capitulo vinte e tres: recomeçar
CAPÍTULO 23: RECOMEÇAR
Não eram nem 7h da manhã quando estacionei o carro em frente à escola de Cecília. O sol já queria dar sinais de sair e minha filha não parava de tagarelar o quanto ela não estava disposta a encarar a professora de matemática hoje. É bem minha filha mesmo.
— Mamãe, hoje você me busca? — me perguntou com aqueles olhinhos azuis carentes que me lembravam Fê quando queria alguma coisa ou simplesmente queria carinho.
Dou um sorriso antes de destravar o cinto do assento de elevação infantil.
— Não, princesa. A babá vai te buscar e vai te levar para a casa dos seus avós, lembra?
Ela franziu a testa, olhou para baixo e os olhinhos se encheram d’água.
— Eu achei que eu ia ficar a semana toda com você, mamãe. Hoje ainda é quinta, não é justo!
— Calma, calma, agente Cecília! — interrompi, baixinho, olhei para os lados, como se fosse um segredo de Estado o que eu estava prestes a contar — Eu tenho uma missão secreta pra você. Tô preparando uma surpresa pra mamãe Fê. Você é minha agente infiltrada e vai me ajudar nessa missão, não pode contar pra ninguém, entendeu?
Os olhos dela brilharam. Mudaram de expressão no mesmo segundo.
— Como vou ajudar, mamãe?
— Quando você chegar na casa dos seus avós, vai fazer o desenho mais bonito de todos! Vai desenhar nós três. Juntas. Pra sempre. Eu quero um desenho bem bonito e bem grande. Quero um desenho bem bonito para quando a gente chegar, pendurar na parede da nossa casa. Posso te contar um segredo?
Ela assente, empolgada.
— A mamãe vai voltar pra casa hoje! — digo, com entusiasmo — E pra isso eu preciso fazer uma surpresa pra mainha antes, ok? Por isso que você vai pra casa dos seus avós. Preciso conversar com ela antes.
Ela abriu um sorrisão que quase me fez chorar ali mesmo.
— Eu não acredito, mamãe!
Ela automaticamente pula em cima de mim para me abraçar. O sorriso de felicidade e os olhinhos fechando enquanto sorri. Ela era tão Fernanda nas expressões...
— Vai ser o desenho mais lindo do mundo!
— Eu sei que vai. Te amo, meu amor.
— Também te amo, mamãe. Agora posso ir contar pro meu amigo?
— Pode, vai lá.
Nos despedimos com um soquinho nas mãos e mais um abraço.
Fiquei mais alguns minutos ali, refletindo brevemente sobre a nossa vida nos últimos três meses.
Faziam três meses que eu havia decidido me entregar pra Fê e viver nosso amor novamente, três meses desde que segurei na mão dela novamente pra não soltar mais, mas preferi fazer isso de forma racional, não me jogando de cabeça.
Eu não voltei pra casa.
Continuei no meu flat, pedi um tempo a ela. Pedi espaço. Pedi pra gente se redescobrir, se reconectar uma com a outra, aprendermos a confiar, dar tempo de sentir saudade.
A casa que era nossa continuou sendo dela. E, nos fins de semana intercalados, de Cecília. Uma semana com a mãe Anna. Outra com a mãe Fê. O resto dos dias... éramos duas mulheres tentando reaprender a namorar. Fernanda respeitou meu tempo, estávamos respeitando os três dias na semana que tirávamos para namorar e os domingos, como sempre, eram de Cecília. Fazíamos programas juntas todo domingo.
Hoje... hoje eu voltaria. Voltaria de vez para os braços da mulher que eu amo, pra dizer que sim, ainda havia um nós. E porque, francamente... eu estava com saudade de ser chamada de "minha mulher", "minha esposa" por ela.
Quando cheguei à empresa, minha mesa estava o puro suco do caos. Anthony e Cibelle focados trabalhando como nunca. Era metade da manhã e Anthony já estava na terceira xícara de café. Ele estava me surpreendendo muito como meu estagiário pessoal e Cibelle também o ajudava bastante, ela era bem desenrolada e apesar de não ter feito faculdade de direito, estava procurando entender cada vez mais sobre a área.
E adivinha só, estávamos lotados de trabalho, tinha duas reuniões pela frente e tinha que sair antes das 16h da tarde. Céus, hoje seria uma prova de fogo. Mas eu estava decidida — ia dar conta de tudo pra voltar para os braços da minha ruiva no momento certo.
