso mais tarde e não tenho muito tempo.
Marcela entrou, sorrindo de forma ardilosa, olhando ao redor do apartamento como quem inspeciona território alheio.
— Uau… você realmente conseguiu deixar isso com a sua cara. Organizado, cheiroso… — Ela parou, encarando Luísa. — Sempre gostei da forma como você mantém as coisas sob controle.
— Eu gosto de manter as coisas em seus lugares. Agora, se você puder ser rápida…
Marcela deu um sorriso que não chegava aos olhos.
— Eu sei que você guarda coisas suas comigo. Coisas não resolvidas. Mas… pensei que talvez pudéssemos conversar. Sem drama. Só… eu e você.
Luísa respirou fundo, lembrando do passado que doía mais do que qualquer conversa civilizada.
— Eu realmente não sei mais sobre o que há pra conversar, de novo. Acabou, Marcela. Seguimos em frente, está no passado. Você se casou, eu tenho outra pessoa agora. É claro que devemos manter as coisas cordiais, somos adultas, mas… sinceramente, eu não entendo o que você quer.
— Eu sei — respondeu Marcela, aproximando-se só um pouco mais, com aquela calma perigosa. — Mas às vezes, é preciso encarar o que ficou pendente. E eu… quero encarar.
Luísa estudou o rosto dela. Não havia ódio ali, mas havia intenção. Intenção de mexer com tudo de novo. E, por mais que tentasse, Luísa sentiu aquele frio na barriga que sempre surgia quando Marcela aparecia.
— Tá — disse, finalmente. — Cinco minutos. Conversa rápida. E depois… eu realmente tenho algo . Entendeu?
Marcela assentiu, com um sorriso que parecia ter vencido algo invisível.
— Perfeito. Só uma conversa, Luísa. Pelos velhos tempos.
Luísa fechou a porta atrás dela, sentindo o peso do passado e a certeza de que aquela tarde tranquila tinha acabado antes mesmo de começar.
Fim do capítulo
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