O telefone toca e Cibelle avisa que é Roberta me chamando para mais uma reunião que poderia ter sido um e-mail, mas como meu nome estava na porta, tinha que participar de todas obrigatoriamente.
Quando cheguei lá, ela estava sentada com cara de tédio já há algum tempo e assim que entro, já entrego um copo de capuccino pra ela. Ela suspira e me lança um olhar de agradecimento. Me sento ao seu lado, à sua direita, enquanto Ricardo puxa a cadeira próxima a nós para se sentar junto ao Conselho. Evito revirar os olhos, encaro os papéis da pauta da reunião que Roberta estende à minha frente.
— Oi, Anna — ele sorriu como quem ensaia deboche, puxando a cadeira. — Parece que o escritório da sua esposa resolveu brincar de estraçalhar a Florence-Baldez.
— Bom dia, Ricardo — disse, sem levantar os olhos dos papéis. — E não é brincadeira. Eles estão fazendo um trabalho impecável. O foco aqui é reagir. Por falar em reagir, como estamos?
— Sabe que muita gente aqui dentro achou que você deixaria esse caso pra lá… conflito de interesses, sabe?
Levantei os olhos, por fim. Direta. Corte rápido Tramontina.
— E muita gente aqui dentro deveria se preocupar menos com fofocas e mais em como fazer o seu trabalho bem feito. O que eu penso ou deixo de sentir fora daqui não interfere nas minhas decisões como gestora. E neste momento, Ricardo, você é o responsável pelo caso. Está o conduzindo mal, pelo visto, já que estamos perdendo.
Ele se calou, mas o sorriso de canto de boca ainda estava lá. Maldito.
Roberta desatou a falar sobre o caso, comendo literalmente o cu dele, exigindo comprometimento e o máximo da equipe, coisa que não tem visto. O escritório da Fê estava acabando com o nosso, ela havia contratado uma equipe maior, estava usando os honorários do caso para investir no escritório dela. Eu estava mega orgulhosa da minha ruiva e, apesar de manter distância dessa questão de falar de trabalho no nosso relacionamento desde que o ocorrido que nos separou aconteceu, eu observava de longe e sentia orgulho das conquistas dela. Ela ia ganhar, mas eu estava pouco me importando. Porque perder pra Fernanda Alencar nunca foi humilhação. Era honra. Ela era brilhante. Ela era minha.
E hoje... hoje eu voltava pra ela.
Depois da reunião, decidi andar pelos corredores plena de volta para a minha sala como se não tivesse enfrentado uma sala cheia de dinossauros engravatados com suas ideias pré-históricas. Armada com a minha garrafinha de água de adesivos tortos, cheguei à minha sala e encontrei Anthony e Cibelle ainda trabalhando.
— Recebi isso aqui do setor financeiro... Estão cortando o curso que você dava. Dizem que não é mais prioridade da firma.
Reviro os olhos e jogo o corpo na cadeira.
— Eu já esperava, até que demorou.
Anthony cruza os braços, pensativo.
— Você já pensou em ter seu próprio curso? Tipo... fora da Florence-Baldez?
Levanto a sobrancelha.
— Em que momento da minha vida você me viu com tempo pra isso?
Cibelle sorri e joga um papel nele.
— Mas você tem nome no mercado, Anna. Podia fazer parceria com alguma plataforma, vender curso digital, sei lá. Tem um monte dessas aí. E, convenhamos... você tem audiência.
— Sim, mas eu não sou como um monte dessas aí. — pisco — Aqui eu fazia pela empresa, os ensinamentos ficavam por aqui mesmo... e eu tenho um contrato de exclusividade.
— Bom, seria legal você fazer com outros advogados o que você já faz comigo. Sou mero estagiário ainda, mas venho aprendendo muito com você.
Assinto positivamente, colocando a caneta na boca e pensando sobre o assunto. Então Anthony completa:
— E se quiser alguém pra te ajudar a montar, a Prof Fernanda pode ser ótima. Ela tem didática, sabe dar aula e o jeito que ela explica é envolvente.
Ah, pronto. Bastou o nome.
Meu coração já errando as batidas só por imaginar a surpresa que eu ia fazer pra ela hoje.
— Por falar em Fernanda... você sabe que horas ela entra na sala hoje?
Ele me olha meio surpreso, mas responde mesmo assim:
— Às 19h. Hoje tem uma aula puxada, é revisão antes das provas.
Balanço a cabeça. Penso. A ideia surge, olho diabolicamente pra ele.
— Você vai me ajudar.
— E-eu? — diz, confuso
— Sim, você.
A ideia veio como uma avalanche, eu nunca havia dado flores pra Fernanda. Acho que porque odeio flores. Gesto clichê, cheiro forte, morrem rápido. Lembro que uma vez brigamos porque Beatriz me deu flores e depois disso passei a odiá-las ainda mais. Entretanto, nunca passou pela minha cabeça se ela gostava de flores ou não.
Uma vez... só uma vez eu dei uma flor para ela. Era uma rosa única. Foi no dia em que nos beijamos a primeira vez. Ela ficou boba com o gesto e eu, idiota que sou, nunca fiz de novo.
Levanto rapidamente.
— Cibelle, me faz um favor. Liga pra alguma floricultura, quero uma entrega especial.
Cibelle me olha curiosa.
— Que tipo de entrega especial, chefe?
Sento na beirada da mesa e abro o celular numa pesquisa rápida: “flores que significam recomeço”
— Quero uma entrega de meia em meia hora a partir das 19h. Durante o horário da aula dela. Quero quatro buquês, três para entregar lá a partir desse horário e outro que eu vou levar para entregar pessoalmente. Vê uma floricultura perto daqui, vou escrever os cartões e você leva lá para eles serem entregues no horário.
Anthony arregala os olhos, mas não diz nada.
Cibelle sorri, já digitando no tablet.
— Quer colocar seu nome?
Me levanto, arrumando o colete.
— Não. Deixa no mistério. Ela vai reconhecer a caligrafia.
E saio da sala como entrei: decidia, mas meu coração estava há milhão.
Sou ótima com estratégia. Com prazo, com petição, com gestão. Mas em dar segundas chances, eu era péssima... mas eu juro que estava me esforçando.
O resto do dia foi corrido, escrevi os cartões, entreguei à Cibelle, combinei tudo com Anthony e agora eu iria correr pra fazer a mudança e ajeitar a minha vida.
💐❤
Me escondi na última fileira, na última carteira. Capuz na cabeça, óculos de grau que roubei de Roberta e cabelos soltos para dentro do casaco. Eu parecia uma dessas alunas que só estão ali pela presença. Entrei na sala cedo, então haviam poucas pessoas ali. Anthony me encarou do lado de fora antes de entrar na sala, ao passar pela porta, colocou a mão na boca como se não acreditasse que eu realmente ia fazer aquilo e disse:
— Esse seu lado louco apaixonado eu não conhecia.
Respondi só com um sorriso.
As pessoas foram entrando, a sala ficando cheia, alunos conversando, até que... ela chegou. Calça social, saltos baixos, camisa gola alta da cor vinho. Os cabelos ruivos presos em um coque desalinhado, uma caneta o prendia. Era tão ela... A pasta preta no braço, o marcador e o apagador na mão e um olhar atento.
— Boa noite, pessoal! Desculpem o pequeno atraso, vamos iniciar hoje com União Estável e suas diferenças frente ao Casamento Civil. Matéria de prova, não vai cair, vai despencar! Então, let’s go!
Ela começou a aula. Didática, divertida, clara. Os alunos amavam ela. Riam, anotavam, interrompiam com dúvidas genuínas. O jeito que ela explicava partilha de bens era diferente. Que mulher inteligente. Ela fazia analogias com a própria vida, me usou como exemplo, me chamou de Tchuthuca novamente para os alunos, acabando com a minha reputação e Anthony olhava para trás para rir da minha cara. Lembrem-me de demiti-lo.
Brincadeira.
E aí... a primeira batida.
— Professora Fernanda Alencar, é você? — perguntou o entregador, entrando com um buquê enorme de violetas roxas.
Ela ficou ruborizada.
A sala explodiu. Os alunos começaram a encarná-la.
— Eitaaaaaaa!
— Prof tá apaixonada! Que isso!
— Gente, é da Tchutchuca?
Eu aperto os lábios contendo meu riso. Pareciam alunos da quinta série quando a professora falava “p*nis”.
Fernanda ria, visivelmente sem saber onde enfiar a cara.
— Gente, por favor! Vamos manter o foco… — ela disse, rindo nervosa, abrindo o envelope. — Ai, meu Deus...
— Lê em voz alta, professora! — um aluno gritou
— LÊ, LÊ, LÊ! — o coro de alunos começou a gritar
Ela suspirou, cedeu.
— “Violetas são conhecidas por sua resistência e capacidade de adaptação. Simbolizam o recomeço e a superação.” Como nós: que não quebramos, que resistimos. Que ainda somos amor, apesar de tudo.
Ela travou. Os olhos dela marejaram. Eu senti. Eu vi daqui.
Ela tentou retomar a aula, mas trinta minutos depois, a segunda entrega chegou.
O segundo buquê, lírios vermelhos. Ela começa a ler
— "Geralmente está associado ao amor, paixão e desejo. O lírio vermelho, por sua cor intensa, é um símbolo poderoso dessas emoções."
Ela lê rapidamente o que eu escrevi abaixo do significado e a cara dela fica vermelha igual a um pimentão e ela ri.
— Gente, eu não sei se a leitura é apropriada para esse ambiente...
Bastou isso.
Essas palavras.
Para a sala virar uma quinta série de novo.
Ela revira os olhos e mesmo com vontade de me matar — porque eu sei que ela está — ela lê:
— O lírio é vermelho, mas não mais do que a minha boca depois de te beijar sem freios. Eu te amo com todo meu corpo, mas é a sua alma que me deixa em combustão. Que nunca nos falte cama, coragem e esse fogo que só você sabe reacender em mim.
A turma começou a rir e a colocar fogo no parquinho, ela estava totalmente sem graça e vermelha. Eu nem pensei nisso, mas naquele momento eu estava me vingando por ela ter entrado no meu computador sem permissão.
Ela começa a rir de nervoso, começa a tossir e tenta beber água e acalmar a turma ao mesmo tempo.
— Gente, vamos voltar pro artigo 1.583 do Código Civil... — tentou, a voz falhando no meio da frase.
A garganta dela parecia que estava seca, pois ela não parava de beber água. Até que Anthony resolveu implicar com ela:
— Bebe, professora! Bebe bastante, porque a tchutchuca pelo visto tá te secando!
Ela quase engasgou e a turma riu com a falta de jeito dela. Ela voltou a tentar dar aula mais uma vez. Pegou a caneta e começou a sublinhar qualquer coisa no Código. Nem olhava mais pra turma.
Ela ia lembrar disso pelo resto da vida.
Dou um sorriso.
— Alguém quer fazer a leitura do parágrafo único ou vou ter que jogar essa garrafa em alguém?
— Olha a lesão corporal, hein! — disse Anthony
— Anthony, você está com muita opinião hoje — ela diz, fingindo parecer brava
— Não sou eu, professora... é a intensidade do amor alheio. Aqui ó — ele apontou teatralmente pro buquê de lírios vermelhos em cima da mesa.
Ela revira os olhos. Eles se acalmam. Ela volta a dar aula.
Mais uma vez o entregador atrapalha e, para o alívio dela, anuncia que é a última.
— “As calatheas simbolizam o princípio, o recomeço e a compreensão em relacionamentos.” Amor, a gente não voltou para o ponto de partida, voltamos do ponto que entendemos que o amor não se salva sozinho — precisamos de coragem, escolha e perdão. Que essas folhas te lembrem: eu tô aqui, com tudo que fomos, com tudo que ainda podemos ser e dessa vez, de mãos dadas com a verdade.
Fernanda, ainda com a calathea nas mãos, ri com os olhos marejados, encostando na parede como se o coração tivesse derretendo e diz com um sorriso para a turma:
— Essa mulher vai me matar do coração... e depois me enterrar num vaso de planta.
A turma ri e Fernanda balança a cabeça negativamente. Ela tenta acalmar a turma mais uma vez, dizendo que foi o último buquê. Anthony se vira para trás, olhando para mim e eu assinto.
— Vocês pensaram que eu não ia entregar o último bilhetinho hoje, né? — diz, de forma afetada e entrega o último bilhete pra ela — não me mata, vai... isso foi uma ordem direta, Deus me livre aquela mulher irada! — ergueu as mãos em rendição e fez Fernanda rir.
Fernanda franziu o cenho, olhando para o bilhete aparentemente sem buquê.
Ela pegou o cartão. Leu a primeira linha. E congelou.
Os olhos marejados se encheram de vez. Ela mordeu o lábio inferior e... chorou.
A turma se agitou:
— Lê pra gente, professora!
— Ah, não! A gente tá aqui shippando esse relacionamento e vivendo mais que vocês!
— Vai, prof! Tá todo mundo emocionado aqui!
Mas Fernanda só balançava a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra. Segurava o cartão como se ele algo precioso. E só chorava.
Nele, estava escrito:
“Buquê de Flores de Narciso — Tem significado de renovação e recomeço, carrega a força de se reinventar diante das adversidades. Assim como a primavera, o narciso flor também é conhecido por representar renovação e renascimento, o que o torna perfeito para a temporada primaveril, marcada pelo retorno da vida à natureza após os meses frios e escuros do inverno."
OBS: essa flor é pra marcar o retorno à nossa vida após os meses frios e escuros longe de você. Hoje estou voltando pra casa. Pra nossa vida.
É um privilégio me permitir ser chamada de sua esposa.
E, havia mais.
Foi aí que me levantei da última fileira.
Ajeitei o cabelo, tirei os óculos de grau, o casaco e caminhei com o buquê nas mãos até ela.
— Você não consegue falar, amor? Eu digo.
Ela me olhou, surpresa, com os olhos brilhando, o rosto corado, as emoções à flor da pele, parecia que ela ia explodir ali.
Parei à sua frente. Segurei sua mão com a minha e li só o final para a turma e para ela, sem olhar o bilhete, eu havia gravado o trecho da música, sabia de cor.
“Eu amo quem você foi, quem você é e quem você vai ser.
Perdoo o que você fez ou o que um dia você possa fazer.
Você sabe por quê?
Porque eu amo, eu amo, eu amo, eu amo você.”
Fê levou as mãos ao rosto, rindo e chorando ao mesmo tempo. Ela estava sem ação. Sem palavras. Pegou as flores das minhas mãos e antes que eu dissesse mais alguma coisa, me puxou para um abraço apertado. Um selinho demorado.
A turma explodiu em aplausos, gritos, gritinhos e comportamento quinta série. Espero que ela não tenha problemas no trabalho por conta disso, mas nesse momento, eu estava rindo por dentro com a minha loucura.
— Eu te amo muito, muito, muito! Você é louca, Anna Florence! — ela disse, rindo, ainda encostada em mim.
— Completamente louca por você, Fernanda Alencar. — eu respondi, segurando seu rosto com as duas mãos.
Alguns alunos começaram a nos filmar. Outros já tinham lágrimas nos olhos.
— Professoraaaaa, como assim? você é casada com a Anna Florence, não acreditoooo! Lenda do direito penal! Toda poderosa!
Disse uma aluna, eu dei risada.
— Anna, tira uma foto comigo? Você é minha meta de relacionamento e de carreira!
— É Anna ou é Tchutchuca? — gritou uma aluna, rindo alto.
— Depende do que estamos fazendo. — eu respondi, piscando. E a sala virou um pandemônio.
A aula, oficialmente, havia terminado.
🚗💨
No caminho de volta para casa, Fernanda segura minha mão apoiada na minha coxa com os dedos entrelaçados nos meus, enquanto dirijo de volta pra nossa casa.
— Vamos jantar fora hoje? — pergunta com a voz anestesiada, como se tivesse vivendo um sonho
— Hoje não. Tenho uma surpresa pra você quando a gente chegar em casa.
Dou um sorrisinho de canto, ela me olha intrigada.
— Olha o quanto você aprontou hoje, doutora... ainda tem mais? — sorri olhando na minha direção
— Não gostou? Posso plantá-las no jardim do vizinho, se quiser.
— É claro que eu amei... é algo que você nunca fez pra mim. Você nunca me deu flores, amor. São lindas, mas melhor do que as flores, foram os bilhetinhos e os significados de cada uma. Eu amei.
Espero nosso portão de garagem abrir e encosto minha testa na dela, ela faz um afago no meu rosto e eu solto um suspiro longo.
— Eu sei... às vezes esqueço que você gosta do simples. Desculpa por não notar isso.
— Amor, o que você fez hoje não foi simples... — a olho com insegurança e ela logo completa — foi único. Eu amei. Você é perfeita.
Ela me dá um abraço apertado e meus olhos marejam, tento disfarçar. Ela nota, mas não diz nada. Apenas continua me abraçando. Trato de colocar o carro para dentro e finalmente entregar a surpresa dela.
Quando entramos em casa, Fernanda arqueia a sobrancelha curiosa e intrigada com as caixas pelo caminho.
— Eu não tive tempo de arrumar, então vou precisar de ajuda da melhor personal organizer que esse mundo já viu — dou um sorriso
— Você sabe muito bem que nesse quesito você ganha. Não sou nada organizada.
Continuamos subindo as escadas e um cheiro leve de baunilha com lavanda invade o ar. Acho que exagerei. Há velas acesas por todos os cantos do quarto, mas eu me certifiquei que não ficassem perto de nada inflamável. Haviam pétalas rosas e brancas espalhadas por todos os cantos do quarto, rosas vermelhas espalhadas sobre a cama. Uma barca de sushi absurda na mesa lateral, com vários post-its escritos: “eu te amo”, “nosso amor tem efeito erga-omnes”, “minha melhor escolha”.
No balde de gelo, um vinho branco esperando o brinde do nosso reencontro.
Maria Fernanda fica parada, os olhos marejando.
— Anna… você é muito mais do que eu pedi. Mais do que eu achei que merecia depois de tudo.
Me aproximo devagar, segurando seu rosto com delicadeza e com a voz mais calma do mundo, respondo:
— Eu te amo, Fernanda. Muito. E estou te perdoando de coração aberto. Não quero te punir pelo que aconteceu, nem jogar nada na sua cara. Mas preciso que você nunca mais rompa nossa confiança desse jeito.
Fernanda segura minhas mãos com força.
— Eu nunca mais vou quebrar isso, meu amor. Prometo. A gente vai conversar sempre, como sempre fizemos. Como a gente sabe fazer.
Nossos olhos se fundiram — os azuis mais lindos que eu já vi com os meus cor de mel. A gente disse “eu te amo” com o olhar. A puxei para um beijo calmo, reconhecendo a mulher que eu amo, a nossa casa e nossos corpos nos levaram para a cama, a fim de se reconhecerem no nosso lar.
Recomeçar é quase perder, mas decidir ficar.
Fizemos amor devagar. Com os olhos. Com as mãos entrelaçadas. Meu coração batia rápido, como na nossa lua de mel. Depois que atingimos o nosso ápice, ela se aconchegou ao meu lado e chorou. Choramos juntas.
Eram lágrimas de alívio, redenção, entrega.
— Acho que... pela primeira vez em muito tempo, eu tô em paz — eu sussurrei.
Ela beijou meu rosto, emaranhada em mim.
— É porque você voltou pra casa. Voltou pra nossa vida. Voltou pra mim, meu amor.
Ela esfrega o nariz no meu pescoço, dando um beijinho no final.
— Te amo tanto...
— Eu também te amo, Fernanda. Pra sempre.
Fim do capítulo
Meninas, presente para vocês!
Obrigada a quem votou na enquete para ajudar essa autora e empreendedora que vos fala! Ganhamos em 1º lugar no evento, gratidão! E como prometido, capítulo novo da segunda temporada!
Isso não quer dizer que vou voltar a postar assiduamente, foi só uma forma de aliviar um pouquinho a saudade e dizer que não esqueci a Anna e nem a Fê, só preciso muito focar nos meus projetos pessoais e trabalho no momento.
Gratidão a quem continua acompanhando, amo vocês!
Sigam no insta: @nathh.autora
Nem revisei, hein! Depois se tiver algum erro edito aqui, tô com sono. Beijossssssss
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HelOliveira
Em: 03/08/2025
Nossa que capítulo emocionante, amei, Anna foi maravilhosa, isso que chamo de voltar com estilo..
Muito feliz por elas
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Sem cadastro
Em: 01/08/2025
Nossa que capítulo emocionante!!!!!
Lindas demais.
Que retorno Anna Florence, não esperada nada de diferente em suas atitudes.
Capítulo perfeito!
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Mmila
Em: 01/08/2025
Nossa que capítulo emocionante!!!!!
Lindas demais.
Que retorno Anna Florence, não esperada nada de diferente em suas atitudes.
Capítulo perfeito!
nath.rodriguess
Em: 01/08/2025
Autora da história
ahhhh, eu fico tão feliz por você ter gostado!
Anna aprendeu muito sobre perdão ao longo dos anos, essa maturidade da personagem eu queria passar pra vocês, da primeira temporada até aqui ela amadureceu muito!
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nath.rodriguess Em: 08/08/2025 Autora da história
A Anna é uma maravilhosa, né? E a gente pode ver o quanto ela amadureceu entre a primeira e a segunda temporada.